14-8-2012

 

Gaspar de Sousa, médico

 

GENEALOGIA

 

LINHA MATERNA

 

Diogo Nunes, casou com Filipa Gomes e tiveram:

A - António Nunes, que casou com Catarina Godinho (1662 - Pr. n.º 6501, de Évora) e tiveram:

                    Francisco Nunes (1663 – Pr. n.º 2689), não sabe se é vivo ou morto, casou com Maria Rebela e tiveram:

                                                         Francisco Nunes – não sabe se é casado ou solteiro, ausente com seus pais nas partes do Norte.

                                                         Josefa Maria, idem, idem

                    Violante Mendes  (1664 – Pr. n.º 2830)

                    Maria Madalena (1664 – Pr. n.º 7019, em solteira), que casou com Manuel da Costa e tiveram:

                                                         Diogo Nunes, casado em segundas núpcias com Isabel da Conceição, (1703 - Pr. n.º 4691)  de que não tem filhos; do primeiro casamento tem uma filha chamada Paula.

                                                         Bento da Costa, casado não sabe com quem, ou se tem filhos, ausente no Reino de Castela

                                                         João da Costa, (1702 - Pr. n.º 549) soldado-infante, solteiro sem filhos

                                                         Alexandre de Sousa, solteiro, sem ofício, de 19-20 anos

                                                         Catarina Maria (1702 - Pr. n.º 4543)  casada com o médico Gaspar de Sousa (1702 - Pr. n.º 4555), não têm filhos.

                                                         Filipa Maria (1702 - Pr. n.º 4549), solteira, de 17 anos, mora no Lagar do Sebo

 

                    Guiomar Nunes (1664 - Pr. n.º 2684), casou com Manuel da Silva Ferreira (1693 - Pr. n.º 3962), estão ausentes em Castela. Tiveram:

                                                         António da Silva (1694 - Pr. n.º 11715)  – ausente em Roma, Religioso de S. João de Deus

                                                         Amaro da Silva (1695 – Pr. n.º 4599)  – cirurgião no Estado da Baía, casado não sabe com quem

                                                         Maria Madalena (1694 – Pr. n.º 3946 – o réu diz Maria Teresa), casada com Francisco Leitão (1702 – Pr. n.º 2102), ausentes em Castela; têm filhos, mas não sabe os nomes

                                                         Josefa Maria (1694 – Pr. n.º 11703), casada com Bento de Sousa, ausentes em Roma; têm filhos pequenos de que não sabe o nome

                                                         Clara, solteira, ausente com os pais no Reino de Castela

 

B - Nuno Álvares, que foi Religioso da Ordem de S. Francisco em Castela

C - Manuel Nunes, que foi Capitão na província do Alentejo e morreu solteiro

D - Álvaro, que morreu criança

E - Francisco, que morreu criança

F - Clara Nunes, que se ausentou para França há muitos anos

G - Paula Nunes (1663 - Pr. n.º 10248), que casou com Lopo de Sousa em 2.ªs núpcias dele e tiveram

                    Filipa Nunes,  casada com Paulo da Costa Gouveia, ausentes em Roma

                    Maria Xavier ou Maria Baptista, solteira, ausente em Roma

                    Bento de Sousa, casado com Josefa Maria, ausentes em Roma

                    Gaspar de Sousa (1702 - Pr. n.º 4555), casado em 2.ªs núpcias com Catarina Maria (1702 - Pr. n.º  4543); tem uma filha de nome Paula, de 5 ou 6 anos da 1.ª esposa, chamada Maria Teresa, cristã velha.

 

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LINHA PATERNA

 

Gaspar Pereira Teles casou com Joana Baptista e tiveram:

 

A-Branca do Rosário, solteira, já falecida em 1702;

B-Maria de Sousa, solteira, já falecida em 1702;

C-Filipa Teles, solteira, já falecida em 1702;

D-Catarina Teles, já falecida em 1702, que foi casada com Manuel Pinto da Silva de quem teve

                                 Inês Maria Teles (1702 - Pr. n.º 535), que casou em primeiras núpcias com Manuel Pinheiro da Costa e em 2.ªs com André Ramos Seixas, tendo do 1.º casamento

                                                             António Pinheiro da Costa (1702 - Pr. n.º 10102)

E-Lopo de Sousa, já falecido, casado em 1.ªs núpcias com Maria de Matos e em 2.ªs com Paula Nunes (1663 - Pr. n.º 10248), tendo filhos:

                   Do 1.º casamento:

                                  Joana Baptista de Matos (1702 - Pr. n.º 541), viúva de João Cerqueira Pinto, sem filhos

                                  Brites ou Beatriz de S. José (1702 - Pr. n.º 9030), solteira, sem filhos

                                  Manuel de Matos que morreu solteiro, sem filhos

                   Do 2.º casamento

                                  Filipa Nunes,  casada com Paulo da Costa Gouveia, ausentes em Roma

                                  Maria Xavier ou Maria Baptista, solteira, ausente em Roma

                                  Bento de Sousa, casado com Josefa Maria, ausentes em Roma

                                  Gaspar de Sousa (1702 - Pr. n.º 4555), casado em 2.ªs núpcias com Catarina Maria (1702 - Pr. n.º  4543); tem uma filha de nome Paula, de 5 ou 6 anos da 1.ª esposa, chamada Maria Teresa, cristã velha.

 

  

No início do séc. XVIII, havia muitos médicos cristãos novos em Lisboa. O sucesso deles junto da clientela era muito variável, dependia não só do saber, mas sobretudo do feitio de cada um e também da sorte. Sendo cristãos novos, não podiam ter cargos oficiais, embora alguns escondessem a ascendência e conseguissem para eles ser nomeados. Assim Gaspar de Sousa foi médico do partido municipal de  Sesimbra.  Nessa altura, ele vivia na fama de cristão velho, até porque fora casado com uma.

Não é difícil adivinhar que, no início da última década do séc. XVII, sua mãe Paula Nunes, então com cerca de 70 anos deverá ter entrado em pânico com medo de ir parar à Inquisição, onde já tinha estado três anos em 1663-1666. Gaspar de Sousa pegou nela, nos dois irmãos Bento de Sousa e Filipa Nunes e respectivos cônjuges e em sua irmã  Maria Baptista, solteira, e levou-os para Cádis, onde embarcaram todos num navio para Génova, seguindo depois dali para Roma. Não sabemos quanto tempo esteve ele em Roma, mas não deve ter sido muito tempo, possivelmente deve ter regressado a Portugal para retomar o trabalho e sustentar a família, que ficou na Cúria Romana

Quem nos conta isto é António Pinheiro da Costa, filho de uma prima direita dele, que contra ele invoca a contradita de estarem ambos de más relações. Seu pai, Manuel Pinheiro da Costa, já falecido em 1702, cortara relações com ele, quando soube que era cristão novo, pois antes da saída dele do País, pensava que era cristão velho, tanto mais que tinha o cargo oficial de médico do partido de Sesimbra. António Pinheiro da Costa diz no seu processo que seu pai nunca respondeu às cartas que o médico enviou de Roma. Gaspar de Sousa, diz que sim, que ele respondeu. A Inquisição não aceitou a contradita e António Pinheiro da Costa foi relaxado.

Os ganhos de Gaspar de Sousa, porém, não deveriam ser brilhantes. No seu processo, Manuel Soares Brandão chama-o de pobre e conta que a mulher dele, Catarina Maria, lhe apareceu depois da vinda dele de Roma a pedir emprestados 20 ou 30 mil réis, para ele recomeçar a vida. A companheira de Soares Brandão, Luísa Caldeira de Araújo, insultou a pobre mulher dizendo que o marido dela  era cornudo, porque os cornudos é que mandam as mulheres pedir por eles. Soares Brandão embarcou na mesma onda e despediu a senhora dando-lhe duas patacas. Daqui, podemos concluir que, na escala de rendimentos, Gaspar de Sousa deveria estar bastante abaixo de Soares Brandão, embora aparentemente melhor que seu cunhado Diogo Nunes. De facto, acrescenta Soares Brandão que, pouco tempo depois, lhe apareceu a pedir esmola também um rapaz, irmão de Diogo Nunes e cunhado de Gaspar de Sousa, soldado (é João da Costa) e ele, farto de tanta pedincha, mandou-o embora dando-lhe meio tostão.

 

  

fls. 1 img. 1 – Processo n.º 4555, de Gaspar de Sousa, cristão novo, médico, natural da vila de Cascais e morador em Lisboa

 

fls. 5 img. 9 – 30-8-1702

Mandado de prisão, com sequestro de bens

 

fls. 7 img. 13 – 2-9-1702

Auto de entrega do preso pelo familiar Jorge de Cabedo

 

fls. 7 v img. 14 – 2-9-1702 – Planta do Cárcere

 

CULPAS:

 

fls. 9 – img. 17 – Depoimento de 4-3-1694 – Catarina Josefa (1693 – Pr. n.º 11694 e 17286), casada com António Cardoso do Amaral  - Há 6 anos, na Rua da Pichelaria, em casa de Maria Madalena, já defunta, casada com Manuel da Costa.

fls. 11 img. 21 – 30-8-1702

O Promotor informa os Inquisidores de que o Comissário do Santo Ofício de Setúbal deu ordem de prisão a Gaspar de Sousa, médico, porque fora denunciado por dois clérigos que o encontraram num barco preparado para fugir para o estrangeiro porque havia sido preso um cunhado dele, Diogo Nunes, também médico. Embora houvesse apenas uma denúncia contra ele, a Mesa decidiu ordenar a prisão, mandando ouvir em Setúbal os clérigos e os barqueiros.

fls. 12 img. 23 – 30-8-1702

Denúncia do Comissário do Santo Ofício de Setúbal levada em mão aos Estaus.

 

fls. 15 img. 29 –

O Comissário do Santo Ofício de Setúbal remete os interrogatórios dos clérigos e dos barqueiros.

 

fls. 16 img. 31 – 1-9-1702

Interrogatório, secretariado pelo P.e Luis Lopes Roxo

Estêvão dos Reis, Clérigo do Hábito de S. Pedro, morador em Setúbal, de 32 anos.  Disse que no dia 30 de Agosto, quarta-feira, na Praça da Misericórdia, o P.e João Baptista Lobo lhe perguntara se, indo um judeu a fugir, se era obrigado a denunciar o caso ao Santo Ofício, ao que ele respondeu que sim. Vieram então os dois ter com o Comissário para fazer a denúncia. E a razão por que o P.e João Baptista Lobo desconfiara, fora que José Galvão de Quadros uns dias antes lhe dissera que em Lisboa fora preso o cunhado do médico, Dr. Diogo Nunes e que Gaspar de Sousa se escondera em Azeitão, até que apareceu em Setúbal no cais a procurar embarcação com alguma pressa.

 

P.e João Baptista Lobo, Clérigo do Hábito de S. Pedro, morador em Setúbal, de 32 anos.

Disse conhecer Gaspar de Sousa e que que o seu vizinho José Galvão de Quadros lhe dissera uns dias antes que fora preso Diogo Nunes, cunhado daquele. Por isso, quando o viu no cais, desconfiou logo que era para tentar fugir.

 

José Galvão de Quadros, morador na Rua de Santo António, em Setúbal, de 38 anos pouco mais ou menos.  Disse que dias antes, uma Maria da Cruz Ramos, moradora em Setúbal dissera que ouvira dizer ao Capitão Pedro Lopes Ribeiro, morador em Azeitão na aldeia de Oleiros, que, por ter sido preso um cunhado do Dr. Gaspar de Sousa, se ausentara o dito médico.

 

Maria da Cruz Ramos, moradora em Setúbal na Rua dos Albardeiros, de 52 anos. Disse que quando se fizeram em Azeitão a cinco ou seis de Agosto as festas dos toiros, viera a sua casa o Capitão Pedro Lopes Ribeiro, morador em Azeitão e lhe dissera que em Lisboa a Inquisição tinha preso um parente do médico Gaspar de Sousa e que este se ausentara.

 

fls. 18 img. 35  6-9-1702 – Continuação dos interrogatórios

Manuel Pereira, natural e morador em Setúbal, de 40 anos. Foi-lhe perguntado se sabia que, quando o médico Gaspar de Sousa entrou no seu barco, sabia que ia fugido. Respondeu que não. O médico perguntara-lhe para onde ia o barco e ele respondeu que ia para o porto de El-Rei; e ele entrou como passageiro.

 

Não foi possível ouvir o Capitão Pedro Lopes Ribeiro por estar ausente.

 

fls. 20 img. 39 – Dep. de 5-8-1702 – seu cunhado Diogo Nunes, médico (1702 – Pr. n.º 2361) – Há 14 para 15 anos, em casa dele confitente.

 

fls. 23 v img. 46 – Dep. de 9-9-1702 – sua mulher Catarina Maria (1702 – Pr. n.º 4543) – Há treze para catorze anos em casa de Manuel da Silva Ferreira.

 

fls. 25 v img. 50 – Dep. de 20-9-1702 – Violante de Sequeira (1702 – Pr. n.º 2788), solteira, filha de Afonso Rodrigues- Há cinco para seis anos, indo com sua irmã Brites da Silva de Sequeira visitar Catarina Maria a sua casa.

 

fls. 26 v img. 52 – Dep. de 25-9-1702 – José Nunes Chaves (1693 – Pr. n.º 138), natural de Londres e morador em Lisboa – Há quatro anos, na cidade de Coimbra à Fonte Nova, encontrou Gaspar de Sousa.

 

fls. 28 img. 55 – Dep. de 19-10-1702 – Brites da Silva de Sequeira (1702 – Pr. n.º 4540), solteira, filha de Afonso Rodrigues, natural de Portalegre e moradora em Lisboa – Há mais de 15 anos, em casa de Maria Madalena, já defunta, se achou com o genro dela e seu primo Gaspar de Sousa.

 

fls. 29 img. 57 – Dep. de 16-10-1702 – Sua prima D. Inês Maria Teles (1702 – Pr. n.º 535) casada em segunda núpcias dela com André Ramos de Seixas, merceeiro, Cavaleiro do hábito de Cristo, morador em Lisboa – Há dez para doze anos, em casa dela confitente se achou com seu primo direito Gaspar de Sousa.

 

fls. 31 img. 61 – Dep. de 23-10-1702 – José Peres (1702 – Pr. n.º 388A, de Évora), natural de Sousel e morador em Alter do Chão, de 40 anos – Há quatro anos, em Lisboa na Rua Nova da Prata, junto à Madalena, em casa de Gaspar de Sousa, então ainda solteiro (sic) e hoje casado com a dita Catarina Josefa (sic).

 

fls. 32 img. 63 – Dep. de 30-10-1702 – Ana Teresa (1702 – Pr. n.º 156), solteira, filha de António Cardoso do Amaral e de Catarina Josefa, moradora em Lisboa, na Rua dos Mercadores a S. Julião – Há três para quatro meses, em casa dela confitente.

 

fls. 33 img. 65 – Dep. de 14-11-1702 – José Francisco (1702 – Pr. n.º 1883, de Évora), espingardeiro, natural de Portalegre e morador em Lisboa – Há cinco anos, pouco mais ou menos, quando o médico Gaspar de Sousa foi a sua casa para curar seu pai.

 

fls. 34, img. 67 – Dep. de 27-11-1702 – Inês Mendes (1702-Pr. n.º 5094 e 1708 - Pr. n.º 5094-1), casada com Francisco da Costa Pessoa, natural e moradora em Lisboa – Há um ano e meio para dois anos, na Rua da Pichelaria, em  casa de Catarina Maria, se achou com esta e com o marido Gaspar de Sousa.

 

fls. 35 img. 69 – Dep. de 9-12-1702 – Maria de Campos (1702 – Pr. n..º 1945), casada com Luis de Sousa, natural e moradora em Lisboa – Há sete para oito meses, em casa de seu cunhado Francisco da Costa Pessoa (1664 – Pr. n.º 5386 e 1702 – 5386-1), vindo curá-lo o médico Gaspar de Sousa.

 

fls. 36 img. 71 – Dep. de 29-12-1702 – Diogo Dias Caldeirão (não aparece o processo de Évora), casado com isabel da Silva, natural da vila de Alter do Chão e morador na da Amieira – há quatro anos mais ou menos, em Lisboa, no Rossio, encontrou Gaspar de Sousa.

 

fls. 37 v. img. 74 – Dep. de 8-1-1703 – Maria da Conceição (1702 – Pr. n.º 11504), solteira, filha de Manuel Leitão, natural de Avis e moradora em Castelo Branco – Há onze anos indo de casa de seus pais em Castelo de Vide onde então moravam para a Senhora da Estrela, a uma légua daquela vila, em companhia de Catarina Maria e de Gaspar de Sousa… (a pequena saiu cedo da casca, aos 9 anos já discutia religião).

 

fls. 39 v img. 78 – Dep. de 16-1-1703 – João Soares Leitão (1702 – Pr. n.º 529), solteiro, filho de Manuel Leitão, natural de Avis e morador em Castelo Branco – Há quatro para cinco anos em Azeitão, na casa de Gaspar de Sousa.

 

fls. 41 img. 81 – Dep. de 7-4-1703 – Manuel Nunes Chaves (1703 – Pr. n.º 11505), solteiro, filho de José Nunes Chaves e de Isabel Garcia, natural e morador em Lisboa – Há 9 meses, pouco mais ou menos, quando sua avó Constança Garcia estava doente, indo lá em casa o médico Gaspar de Sousa.

 

fls. 42 img. 83 – Dep. de 18-4- 1703 – Filipe Leitão (1702 – Pr. n.º 4548), solteiro, natural de Avis e morador em Castelo Branco – Há um ano pouco mais ou menos, encontrou-se com o médico Gaspar de Sousa no Terreiro do Paço…

 

fls. 43 img. 85 – Dep. de 19-5-1703 – Sua meia irmã Joana Baptista de Matos (1702 – Pr. n.º 541), viúva do Capitão João de Sequeira Pinto, natural e moradora na vila de Cascais – Há oito anos, na vila de Cascais em casa dela confitente, se achou com Gaspar de Sousa…

 

fls. 45 img. 89 – 4-9-1702 – Inventário

À pergunta se tinha culpas que confessar, respondeu que, por descargo de sua consciência, tinha de dizer que, numa estalagem em Génova, um homem chamado Gil da Cunha, de Idanha, não sabe se da Nova ou da Velha, lhe confessara ser observante da Lei de Moisés, ao que ele respondeu que fazia mal, pois a verdadeira é a Lei de Cristo. O homem era Gil da Cunha de Oliveira, de Idanha-a-Nova, que foi preso em 1706 (Pr. n.º 4327); a denúncia de Gaspar de Sousa figura à cabeça das “culpas” do réu. O seu confessor tinha-lhe ordenado que denunciasse este facto ao Santo Ofício, mas ele sem querer tinha adiado a denúncia até agora.

Sobre o seu património, disse que nunca teve bens de raiz. Descreveu os bens móveis:

- um bufete de pau santo com três gavetas avaliado em 10$000 réis

- meia dúzia de tamboretes de moscóvia

- um bufete pequeno de pau do Brasil com duas gavetas, avaliado em 12$000 réis

- um oratório de pinho envernizado com uma imagem de um Senhor crucificado e outra do Menino Jesus

- 3 lâminas pequeninas com molduras de prata

- vinte livros pouco mais ou menos, dos quais três que está devendo ao livreiro Félix Lorisa, que vive a N.ª Sr.ª da Boa Hora e são as obras de Seneto

- um espelho pequeno e uma lâmina com o retrato do Papa Clemente XI

- uma banca do estrado

- duas cortinas de catalufa com sanefa que serviam na alcofa e outras duas que serviam nas portas

- um candeeiro de lata

- um prato com um gomil de estanho e dois castiçais do mesmo

- um baú de moscóvia

- uma caixa de pau do Brasil

- uma mula negra que se avalia em 75$000 com sela e arreios

- um barco de palha com sua casa, de que estava devedor a Martim Cordeiro Pais, morador em Azeitão, que dizia havia de pagar por 18$000.

Estes bens são os que constam do inventário feito ao tempo da prisão de sua mulher Catarina Maria (Pr. n.º 4543), onde também constam as suas dívidas que somam 260$000.

 

fls. 49 img. 97 – 17-9-1702 – Mais declaração tocante ao Inventário

Pedira audiência para declarar que no mês de Agosto anterior, dois dias antes da prisão de sua mulher, entregara um caixão de caixa de açúcar com roupa, a Bartolomeu Bigalo Romano, que vive na Rua Nova da Palma, que vive de fazer negócios em Roma, para que ele o levasse para aquela cidade e o entregasse a sua cunhada Filipa Maria.

 

fls 51 – img. 101 – 12-9-1702 – Genealogia

 

Ele chama-se Gaspar de Sousa, Médico, natural de Cascais e residente em Lisboa, de 44 anos

PAIS: Lopo de Sousa, já defunto, que foi Almoxarife do pescado da vila de Cascais

MÃE: Paula Nunes, natural de Lisboa e residente na Curia de Roma

AVÓS PATERNOS – Gaspar Fernandes Teles, advogado em Santarém e Joana Baptista, não sabe de onde era natural, residente em Santarém

AVÓS MATERNOS – Diogo Nunes, Advogado e Filipa Gomes, naturais e moradores que foram em Lisboa

Por parte do PAI, teve três tias: Catarina Teles, Branca do Rosário e Maria de Sousa

(Na realidade, são quatro: Há outra tia, Filipa Teles, que também é já defunta)

Catarina Teles é já defunta e foi casada com Manuel Fernandes Lopes, escrivão da Índia e Mina, e teve duas filhas chamadas Inês Maria “casada não sabe com quem, por não tratar com ela há muitos anos” e Aldonça Maria também casada não sabe com quem, nem sabe onde elas moram.

(Não é verdade que sejam irmãs: Inês Maria foi filha de Manuel Pinto da Silva e de Catarina Teles; Aldonça Maria, de Manuel Fernandes Lopes e de Maria de Castro)

As outras duas tias, Branca do Rosário e Maria de Sousa são já defuntas, não casaram nem tiveram filhos.

 

Por parte de sua MÃE, só conhece dois tios, António Nunes e Manuel Nunes, embora existam mais que ele não conhece.

António Nunes é já defunto e foi casado com Catarina Godinho, também já defunta. Deixaram três filhos: Francisco Nunes Henriques ), já defunto; Guiomar Nunes,  casada com Manuel da Silva Ferreira que foi preso pelo Santo Ofício e era assistente em Sevilha  (não referiu os filhos, nem o Inquisidor lhe perguntou); Maria Madalena, já defunta, que foi casada com Manuel da Costa Brandão, também já defunto (não referiu os filhos, nem o Inquisidor lhe perguntou). Agora se lembra que Francisco Nunes Henriques foi casado com Maria Rebela também já defunta.

Manuel Nunes também é já defunto e foi capitão de infantaria em Lisboa, não foi casado nem teve filhos.

(Nos processos aparece mais uma tia materna, Violante Mendes)

Ele tem um irmão e duas irmãs Bento de Sousa, Filipa Nunes e Maria Baptista.

Bento de Sousa é casado com Josefa Maria, natural de Cascais e residente na Curia de Roma e têm quatro filhos, José, Francisco, Gabriel e Maria, residentes em Roma com seus pais.

Filipa Nunes casada com Paulo da Costa de Gouveia, naturais ele de Cascais e ela desta cidade e residentes em Roma e não sabe que tenham filhos.

(Ocultou os meios irmãos do 1.º casamento do pai com Maria de Matos:

 Do 1.º casamento:

    Joana Baptista de Matos, viúva de João Cerqueira Pinto, sem filhos

    Brites ou Beatriz de S. José, solteira, sem filhos

    Manuel de Matos que morreu solteiro, sem filhos)

 

Sua irmã Maria Baptista é solteira e reside em Roma.

Ele é casado com Catarina Maria, presa na Inquisição, de que não tem filhos. Quando casou era viúvo de Maria Teresa, de quem tem uma filha de 5 para 6 anos, chamada Paula.

 

Soube muito bem as orações do catecismo.

Saiu do Reino para acompanhar sua mãe a Roma, Foram para Cádis onde embarcaram para Génova e depois para Roma; ele regressou pelo mesmo caminho.

Disse que não sabia a causa da sua prisão e o Inquisidor Nuno da Cunha de Ataíde, depois Inquisidor-Geral, fez-lhe a admoestação da praxe.

 

fls. 55 img. 109 – 14-9-1702 sessão in genere

 

Disse que não tem culpas que confessar. Nunca se apartou da Fé Católica, nunca rezou orações judaicas, nunca fez cerimónias judaicas, nem jejuns, e nunca deixou de comer carne de porco, lebre, coelho e peixe sem escama para observância da Lei de Moisés.

Admoestado, foi mandado regressar ao cárcere.

 

fls. 58 img. 115 – 25-9-1702 – sessão in specie

 

Repetiu que não tem culpas que confessar. À descrição de todas as culpas que lhe são assacadas, ditas sem indicação dos nomes, do tempo e dos lugares, respondeu dizendo “que não passou tal” ou “que tudo era falso”.

 

fls. 62 v img. 124 – 30-9-1702 – Admoestação antes do libelo

 

fls. 63 img. 125 – Libelo

 

Terminada a leitura, disse que contestava o libelo por negação, queria defender-se e nomeava seus defensores os procuradores existentes na Inquisição.

 

fls. 67  img. 133 – 3-10-1702 – Juramento do Procurador Licenciado Francisco de Quintanilha

 

fls. 67 v img. 134 – 3-10-1702 – Estância com o Procurador

 

fls. 68 img. 135 – Cópia do libelo

No final, o Procurador escreveu a defesa do réu, em três pontos:

1)      É bom cristão

2)      Faz actos de bom cristão indo à missa nos dias de preceito, e fazendo a desobriga anual.

3)      Pertence à Irmandade do SS.mo Sacramento da freguesia de S. Lourenço de Azeitão e á de N.ª Sr.ª do Rosário do Convento de S. Domingos de Azeitão e à de S.to António do mesmo Convento

Testemunhas para o 2.º artigo:

- P.e Fr. Francisco do Rosário, da Ordem de S. Domingos do Convento de Azeitão

- Gonçalo da Cunha de Andrade, morador na Quinta de Tristão da Cunha em Azeitão

- João Carvalho, morador em Aldeia Nogueira de Azeitão

- P.e Fr. António de S. Rosa, da Ordem de S. Domingos do Convento de Azeitão

O art.º 3.º é comprovado com os livros das Irmandades, com indicação do que despendeu em cada uma.

 

fls. 72 v. img. 144 – 3-10-1702

Despacho dos Inquisidores aceitando a defesa e mandando que sejam interrogadas as testemunhas indicadas.

Na mesma página a nota: “Enviada comissão ao Comissário de Setúbal em 5 de Outubro de 1702

 

fls. 74 img. 147 – 9-10-1702 – Confissão

 

Há 19 ou 20 anos, em Lisboa, fora a casa de seu tio materno António Nunes, cristão novo, já defunto, morador a Mata Porcos, e foi nessa altura com os ensinamentos de seu tio que se apartou da fé Católica. E dita crença na Lei de Moisés durou atá à sua confissão de agora, pois está muito arrependido.

 

Há 19 anos, em Lisboa em casa de Manuel da Silva Ferreira, que então ao Pelourinho Velho, estando presentes sua mulher Guiomar Nunes, sua irmã, Catarina Josefa, não se lembra se era casada ou solteira, e os filhos do dito Manuel da Silva Ferreira, a saber, António da Silva, Amaro da Silva. Josefa Maria e Maria Teresa (é Maria Madalena), todos ainda solteiros e hoje ausentes deste Reino, com excepção de Catarina Josefa, e todos reconciliados depois por esta Inquisição, excepto Guiomar Nunes, que já o fora antes, e estando todos…

 

Há 9, 10 anos, pouco mais ou menos, sendo ele confitente morador em Alcochete, onde tinha partido de médico, veio a sua casa seu cunhado Diogo Nunes, médico, casado com Isabel da Conceição, cristã nova, que foi reconciliada nesta Inquisição, e o irmão dele Bento da Costa, casado não sabe com quem, morador em Sevilha; e também estavam presentes na ocasião duas irmãs dele, chamadas Filipa Nunes, casada com Paulo da Costa de Gouveia, e Maria Baptista, solteira, agora moradoras em Roma, e estando todos cinco…

 

Há quatro ou cinco anos, estando ele a morar em Azeitão, tendo vindo a Lisboa a casa de seu sogro Manuel da Costa Brandão, que é já defunto e morara na Pichelaria, em cuja casa estava João da Costa, solteiro, cunhado dele confitente, soldado de Infantaria do Capitão Francisco Teixeira de Macedo, de cujo Terço é Mestre de Campo D. Rodrigo de Lencastre, de 17 anos mais ou menos e também estava presente Alexandre de Sousa, irmão do dito João da Costa, morador na mesma casa e teria então 15 anos, e estando todos três…

 

Há quatro ou cinco anos, estando ele a morar em Azeitão, e estando em sua companhia, Filipa Maria, cunhada dele confitente, hoje moradora a S. Paulo em casa de um inglês, teria então 13 anos de idade, com seu irmão Alexandre de Sousa, e estando todos três…

 

Há pouco mais de um ano, estando ele a morar no Azeitão, se achou em sua casa com seu cunhado Diogo Nunes, e seu sogro Manuel da Costa, agora já defunto, e estando todos três…

 

Há 16 ou 18 anos, estando ele confitente a morar em Lisboa, indo correndo à Igreja em 4.ª feira de Endoenças, em companhia de Manuel da Silva Ferreira, de quem tem dito em suas confissões de António de Cobilhas (1683 – Pr. n.º 5420), que foi profitente e relaxado por esta Inquisição, e Francisco Nunes Henriques, que lhe parece foi reconciliado pela Inquisição de Évora, depois de fazem oração, dissera olhando para eles o dito António de Cobilhas não fizessem reparo na reverência que fazia ele confitente para o Senhor que estava exposto; porquanto em cerimónias, a verdadeira Lei era a de Moisés; e ali não passaram mais.

 

fls. 81 img. 161 – 12-10-1702 – Mais confissão

 

Há 18 anos, pouco mais ou menos, na cidade de Lisboa, em casa de Manuel da Silva Ferreira, morador então na Rua dos Cabides, onde estavam Catarina Josefa, irmã do mesmo e António Soeiro (não aparece o processo), casado não sabe com quem, e foram todos depois reconciliados pela Inquisição, e estando todos quatro…

Repete a denúncia que já fizera aquando do inventário em 4 de Setembro, de Gil da Cunha de Oliveira.

 

fls. 84 img. 167 – 13-10-1702 – Mais confissão

 

Há quatro ou cinco anos, na cidade de Lisboa, antes de casar com sua mulher Catarina Maria, presa nos cárceres do Santo Ofício, se achou com a mesma, e estando ambos sós…

 

Há 5 para 6 meses, em sua casa em Azeitão, da banda de além, se achou com sua mulher e com seu cunhado, Diogo Nunes Brandão, médico, preso nos cárceres da Inquisição, e estando todos três…

 

Há 5 para 6 meses, na cidade de Lisboa, na Rua dos Mercadores a S. Julião, em casa de Catarina Josefa, casada com António Cardoso do Amaral, sem ofício, se achou com uma filha dos mesmos chamada Ana Teresa, solteira, representa ter 19 anos (tem 17), e com o dito seu cunhado Diogo Nunes, e estando todos três…

 

Há 9 para 10 anos, na cidade de Lisboa, no Lagar do Sebo, em casa de seu irmão, Bento de Sousa, oficial da Casa de Bragança, casado com Josefa Maria, de Cascais, ausente na Cúria Romana, se achou com o mesmo e com Francisco Leitão, casado com Maria Teresa (é Maria Madalena), filho de Manuel Leitão e de Maria Soeira, ausente no Reino de Castela e estando todos três…

 

Há quatro para cinco anos em Azeitão, em casa dele confitente, se achou com o dito Francisco Leitão, de quem acabou de dizer e estando os dois sós…

 

Há 18 para 19 anos, na cidade de Lisboa, no bairro de Alfama, em casa de Violante Gomes de Azevedo (1659 – Pr. n.º 9939) cristã nova já defunta, solteira, não sabe de quem seja filha, natural da Província do Alentejo e moradora nesta cidade, e havia sido reconciliada, se achou com a mesma e com Isabel Garcia (1702 – Pr. n.º 544), casada com José Nunes Chaves, mercador e com Constança Garcia, cristã nova já defunta mãe da dita Isabel Garcia, casada que foi com Baltazar Coelho, e com Filipa Gomes (é Filipa Henriques – 1703 – Pr. n.º 12213 – faleceu no cárcere em 23-8-1703), mulher de Manuel Nunes Chaves (1671 – Pr. n.º 2383; 1703 – Pr. n.º 2383-1), não sabe de quem seja filha nem de onde é natural, e com um filho da mesma chamado Jose Nunes Chaves (1693 – Pr. n.º 138), casado com a dita Isabel Garcia, e com José Coelho ou da Silva, então solteiro e caixeiro do dito Baltazar Coelho, natural da Província do Alentejo, e estando todos sete…

 

Há três para quatro meses e foi no de Agosto (sic) próximo passado, nesta cidade de Lisboa em casa do dito José Coelho, de quem acabou de dizer, com ele e dois sobrinhos do mesmo chamados Leonor (1703 – Pr. n.º 2382) e José, de 15 e 13 anos, respectivamente, filhos de José Nunes Chaves e de Isabel Garcia, e com uma criada do mesmo chamada a Tavares, que representa ter 4º anos, não sabe se é viúva ou casada e de quem seja filha, e estando todos cinco…

Esta denúncia aparece à cabeça das “culpas” da pobre menina Leonor de Chaves no pr. n.º 2382.

 

Há 7 para 8 anos, na cidade de Elvas, em casa de Ana Maria, cristã nova, viúva não sabe de quem, sogra do médico Lopo Gil, não sabe de quem seja filha ou de onde é natural, moradora na dita cidade de Elvas, se achou com a mesma e um filho dela chamado André Mendes, solteiro, sem ofício e com uma irmã do mesmo chamada Isabel Maria mulher do dito médico Lopo Gil, natural da cidade de Elvas e morador nesta de Lisboa, ao Arco do Ouro e estando todos quatro…

 

Há um ano no lugar de Azeitão, em casa de Francisco da Silveira, médico no Barreiro, viúvo de Isabel da Silva, não sabe de quem seja filho, natural desta cidade e morador no dito lugar do Barreiro, se achou com o mesmo e com um filho dele também chamado Francisco da Silveira, solteiro, de 15 ou 16 anos, natural de Azeitão e morador no Barreiro com o dito seu pai e estando todos três…

 

Há 14 para 15 anos, na Universidade de Coimbra, em casa do Reitor Manuel de Moura, se achou com Manuel Vaz de Paiva (1702 – Pr. n.º 10173, de Évora), cristão novo, médico, então solteiro e não sabe se hoje é casado, nem de quem seja filho, natural e morador na vila de Moura, e estando ambos sós…

 

Há 14 para 15 anos, na Universidade de Coimbra, em casa do Reitor Manuel de Moura, se achou com André Gomes, cristão novo, médico, então solteiro e não sabe se hoje é casado, nem de quem seja filho, natural e morador na vila de Serpa, e estando ambos sós…

 

Há 10 para 11 anos, na cidade de Lisboa, em casa de sua prima Inês Maria (1702 – Pr. n.º 535), na Rua dos Cabides, casada a primeira vez com Manuel Pinheiro da Costa, e segunda não sabe com quem, filha de Manuel de Barros e de Catarina Teles, se achou com a mesma e um filho dela, chamado António Pinheiro da Costa  (1702 – Pr. n.º 10102 – relaxado), solteiro, primo segundo dele confitente, escrivão das apelações cíveis, natural e morador na Rua dos Cabides, e com Aldonça Maria (1702 – Pr. n.º 158), meia irmã da dita Inês Maria, filha de Manuel Fernandes Lopes, Escrivão da Índia e Mina e de Catarina Teles (não é; é de Maria de Castro), casada não sabe com quem, natural da cidade de Lisboa e moradora na banda de além, não sabe em que lugar, e estando todos quatro…

Na Genealogia, não sabia nada da Inês Maria; aqui, para denunciar, já sabe tudo.

 

fls. 93 img. 185 – 14-10-1702 – Crença

Foi há   19 ou 20 anos, que se afastou da fé de Cristo. Não comunicou a fé judaica com mais pessoas do que as que referiu em suas confissões. Cria no Deus do céu e rezava a oração do Padre Nosso, sem dizer Jesus no fim. Não cria no mistério da SS.ma Trindade nem que Cristo fosse o verdadeiro Messias. Não cria nos Sacramentos da Santa Madre Igreja, nem os tinha por necessários para a salvação da alma. Não tinha seus erros por pecado e por isso se não confessava deles.

A crença na Lei de Moisés durou até que começou a confessar suas culpas na Inquisição.

De presente, crê em Cristo Senhor nosso e ele espera salvar sua alma.

“Foi-lhe dito que suas confissões têm ainda muitas faltas e diminuições, as quais são não dizer de todas as pessoas com quem comunicou a dita crença, nem todas as cerimónias que fez em observância da mesma Lei e de que há informação nesta Mesa, do que tudo se presume com grande fundamento não estar verdadeiramente arrependido de todo o seu coração de ter vivido na dita crença, antes de mostra continuar nela, usando de subterfúgios e inverosimilidades”

 

fls. 97 img. 193 – 23-10-1702 – Mais confissão

 

Há 9 para 10 anos, na cidade de Lisboa, em casa de Manuel da Silva Ferreira, se achou com uma filha deste chamada Maria Teresa (é Maria Madalena nos processos da Inquisição), casada com Francisco Leitão, natural da cidade de Lisboa e ausente no Reino de Castela, e com Simão da Silva (1695 – Pr. n.º 6309, de Évora) , casado com Joana Vieira ou Garcia , filho do médico André da Silva, natural e morador na vila de Alter do Chão, depois de reconciliados pelo S.to Ofício, e estando todos três…

 

Há quatro para cinco meses na cidade de Lisboa, em casa de Francisco da Costa Pessoa(1664 – Pr. n.º 5386 e 1702 – 5386-1), casado com Inês Mendes(1702 – Pr. n.º 5094; 1708 – Pr. n.º 5094-1), se achou com um filho natural dele, António Tavares da Costa (1702 – Pr. n.º 9112), sem ofício, vivendo debaixo do pátrio poder, e terá 18 ou 20 anos, pouco mais ou menos, e estando ambos sós…

 

Há oito anos, na cidade de Roma, em casa de isabel da Costa, Portuguesa, se achou com Francisco Soares Leitão (1702 – Pr. n.º 2102), sem ofício, vive debaixo do pátrio poder de Jerónimo Soares (1674 – Pr. n.º 7669), e estando ambos sós…

 

Há seis meses em Azeitão, em casa dele confitente, se achou com Isabel da Conceição (1703 – Pr. n.º 4691), casada com seu cunhado Diogo Nunes, não sabe de quem seja filha, natural do Reino de Castela, e estando ambos sós…

 

À denúncia que fez em 13 de Outubro de José Coelho e dos filhos de José Nunes Chaves, Leonor e José, acrescenta ter estado presente também o avô paterno destes, Manuel Nunes Chaves (1671 – Pr. n.º 2383 – 1703 – 2383-1). Esta denúncia deu origem ao segundo processo, que o levou ao patíbulo.

 

fls. 100 v img. 200 – 23-10-2012 – Sessão in specie

 

O Inquisidor fez o interrogatório clássico em que perguntou se se lembrava dos encontros havidos em cada uma das denúncias que o incriminaram. Como resposta a todas “Disse que não lhe lembra passar tal”.

 

fls. 105 img. 209 – 3-11-1702 – Mais confissão

 

Há 18 meses, mais ou menos, em casa de Maria Madalena, sua sogra e sua prima, casada com Manuel da Costa, já defunta, natural das partes do Alentejo, se achou com a mesma, com Catarina Godinho (1662 - Pr. n.º 6501, de Évora), mãe dela, já defunta, casada com António Nunes, também defunto, e com Brites da Silva de Sequeira (1702 – Pr. n.º 4540), solteira, filha de Afonso Rodrigues, natural de Portalegre e residente em Lisboa, e estando todos quatro…

 

Há 15 anos, mais ou menos, na cidade de Lisboa, em casa de Afonso Rodrigues, se achou com uma filha do mesmo chamada Violante de Sequeira (1702 – Pr. n.º 2788), irmã inteira de Brites de Sequeira, de quem acabou de dizer, e com Elvira de Sequeira, irmã das mesmas, já defunta, casada com um moço chamado Luis Rodrigues, tintureiro, e com Joana Vieira da Silva ou Garcia, casada com Simão da Silva(1695 – Pr. n.º 6309, de Évora), tratante, e estando todos cinco…

 

Há 13 para 14 anos na vila de Cascais, em casa de Sebastião Dias da Silva, já defunto, casado com Maria Henriques, se achou com o mesmo e com um filho destes chamado Miguel Lopes de Leão (1702 – Pr. n.º 2112), advogado, natural e morador em Lisboa, e estando todos três…

 

Há cinco para seis anos, no lugar de Azeitão, em casa dele confitente, se achou com Isabel Maria, sua criada, filha de Gaspar Marques, feitor ou caseiro da Quinta do Conde de S. Vicente junto ao Montijo, e não sabe o nome da mãe nem donde seja natural, e com Bento da Costa, seu primo e cunhado, e estando todos três…

 

Há 11 para 12 anos, na vila de Alcochete, em casa dele confitente, se achou com Maria do Rosário, sua criada, irmã inteira de Isabel Maria, de quem acaba de dizer, e com Paula Nunes, Filipa Nunes e Maria Baptista, mãe e irmãs dele confitente, e estando todos cinco…

 

fls. 110 img. 219 – 4-11-1702 – Mais confissão

 

Há três para quatro meses, na cidade de Lisboa, em casa dele confitente, se achou com sua mulher Catarina Maria e com sua cunhada e prima, Filipa Maria, e com Josefa, a quem não sabe o sobrenome, nem se é casada se viúva, que é irmã de um Médico a quem chamavam Agostinho da Naia, e faleceu agora em Roma, e representa ter de idade mais de 40 anos, natural não sabe de onde e moradora na cidade de Lisboa, e estando todos quatro…

 

Há 15 anos pouco mais ou menos, na vila de Cascais, e casa dos pais dele confitente, se achou com duas meias-irmãs Joana Baptista, viúva do Capitão João de Sequeira Pinto, filha de Lopo de Sousa e de Maria de Matos, natural e moradora na vila de Cascais, e com Brites de Matos, solteira, irmã inteira de Joana Baptista, e ainda com Paula Nunes, Filipa Nunes e Maria Baptista, mãe e irmãs dele confitente, e estando os seis…

Para denunciar, já se lembrou das meias irmãs, de quem se esquecera na Genealogia.

 

Há 12 para 13 anos, na cidade de Lisboa, em casa dele confitente, se achou com sua meia irmã Brites de Matos ou de S. José, da qual acaba de dizer, com seu pai, Lopo de Sousa, sua mãe Paula Nunes, e suas irmãs, Filipa Nunes e Maria Baptista e estando todos seis…

 

Há cinco para seis anos, na cidade de Lisboa, em casa de Francisco da Costa Pessoa (1664 – Pr. n.º 5386 e 1702 – 5386-1), casado a primeira vez com Branca Henriques ou Gonçalves, filha de Francisco Gonçalves Henriques e a segunda com uma velha, da qual não sabe o nome, natural não sabe de onde, e terceira vez casada com Inês de quem não sabe o sobrenome, natural não sabe donde, moradora na cidade de Lisboa à Confeitaria, se achou com o mesmo e com um filho deste chamado António Tavares ((1702 – Pr. n.º 9112), e com um cunhado e primo dele confitente chamado Bento da Costa, dos quais tem dito em suas confissões e estando todos quatro…

 

Há catorze anos, na cidade de Lisboa, em casa de sua prima Maria Madalena, se achou com o marido dela e sogro dele confitente Manuel da Costa, e com Catarina Josefa, mulher de António Cardoso do Amaral, de quem tem dito em suas confissões, e com Gaspar Lopes Henriques (1667 – Pr. n.º 5379, 1703 – 5379-1), médico, não sabe de quem seja filho, mas é casado com uma sua parente de quem não sabe o nome, e a dita sua mulher é da família dos Samuda, morador em Lisboa na Rua dos Escudeiros, e estando todos quatro…

 

Há 13 para 14 anos, na cidade de Lisboa, em casa de Manuel da Costa Brandão (1702 – Pr. n.º 2110), à Pichelaria, onde ele confitente se veio curar de seu reumatismo, se encontrou com Manuel Soares Brandão, Médico que lhe veio assistir na dita doença, que vive separado de sua mulher moradora na vila de Avis, morador nesta cidade a S. Vicente nas casas que comprou a Cipriano de Macedo e com Catarina Godinho e Paula Nunes, mãe dele confitente, e estando todos quatro…

 

Há sete para oito anos, na cidade de Lisboa, à Sé, em casa do dito Manuel Soares Brandão, de quem agora acaba de dizer, se achou com o mesmo e com um primo do mesmo chamado José Soares (1703 – Pr. n.º 3680), solteiro, filho natural do P.e José Soares de Faria, Clérigo do Hábito de S. Pedro e Beneficiário na vila de Mafra, e morador no couto de Odivelas, onde é médico do partido das freiras e estando todos três…

 

Há 4 para 5 anos, na cidade de Lisboa, a S. Vicente de Fora, em casa do dito Manuel Soares Brandão, médico, se achou com o mesmo e com um filho natural chamado Manuel Soares, estudante canonista da Universidade de Coimbra, solteiro, de 18 ou 20 anos de idade e estando todos três…

 

fls. 116 img. 231 – 6-11-1702 – Mais confissão

 

Há 4 meses, na cidade de Lisboa, em casa de Bartolomeu Bigalo, na rua Nova da Palma, se achou com sua ama, Josefa, que havia sido também criada de Bernardino Freire, e com uma irmã desta de quem não sabe o nome, mas que é viúva e representa ter mais de 50 anos, e é irmã do médico Agostinho da Naia, que há pouco tempo faleceu em Roma, e é mulher grossa de cara redonda e vermelha e tem dois filhos em Roma frade, um de S. João de Deus, outro Carmelita descalço a quem não sabe o nome, e estando todos três…

 

Há 12 anos, na cidade de Lisboa, em casa dele confitente, se achou com Brites e Violante de Sequeira, solteiras, de quem tem dito em suas confissões e estando todos três…

 

Há 12 para 13 anos, na cidade de Lisboa, em casa dele confitente, se achou com Afonso Rodrigues e com a mulher do mesmo, Maria Vieira, naturais de Portalegre e moradores em Lisboa na Rua do Mestre Gonçalo, e estando todos três…

 

fls. 120 img. 239 – 14-11-1702 – Mais confissão

 

Há sete ou oito meses, na cidade de Lisboa, em casa de Afonso Rodrigues de Sequeira, se achou com Manuel ou João da Costa Luzarte, filho único e mais velho segundo lhe parece de Manuel da Costa Luzarte, assentista de Peniche e assiste nesta Corte aos negócios de seu pai, e estando ambos sós…

 

Há 16 para 17 anos, na cidade de Lisboa, às Pedras Negras, em casa de Maria Rebela, casada que foi com Francisco Nunes Henriques, não sabe de quem seja filha, moradora em Lisboa e natural de Avis, faleceu em Nice, Corte de Sabóia, e com dois primos da mesma chamados Fr. Bento de Santo Amaro, e Fr. Manuel, Religiosos Paulistas, filhos de Serafim Mendes, naturais da vila de Avis, e ausentes na Corte de Sabóia, e estando todos…

 

Há cinco para seis anos, na cidade de Lisboa, em casa de Sebastião Dias da Silva, casado com Maria Henriques, se achou com um filho dele, de que se não lembra o nome e assiste em Leiria a umas rendas que o dito seu pai havia tomado, que representa ter 19 ou 20 anos de idade, é espigado, magro de cara, e cabelo castanho, nem muito alvo nem muito preto de cara, e é irmão mais moço de Miguel Lopes de Leão, Advogado nesta Corte, e estando todos três…

É António Lopes da Silva (1706 – Pr. n.º 9117), mas esta denúncia não foi “aproveitada”.

 

Há 4 meses, em Lisboa, no Campo da Forca, em casa de Brites de Sequeira, viúva de Fernão Peres Coronel, natural de Portalegre e moradora nesta cidade, se achou com a mesma e com uma sua sobrinha Brites da Silva de Sequeira, e estando todos três…

 

Fez um aditamento à comunicação de 23 de Outubro, em que disse de António Tavares, dizendo agora que na mesma ocasião estavam também presentes Inês, mulher de Francisco da Costa Pessoa, e duas irmãs da mesma, a saber, a viúva do boticário Luis de Sousa (é Maria de Campos- 1702- Pr. n.º 1945) e a outra casada com um estudante de Medicina na Universidade de Coimbra (é Guiomar Sanches da Rosa – 1702 – Pr. n.º 2356; o marido era José de Macedo Correia- 1704 – Pr. n.º 2363) e se declararam todos.

As duas irmãs viriam a ser presas em 18 de Novembro e mais um testemunho contra elas “dava jeito”.

 

Há 16 para 17 anos, na Universidade de Coimbra, em casa do Reitor Manuel de Moura Manuel, lhe disse o P.e Pedro Furtado (1698 – Pr. n.º 7622, de Coimbra), que era então seu Capelão e saiu depois penitenciado pelo Santo Ofício que ele tinha um pacto com o demónio e sabia oi lugar onde estavam as almas no outro mundo e depois inferiu que o dito padre cometia o pecado nefando.

 

fls. 126 img. 251 – 18-11-1702 – Mais confissão

 

Há 15 anos na cidade de Lisboa, em casa de sua prima Inês Maria Teles, de quem tem dito em suas confissões, se achou com a mesma e com uma tia dele confitente chamada Maria de Sousa, solteira, irmã inteira de seu pai Lopo de Sousa, que vivia  em casa da dita Inês Maria, onde faleceu, e estando todos três…

 

fls. 128 img. 255 – 16-12-1702 - Mais confissão

 

Há oito anos, na Corte de Roma, em casa de Isabel da Costa, viúva do médico Francisco Teles, com um filho da mesma chamado Francisco Teles, subscrevente na Dataria, e com uma irmã da mesma chamada Joana da Costa, viúva não sabe de quem, nem de quem fossem filha e ouviu que fosse já defunta, e estando todos quatro…

 

Há seis meses no lugar de Azeitão, em casa do Médico Francisco da Silveira, viúvo de Isabel da Silva, de quem tem dito em suas confissões, se achou com o mesmo e com um filho dele chamado Luis da Silveira, solteiro, sem ofício, de treze ou catorze anos, natural do lugar de Azeitão e morador no Barreiro, e estando todos três…

 

fls. 131 img. 261 – 21-3-1703 – Mais confissão

 

Há 9 meses, na cidade de Lisboa, à Anunciada, em casa de José Coelho Chaves, se achou com Francisco de Chaves, Médico, casado não sabe com quem, natural e morador na cidade de Lisboa, estando ambos sós, por ocasião de irem assistir a Constança Garcia, mãe do dito José Coelho, que estava doente…

 

Há 9 meses, na cidade de Lisboa, em casa de José Francisco, espingardeiro, solteiro, natural de Portalegre e morador em Lisboa, se achou com o mesmo, estando ambos sós…

 

fls. 134 img. 267 – 14-4-1703 – Crença e confissão

 

Há 9 anos na Corte de Roma, e casa do médico Agostinho da Naia, casado com uma filha de Baltasar Coelho chamada Inês Maria, e ouviu dizer que é já defunto, natural não sabe donde, e estando ambos sós…

 

Há 9 anos, na corte de Roma e casa de Jerónima da Costa, irmã inteira do dito Gaspar da Costa de Mesquita (1682 – Pr. n.º 1240), casada com um Italiano a quem não sabe o nome, e estando ambos sós…

 

Perguntado há quantos anos se apartou da Fé Católica, disse que fora 20 anos antes pouco mais ou menos.

 

fls.137 img. 273 – 14-4-1703 – Termo para formar interrogatórios

O réu disse que não tinha que estar com o Procurador e que dava já por repetidas as testemunhas da justiça, pelo que o Inquisidor Nuno da Cunha de Ataíde o deu por lançado da defesa com que poderia vir.

 

fls. 138 img. 275 – 14-7-1703 – Mais confissão

 

Há um ano pouco mais ou menos se achou ele confitente em casa de um fanqueiro chamado Francisco Moreira Leitão, morador ao Pelourinho , a cuja mulher ia curar de uma doença se achou com o médico António de Mesquita (1703-Pr. n.º 153), natural do Reino do Algarve, casado não sabe com quem, só sabe que a mulher dele é filha do médico Simão Lopes Samuda (é Guiomar Maria Henriques – 1703 – Pr. n.º 8247) estando ambos sós na escada da casa do fanqueiro…

 

fls. 140 img. 279 – 16-7-1703

O Notário João Cardoso faz o processo concluso à Mesa.

 

fls. 141 img. 281 – 16-7-1703 – Assento da Mesa

 

“pareceu a todos os votos que, visto dizer de si bastantemente, de sua mulher Catarina Maria, de seus Pais, Lopo de Sousa e Paula Nunes, de seus sogros Manuel da Costa e Maria Madalena, de seus irmãos Bento de Sousa, Maria Baptista, e Filipa Nunes, de seus cunhados, Diogo Nunes, João da Costa, Bento da Costa, Alexandre de Sousa, Filipa Maria e também muitas pessoas suas conjuntas e não conjuntas, com a maior parte das quais não estava indiciado, e satisfazer a maior parte da prova da justiça que contra ele havia, e assentando na crença de seus erros, e judaísmo, por que foi preso e acusado, ele seja recebido ao grémio e união da Santa Madre Igreja com cárcere, e hábito penitencial perpétuo, e que vá ao auto público da fé na forma costumada e nele ouça sua sentença e abjure publicamente seus heréticos erros em forma e que incorreu em sentença de excomunhão maior, de que será absoluto, e confiscação de todos seus bens para o Fisco e Câmara Real, e nas mais penas de direito contra semelhantes estabelecidas, e tenha penitências espirituais e instrução ordinária, e que devia ser havido por herege por sua confissão do mês de Outubro de 1683 em diante, e da prova da justiça não consta o contrário.”

 

Gaspar de Sousa foi tratado de um modo bastante benigno no seu processo. A genealogia está cheia de omissões e o Inquisidor nada lhe perguntou. Na sessão in specie, respondeu a tudo negativamente e também deixaram passar. O próprio assento da Mesa refere as suas denúncias, mas bastantes delas não têm qualquer valor: veja-se o caso dos defuntos (Lopo de Sousa, Maria Madalena) e dos ausentes no estrangeiro (Paula Nunes, Bento de Sousa, Filipa Nunes, Maria Baptista - Roma, Bento da Costa – Castela).

É verdade, no entanto, que fez muitas denúncias que levaram muita gente para a prisão e alguns para o patíbulo, terá sido isso que lhe ganhou o favor dos Inquisidores?

 

fls. 143. img. 285 – Sentença

 

Na Lista do auto da fé de 9 de Setembro de 1703, aparece com o nome de Gaspar de Sousa Teles;  é o  n.º 20 na quarta abjuração em forma por judaísmo

  

fls. 145 img. 289 – Abjuração em forma, sem data

 

fls. 146 img. 291 – 10-9-1703 – Termo de segredo

 

fls. 147 img. 293 – 15-9-1703 – Termo de ida e penitências

 

fls. 148 img. 295 - 14-9-1703 – Foi ouvido de confissão e está instruído nos mistérios da Fé Católica.