20-10-2008

 

José da Cunha Brochado

(1651 - 1733)

 

Pesem embora as importantes funções que desempenhou na sua vida, José da Cunha Brochado não foi fidalgo de nascimento. Foi o típico bacharel que, mercê da sua formação e do seu trabalho, subiu na vida nos ambientes do Antigo Regime. Foi diplomata de mérito, embora nunca tivesse sido Embaixador; nem o poderia ter sido, já que essa categoria era reservada aos fidalgos.

Nasceu em Cascais em 2 de Abril de 1651, filho de António da Cunha da Fonseca e de Joana de Quental (ou do Quintal, como se dizia então). Foi baptizado logo a 8 do mesmo mês na Igreja de Nossa Senhora da Assunção.  Tinha uma costela beirã, pois fora o seu avô paterno, Belchior da Cunha da Fonseca, que tinha vindo morar para Lisboa. Seu pai foi militar e considerado nos meios da Corte, como se prova das benesses que foi recebendo ao longo da vida. Foi nomeado Tenente do Castelo de S. Jorge em 1659. Teve suficientes réditos para poder pagar os estudos de seus dois filhos em Coimbra, donde ambos saíram bacharéis e foram depois magistrados.

José era o mais velho, a seguir veio Belchior que deverá ter nascido em Agosto de 1657 e a final uma filha, Maria Inês do Quental que sabemos ter casado com Sebastião de Guimarães.

Maria Rosalina Pinto da Ponte Delgado, autora de uma exaustiva tese de doutoramento sobre José da Cunha Brochado, que muito utilizei para redigir esta página, encontrou, datado de 1 de Setembro de 1657, o registo de baptismo de Belchior, onde se diz ser ele filho de pai incógnito e de Natália Luiz, solteira. Em documentos posteriores, é sempre dado como filho legítimo de António da Cunha da Fonseca e de sua mulher Joana do Quental. Deverá ter sido perfilhado por eles e apenas o documento religioso ficou a indicar a ilegitimidade.

José da Cunha Brochado nunca casou, dizia ele que nunca aprendera o “ofício de casado” e sempre teve cuidados especiais com os sobrinhos, filhos de seu irmão Belchior, nove ao todo, sete rapazes e duas meninas. Demonstrava um particular afecto pelo mais velho, António da Cunha Brochado, como veremos a seguir.

Ainda menino, foi frequentar o Colégio de Santo Antão, em Lisboa. Naqueles tempos, quem pretendia ir para a Universidade começava a estudar latim, logo que aprendia a ler. Foi matricular-se com 16 anos em Coimbra, no ano lectivo de 1667-1668. Estudou Cânones e não Direito Civil, como indicam alguns, saindo Bacharel em 1672 e Doutor em 1673. Quando seu irmão Belchior se matriculou em Coimbra no ano lectivo 1673-1674, já José tinha abandonado a Universidade.

Ainda em 1673, apresentou-se no Desembargo do Paço para efectuar a chamada “leitura de bacharéis”, formalidade essencial para poder desempenhar cargos na Magistratura. Sete testemunhas abonaram as suas qualidades e atestaram o seu bom comportamento.

Tentou então ir para o Brasil como Ouvidor do Estado de Maranhão, mas foi preterido por outro candidato.

Foi nomeado Juiz de Fora de Sesimbra e Barreiro pelo espaço de três anos em 1 de Fevereiro de 1674.

Findo o tempo da sua nomeação para Sesimbra e Barreiro, foi José da Cunha Brochado Juiz do Cível em Lisboa e disso tenho a certeza, embora me falte o documento de nomeação. Diz-se nas Consultas do Desembargo do Paço (1683 – 1686) que “foi bom estudante, leu no Desembargo do Paço bem em 11-10-1673, serviu de Juiz de fora de Sesimbra e ao cível desta cidade deu boas residências e ultimamente de Provedor de Miranda” (sublinhado meu). Como é sabido, “dar residência”, é o mesmo que dizer cessar funções na linguagem da época; tendo em conta o plural, ele cessou funções, primeiro como Juiz de Fora de Sesimbra (aí deu residência em 31-3-1678) e depois como Juiz do Cível de Lisboa. Mas há ainda outros documentos que o atestam. Manuel Álvares Pegas (1635-1696), que se formou em Coimbra em 1658, publicou nos seus livros sentenças dos Juízes por quem tinha consideração, entre os quais se contavam os irmãos Cunha Brochado. Há nos seus livros pelo menos oito sentenças de José da Cunha Brochado, referidas no Anexo 1; entre estas, cinco proferidas em Lisboa em 8-8-1678, 4-11-1678, 25-1-1679, 16-4-1679 e 12-6-1679.

Daqui resulta ser correcta a data de 1680 (aproximadamente) indicada por Rosalina Pinto Delgado para o incidente tristemente célebre que o levou à cadeia por dois anos e também que o caso se deverá ter passado em Lisboa.

É ele mesmo que descreve tal incidente no “Papel que fez sendo preso por descompor um Bento Marques”, escrito da prisão do Limoeiro. Apareceu-lhe no Tribunal um certo Roque Martins que lhe exibiu um Precatório do Juiz dos órfãos de Sintra para que Bento Marques entregasse uma órfã menor que detinha pela força. Cunha Brochado passou o Mandado requerido, mas  Bento Marques requereu ao Juiz Antonio Leitão Rombo um contra-mandado, e o Alcaide Thomé Rodrigues não pôde executar o mandado de Brochado. Bento Marques insultou Roque Martins, o qual foi fazer queixa a Brochado. Este repreendeu em audiência Bento Marques  e, quando este respondeu malcriadamente,  deu-lhe ordem de prisão. Bento Marques fugiu. O Juiz correu atrás dele e agarrou na cabeleira (gadilheira, diz ele) que se soltou. Bento Marques tinha audiência junto do Príncipe Regente e foi-se queixar com o resultado de Cunha Brochado ser preso.

Fez Brochado petição ao Rei, que foi remetida para consulta ao Desembargo do Paço, mas veio ordem para ser preso no Limoeiro, sendo suspenso do serviço por dois anos.

Deve ter sido muito difícil para ele esquecer a afronta. Terá sido uma sombra de que ele se quis livrar, procurando subir na vida e no conceito da sociedade do seu tempo o mais que pôde.

Com o tempo, a tempestade deve ter amainado, a sua reputação deve ter sido restabelecida, e em 18 de Dezembro de 1682, Cunha Brochado foi nomeado Procurador da Comarca de Miranda.

Em 25 de Novembro de 1687 foi nomeado Corregedor do Cível de Lisboa. Era uma categoria acima da de Juiz, mas continuava a proferir sentenças em 1.ª instância. Pegas transcreve três das suas sentenças dessa época, datadas de 28-11-1688, 6-2-1689 e 10-3-1690, (Anexo 1) proferidas naturalmente em Lisboa. Deu residência do cargo em Abril de 1691, como consta de um documento transcrito por Rosalina Pinto Delgado; a mesma autora diz que ele pediu o lugar de Secretário de Embaixada em Paris em 14 de Janeiro de 1694.

Faço um parêntese para referir que também seu irmão, findo o curso, fora nomeado Juiz; Pegas transcreve várias sentenças dele, a primeira das quais, uma sentença proferida em 28-3-1681, em Benavente, onde era Juiz de Fora (Anexo 1). Em 1687, foi nomeado Desembargador da cidade da Baía no Brasil. Ali casou em 1688, com D. Maria Francisca Paula e Almeida, filha de Sebastião Barbosa e de D. Vicência da Silva e dela teve 9 filhos, entre os quais duas meninas. Na Baía, apareceu-lhe o poeta Gregório de Matos Guerra, que se havia formado em Direito em Coimbra em 1661 e fora Juiz do Cível em Lisboa, mas estava já na fase decadente da sua vida.  Muito satisfeito por ter chegado à Baía um colega de Coimbra, Gregório de Matos dedicou-lhe pelo menos quatro sonetos (Anexo 2). Como é evidente, nunca estiveram juntos em Coimbra, ao contrário do que se escreveu no Brasil.

Belchior regressou à Metrópole em 1695, onde já tinha à sua espera um lugar de Desembargador da Relação do Porto, sendo tradição dar tal lugar aos Desembargadores vindos do Brasil. Prosseguiu a sua carreira na Magistratura, recebendo ainda várias benesses reais, sempre insuficientes para sustentar e educar a sua numerosa prole.

Depreende-se das cartas de José da Cunha Brochado que este teve sempre a preocupação de ajudar materialmente o irmão e os sobrinhos.

 

DIPLOMATA

 

Cunha Brochado chegou a Paris a 2 de Julho de 1695, para exercer as funções de secretário, sendo Embaixador o 2.º Marquês de Cascais, D. Luis Álvares de Castro Noronha Sousa e Ataíde. Exerceria essas funções até 1699, data em que o Marquês regressou a Lisboa e a Embaixada ficou a cargo de Cunha Brochado como Enviado.

Uma característica de Cunha Brochado é a de ter sido um homem que muito escreveu. Para infelicidade dele, não era um literato, estava longe de escrever literariamente bem. Para além disso, passados alguns anos, os seus textos estão cheios de galicismos, de que não nos podemos admirar. Mas os conteúdos dos seus escritos têm interesse, pelos factos que narram, pelas suas observações e também por um humor muito próprio. Escreveu muitas cartas, memórias, descrições, relatórios, a maior parte dos quais ainda não publicados.

Afastado da Pátria, a escrita terá constituído a principal tarefa a que se dedicou. Descreveu o protocolo dos Embaixadores, a vida em Paris, a cidade, a política, o País, as anedotas.  Os seus manuscritos continuam à espera de quem os publique, devidamente anotados, incluindo também a indicação dos destinatários das cartas.

Enquanto o Marquês esteve em Paris, Cunha Brochado não se aventurou a tomar posições sobre a política nacional. O Embaixador não tinha nem posses nem feitio para a vida diplomática. Além disso, era viciado no jogo, onde, apesar de tudo, era beneficiado pela sorte, segundo diz Brochado. A breve trecho, decidiu regressar a Lisboa. Brochado ambicionou permanecer em Paris como enviado e pôs em campo os seus amigos para conseguir tal. E ficou muito satisfeito quando chegou a nomeação.

Mas a situação do Enviado estava longe de ser cor de rosa. Pelo contrário, a breve trecho, ficou ele numa situação muito delicada.

O Rei Carlos II de Espanha faleceu em 1 de Novembro de 1700 aos 39 anos. Desde 1665 que se punha o problema da sucessão dinástica por causa da instabilidade psicológica e física do Rei (epiléptico, sifilítico, impotente). O Rei deixou testamento nomeando herdeiro do trono a Philippe d’Anjou, neto do Rei de França, Luis XIV, de 17 anos. A 4 de Dezembro o jovem Príncipe deixa Paris e vai para Madrid onde é coroado com o nome de Filipe V.

A este bloco liderado pela França e Espanha, opunha-se um outro liderado pela Inglaterra e Holanda, mas integrando Brandeburgo, Áustria, Piemonte, que apontavam como candidato à Coroa o Arquiduque Carlos.

Em Lisboa, havia grande indecisão sobre qual a melhor posição a tomar, perante as forças em presença. Durante um tempo, defendeu-se a neutralidade. Era este também o ponto de vista de Brochado, como diz Damião Peres (livro citado): “Segundo parecer de José da Cunha Brochado, Portugal devia, de começo, conservar-se na expectativa, aproveitando este período de indecisão geral para se armar convenientemente”. Mas Brochado disse numa carta: “… necessitamos de nos unir a Inglaterra e Holanda: este é o ponto de toda a dificuldade, em que não é fácil ver claro, nem distinguir a cura da enfermidade…”

No entanto, pouco depois, assinou-se em 18 de Junho de 1701 o Tratado de Amizade de Portugal com a França reconhecendo Filipe V, o neto de Luis XIV, como Rei de Espanha. Um tratado com a França, apoiando a Espanha era na história um acordo contranatura e violava a tradição da aliança luso-inglesa existente para pôr em respeito os vizinhos do lado.

Os ingleses não gostaram da atitude da Corte de Lisboa e colocaram em Lisboa um diplomata de grande gabarito, John Methuen (c.1650-1706), que negociou um curto Tratado que pôs Portugal de novo ao lado da Inglaterra.

Eis a apreciação de Jorge Borges de Macedo (livro citado, pgs. 227): “A justificação para o corte com a França de Luis XIV tinha um poderoso fundamento que reflectia afinal o carácter continental da luta e a posição atlântica de Portugal: o auxílio prometido pela França a Portugal, no caso de ataque ou ameaça da Grã Bretanha e da Holanda nunca se verificou; a França, assoberbada por tantas responsabilidades militares, não estava em condições de o conceder. Voltava pois a verificar-se que, em Portugal, os auxílios vindos por mar e remetidos por potências marítimas eram possíveis, enquanto a colaboração das potências continentais era sempre aleatória, difícil de se concretizar e regateada, inserida numa hierarquia de prioridades continentais que nunca podia beneficiar Portugal. Aspecto que, de forma alguma podia ser secundário numa potência, como Portugal, que tem uma fronteira terrestre vulnerável e responsabilidades marítimas tão extensas.

Agora, França e Espanha eram nossos inimigos e Portugal teve de entrar na guerra; de facto, a 30 de Abril de 1704, Filipe V de Espanha, o herdeiro da facção franco-espanhola, declarou guerra a Portugal.

Esta guerra é pouco conhecida, mas bastantes estragos trouxe a um país já de si pobre, e à sua população, em especial aos lugares vizinhos da fronteira de Espanha.  Almeida, Salvaterra do Extremo,  Idanha-a-Nova, Monsanto, Penha Garcia, Segura, Zebreira, Castelo Branco, Portalegre, Castelo de Vide e outras localidades foram tomadas e saqueadas pelo exército franco-espanhol.

Tendo-se Portugal passado para o lado dos ingleses, a situação de Brochado em Paris tornou-se muito inconfortável e pediu o regresso a Portugal. A autorização tardou mais do que ele desejaria e só partiu para Haia em 20 de Junho de 1704, não antes de se despedir de Luis XIV que o recebeu amavelmente. Terá andado a visitar amigos na Europa, já que em 16 de Dezembro de 1704 estava em Londres e só chegou a Lisboa no final de Junho de 1705.

Chegou a Portugal triste e endividado. Ficou à espera de uma compensação monetária pelos seus trabalhos, que só chegou em Dezembro de 1705, quando foi nomeado Conselheiro da Fazenda.  Em seguida, conseguiu a propriedade do lugar de Escrivão dos Armazéns.

Mais tarde, em 29 de Fevereiro de 1708, foi nomeado Conselheiro da Rainha D. Maria Ana de Áustria, que casou com D. João V em 9 de Julho seguinte.  Finalmente, em carta datada de 23 de Março de 1709, diz ter sabido que o Rei o fizera Desembargador do Paço.

Em 23 de Setembro de 1710, quando já se encontrava em Inglaterra, D. João V fê-lo Cavaleiro da Ordem de Cristo, com vinte mil réis de tença.

 

ENVIADO EM LONDRES

 

Tendo em vista as negociações de paz de Utreque, o Secretário de Estado Diogo de Mendonça Corte-Real decidiu em 1710 enviar para a Holanda D. Luis da Cunha, que se encontrava em Londres. Para o substituir, decidiu ali colocar como Enviado a José da Cunha Brochado. Este quis escusar-se, por motivo dos seus achaques, mas depois acabou por aceitar. Refere o seu amigo José Soares da Silva: “Fez também Enviado de Inglaterra, para ficar nesta quando D. Luis passar para Holanda com o Conde de Tarouca, a Joseph da Cunha Brochado, que já foi Enviado de França e que agora torna para trás dez furos, estando nos maiores lugares, como tem de Conselheiro da Fazenda, do Conselho da Rainha, e Provedor da Casa da Índia, e indo para menor Enviatura, que a que onde foi de corregedor do Cível; mas tudo pode o serviço de El Rey, e este não pode estar com ninguém tão bem servido como com Joseph da Cunha.” (Gazeta em forma de carta, pag. 228).

D. Luis da Cunha iria desempenhar a tarefa da representação de Portugal, juntamente com o Conde de Tarouca, D. João Gomes da Silva.

O lugar de Londres tinha uma importância diminuta, já que as grandes decisões estavam a ser tomadas na Conferência de Paz na Holanda. Estão arquivadas duas cartas de D. João V aos Estados Gerais, de 15 de Setembro de 1710, uma referindo o regresso ao Reino do Conde de Tarouca e outra nomeando José da Cunha Brochado como Enviado Extraordinário àqueles Estados. Esta modificação iria certamente ao encontro dos desejos de Cunha Brochado, mas não se verificou, porque, como ele diz, “O Conde de Tarouca não se resolveu a sair de Haia, e assim a minha substituição ficou desvanecida”.

Chegado a Londres em 18 de Junho de 1710, teve durante bastante tempo a companhia de D. Luis da Cunha que atrasou a sua partida para a Holanda. Esta situação era ao mesmo tempo agradável porque eram amigos e Brochado tinha muita consideração por ele, mas também incómoda, porque as decisões seriam todas de D. Luis da Cunha. Só depois da partida deste, a 9 de Março de 1712, é que Brochado teve a primeira audiência.

Durante a sua estadia na Grã Bretanha, defendeu o melhor que pôde os interesses portugueses, sempre preocupado com o que se estava a passar em Utreque. Resumiu assim a sua acção: “Se não tive a honra de ser dos grandes Ministros, que prudentemente os delinearam (os Tratados), e concluíram, servi ao menos para moer as cores com que se pintaram”. Certamente reprovou os acordos conseguidos pelos seus colegas diplomatas em Utreque. A entrega da Colónia de Sacramento não passou de um paliativo, uma vez que não foi firmado o acordo com a Espanha; e a Colónia seria depois perdida no Tratado de 1750. Para além disso, nada se conseguiu no que respeita à “barreira”, isto é, uma área territorial suplementar que tornasse Portugal mais defensável face ao vizinho espanhol.

Brochado nunca gostou de Londres, cidade ainda mais cara do que Paris, mas muito menos agradável. Terá sido com alívio que regressou a Lisboa nos finais de 1715.

Tendo em atenção os serviços prestados em Londres, foi-lhe atribuída no final de 1720 a Comenda da Ordem de Cristo de S. Pedro do Sul, que ele cedeu a seu sobrinho mais velho, António da Cunha Brochado. Na mesma altura, foi nomeado Chanceler das três Ordens Militares, de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Santiago da Espada e de São Bento de Avis.  

 

O ACADÉMICO

 

A Academia Real da História Portuguesa foi instituída por D. João V em 8 de Setembro de 1720. Tinha 50 académicos de número, em que Brochado ocupava o 30.º lugar.

Deixou ele muitos trabalhos de história que foram inseridos na Collecçam de Documentos, Estatutos e Memórias da Academia Real da História Portuguesa. Um dos textos mais conhecidos é o Parecer do Académico Joseph da Cunha Brochado sobre a proposta que o Académico o Padre Doutor Frey Bernardo de Castellobranco – Chronista Mor do Reino – que tem o emprego de escrever as memórias delRey D. Pedro I – fez sobre este Príncipe merecia o epitheto de cruel, ou de justiçoso. A Academia acabou por denominar D. Pedro I de “Cruel”, seguindo o parecer de Cunha Brochado.

Foi nomeado censor da Academia e também encarregado de elaborar uma colecção dos Tratados de Paz e Aliança, celebrados entre Portugal e as potências europeias, tarefa que não conseguiu levar a cabo.

Cunha Brochado sempre teve consciência de que o atraso do País se devia sobretudo às deficiências da educação. Disse ele: “Sem educação, a razão mal atina com o homem, e com ela o instinto rende a sua homenagem à razão”.

 

ENVIADO EM MADRID

 

Os assuntos que em Utreque tinham ficado pendentes, nomeadamente a definição dos limites do Brasil, aconselhavam a uma aproximação de Espanha. A ocasião surgiu quando em 1724 se gorou a hipótese de casar a infanta espanhola D. Mariana Vitória (1718-1781) com Luis XV de França (1710-1774). A desfeita dos franceses deixou furiosa a mãe da menina, Isabel Farnésio ou Isabel de Parma  (1692-1766), segunda esposa do Rei de Espanha, Filipe V. Surgiu então em Espanha a ideia de a casar com D. José, herdeiro do trono e Príncipe do Brasil. A contrapartida seria o casamento de D. Maria Bárbara (1711-1758) com o Príncipe das Astúrias,  depois Fernando VI (1713-1759). Para Portugal era algo de novo, pois desde 1640 não tinha havido nenhum casamento real entre Portugal e Espanha, ao contrário do que fora hábito no Sec. XVI.

Em Maio de 1725, D. João V nomeou José da Cunha Brochado para dirigir as negociações em Madrid, apesar da sua avançada idade, visto que o representante em Madrid, António Guedes Pereira, não teria experiência suficiente para tarefa tão complexa.

Brochado partiu a 25 de Maio e ali terá chegado (segundo Rosalina Pinto Delgado) por volta de 8 de Junho. As instruções davam mais importância às alianças ofensivas e defensivas do que propriamente aos casamentos. Foi recebido pelos Reis Católicos a 19 de Junho e enviou a primeira carta ao Secretário de Estado Diogo de Mendonça  Corte-Real a 24 do mesmo mês. Brochado queixar-se-ia da “sequidão” deste, e seria mais franco e aberto nas suas cartas a D. Luis da Cunha ( 1662-1749) e ao Marquês de Abrantes, D. Rodrigo Anes de Sá Almeida e Meneses (1676 - 1733). De Lisboa, queriam tudo: estabelecer a liga ofensiva, dela excluindo a Inglaterra, manter a Colónia do Sacramento e definir os limites do Brasil.  Tarefa impossível. Brochado chegou mesmo a alvitrar que se oferecesse a Colónia do Sacramento como dote da Infanta Portuguesa, mas em Lisboa tal ideia era uma heresia.

A 27 de Agosto, o negociador espanhol, Marquês de Grimaldo apresentou aos Portugueses, Brochado a Guedes Pereira, os projectos de tratados que acabaram por ser aprovados em Lisboa, com pequenas modificações.

Os Tratados foram assinados a 7 de Outubro de 1725 e ratificados pelos dois Países no mesmo mês (em Portugal a 13 e em Espanha a 14).

Cansado e alquebrado pela idade, Brochado regressou a Lisboa nos finais de Janeiro de 1726. Tinha conseguido o possível mas não tudo o que esperara. As pendências do Tratado de Utreque tinham ficado por resolver.

O duplo casamento foi o primeiro passo para a reconciliação luso-espanhola. As Infantas foram trocadas na fronteira do Caia em Janeiro de 1729.

 

ÚLTIMOS ANOS

 

Os últimos anos de Brochado foram dedicados aos trabalhos da Academia Real da História Portuguesa. Em 25 de Outubro de 1732, proferiu ali a sua derradeira oração. Faleceu a 27 de Setembro de 1733.

A 8 de Outubro seguinte, Gonçalo Manuel  Galvão de Lacerda proferiu na Academia o elogio fúnebre de “Joseph da Cunha Brochado, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Fidalgo da Casa de Sua Majestade, do seu Conselho, Conselheiro de sua Real Fazenda, Chanceler das Ordens Militares, Deputado da Junta da Fazenda, e Estado da Rainha Nossa Senhora, Censor e Director desta Real Academia”.

  

O HOMEM

 

José da Cunha Brochado era um homem íntegro, de ideias arejadas. Conhecia os males do País, e neles insistia, designadamente nas deficiências da educação.

É claro que, na exposição das suas ideias, não perdia as suas qualidades de diplomata e assim era uma pessoa polida, sem qualquer resquício de ideias revolucionárias.

Criticava o facto de andarem todos de mão estendida à espera de benesses, mas não se coibiu de as pedir com insistência para ele próprio e para toda a família, em especial, seu irmão e sobrinhos.

Era sem dúvida um homem inteligente e culto, embora a sua escrita não fosse tão apurada que se pudesse considerar ter valor literário.

Como toda a gente alfabetizada daquele tempo, também ele tentou fazer poesia, mas depressa desanimou, como se verifica deste trecho desta carta (Dória, pags. 39-40):

Conta-me V.M. o triste caso da morte do filho desse fidalgo Embaixador de Espanha, que, saindo desse porto para começar a sua caravana em Malta, fora o seu navio atacado por um dos turcos e a primeira bala lhe tirara a vida em idade de 18 anos. Deseja V.M. que eu faça alguns versos a este assunto. Nesta parte obedecera logo a V. M. se ainda o génio de poeta me possuíra o entendimento. Assim foi em algum tempo, mas hoje, por mercê de uma pequena reflexão, convalesci deste brilhante inútil hábito, e tudo o que tirei de haver feito versos é um generoso arrependimento de os haver feito.

Gostava muito de touradas e utilizava imagens da corrida taurina nos seus escritos, por exemplo:

 

Carta de 30 de Março de 1709

Já disse a V. Ex.ª que no Conselho de El-Rei se resolvera que o Embaixador de Inglaterra não passaria ao Alentejo; e seria sem dúvida a razão deste impedimento a falta de tropas e de meios para empreender acção digna do conselho e do conselheiro; e agora me dizem que El-Rei, mandando dizer ao tal Embaixador que seria do seu agrado que não fosse ao Alentejo, ele respondera que tinha ordem precisa da Rainha, sua ama, para ir a campanha. A esta resposta não tivemos que replicar, porque esta sorte foi pela nuca e caiu o animal no chão e não faltou mais do que tocar as trombetas. Eu suponho que a diligência desta jornada toda é nascida das inculcas e promessas que o Embaixador terá feito aos ministros da sua Corte;  e nem me admira a grande mão e confiança com que ele nos fala depois de lhe pedirmos que fosse fiador de El-Rei para o pagamento de algumas curiosidades, que se mandaram comprar a Londres.

      Não sei nestes termos o como este general há-de obrar no Alentejo; ele diz que quer tomar Badajoz, e será com a mão esquerda depois que esta mesma praça lhe tomou a direita.   

(Pags. 295-296 de O Investigador Português, vol. XVI)

 NOTA: O general é Lord Galloway, que perdera o braço direito por um tiro de artilharia em 11 de Outubro de 1705, em Badajoz.

 

CITAÇÕES (do livro da Prof. Rosalina Pinto Delgado):

- Para fazer uma Lei justa, não é necessário saber Direito

- Agora é necessário que estes socorros vão a Barcelona, que é o mesmo que passar além da Taprobana.

- O valor não é virtude nem nasce dela: serve a virtude quando a usa bem, segundo as regras da moral.

- Já que me não pode mandar para Roma, por me faltarem as beatificações necessárias, mande-me para Holanda e viverei lá com menos vergonha de mal vestido.

- Este ministro não há-de ser sempre o que é agora e Portugal sempre há-de ser vizinho de Castela.

 

Anexo 1

 

Sentenças transcritas por Manuel Álvares Pegas, nos seus livros:

 

1 - RESOLUTIONES FORENSES PRACTICABILES, circa actiones competentes Actoribus, et defensiones Reorum, pertinentes Magistratibus, Advocatis, cæterisque in utroque foro versantibus, non solum utiles, sed etiam quotidie necessariæ. - 7 volumes -  S.C. 775 V. a S.C. 781 V

2 - COMMENTARIA AD ORDINATIONES REGNI PORTUGALLIÆ - 14 volumes -  S.C. 5114 A. a S.C. 5127 A

3 - TRACTATUS DE EXCLUSIONE, INCLUSIONE, SUCCESSIONE, ERECTIONE MAIORATUS  - 5 volumes -   S.C. 782 V – S.C. 786 V

 

De José da Cunha Brochado:

 

RESOLUTIONES

 

Vol. 3  - Pag. 154 – Lisboa, 8 de Agosto de 1678

Online: http://books.google.com

 

Vol. 4 – Pags. 236 - 237 – Lisboa, 12 de Junho de 1679

 

Vol. 6 – Pags. 156 – 157 - Lisboa, 28 de Novembro de 1688

 

Vol. 6 – Pags. 155 - 156 - Lisboa, 6 de Fevereiro de 1689

 

COMMENTARIA

 

Vol. 7 - Pags. 193 -194 - Lisboa, 4 de Novembro de 1678

 

TRACTATUS DE EXCLUSIONE

 

Pars prima - Pag. 416 – Lisboa, 16 de Abril de 1679

Online: http://bdigital.sib.uc.pt/bduc/Biblioteca_Digital_UCFD/digicult/UCFD-H-D-19-3_5/globalItems.html

 

Pars secunda – Pags. 508 a 512 – Lisboa, 25 de Janeiro de 1679

Online: http://bdigital.sib.uc.pt/bduc/Biblioteca_Digital_UCFD/digicult/UCFD-H-D-19-3_5/globalItems.html

 

Pars tertia – Pags. 475 – Lisboa, 10 de Março de 1690

Online: http://books.google.com

 

 

De Belchior da Cunha Brochado:

 

RESOLUTIONES

 

Vol. 4.º - Pags. 12 -13 – Benavente, 16 de Março de 1681

 

TRACTATUS DE EXCLUSIONE

 

Pars tertia – Pags. 376 - 377 – Lisboa, 28 de Novembro de 1686

Online: http://books.google.com

 

Pars quarta – Pags. 142 -143 – Lisboa, 13 de Dezembro de 1685

Online: http://books.google.com

 

Pars quarta – Pags- 479 a 481 – Lisboa, 12 de Janeiro de 1686

Online: http://books.google.com

 

Pars quarta – Pags. 516 a 518 – Bahia, 24 de Agosto de 1687.

Online: http://bdigital.sib.uc.pt/bduc/Biblioteca_Digital_UCFD/digicult/UCFD-H-D-19-3_5/globalItems.html

 

Anexo 2

Sonetos de Gregório de Mattos Guerra ao Desembargador Belchior da Cunha Brochado

 

Ao casamento do Desembargador Belchior da Cunha Brochado com a filha do Capitão Sebastião Barbosa

 

É questão mui antiga e altercada

Entre os Letrados e Milicianos,

Sem se haver decidido em tantos anos,

Qual é mais nobre, a pena ou a espada.

 

Discorrem em matéria tão travada

Altos entendimentos mais que humanos,

E julgam ter brasões mais soberanos

Uns que Palas togada, outros que armada.

 

Esta pois controvérsia tão renhida,

Tão disputada quanto duvidosa,

Cessou c’o desposório que se ordena.

 

Uma pena a soltou mui entendida,

Uma espada a cortou mui valerosa,

Pois já se dão as mãos espada e pena.

 

 

Ao desembargador Belchior da Cunha Brochado, casado com uma filha de Sebastião Barbosa, Capitão de infantaria do III da Praça da Bahia.

Douto, prudente, nobre, humano, afável.

Reto, ciente, benigno e aprazível.

Único, singular, raro, inflexível.

Magnífico, preclaro, incomparável.

 

Do mundo grave juiz. Inimitável.

Admirado, gozais aplauso incrível,

Pois a trabalho tanto e tão terrível,

Dais pronto execução sempre incansável.

 

Vossa fama, senhor, seja notória

Lá no clima onde nunca chega o dia.

Onde do Erebo só se tem memória

 

Para que garbo tal, tanta energia!

Pois de toda esta terra é gentil glória,

Da mais remota seja uma alegria.

 

Conforme anota o Prof. Doutor Francisco Topa, este poema denomina-se “soneto em labirinto”. Os versos são divididos aos pares e entre cada par estão sílabas ou letras, que são comuns aos versos anterior e ao posterior, para as palavras que estão no mesmo alinhamento. A forma correcta é, pois, esta:

 

Dou     prude   nobre, huma            afáv

       to             te                         no              el

Rec              cien                 benig     e aprazív

Úni       singular, ra            inflexív

           co                ro                     el

Magnífi        precla          incomparáv

 

Do mun     grave ju          inimitáv

         do               is                        el

Admira          goza     aplauso incrív

Po  a trabalho tan      e t           terrív

    is          to                 ão                     el

Da      pron       execuç   sempre incansáv

 

Voss    fa    senhor, sej        notór

      a         ma             a                 ia

L      no cli     onde nunc    chega o d

Ond   do Ere      só se tem memór

        e           bo                           ia

Para qu   gar        tal, tanta energ

Po    de toda es    terr   é gentil glór

       is                 ta      a                 ia

Da ma     remo         sej      uma alegr

 

 

 Ao Desembargador Belchior da Cunha Brochado, vindo de sindicar o Rio de Janeiro em ocasião que estava o Poeta preso pelo Ouvidor do crime, pelo furto de uma negra, soltando-se na mesma ocasião o ladrão

 

Senhor Doutor, muito bem-vinda seja

A esta mofina e mísera cidade

Sua justiça agora e equidade

E letras, com que a todos causa inveja.

 

Seja muito bem-vindo, por que veja

O maior disparate e iniquidade

Que se tem feito em uma e outra idade

Desde que há tribunais e quem os reja.

 

Que me há-de suceder nestas montanhas

Com um Ministro em Leis tão pouco visto,

Como previsto em trampas e maranhas?

 

É Ministro de império mero e misto,

Tão Pilatos no corpo e nas entranhas

Que solta um Barrabás e prende um Cristo.

 

 

 

Pede a um amigo o seu escravo Alfaiate para certa obra, e tem circunstâncias declarar que era Belchior da Cunha Brochado

 

É este memorial de um afligido;

Se vos der mais enfado do que devo,

Entendei do papel em que o escrevo,

Que dos trapos se fez do meu vestido.

 

Estou há vinte meses retraído,

Por crime que a dizer me não atrevo:

Acutilei, por ser já velho e gevo,

Um vestido que tinha de comprido.

 

Com isto está meu Pai muito enfadado

E sobre ver-me roto, me descose,

Porque comigo está desesperado.

 

Eu como um descosido, como as doze,

É como estou sem vós desabrochado,

Vos peço o Alfaiate que vos cose.

 

NOTA: Estes quatro sonetos foram transcritos com a devida vénia do livro do Prof. Doutor Francisco Topa, Edição crítica da obra poética de Gregório de Matos   2o v., [1a parte] : Edição dos sonetos. - 1999. - 574 p. ISBN 972-97675-8-0, Porto, 1999, online em http://web.letras.up.pt/ftopa/Livros-Pdf/GM-III.pdf . 

 

 

TEXTOS CONSULTADOS

 

Maria Rosalina Pinto da Ponte Delgado, José da Cunha Brochado (1651-1733) [Texto policopiado] um embaixador de Portugal nas Cortes de Paris, Londres e Madrid, 3 vols. Tese de doutoramento, Univ. Lusíada, 1999

 

Maria Rosalina Pinto da Ponte Delgado, José da Cunha Brochado (1651-1733) - o homem e a sua época, 374 pags., Universidade Lusíada, Lisboa, 2000.

  

José da Cunha Brochado ; Cartas, selec., pref. e notas de António Álvaro Dória.  Lisboa : Sá da Costa,.  1944.

 

Ricardo António Alves, José da Cunha Brochado na corte de Luís XIV,   Cascais,  1999,   ISBN 972-98403-0-X.  

 

Memórias de José da Cunha Brochado, antologia e estudo introdutório por Mendes dos Remédios.  Ed. fac-similada.  Cascais : Câmara Municipal,.  1996.   ISBN 972-637-35-3.

 

Cartas de José da Cunha Brochado ao Conde de Viana, D. José de Menezes (1705 – 1710), in O Instituto, Coimbra, 1922, vol. 69.º, pags. 393-403, 441 – 456, 504 – 513 e 578 -584.

 

José de Sousa Mendes, José da Cunha Brochado, Anedotas e Memórias da Corte de França, in  Vértice : revista de cultura e arte / propr. Sociedade Editora Vértice ; dir. Carmo Vaz, Raúl Gomes, 1952 vol. XII: n.º 107, de Julho – pgs. 354 – 367, n.º 108, de Agosto – pgs. 415 – 423, n.º 110, de Outubro – pgs. 554- 567, n.º 111, de Novembro – pgs. 602 - 614, n.º 112, de Dezembro – pgs. 671 – 683 .

 

Cartas em O Investigador Portuguez em Inglaterra ou Jornal, Político, Literário, etc., XVI, pags. 20-25, 158-163, 429-434, XVII, pags. 47-51

Online: http://books.google.pt

 

José Soares da Silva (1672-1739) , Gazeta em forma de carta, Lisboa, BN, 1933, 232 pags.

 

Auto da Vida de Adão, Pai do género humano, de Félix Joseph da Soledade – Oficina de José Antunes da Silva, Lisboa, 1727

Online (edição de 1784): http://purl.pt/13943  

 

Parecer do Académico Joseph da Cunha Brochado sobre a proposta que o Académico o Padre Doutor Frey Bernardo de Castellobranco – Chronista Mor do Reino – que tem o emprego de escrever as memórias delRey D. Pedro I – fez sobre este Príncipe merecia o epitheto de cruel, ou de justiçoso, in Ferreira de Andrade, Cascais – vila da Corte. Oito séculos de história. Cascais . Câmara Municipal. 1990 . Edição fac-similada. ISBN – 972-637-018-3

 

Jorge Borges de Macedo, História Diplomática Portuguesa: constantes e linhas de força, Lisboa, Rev. Nação e Defesa, 1987, 387 pags.

 

Damião Peres (1880-1976), A Diplomacia Portuguesa e a sucessão de Espanha: 1700-1704, Portucalense, Barcelos, 1931

 

Nuno Vila-Santa, A Missão Diplomática de José da Cunha Brochado a Madrid em 1725, in Negócios Estrangeiros - Janeiro 2008, n.º 12, pags. 285 - 294

Online: http://www.mne.gov.pt/mne/pt/ministerio/id/publicacoes/

 

A. de Magalhães Basto, Um diplomata português na corte de Luís XIV,  in Revista  de Estudos Históricos,  n.° 1-3, III ano. Janeiro a Dezembro de 1926:

Online: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/artigo4411.doc

 

Gonçalo Manoel Galvão de Lacerda, Elogio fúnebre de Joseph da Cunha Brochado, 8 de Outubro de 1733, in Collecçam dos Documentos Estatutos e Memorias da Academia Real da Historia Portugueza : que neste anno de 1721 se compuzeraõ, e se imprimiraõ por ordem dos seus Censores... / ordenada pelo Conde de VillaMayor secretario da mesma Academia

1733 parte 2.ª  - volume 13, caderno XXIII

 

Collecção de Tratados, Convenções, Contratos e Actos Públicos celebrados entre a Coroa de Portugal e as mais Potências desde 1640 até ao presente, compilados, coordenados e anotados por José Ferreira Borges de Castro. Tomo IV. Lisboa. Imprensa Nacional. 1857.

Online: http://books.google.pt

 

 

 

 

JOZÉ DA CUNHA BROCHADO Cavalleiro da Ordem militar de Christo, Fidalgo da Caza de sua Magestade do seu Conselho, Conselheiro da sua real Fazenda, Chanceller das Ordens Militares, Deputado da Junta da Fazenda, e Estado da Rainha Nossa Senhora, Censor, e Director da Academia Real da Historia Portugueza nasceu em a maritima Villa de Cascaes a 2 de Abril de 1651 para credito da educação que lhe derão seus Pays Antonio da Cunha da Fonceca Tenente Governador do Castelo de S. Iorge desta Cidade, e D. Joanna do Quental igualmente nobres, e virtuosos. Instruido nos primeiros rudimentos aprendeo as letras humanas em o Collegio de Santo Antão, e neste prologo dos seus estudos deu claros indicios da comprehensão para mayores Faculdades. Aplicado á penetração das dificuldades do Direito Cesareo em a Universidade de Coimbra sahio tão eminente que aprovada pelos Cathedraticos a sua sciencia legal a practicou em os Magistrados da Republica com tão rectca administração que foy venerado como o mais religioso cultor do Sanctuario da Iustiça Sendo nomeado em o anno de 1695 Embaxador Extraordinario á Corte de Pariz o Marquez de Cascaes D. Luiz Alvares de Castro o acompanhou com o lugar de Secretario da Embaxada, e em tão famosa Cidade conciliou pela suavidade do genio, e luzimento da pessoa as atençoens de grandes, e pequenos. Sahindo de Pariz no anno de 1699 o Marquez Embaxador, residio nesta Corte com o Caracter de Enviado Extraordinario até o anno de 1704 e nestes sinco annos se valeo da sua politica dexteridade para não ser ofendido o decoro do seu Principe a tempo que os interesses daquella Coroa se não conformavão com os da nossa. Restituido a Lisboa onde no lugar de Conselheiro da Fazenda Real servio com zelo, e independencia foy mandado no anno de 1710 à Corte de Londres com ordem que não podendo por algum incidente assistir no congresso de Utrech D. Luiz da Cunha, passase logo sem novo avizo a Olanda como segundo Plenipotenciario desta Coroa. Por não ter efeito esta substituição rezidio em Londres com o caracter de Enviado Extraordinario até o anno de 1715 onde concorreo com as suas maximas para a conclusão da Paz em que tanto se interessou a nossa Monarchia. Terceira vez o obrigou o serviço do seu Principe sahir da patria sendo nomeado em o anno de 1725 . primeiro Plenipotenciario para a conclusão dos Tratados Matrimoniaes entre os Serenissimos Principes do Brazil, e Asturias em cuja negociação mostrou que o vigor do juizo se não diminuira com a extensão da idade. Entre os primeiros cincoenta Academicos de que se formou a Academia Real da Historia Portugueza foy eleyto Academico, e depois Censor merecendo repetidos aplauzos dos seus Collegas quando recitava alguma das suas compoziçoens em que a novidade da idea competia com a elegancia, e discreção das palavras, e dos pensamentos. Practicou com felicidade a Poesia vulgar, e não menos a Oratoria sendo os seus versos eloquentes, os seus Discursos elegantes. Alcançou o principado no estilo epistolar excedendo em o numero, e ainda na discrição as cartas de Plinio, e Seneca tão aplaudidas pela veneravel antiguidade. Da Historia Ecclesiastica teve bastante instrução; o principio, e augmento das Artes, e sciencias lhe não forão ocultos; distinguio com judiciosa politica os interesses dos Principes, e os mysterios dos Gabinetes; fallou com expedição, e escreveo com pureza as linguas mais polidas da Europa. Foy ornado de gentil presença, genio suave, eloquencia natural, e sem exceder os limites da modestia se distinguio no ornato da sua Pessoa. Persuadido pelo numero dos annos, que não estava muito distante a ultima hora se preparou para a Eternidade com actos fervorosos de resignação Christã até que lentamente consumido da infermidade espirou a 27 de Setembro de 1733 quando contava 82 annos 5 mezes, e 25 dias de idade. Jaz sepultado em a Igreja do Convento de Santo Eloy de Lisboa em sepultura propria. As suas acçoens politicas, e catholicas reduzio a hum elegante Panegyrico recitado na Academia Real Gonçalo Manoel Galvão de Lacerda Conselheiro do Ultramar, e Collega da mesma Academia onde primorosamente dibuxou a imagem deste insigne Varão.

 

Cathalogo das suas obras Academicas.

 

Parecer sobre a proposta, que o Academico o Padre Doutor Fr. Bernardo de Castellobranco Chronista mór do Reyno, que tem o emprego de escrerer as Memorias delRey D. Pedro o I. fez sobre se este Principe merecia o epitheto de cruel, ou justiçoso. Sahio no Tom. 2.º. da Collec. dos Docum. da Academia Real. Lisboa por Paschoal da Sylva Impressor de S. Magestade. 1722.fol.

 

Conta dos seus estudos Academicos dada no Paço a 22 de Outubro de 1722. Sahio no Tom. 2. da Colleção dos Documentos.

 

Elogio de D. Fernando de Noronha Conde de Monsanto do Conselho de S. Magestade, e Academico real da Historia Portugueza recitado na Academia a 23 de Dezembro de 1722.Sahio no Tom. 3). da Collec. dos Docum. da Academia Real. Lisboa pelo dito Impressor. 1723.

 

Conta dos seus estudos Academicos dada na Academia a 13 de Mayo de 1723. Sahio no Tom. 3. da Collec.

 

Conta dos seus estudos Academicos dada na Academia a 5 de Agosto de 1723. Sahio no Tom. 3. da Collec.

 

Conta dos seus estudos Academicos em 22 de Outubro de 1723. No Tom. 3. da Collec.

 

Conta dos seus estudos no Paço a 22 de Outubro de 1727.No Tom. 7. da Collec. Lisboa por Jozé Antonio da Sylva. 1727. fol.

 

Elogio de D. Fernando Mascarenhas Marquez de Fronteira dos Conselhos de Estado, e Guerra, Mordomo mór da Raynha Nossa Senhora, Presidente do Dezembargo do Paço, e Censor da Academia Real da Historia Portugueza em 9 de Março de 1729.No Tom.9. da Collec. Lisboa pelo dito Impressor. 1729.

 

Introdução ao lugar de Censor da Academia Real. No Tom. 9.da Colleção.

  

Conta dos seus estudos Academicos a 6 de Dezembro de 1729.No Tom. 9.da Colleç.

 

Conta dos seus estudos no Paço a 7 de Setembro de 1730.No Tom. 10.da Colleç. Lisboa pelo dito Impressor. 1730. fol.  

 

Discurso sendo Director na Conferencia de 23 de Fevereiro de 1730.No Tom. 10.da Colleção.

 

Conta dos seus estudos em 22 de Setembro de 1730.No Tom. 10.da Colleção.

 

Oração sendo Director recitada no Paço a 16 de Novembro de 1730.No Tom. 10.da Colleção.

 

Declaração sendo Director da Academia Real da Historia Portugueza na Conferencia de 8 de Fevereiro de 1731N. de estar eleito Academico com aprovação de S. Magestade o Conde do Vimioso.No Tom. 11.da Colleção. Lisboa pelo dito Impressor. 1731. fol.

 

Conta dos seus estudos em 17 de Fevereiro de 1731.No Tom. 11 da Colleção

 

Discurso sobre o descobrimento do mar Indico por ElRey D. Manoel em 2 de Agosto de 1731.No Tom. 11.da Collec.

 

Oração sendo Director da Academia Real da Historia Portugueza naultima Conferencia, que se fez em 10 de Dezembro de 1731.No Tom. 11.da Collec.

 

Discurso na Conferencia de 31 de Janeiro de 1732. em que congratula aos Academicos de o elegerem novamente Censor da Academia.No Tom. 11.da Colleção.

 

Discurso acerca de quem he mais util a hum Reyno, se o Lavrador, se o Soldado? Recitado a 2 de Mayo de 1732.No Tom. 11.da Colleção.

 

Oração recitada no Paço a 25 de Outubro de 1732. em que celebrou os annos delRey Nosso Senhor. No Tom. 11.da Colleção.

 

Auto da vida de Adão Pay do Genero Humano Primeiro Monarcha do Universo. Lisboa por Jozé Antonio da Sylva 1727 . 8. Sahio com o suposto nome de Felix Jozé da Soledade.

 

 

Obras M. S.

 

 

MS Cartas das Negociaçoens do Tempo que residio em a Corte de França sendo Enviado Extraordinario fol. 2. Tom.

 

MS Memorias Annedoctas da Corte de França, que contem varios cazos, e duvidas, que houve naquella Corte.

 

MS Cartas, e Negociaçoens no tempo, que residio em Inglaterra sendo Enviado na mesma Corte. fol.2. Tom.O primeiro he para a Secretaria de Estado O segundo para os nossos Plenipotenciarios em Utrech o Conde de Tarouca, D. Luiz da Cunha.

 

MS Cartas, e Negociaçoens do tempo que residio na Corte de Madrid com o Caracter de Plenipotenciario. fol.

 

Todos estes M. S. conserva com a merecida estimação em seu poder o Illustrissimo Bartholameo da Cunha Brochado Prelado da Santa Igreja Patriarchal de Lisboa Sobrinho do Author.

 

Da: "Bibliotheca lusitana historica, critica, e cronologica : na qual se comprehende a noticia dos authores portuguezes, e das obras, que compuserão desde o tempo da promulgação da Ley da Graça até ao tempo presente, por Diogo Barbosa Machado (1682-1772), 4 vols., 1741."