16-2-2007

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PADRE MANUEL DE MORAES

(1596 ? - 1651?)

 

Referências bibliográficas

 

Quando se deu a Restauração da Monarquia em Portugal em 1640, com a aclamação de D. João IV, Manuel de Moraes deu conta que estava do lado errado dos acontecimentos e tentou emendar a mão com o livrinho “Pronostico y respuesta a una pregunta de un Caballero  muy illustre sobre las cosas de Portugal”, impresso em Leiden (Holanda) em 1641, folio - 4.” Embora não se consiga encontrar nenhum exemplar, ele existiu certamente, como comprovei aqui.

 

Para além do Pronostico y respuesta, a única obra impressa conhecida, tal como saiu da pena de Manuel de Moraes é o já referido Pequeno Dicionário dos nomes e dos verbos mais usados comummente da língua brasileira, inserido por George Marcgrave ou MarcGraf (1610 – 1644) e Willem Piso (1611-1675) em dois livros, para além de outros. Isso mesmo é referido, a pgs. 22 do livro The Literature of American Aboriginal Languages, by Hermann E. Ludewig, with additions and corrections by Professor WM. W. Turner, edited by Nicolas Trübner, conhecida como Bibliotheca Gottlica de Trübner, London, Trübner and Co., 60 Paternoster Row, 1858 (que está online em http://www.canadiana.org/ECO/PageView/36368/0005?id=3c28921994ce3cbd

Transcrevendo o artigo:

Dictionariolum nominum et verborum linguæ Brasiliensis maxime comunis (collected by Emanuel de Moraes), cap. XI of: 1. Georgii Marggravii de Leibstad, Tractatus topographicus et meteorologicus Brasiliae, cum eclipsi solari, quibus additi sunt illius et aliorum commentarii de Brasiliensium et Chilensium indole et lingua – in: Historia Naturalis Brasiliæ (edid. Joan de Laet), Ludguni and Amstelodami, F. Hackius, 1648, folio, pp. 276 et seq. and in: G. Pisonis de Indiae utriusque re naturali et medica, Libb. XIV. Lugduni Batavum, Elzevir, 658, fol., pp. 22-24  2. O. Dapper, Die unbekkante neuwe welt. Amsterdami, 1673, fol. p. 412 (in Dutch, translated by Arnoldus Montanus: Die neuwe en onbekende waereld. Amsterdam, 1671, folio). 3. John Ogilby, América, London, 1671, see pp. 485-487.  4. Had. Relandi, Dissertationes miscellaneæ. Trajecti ad Rhenum, 1706, 1707, 3 vols. 8.º, Vol. III, p. 173.

 

Também se encontra uma “bibliografia” de Manuel de Moraes a pgs. 227 do livro Chrestomathia da lingua brazilica de Ernesto Ferreira França, Paris, 1858, de que se pode fazer download em http://books.google.com.

 

A obra importante que Manuel de Moraes escreveu e queria publicar foi a Historia Brasiliensis, a História do Brasil. Diz Barbosa Machado que os tipógrafos Elzevier não a quiseram imprimir, por estar incompleta.  Mas o autor mostrou o manuscrito a diversos autores, nomeadamente ao médico judeu Zacuto Lusitano e sobretudo a Joannes de Laet (1581-1649). O mesmo Barbosa Machado refere que De Laet tirou do manuscrito notícias importantes para os seus livros. Ora, na obra Novus orbis seu descriptio Indiae Occidentalis : libri XVIIIJoannes de Laet, nos Livros XV e XVI sobre  Brasil, cita muitas vezes (mais de uma dezena) um Author Lusitanus, sem indicar o nome.

Este livro de Joannes de Laet está online em:

http://bibliotecaforal.bizkaia.net/search/alaet,+jhannes/alaet+jhannes/-2,0,0,B/l962&FF=alaet+johannes+de&1,1,,002466,-1

Poder-se-ia pensar que este "Autor Português"; mas, como indica Ronaldo Vainfas com convicção, não poderia tê-lo sido, porque à data da publicação do livro -1633 - ainda Manuel de Morais combatia no Brasil contra os holandeses.  Mais tarde de Laet encontrou Manuel de Morais na Holanda e pediu-lhe, de facto, observações sobre os seus livros, como ele mesmo escreveu mais tarde. Manuel de Morais, por sua vez, ter-lhe-á dado um exemplar do seu manuscrito da Historia Brasiliensis.

 

Entretanto, discutia-se muito naquela época de onde proviriam as tribos da América (Norte, Centro e Sul). Levava-se então a Bíblia muito à letra, todos descendíamos de Adão e Eva e, portanto, os do novo Continente teriam de provir do Velho Continente. Hugo de Groot ou Hugo Grotius (1583 – 1645), escreveu um pequeno texto De origine gentium americanarum, (está online em http://digbib.bibliothek.uni-augsburg.de/1269/02_IV_02_8_0242.pdf  -  pags 36 até final). onde concluía que os americanos tinham uma ascendência múltipla, sendo descendentes de escandinavos, etíopes e chineses, com os mais variados e talvez disparatados argumentos.

Joannes de Laet (1581-1649), Director da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais,  criticou muito Grotius e escreveu um pequeno livro a que chamou

Ioannis de Laet Antuerpiani notae ad dissertationem Hvgonis Grotii De Origine gentium Americanarum: et observationes aliqvot ad meliorem indaginem difficillimae illius quaestionis, Amstelodami, Apud Ludovicum Elzevirium, 1643, de que existem exemplares na Biblioteca Nacional de Lisboa (BNL) e na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BNRJ).

Sobre este livro, tem a Bibliographia brasiliana - rare books about Brazil published from 1504 to 1900 and works brazilian authors of the Colonial period,  de Rubens Borba de Moraes (Colibris, Rio de Janeiro, 1958), a nota seguinte:

“It contains additionally an excerpt from Manuel de Moraes’ History of which, as we know, the second part was never published”.

A pags. 216 do livro de De Laet, figura de facto a nota seguinte: "Ex libro decimo Historiae Brasiliensis Emanuelis de Moraes nondum editae". Trad.: “Do livro 10.º da História do Brasil, de Manuel de Moraes, ainda não publicada.

Depois do texto de refutação da obra de Hugo Grotius, tem o livro 12 observações; a nota antes referida figura entre a 11.ª e a 12.ª observação. Serão todas as observações da autoria de Manuel de Moraes? Parece-nos duvidoso. A 12.ª observação desenvolve ideias que por outros livros são atribuídas a Manuel de Moraes, isto é, que os índios brasileiros descendem de tribus cartaginesas e judias, logo, deverá ter sido escrita por ele. Parece assim que a nota se refere apenas à 12.ª Observação e não às restantes.

 

Há um livro americano A New Universal History of the Religious Rites, Ceremonies and Customs of the Whole World; Or, A... de William Hurd, de 1788, que a págs. 480 cita directamente Emanuel de Moraes, portuguese, mas pode ser a partir do livrinho pequeno de  De Laet, sabendo que  verdadeiro autor era o Moraes.

(Pode fazer-se download deste livro em   http://books.google.com )

 

Quem também cita Manuel de Moraes e a sua Historia Brasiliensis é Frei Gregório Garcia, O.P.,  em Origen de los indios del Nuevo Mundo, Madrid : en la Imprenta de Francisco Martinez Abad, 1729, que está online em 

http://bibliotecaforal.bizkaia.net/search/torigen+de+los+indios/torigen+de+los+indios/1,1,1,B/l962&FF=torigen+de+los+indios&1,0,,005280,-1

Em notas à margem

Pag. 41(Pag. 68 do software)

Emanuel de Moraes in Historia Brasiliensi, Manuscripto relat. ab Hornio dict. Lib. 1, cap. 2 , fol. 29 & 30.

Pag. 42: (Pag. 69 do software)

Emanuel de Moraes in Historia Brasiliensi, Manuscripto, add. ab Hornio, De originibus Americanis, lib. 2, cap. 7, fol. 116.

 

O frade dominicano não o cita portanto directamente, mas por intermédio da obra de Georg Horn ou Georgius Hornius (1620-1670), De originibus americanis, The Hague, 1652 (não deverá haver nenhum exemplar em Portugal; existe no Brasil, em microficha na Unicamp).

Este livro resume todas as teorias (dezenas) até então aparecidas sobre as origens dos povos americanos. Diz-se algures que Georg Horn escreveu o livro a pedido de Joannes de Laet que, entretanto, tinha já falecido. Ter-lhe-ia de Laet transmitido o manuscrito de Moraes?

Do livro de Georg Horn, consta:

Liber I

Cap. II - no Título

Varia de Originibus Americanis opiniones.

…………………………

Emmanuëlis de Moraes – A Carthaginensibus

........................................

 

Emmanuel de Moraes in Historia Brasiliensi nondum edita, a Carthaginensibus et Judæis Americanos deducit, sed ab his per infirmas rationes.

…………………………………….

 

Liber II

Cap. VII

 

Repertam a Carthaginensibus fortuito insulam: et in eam iniussu Magistratus conimigrasse plurimos: quod diffluente paulatim populo cœperit postea capitale esse.

Quædam hæc insula fuerit dissentiunt authores. Complurimum opinio est Hispaniolam fuisse. Aliis longius hæc remota videtur, nec probabible Pœnos crebro tam longinquam navigationem suscepisse. Non desunt qui opinentur Pœnos in Brasiliam navigasse ac ab illiis Bárbaros deducunt, quae sententia Emmanuelis de Moraes libro decimo Historiæ Brasiliensis nondum editæ.

 São citações curtas que não nos revelam se Horn possuía ou não o manuscrito.

 

Outro texto de Manuel de Moraes que chegou até nós, foi o seu Papel a favor da não entrega de Pernambuco aos Holandezes que figura em dois códices da BNL. Este parecer, escrito em Outubro de 1648,  foi às mãos do Padre António Vieira (autor do Papel Forte que defendia a solução da entrega), já que uma cópia parcial se encontra no manuscrito com as obras dele, embora Moraes não seja identificado.

 

Transcrevendo da História de António Vieira, de J. Lúcio de Azevedo, 1.º volume, pgs. 126, que foi publicada a primeira vez em 1918:

“Em público, de mão em mão, andavam escritos nos quais se rejeitavam as condições do acordo, e se excitava o ânimo belicoso da população.

………………………..

Outro escrito, igualmente anónimo, contrário ao tratado, tinha por autor um indivíduo, que fazendo a descrição da terra e referências aos índios, dizia ter começada uma História do Brasil. Não se descobre quem seja o inédito historiador. Por esse tempo o padre Simão de Vasconcelos, estava já a compor a sua Crónica; mas, achar-se-ia longe, e a menção que das coisas do Brasil e dos selvagens faz quem compôs a memória não revela um jesuíta”. 

 

Isto escrevia o P.e J. Lúcio de Azevedo em 1918 e indicava em nota a referência: Obras várias do P.e António Vieira, Academia das Ciências de Lisboa, Manuscrito,  vol. 4.º, pags. 219, v.

Fui à Academia das Ciências de Lisboa e no manuscrito n.º 443 da série vermelha, lá está o texto de Manuel de Moraes, reproduzido a partir de “Pedem os holandeses se lhes conceda pacífica posse das terras…..” até final. Ocupa as folhas 218 a 221, fr. e verso e 222 fr.  A ortografia está corrigida e a redacção é mais apurada. A ligação aos códices da BNL permite identificar perfeitamente o “anónimo” como sendo Manuel de Moraes, que, na altura, se intitulava como Licenciado. A sua libertação do cárcere da Inquisição não deve ser estranha à preparação deste documento. Teria sido protegido pelo Padre António Vieira?

 

 

 TEXTOS

 

Sobre a polémica acerca da origem das populações indígenas das Américas:

 

P.e José Acosta (S.J.), Historia natural y moral de las Indias : en que se tratan las cosas notables del cielo, y elementos, metales, plantas y animales dellas, Impresso en Sevilla : en casa de Iuan de Leon, 1590 - online http://trobes.uv.es/search*

 

D. Droixhe, "Más ignorante que hereje", De Laet, Acosta et l'origine linguistique des Américains, em  http://www.ulb.ac.be/philo/spf/linguis/esplingam.htm

 

The Life of the Truly Eminent and Learned Hugo Grotius by Burigny, Book VI, Cap. XIII – pags. 275, Projecto Gutenberg http://www.gutenberg.org/files/15606/15606-h/15606-h.htm

 

Martin van Gelderen, Vitoria, Grotius, Locke und die indianer: Die kulturhistorische einordnung der Neuen Welt, in Spanien, Holland und England -- http://cf.uba.uva.nl/goudeneeuw/archief/2001/colloquium-1feb2001.rtf

 

Joan-Pau Rubies, Hugo Grotius's Dissertation on the Origin of the American Peoples and the Use of Comparative Methods, in Journal of the History of Ideas, Vol. 52, No. 2 (Apr. - Jun., 1991), pp. 221-244

 

3-7-2008 - Acaba de ser publicado no Brasil o livro de Ronaldo Vainfas, Traição - Um jesuíta a serviço do Brasil holandês processado pela Inquisição, Companhia da Letras, 2008, ISBN 978-85-359-1231-9, 385 pags.  É uma biografia do Padre Manuel de Moraes, profusamente documentada e de leitura muito agradável.

O Prof. Ronaldo Vainfas (n. 1956) é Professor Titular do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense onde ingressou em 1978.

 

 

 

6-11-2009 - Pronostyco y respuesta a una pregunta de un Caballero muy illustre sobre las cosas de Portugal, Impresso em Leyden em 1641.

 

O livro existe, mas não se consegue encontrar facilmente.

 

Pesquisando em http://books.google.com com a grafia Pronostyco y respuesta, aparecem 3 exemplares, sem que se saiba a que bibliotecas pertencem (o autor aparece com a grafia Emmanuel de Moraez)

 

Pesquisando em http://gso.gbv.de (bibliotecas universitárias alemãs), com a mesma grafia, aparecem dois exemplares, um na Wolfenbüttel, Herzog-August-Bibliothek , outro na Göttingen, Niedersächs. Staats- und Universitätsbibliothek / Universität Göttingen. A ficha indica que tem 31 páginas.

  

O Prof. António Cruz na introdução ao 1.º volume do livro “Papéis da Restauração” transcrita aqui

http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/5380.pdf

diz na  nota (26)  a pag. XXIX ( Pag. 25 do software), que há na Biblioteca Municipal do Porto uma cópia manuscrita do livrinho "Pronóstico y respuesta". Confirmei a existência de tal cópia. A cópia manuscrita tem 20 páginas e está no códice 355, de pags. 36 r. a 45 v.  Inclui a nota: Impresso em Leyden em 1641.

 

A mesma grafia (Pronostyco y respuesta) permitiu encontrar uma referência no catálogo da Biblioteca Nacional de Lisboa, dizendo que o texto do livro se encontra inserido com 36 pags. entre as pags. 280 e 281 do livro:

Bizzarrie politiche: over Raccolta delle più notabili pratiche di Stato nella cristianità/ messa alla luce da Lorenzo di Banco—Impresso alla Franechera, stampata appresso Giovanni d’Arcerio, 1658.

Franeker é nos Países Baixos.

Este livro está online no GOOGLE.

 

Trata-se de uma reimpressão feita em 1658 do livrinho de Morais. Não há nenhuma referência ao nome do autor. O editor diz que alguém lhe deu um exemplar. Aqui tem 36 páginas.

O livro Bizzarrie está dividido em partes. O texto de Manuel de Moraes está na parte sétima que tem o título:

Indirizzo secreto all’Illustrissimo Sig.re Don de Valasco, Conte di Ciruella, etc., Ambasciatore del Re Catolicissimo, in Roma, sopra la felice riscossa del Reame di Portogallo,

coll’aggiunto avvertimento dell’istessa facenda,

inviato dall’Eminentissimo Cardinale

                              FEDERICO SFORZA.

  

Segue-se um comentário de 34 páginas em italiano criticando o livrinho de Morais sem indicação de autor, depois, uma dedicatória do Cardeal Sforza de 2 páginas.