8-5-2008

 

Concelho de Tondela

 

Freguesias de

Lobão da Beira

Molelos

Nandufe

Tonda

Vilar de Besteiros

 

M E M Ó R I A S    P A R O Q U I A I S - 1

 

Convencionou-se chamar “Memórias Paroquiais” aos textos enviados pelos párocos de Portugal Continental em resposta ao questionário que lhes remetera através dos seus Bispos a Secretaria de Estado dos Negócios do Reino em 1758, dirigida então pelo Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo – Aviso de 18 de Janeiro de 1758. Constituem estas respostas os volumes 1 a 41 do Fundo com aquela designação na Torre do Tombo. Os volumes 42 e 43 contêm respostas de 1722, 1730 e 1732, dadas a anteriores inquéritos. Há um volume 44 que serve de índice.

As “Memórias Paroquiais” estão disponíveis online nos sites da Torre do Tombo e da Universidade Nova.

O texto do questionário pode ser visto na 2.ª parte da página, neste site, aqui.  Pedia a Secretaria de Estado que as respostas viessem escritas “em letra legível e sem breves”, isto é, sem abreviaturas. Recomendação bem oportuna porque os textos anteriores a 1758 estão cheios de abreviaturas que muito dificultam a leitura.

Pelo país fora, têm sido publicadas muitos opúsculos ou monografias, transcrevendo e comentando “Memórias Paroquiais”; proponho-me reproduzir aqui algumas respeitantes às actuais freguesias do concelho de Tondela, actualizando a grafia sob a minha responsabilidade.

No site da Torre do Tombo, os textos pesquisam-se indicando na primeira linha da pesquisa o nome da freguesia e na segunda o código MPRQ.

Como todas, as freguesias do concelho de Tondela são indicadas na base de dados pelo nome, seguido de uma vírgula e da indicação do concelho. Se as freguesias eram cabeça de concelho, é indicado o Bispado a seguir à vírgula, como se segue:

 

Freguesias do concelho de Tondela:

Barreiro, Tondela

Eulália (Santa), Tondela   (Campo de Besteiros)

Caparrosa, Tondela

Castelões, Tondela

Dardavaz, Tondela

Lobão, Tondela

Molelos, Tondela

Mosteiro de Fragões, Tondela     (Mosteiro de Fráguas)

Nandufe, Tondela

Besteiros, Tondela    (Santiago de Besteiros)

Silvares, Tondela

Tonda, Tondela

Vilar, Tondela

 

      Freguesias do concelho de Viseu

 

Ferreiros, Viseu      (Ferreiroz)

Lagiosa, Viseu         (Lajeosa)

 

      Freguesias do concelho de S. João do Monte

 

Mosteirinho, São João do Monte

 

Freguesias, cabeça de concelho (indica-se Viseu, depois da vírgula):

 

Canas de Sabugosa, Viseu

Guardão, Viseu

Mouraz, Viseu

Sabugosa, Viseu

Outeiro, Viseu        (São Miguel do Outeiro)

Monte (São João do), Viseu         (São João do Monte )

Tondela, Viseu

  

Parada de Gonta, Tourigo e Vila Nova da Rainha aparecem nas “Memórias Paroquiais”, respectivamente como povoações das freguesias de S. Miguel do Outeiro, Barreiro e Treixedo.

  

O interesse das memórias é muito variável. Alguns párocos redigem bem, outros nem por isso. Uns espraiam-se na narração, outros sintetizam ao máximo. Uns são bons em geografia, outros fazem afirmações erradas. Mas são sempre extremamente úteis.

O texto sobre Tondela, de 1732, é particularmente difícil de ler, cheio de abreviaturas e manchado de tinta. Ficará para mais tarde.

A quem encontrar incorrecções na transcrição, muito agradeço que mas comunique.

 

 

LOBÃO

 

O que se procura desta terra é o seguinte: 

LOBÃO

 

Relação das notícias pertencentes à freguesia de São Julião de Lobão do Arciprestado de Besteiros e Bispado de Viseu sobre os interrogatórios que vieram da Secretaria de Estado e foram distribuídos por ordem de Sua Excelentíssima Reverendíssima pelas Freguesias deste Bispado para o fim de se anexem as ditas notícias e é o seguinte:

 

1. Enquanto à terra é Província da Beira e é Bispado e Comarca de Viseu, e termo da Vila de Tondela, freguesia de S. Julião de Lobão.

 

2. Enquanto ao segundo, é de El-Rei e tem comendador e é Dom Fernando Henrique de Miranda[1].

 

3. Enquanto ao terceiro, tem de fogos duzentos trinta e seis e de pessoas seiscentos cinquenta e nove.

 

4. Enquanto ao quarto está situada em terra plana, descobre-se Tondela, Tonda, e Canas de Sabugosa, e todo o vale de Besteiros e Lajeosa de estância de duas léguas de umas a outros.

 

5 . Enquanto ao quinto é termo da vila de Tondela e tem de lugares cinco, e póvoas duas com nome de Casal, Souto, Alcouce, Vila Jusã, Várzea de Cavalos, e chamam-se as póvoas, Póvoa do Alexandre, Póvoa da Ínsua. O Casal tem de vizinhos cinquenta e dois, o Souto de vizinhos oito, Alcouce de vizinhos trinta, Vila Jusã, setenta e seis, Várzea de Cavalos, de vizinhos, sessenta e dois, Póvoa do Alexandre, três, Póvoa da Ínsua, tem vizinhos, três.

 

6. Enquanto ao sexto, a paróquia está fora dos lugares e tem cinco lugares somente: Casal, Souto, Alcouce, Vila Jusã, Várzea de Cavalos.

 

7. Enquanto ao sétimo é Orago de S. Julião de Lobão e tem quatro Altares,  um do Santíssimo, outro da Senhora e outro de S. Sebastião e outro de Santo António, e tem de naves é uma, e tem duas Irmandades, uma da Senhora do Crasto e outra das Almas.

 

8. Enquanto ao oitavo, o Pároco é vigário, apresenta-o El-Rei e tem de renda quarenta mil réis.

 

9. Enquanto ao nono, não tenho que dizer.

 

10. Enquanto ao décimo, não tenho que dizer.

 

11. Enquanto ao undécimo, não tenho que dizer.

 

12. Enquanto ao duodécimo, não tenho que dizer.

 

13. Enquanto ao décimo terceiro, tem ermidas quatro, S. Miguel, Senhora do Crasto, S. João, e S. Simão e todas estão fora dos lugares aonde pertencem aos moradores.

 

14. Enquanto ao décimo quarto somente acodem a S. Simão uma romagem no seu dia.

 

15. Enquanto ao décimo quinto são os frutos de maior abundância pão, vinho, azeite, feijão, que os moradores recolhem.

 

16. Enquanto ao décimo sexto está sujeita ao governo das justiças de Tondela, digo, da vila de Tondela.

 

17. Enquanto ao décimo sétimo não tenho que dizer.

 

18.  Enquanto ao décimo oitavo nasceu desta terra o Desembargador Lucas de Seabra e Silva [2], de Letras que foi Desembargador do Paço, e por armas, António da Silva, Tenente de Infantaria e Jacinto Dinis, por Letras, Desembargador da Relação do Porto.

 

19. Enquanto ao décimo nono não tenho que dizer.

 

20. Enquanto ao vigésimo não tem correio, somente se serve do correio da vila de Tondela, que tem distância meia légua, e chega à sexta feira e parte ao domingo.

 

21. Enquanto ao vigésimo primeiro tem distância da cidade de Viseu três léguas e da de Lisboa, quarenta.

 

22. Enquanto ao vigésimo segundo não tenho que dizer.

 

23. Enquanto ao vigésimo terceiro não tenho que dizer.

      Digo que tem quatro fontes em toda a freguesia.

 

24. Enquanto ao vigésimo quarto não tenho que dizer.

 

25. Enquanto ao vigésimo quinto não tenho que dizer.

 

26. Enquanto ao vigésimo sexto não tenho que dizer.

 

27. Enquanto ao vigésimo sétimo não tenho que dizer.

 

O que se procura saber desta Serra é o seguinte:

 

1. Enquanto ao primeiro chama-se Serra de Penela.

 

2. Enquanto ao segundo tem de comprido uma légua e de largo tem meia légua e começa em Silgueiros e finda em Ferreirós.

 

3. Enquanto ao terceiro, os nomes dos principais dela chama-se Lajeosa.

 

4. Enquanto ao quarto não tenho que dizer.

5. Enquanto ao quinto não tenho que dizer.

6. Enquanto ao sexto não tenho que dizer.

7. Enquanto ao sétimo não tenho que dizer.

 

8. Enquanto ao oitavo tem a Serra montes de várias castas de olivais, e terras que se cultivam em algumas partes, e é abundante de azeite e vinho.

 

9. Enquanto ao nono não tenho que dizer.

 

10. Enquanto ao décimo é de boa qualidade que dá de tudo quanto lhe plantam de tudo dá fruto.

11. Enquanto ao undécimo há muitos coelhos e perdizes.

12. Enquanto ao duodécimo não tenho que dizer.

13. Enquanto ao décimo terceiro não tenho que dizer.

 

O que se procura dos rios desta terra é o seguinte:

 

1. Enquanto ao primeiro chama-se Rio Dasnos, sítio da Ribeira, este nasce em Mundão.

 

2. Enquanto ao segundo não nasce caudaloso e corre todo o ano.

 

3. Enquanto ao terceiro entram nele o Rio da Urtigueira, o Rio Déssas [3], e se misturam todos aonde chamam os três rios [4].

 

4. Enquanto ao quarto não tenho que dizer.

 

5. Enquanto ao quinto é caudaloso

 

6. Enquanto ao sexto corre de norte para sul.

 

7. Enquanto ao sétimo tem peixes, Bordalos, Barbos, Bogas e Enguias.

 

8. Enquanto ao oitavo, pesca-se nele todo o ano.

 

9. Enquanto ao nono, são todas as pescarias livres em todo o rio.

 

10. Enquanto ao décimo não tem arvoredo nenhum, só em partes amieiros e salgueiros e cultivam-se as suas margens.

 

11. Enquanto ao undécimo não tenho que dizer.

 

12. Enquanto ao décimo segundo sempre se tem conservado o mesmo nome e tem em outra parte o Rio Pavia e não há memória de outro nome.

 

13. Enquanto ao décimo terceiro vai-se meter no Rio Dão no sítio de Ferreirós.

 

14. Enquanto ao décimo quarto tem levadas e açudes.

 

15. Enquanto ao décimo quinto tem uma ponte chamada a Ponte Pedrinha, de cantaria.

 

16. Enquanto ao décimo sexto  não tenho que dizer.

 

17. Enquanto ao décimo sétimo  não tenho que dizer.

 

18. Enquanto ao décimo oitavo são as águas livres para regarem.

 

19. Enquanto ao décimo nono tem o Rio seu nascimento até donde acaba quatro léguas, passa pela Cidade de Viseu, Vil de Moinhos, Fail, Parada, Lobão, Ferreirós.

 

20. Enquanto ao vigésimo  não tenho que dizer.

 

E não se contem mais nos ditos interrogatórios.

E por verdade passei este que assinei hoje vinte e cinco de Junho de mil e setecentos e cinquenta e oito anos.

 

O Vigário,

 

Luis de Seabra

 

[1] O nome correcto é Fernando Xavier de Miranda Henriques.  Existem na Torre do Tombo vários tombos da comenda de 1633-1634, 1650-1659, 1730-1751, e 1750-1752, constantes de documentos com as referências TC 285, TC 286, TC 287, TC 288 e OC/CT 191.

[2] Lente de Leis em Coimbra, pai de José de Seabra da Silva  (1732-1813), secretário do Marquês de Pombal; este último caiu em desgraça em 1774 e foi deportado para Angola. Foi reabilitado no reinado de D. Maria I, tendo sido Secretário de Estado de 1788 a 1799.

[3] Deverá ser a Ribeira de Sasse.

[4] Castro dos 3 rios.

 

MOLELOS

 

 

Freguesia de S. Pedro de Molelos, Bispado de Viseu

 

Respondendo ao que se me ordena, como Pároco da dita Igreja e Freguesia, digo o seguinte:

§ 1.º Primeiro – Que na Província da Beira e Bispado e Comarca de Viseu, termo da vila de Tondela, se acha situada a Freguesia de Molelos, a qual é de El-Rei Fidelíssimo Nosso senhor.

§ 3.º   Segundo – Tem duzentos e setenta vizinhos, pouco mais ou menos; pessoas de Sacramento setecentos e setenta; menores, setenta.

§ 4.º - Está situado em um vale plano, em o meio do concelho, e termo da vila de Tondela; dela se descobre a Serra do Caramulo que lhe fica para a parte do Poente, uma légua, com todas as suas Povoações, que na dita Serra se acham, para a parte do Nascente, as quais nas suas Freguesias se declararão.

§ 5.º Tem a si anexos o dito Molelos dois lugares, que são Molelinhos e Botulho e uma aldeia que é a Mata; o qual lugar de Molelinhos tem setenta vizinhos, pouco mais ou menos, e o lugar do Botulho tem quarenta, pouco mais ou menos e a aldeia da Mata tem quatro.

§ 6.º A Igreja está dentro do lugar do dito Molelos no sítio do Paço, e um adro contíguo às casas do Morgado, donde lhe veio o nome do Paço, por ali estar o do dito Morgado.

§ 7.º O Orago da dita Igreja é o Apóstolo S. Pedro, cuja imagem está fabricada com magnificência de corpo e igual correspondência de sua altura, a qual se acha posta no fundo da tribuna e sobre o altar da Capela-mor. Tem mais quatro altares colaterais, em justa correspondência, dos quais um deles da parte da Epístola, é de Nossa Senhora do Rosário, aonde se acha de uma parte S. José, e da outra S. Ana; logo abaixo ao pé do púlpito, se acha o do Menino Jezu, Imagem vestida, e posta no trono do Altar, em cujo retábulo está uma excelente imagem dedicando-o a S. Domingos, cuja pintura é tradição seja do Grão Vasco, por se achar bem ornada; e da parte do Evangelho, está o Altar do Santíssimo Sacramento, que está em correspondência ao da Senhora do Rosário; Capela engradada por ser pertencente ao Morgado de Molelos; logo para baixo está o Altar de S.to António em correspondência do do Menino com a sua imagem no Trono do Retábulo; e no fundo da parte esquerda está a imagem de Santo António; e na Tribuna da Capela-mor está de um lado a imagem de Nossa Senhora da Conceição, e do outro a imagem de S. Sebastião muito bem esculpida; e no cimo do arco da Capela, que está muito bem pintado, estão dois nichos, em um deles está a imagem de Nossa Senhora com o Menino nos braços, e no outro Santa Luzia; e tem uma só nave, e duas Irmandades, uma do Apóstolo S. Pedro, e outra de Nossa Senhora do Rosário.

§ 8.º O Pároco da dita Igreja é Cura apresentado pelo Vigário da vila de Tondela a quem a dita Igreja é anexa; terá de renda pouco mais ou menos cinquenta mil réis; não morrendo gente na freguesia.

Em os parágrafos ----9-------10------11-------e 12, não tem nada.

§ 13.º Tem esta freguesia duas Capelas ou Ermidas, uma em o lugar de Botulho, de Santa Luzia, outra em Molelinhos, de S. André, as quais ambas são populares; e o lugar de Molelinhos tem uma de S. Francisco que é do Morgado do dito lugar.

§ 14.º A de S.ta Luzia é frequentada de devotos em todo o tempo e tem especialidade no seu dia.

§ 15.º Produz esta freguesia os frutos de centeio, milho grosso, miúdo, cevada, trigo, feijões e vinho, ainda que somente chegam para os moradores da terra, e ainda mal.

§ 16.º Está sujeita esta freguesia ao Juiz de fora da vila de Tondela e neste lugar de Molelos, se faz audiência por ela em horas, que para isso tem reputadas em as terças e sábados de cada semana.

§§ 17.º e 18.º Não há que dizer.

§ 19.º Tem esta freguesia em o lugar de Botulho, em todos os segundos Domingos dos meses, feira franca e da mesma forma no dia de S.ta Luzia.

§ 20.º Não tem correio esta freguesia e se serve do da vila de Tondela, de que dista um quarto de légua.

§ 21.º Dista este lugar e freguesia de Molelos da Cidade de Viseu, cabeça do Bispado, três léguas e quarenta e quatro de Lisboa, capital do Reino.

Nos §§ 22-----23-----24-----25------26------27, não há que dizer.

 

RIO

 

§ 1.º Pelo limite desta freguesia e pelo lugar de Molelinhos, para a parte do norte, passa o rio Criz, que tendo princípio de vários regatos, que descorrem da Serra do Caramulo, fertiliza com suas águas a vila de Besteiros.

§ 2.º Corre este rio todo o ano.

§ 3.º Entram nele vários Rios, como é o de S.ta Eulália, por cima do Coelhoso, no sítio do Mourão; o da Corveira, no sítio da Corveira, limite do Barreiro, no sítio do Poço de entre os Rios; e Ribeiro de Molelos, por baixo da várzea no sítio do Toroso; o Esporão, ou por outro nome Rio Mau, no sítio de S. Lourenço, limite de S. Joaninho, além de outros regatos de menor condição.

§ 4.º Não é navegável em parte alguma.

§ 5.º É todo de curso rápido, desde o seu nascimento até o seu ocaso.

§ 6.º Tem o curso do Norte ao Sul.

§ 7.º Cria variedade de peixes, como são Barbos, Bordalos, Bogas, Robalos (escrito: Rouvalos), Trutas, Enguias, Més de Roins e Cabras Cegas; ainda que estes dois géneros vejamos com menos abundância; e também nos anos de Sumos Invernos, neles aparecem Lampreias e alguns Sáveis.

§ 8.º As pescarias são nele contínuas, e com mais especialidade desde a Primavera até o Outono.

§ 9.º Estas são livres em todo o Rio.

§ 10.º Dá este Rio muitas margens que se cultivam principalmente neste distrito de Molelinhos; é todo de arvoredo silvestre.

§ 11.º Neste não há nada digno de atenção.

§ 12.º Conserva este Rio sempre o mesmo nome.

§ 13.º Perde o nome de Criz em o Rio Dão, por baixo de S.ta Comba, no sítio chamado a Foz Dão.

§ 14.º Neste não tem nada.

§ 15.º Tem este Rio desde o seu princípio até o fim quatro pontes de cantaria que são: a da Taboaça, na freguesia de Santiago, a do Coelhoso, na de Castelãos, a da Várzea na de Ardavaz, e a do Criz, na do Couto do Mosteiro.

§ 16.º Tem este Rio desde o princípio até o fim vários lagares de azeite, e rodas de moinhos, de forma que no limite desta freguesia tem vinte e duas rodas de moinhos.

§ 17.º Tem-se tirado nas suas areias ouro, especialmente no limite de Ardavaz, e no desta freguesia; ainda que há anos se não têm visto nele as pessoas que o tiravam por não serem dos naturais.

§ 18.º Usam os povos das suas águas livremente, aonde as suas margens se cultivam.

§ 19.º Tem este Rio desde o seu princípio até o fim considerando as suas voltas sete léguas; descorre pelos lugares de Muna, Ribeira, Coelhoso, Várzea do Homem, Póvoa do Lobo, Ramilheiro e Criz.

 

E não tenho mais que responder aos interrogatórios inclusos.

Molelos, e de Maio 15, de 1758

O Cura de Molelos,

Bernardo Pereyra da Cunha

 

 

NANDUFE

 

 

Referem-se com clareza e distinção possível as notícias que se puderam descobrir no lugar de Nandufe, e todo seu distrito, e âmbito, sobre os interrogatórios que cometidos me foram, na forma que já se segue.

1 – Enquanto ao primeiro Interrogatório se verifica que este dito Povo País, ou lugar de Nandufe está situado na Província da Beira, Bispado de Viseu e de sua Comarca, Termo da Vila de Tondela e Freguesia sobre si.

2 - Enquanto ao segundo é de advertir que dentro dos limites do dito Povo há muitas propriedades que fazem foro anual ao Excelentíssimo Conde de Atouguia, de que é Donatário, outras a Francisco de Nápoles, da cidade de Lisboa, e estas são as mais de que se tem por Senhor, e sobre a exorbitância dos foros deste e sua variedade se linga ao presente; outras o fazem ao Rangel da vila de Aveiro e finalmente outras são dízimas a Deus.

3- Enquanto ao terceiro se acha com setenta e seis fogos, cento e sessenta e seis pessoas de Sacramento, e trinta e nove menores.

4 – Está este povo fundado em um baixo vale donde se não descortina Povoação alguma, se não duas Serras pela sua grande eminência, uma delas chamada da Estrela, fica ao Nascente na distância de nove léguas pouco mais ou menos; outra ao Poente na distância de duas léguas bem medidas nuncupada a do Caramulo cujas qualidades ficam sub silêncio por falta de conhecimento mais verídico, em razão da muita distância e pouca experiência.

5 – No quinto se adverte que o sobredito Povo vulgo Nandufe nem abraça nem compreende outro lugar algum, ou Aldeia, mas só (como já fica referido) tem seu termo e limite de fazendas que estão confinando com os Povos das suas circunvizinhanças, como são o de Molelos, Tondela Vila, Valverde, Santa Ovaia do fundo, ou de baixo, e de cima, Vilar, circularmente.

6 – É Paróquia que está dentro do mesmo lugar e não tem outros lugares agregados a si.

7 – É S. João Baptista o Orago da Igreja já do dito Povo, na qual há três altares: um do Senhor com seu Sacrário, que é o principal; outro, que é o segundo, de Nossa Senhora da Graça, à parte direita da Igreja, o terceiro à parte sinistra, que é do mesmo S. João Baptista; debaixo de sua invocação permanece erigida uma Irmandade composta de muitos irmãos dos povos mais vizinhos.

8 – O Pároco desta Freguesia é o cura apresentado pelo Reverendo Abade da Vila de Canas de Sabugosa  a que esta é anexa; tem este Padre Cura de côngrua anual oito mil réis em dinheiro, dois alqueires de trigo, e três almudes de vinho para celebrar Missa.

9 – Neste interrogatório, nem do décimo, undécimo, e duodécimo, não há que relatar.

13 – Neste mesmo Povo, há duas Ermidas ou Capelas, uma de Nossa Senhora do Rosário na entrada do Povo, indo do Sul para Norte, a qual de presente administra António de Figueiredo Melo, do lugar de Molelos, como tutor de um Joseph Pupilo, filho de João Ribeiro de Matos, bisneto de Francisco Fernandes, Instituidor que foi da dita Capela, com a obrigação de ali dizer Missa para sempre nos Domingos, Dias Santos e Sábados de cada semana. Outra de Santo António, retirada do povo algum espaço no sítio da Quinta do Fajão, que é de Rodrigo de Sousa, do lugar de Prime, na qual se dizia antes Missa,  ainda que de presente ali se não celebra, porque depois de se arruinar, se reedificou e não consta que se benzesse, porém ambas são pertencentes ao dito Povo, e por ele com o seu Pároco, ou Cura, são visitadas alternatim, isto é, cada uma em seu dia todos os anos no mês de Maio com ladainhas.

14 – A nenhuma das duas Capelas ou Ermidas concorre gente no seu dia em romaria, ou fora dele. Só no dia vinte e quatro de Junho anualmente concorre a Igreja onde se celebra e soleniza, o nascimento de S. João Baptista, muita gente assim do dito Povo, como de seus devotos, que vêm de várias partes, principalmente das vizinhanças, com romaria a visitar ao mesmo Santo,  mostrando-se agradecidos aos benefícios que de Deus impetram por intercessão de S. João Baptista prestando-lhe suas oblações conforme a sua possibilidade.

15 – Centeio, milho graúdo, são os frutos que mais costuma produzir, a poder de muito trabalho, a dita terra regularmente, uns anos mais, outros menos; também se lavra vinho com parreiras e vinhos adver (……[5]……..) todos vinhos é menos e melhor porque são menos sombrios na minha existimação, os mais frutos e frutas são moderados.

16 – Ao governo e regimento do Doutor Juiz de Fora do Concelho de Besteiros, e Câmara da vila de Tondela está sujeita toda a gente deste Povo, e por ela se governa.

17 – O que com certeza se declara neste interrogatório é que não há dúvida que este Povo está quase no meio do Concelho e não tem Couto.

18 – Só há lembrança in confuso, que floresceram em Armas, ou seus Ascendentes, João de Nápoles e Sampaio, natural da cidade de Lisboa, no tempo das guerras antigas, ainda que se não sabe a que auge se elevou a sua fortuna.

19 – No lugar do Botulho , daqui quase meia légua de distância, se faz uma Feira farta, ampla, e populosa, no segundo Domingo de cada mês jam a legitimo tempore prescripta, a que vem muita gente de distância quase de três léguas in circuitu a comprar, e vender, advertindo que os carreiros de sal, e sardinha e almocreves do peixe, vêm de Aveiro e de outras partes marinas que ficam na longitude de cinco e mais léguas, e não dura mais que um dia.

20 – Este povo fica desviado da Estrada pública, que vai pela vila de Tondela, que fica perto, onde faz sua paragem o Correio nos Sábados, quando vai para a cidade de Viseu e no Domingo seguinte pelas dez horas, passa outra vez por Tondela, onde recebe as cartas que lhe dão, não se detendo muito. Assim faz, ou costuma fazer-se o Correio, indo nos Sábados por Tondela para Viseu, e nos Domingos vai o correio outra vez por Tondela sem falta.

21 – Dista este Povo da cidade capital do Bispado três léguas e da cidade de Lisboa, capital do Reino, quarenta e nove léguas.

22 – Não tem privilégio algum de presente, sem embargo de haver pessoas no Povo, que dizem se conservou em outro tempo com eles, sendo os moradores isentos de todos os encargos ……[6]………..os do Concelho, e de opressões militares, pelo grande respeito de João de Nápoles, que sem sua licença não entrava no Povo justiça a fazer execuções, e sendo então o Povo mais mimoso de favores; agora não se dá outro mais perseguido da justiça em todo o Concelho.

23 – Aqui não há, nem nas suas circunferências coisa (…[5]…)

24 – Nem também deste há que dizer.

25 – Nem menos deste, porque não há terra que tenha muro, castelo ou torre.

26 – Pela bondade Divina não experimentou ruínas este Povo, ainda que não escapou de seus tremores formidáveis, com geral suspensão no Ano de 1755.

27 – Este interrogatório vai aí, por se não ponderar coisa nova, ou antiga, que seja digna de se relatar, ou entregar a memória.

 

Tudo quanto se procura do que for Serra, deixo em silêncio, por ser muito diferente dos Povos que estão com plano, e não se confundir uns com outros, passo a dar notícia do Rio, que mana junto do dito Povo, cujas terras se fertilizam com sua água, e regadio, no modo seguinte:

 

1 – Pela parte do nascente do dito Povo, retirado três tiros de espingarda largos, corre um Rio chamado Rio Dinha com abundância de águas, que nasce nos arrabaldes da Serra, que fica ao Poente, que é em cima do Caramulo em outra parte por cima de um povoado, a que chamam Boaldeia, em diversas partes perto umas das outras  de sorte que, ajudado de muitos regatos, vem a conseguir o nome de Rio.

2 – Não consta que logo corra caudaloso em sua origem, senão da Ponte do Ribeiro de Mosteiro de Fráguas para baixo até o sítio dos Poisos deste Povo, nas partes em que acha duras penhas de pedra, e por causa destas penhas caminha manso ainda com suas enchentes,  e todo o ano corre, no verão, se henimia a sequidão, há muita falta de águas, mas de todo não seca.

3 – Só dois regatos que nascem no distrito do dito Povo se vão meter no tal Rio, um que vem do sítio do Fial, se vai comunicar com o Rio por baixo logo da Ponte, que foi de João Francisco, o outro, que vem de duas fontes do Povo, uma do tanque, outra a fonte do lugar quase vizinho, cujas águas juntas com um rego entram assim no Rio no fundo das várzeas do mesmo Povo, e este mesmo Rio no limite de Tonda se junta a um rio pequeno e ambos caminham para o Mondego e quando chega a este, já leva consigo muitos companheiros.

4 – Nem é navegável , nem capaz disso, pelas muitas voltas que toma, e duras penhas, por onde caminha e as águas serem baixas.

5 – Nas penhas de pedra não sofre vagares, porque vai sempre arrebatado, com demasiadas forças nos seus crescentes, mas fora das penhas deixa sua fúria, por ir humilde.

6 – Corre do Norte ao Sul.

7 – Produz bastante peixes, que chamam bogas, bordalos e barbos, se acaso lhes dão tempo para crescerem, e obterem este nome de barbos, mas estes ordinariamente são poucos;  porque os perseguem muitos.

8 – Pesca-se no tal Rio com anzol e cana, tarrafa, e trocho; com tarrafa mais frequentemente no verão; com trocho algumas vezes no inverno, quando a necessidade, ou a ocasião o pede, e muitas vezes no verão atravessando os Rios, para se embaraçarem e prenderem os peixes, se acaso correm de noite e em todo o tempo com anzol e cana.

9 – Neste Rio pesca quem pode, e tem redes; porque para todos são livres, e comuns as pescarias, e só se dá proibição nos meses da sua produção scilicet in April, Mayo et Junio.

10 – De uma a outra banda nas vizinhanças do Rio em várias partes há terras que se cultivam e regam com a sua água, em muitos sítios se acha cercado de árvores infrutíferas, que o fazem sombrio, como são salgueiros e amieiros, que nascem sem serem plantados ou semeados, e com suas raízes prenderem a terra, para a não levar o Rio, quando cresce; mas se a pode levar lhe não perdoa.

11 – Até ao presente, se não sabe se têm alguma virtude as suas águas, nem tão pouco se tem feito experiência.

12 – Ainda se conserva com o mesmo nome que tem no seu princípio até os arrabaldes da vila de Tonda por onde faz o seu curso, e pelas mais terras e lugares, por onde passa, poderá ter outro diverso nome, mas não o alcanço, sem embargo de o inquirir.

13 – Este mesmo Rio Dinha se vai meter no Mondego, já com muitos companheiros, que se não referem por ter próprios nomes, por se ignorarem por causa da sua muita distância, entre uns e outros, e assim todos incorporados, vão dar consigo na Figueira, e dali para o mar, buscando como obedientes o seu próprio natural e centro.

14 – Pelas prezas deste Rio entendo as levadas ou açudes,  (…..[5].….) tem que são seis; mas nem é capaz de navegação, com razão de serem baixas as águas, e ser em partes alto e empinado, em que se precipita sobre penhas arrebatado, em outras curvo, reflexoso e apertado.

15 – Em três partes se passa o Rio Dinha, em uma no vau para as fazendas das regadas d’além, e terras da Pedra fixa, e neste vau, há passadouros para a gente passar a pé enxuto, e os brutos pela água; em outra, em outro vau e este é mais frequentado assim da gente do Povo, como da mais gente passageira dos outros Povos, assim por ser o Rio naquela parte mais largo, como por ser baixa a  água, e lapas de passarem carros abertos, carregados, sem receio de perigo, excepto quando vai cheio o Rio que em toda a parte vaza.

Na última parte onde se passa, é pela Ponte chamada de João Francisco de Santa Ovaia de Cima, por ter sido fabricada por ele, na qual estão umas traves de pinheiro, que atravessam o Rio de parte a parte, naquele estreito, por esta passa muita gente, às vezes por necessidade, por se não poder passar noutra parte, principalmente quando nas outras duas partes se não passa, pelo Rio ir cheio, e não deixar de ameaçar ser risco pela pouca segurança, com que está armada, e não há outra ponte no distrito deste Povo.

16 – Com a água deste Rio moem o pão deste e de outros mais Povos mais próximos, dez rodas de moinhos, um lagar de azeite e um engenho de pisões que pisoa panos de lã.

17 – Não há notícia certa, nem fama, de que em algum tempo, se tirasse ou colhesse ouro das suas águas.

18 – Da água deste Rio se utilizam os moradores deste Povo no regadio das suas fazendas com liberdade, principalmente os que estão além do Rio no sítio das Regadas de Além do Pisão, cada um tem seu dia destinado para regar, por se achar dividida judicialmente a requerimento seu; advertindo que os senhores das mais levadas, e engenhos, usam também das águas que neles se represa.

19 – Sem se atender às voltas e reflexões, que faz o Rio para buscar os baixos mais a cómodo dessa sua corrente, terá em comprimento desde o seu nascimento até à Ponte da cidade de Coimbra treze léguas e de Coimbra caminha para a Figueira (..…[5]…..)

20 – Finalmente advirta-se que a Igreja deste Povo Nandufe tem nas costas ao lado que lhe fica ao Norte três arcos de pedra miúda rentes da terra, e já tapados há muitos anos com o mesmo material e não há quem dê inteligência deles, somente dizerem muitos, que já ouviram dizer aos mais antigos, que devia ser mesquita de Mouros, que para mais veneração de S. João Baptista, entravam e saíam por aquelas portas por lhe não virarem as costas. E há um sítio perto dessa Igreja chamado o Castro, que bem mostrava antigamente ser Cidade ou Povoação de Mouros; porque nele haviam alicerces de casas e deles trouxeram para fabricar casas muitos do Povo pedras bem quadradas, e com vários feitios, cujo sítio está de monte, pinhais, e oliveiras e outras mais árvores.

 

Eu, o P.e António João de Bastos, Cura da Paróquia da Igreja de S. João Baptista por cumprir com o que me foi mandado da parte do Excelent.mo Sr. Bispo, acabei de concluir na forma supra referida as notícias que tinha e pude achar sobre os interrogatórios, com a clareza possível. E, por verdade, passei a presente, que assinei hoje aos vinte e cinco de Abril de mil setecentos e cinquenta e oito anos.

 

Cura, o P.e António João de Bastos.

 

[5] Texto apagado no microfilme

[6] Palavra ilegível

 

 

TONDA

 

 

1.º Na Província da Beira, Bispado e Comarca de Viseu, termo e concelho de Besteiros, e nos fins dele, à parte meridional, está esta freguesia de Tonda, que do nascente demarca com a de Lobão, e do norte  com a de Tondela, ambas do mesmo concelho de Besteiros, e do meio dia com a freguesia e concelho de Mouraz, como também demarca pelo poente. É de El-Rei,  tem vizinhos….

2.º Está situada em planície e só cortada de alguns vales e declinação para o Rio Dinha, obra mais da continuação das águas que da natureza. Daqui se descobre a Serra da Estrela da Guarda até Gois e daí toda a de Buçaco, e Besteiros ou Caramulo, e muitas povoações nas faldas delas e na vizinhança.

3.º É termo do Concelho de Besteiros que compreende muitas mais freguesias e esta as povoações seguintes: Tonda, que consta de três porções como Bairros, divididos por breve intervalo, e com nomes específicos, unindo-se todos com o nome de Tonda, que não sendo algum lugar, é a todos genérico; chamando-se uma povoação Outeiro de Tonda, outra Covelo de Tonda, e outra Casal de Tonda,

Outeiro de Tonda, com vizinhos………………………………………….97

Vila Nova de Tonda, com vizinhos, ………………….………………..33

Póvoa de Rodrigo Alves, com vizinhos…………………………………25

4.º No meio dos ditos três lugares, quase unidos, está a Paróquia de que é Orago, o Salvador transfigurado.  Tem uma só nave com cinco altares, um maior, do Orago, o 2.º, à parte da Epístola, do Menino Jesus,  o 3.º, à parte do Evangelho, da Senhora do Rosário,  o 4.º em o lado da Epístola de S. Sebastião,  e no contrário, o 5.º das Almas. No de S. Sebastião, está fundada uma Irmandade das Almas, com bula apostólica de que é padroeiro o mesmo santo.

5.º O Pároco chama-se Abade, apresentado pelo Padroado Real, com 350 mil reis de renda.

7.º Há nesta freguesia quatro ermidas:  fora do lugar do Casal, com alguma distância: ao poente, a de S.to Amaro, em campo raso com feira no seu dia; dentro no lugar de Vila Nova de Tonda a da Senhora da Piedade; fora do lugar do Covelo, a de S. Domingos; e na Póvoa de Rodrigo Alves, a de S. Miguel.

8.º Os frutos da terra são vinhos e pão em igual quantidade, faz-se ainda algum trigo e legumes, e todo o género de frutas.

9.º Está sujeita esta freguesia às Justiças do concelho de Besteiros, de que é termo, menos uma pequena parte, que é sujeita ao concelho de Mouraz.

10.º Em tempo do Senhor Rei D. Pedro II, floresceu em Letras o Desembargador Miguel de Figueiredo de Abreu, natural do Outeiro de Tonda, desta freguesia, que morreu há poucos anos, Juiz da Coroa na Relação do Porto,  que pelas suas letras, rectidão, desinteresse, e modo agradável mereceu universal aplauso, e o real agrado de El-Rei Nosso senhor na jornada que fez a esta Província e residência na cidade da Guarda onde então era Corregedor, de sorte que lhe comunicava negócios de muita importância e o admitia em alguns concílios e na volta que fez à Corte, se adiantava só com ele nas marchas que fazia a cavalo, levando-o ao seu lado e fazendo-lhe muitas honras.

11.º Tem famílias nobres, a de Figueiredos, Abreus e Alvedos, de que descendeu o sobredito, com as armas das ditas famílias, e com a prerrogativa de ser a sua casa a que (que ainda hoje com suas ruínas conserva o nome de Paço de Tonda,)  é isenta pelo foral do Senhor Rei D. Manuel de pagar jugadas à Casa de Atouguia, a que a mais freguesia é jugadeira: descendem da antiquíssima Torre de Vila Pouca, e de Figueiredo das Donas.

 

RIO DINHA

 

1.º Corre por esta freguesia o Rio Dinha, que nasce entre o concelho de Besteiros e o de Alafões, no pé da Serra, por baixo da Portela do Homem, de fronte de uma ermida de Santo André, do lugar de Boaldeia, deste concelho de Besteiros.

2.º Nasce de uma fonte copiosa.

3.º Recebe além de vários regatos de menos conta, o Rio Sabugosinha, que nasce no lugar do Real, freguesia de S. Miguel do Outeiro, termo de Viseu e se lhe mistura nesta freguesia, aonde parte com a de Lobão.

5.º Corre arrebatado por álveo sempre pedregoso e com alguns despenhos.

6.º Corre de Norte a Sul.

7.º É abundante de todo o pescado, como trutas, grandes bordalos e enguias, do lugar de Mosteiro de Fráguas para cima; e para baixo, famosos barbos, e muitas bogas, e algumas enguias.

8.º Em todo o ano se pesca livremente.

10.º Leva boas e férteis regadas nas suas margens,  em que se lhe tiram as águas em várias formas por açudes,  e em muitas tem várias árvores de fruto e  sem eles.

13.º  Desde que nasce toma o nome da terra por onde passa como Rio de Boaldeia, Rio de Mosteiro, Rio de Nandufe, Rio de Tondela, até que nesta freguesia e na de Mouraz toma o nome de Dinha, que perde entre aquela e a de Treixedo, aonde com o Rio Dasnos se mete no Rio Dão.

25.º Tem três pontes de cantaria, a 1.ª no Mosteiro de Fráguas, a 2.ª junto de Tondela, e a 3.ª nesta freguesia.

26.º Tem muitos moinhos, pisões e lagares de azeite, em quase todos os lugares por onde passa até que morre.

29.º Usa-se livremente das suas águas.

 

Aos interrogatórios que se interpolam não há que dizer.

 

Estas são as notícias que achei porque conhecia informações fidedignas de que fiz a presente que assino em dia Agosto, 26, de 1732.

Manuel Leiva Freixieiro

Abade de Tonda

 

VILAR

 

Esta minha freguesia de Vilar, em que não há povo que se chame Vilar, está na Província da Beira, no Bispado de Viseu, comarca da mesma Cidade e concelho de Besteiros em cujo âmbito ou termo se compreende. É da Coroa Real e não tem Donatário. Compõe-se de cento e quatorze fogos, salvo erro de conta; que estão divididos em sete lugares e duas quintas, os quais são: a Freyxeda, com seis vizinhos; o lugar de Aldeya com trinta e três, o lugar de Casal de Baixo com treze; a quinta do Covelo, habitada; o lugar de Casal de Cima com vinte e quatro; o lugar da Igreja com seis; o lugar do Carregueiro com vinte, o lugar da Póvoa da Lagoa com onze e uma quinta habitada, a qual se chama a Quinta da Felgueira.

Está esta freguesia situada em País que é quase campina rasa; porque ainda que tem alguns montes, são de pequena altura: e se dão água para fertilizar os vales e os mesmos montes, se vestem também de árvores frutíferas. E, se alguns carecem delas, não é por esterilidade da terra,  senão por incúria dos habitadores, também porque estes os querem deixar livres para os pastos, lenhas e outros ministérios. Vêem-se deste sítio na Serra do Caramulo, de cujo pé dista meia légua em outras partes, os lugares seguintes: Fornelo, Silvares, Souto Bom, Carvalhal da Mulher, Caselho, Guardão, a vilota de Janardo, Pedronhe, Figueiral, Carvalhinho, Múceres, Casal, Tourigo e Póvoa da Tojeira.

Já disse que estão vizinhos ou contíguos à minha Igreja seis vizinhos, além da Residência e também está quase contíguo o lugar do Carregueiro com vinte vizinhos. O Orago da mesma Igreja é o grande Baptista S. João. Tem três altares, um na Capela-mor e dois laterais. Nestes altares, há em vulto as seguintes imagens: no altar mor está só a do Orago S. João Baptista. No altar colateral da parte do Evangelho está a imagem do Menino Jesus junto à de Sua Santíssima Mãe, e a de S. António. No altar colateral da parte da Epístola, estão a Imagem de Cristo Senhor nosso crucificado; a de S. Pedro Apóstolo; a de S. Sebastião Mártir; a de S. Domingos. O Pároco desta freguesia é Abade apresentado por Sua Majestade que Deus guarde, de cujo Padroado é; e rende, um ano por outro, trezentos mil réis.

Há nesta freguesia duas ermidas ou Capelas: uma de S. Vicente, que está na Quinta do Covelo, de que já falei; e fica fora dos lugares; e outra de Nossa Senhora do Rosário, sita no lugar da Aldeya; em que também já falei. Esta tem Confraria do Santíssimo Rosário, canonicamente erecta e uma Irmandade de que são irmãos e irmãs, pessoas de várias e diferentes freguesias. Produz esta terra todas as frutas e frutos, menos cevada; mas os de que se colhe mais cópia, são centeio, milho e vinho.

Governam os povos desta Freguesia dois juízes ordinários e um dos órfãos, postos por El-Rey Nosso senhor, que tem o Concelho, o qual é aberto; e tem a casa da Câmara, a cadeia em um Povo, a que a Constituição deste Bispado chama a vila de Tondela; e a casa das audiências na freguesia de Molelos; onde também não há povoação que se chame Molelos; como darão conta os Reverendos Párocos das ditas terras, e do mais que toca a este interrogatório.

Há nesta freguesia no lugar da Aldeya, o Rev.do João Marques Pimenta a quem, sendo secular, fez Sua Majestade que Deus guarde a mercê do foro de cavaleiro Fidalgo; e é filho de António Marques Pimenta do dito lugar e de sua mulher Maria Baptista. Da nobreza dos infanções de Besteiros fala o Pegas [7] em um dos volumes que compôs, onde se acha o que há nesta matéria. Os privilégios que lhes foram concedidos não aparecem. E disse-me em certa ocasião Alexandre de Figueira Mascarenhas, uma das pessoas principais deste Concelho que viveu na sua quinta de Múceres, em que acima falo: que, queimando-se com um terrível incêndio a casa da pessoa que então servia de escrivão da Câmara  deste Concelho, se dizimaram também os documentos que insinuavam os ditos privilégios. Tenho também  tradição que este concelho de Besteiros, onde não há povoação que tenha tal nome, se chamava antigamente Terra de Santa Maria, por ser todo, ou quase todo, freguesia de uma Igreja de que é Orago a Rainha dos Anjos. E lembro-me muito bem que, lendo os anais deste Reino, achei na primeira parte da Monarchia Lusitana [8], onde o Doutor Fr. Bernardo de Brito, fala na terra de Santa Maria, achei, digo, na margem do livro, uma advertência que dizia: esta terra é Besteiros. Estava escrita por letra de meu Tio[9], Lourenço de Sousa e Vasconcellos, senhor da Casa e Solar de Figueiredo das Donas, no concelho de Lafões, Comarca de Viseu. E, por ser pessoa de muitas notícias e anos, fiz memória da advertência.

A razão de se chamar Besteiros, tenho tradição também que foi porque um Conde ou ascendente dos Condes da Feira, lançara fora deste País aos mouros,  que o ocupavam em grande parte, com cinquenta bestas e cinquenta lanças; e que desta facção se ficaram chamando Besteiros, os habitadores deste distrito; em que não há povoação que se chame Besteiros como já disse. Por não faltar a coisa alguma do que se me ordena, declaro que no dia de S. João Baptista, Orago da minha Igreja, ocorre ainda alguma gente de fora com suas ofertas ou satisfação de votos que têm feito; ainda que é coisa de pouca consideração; e também pelo decurso do ano sucede alguma vez, ainda que rara, vir alguma pessoa ou pessoas com o mesmo intento. Isto é o que moralmente achei verdadeiro para certificar nestas matérias; assim pelas razões dadas, como por ser oriundo e me criar neste Concelho; e ter, por misericórdia de Deus, perto de sessenta e seis anos de idade.

Vilar, 12 de Agosto de 1732.

Martim Pereira Seyxas, Abade de S. João Baptista.

 

[7] Manuel Álvares Pegas, jurisconsulto que escreveu muitos livros de Direito, entre eles um comentário às Ordenações do Reino, em 15 volumes.Ver aqui.

[8] Ver aqui.

[9] Tio por afinidade, já que era a esposa que tinha o sobrenome "Seixas".

 

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