14-6-2006

 

D. Miguel da Silva, o "Cardeal Viseu"

(1480 - 1556)

 

  

D. Miguel da Silva nasceu em Évora em 1480, filho de D. Diogo da Silva e Menezes, aio de D. Manuel I, 1.º Conde de Portalegre e de D. Maria de Aiala.  O seu irmão mais velho, João da Silva, casou com D. Maria de Menezes e do casamento nasceram os dois sobrinhos, Jorge da Silva e António da Silva.

Revelando inteligência fora do comum, D. Manuel mandou-o para a Universidade de Paris, onde estudou com aproveitamento latim e grego. De Paris partiu para Itália, onde esteve em Sena, Bolonha e Roma. Foi depois a Veneza, antes de regressar a Portugal.

Em Agosto de 1514, D. Manuel nomeia-o embaixador junto do Papa Leão X, encarregando-o ainda de representar o Reino no Concílio de Latrão (1512-1517).

Em 27 de Fevereiro de 1515 é encarregado pelo Rei de pedir ao Papa o estabelecimento em Portugal o estabelecimento da Inquisição, a exemplo da de Espanha.

 
Em casa de Marta, de Gaspar Vaz Museu Grão Vasco, Viseu). Esta pintura é muitas vezes atribuída a Vasco Fernandes, o Grão Vasco, mas os técnicos consideram hoje que é do seu discípulo, Gastão Vaz. Segundo a tradição, D. Miguel da Silva seria o primeiro à direita de Jesus.

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Em 1516, foi encarregado do bispado da Guarda durante a menoridade do titular, o príncipe D. Afonso, filho de D. Manuel. Ficou em Roma durante o pontificado de Leão X, de Adriano VI e ainda parte do de Clemente VII.

Leão X, ofereceu-lhe a púrpura cardinalícia, tal o prestígio de que gozava. Recusou. Também Clemente VII lhe fez a mesma oferta.. D. João III (que tinha subido ao trono em 1521) soube disso e mandou que D. Miguel da Silva regressasse a Portugal, substituindo-o por D. Martinho de Portugal. Provavelmente não queria que outra pessoa fosse nomeada Cardeal ainda antes de seu irmão, D. Henrique. D. Miguel da Silva obedeceu e partiu de Roma no início de Agosto de 1525. O Papa escreveu ao Rei um breve a D. João III, recomendando-lhe o seu embaixador, que voltava ao Reino.

D. Miguel foi nomeado pelo Rei Escrivão da Puridade, mas teve muita dificuldade em tomar posse do cargo, pela oposição da pessoa que então o exercia, D. António de Noronha, por sinal, seu cunhado. Foi eleito Bispo de Viseu no final de 1525 ou princípio de 1526, mas demorou bastante a tomar posse do cargo, o que só aconteceu em 1528 ou 1529.

Em 1528, aconteceu um facto que deu enorme prestígio para sempre a D. Miguel da Silva: o seu amigo Baldassarre Castiglione, Núncio Pontifício junto de Carlos V, dedicou-lhe a sua obra Il libro del Cortegiano, impresso em Veneza por Aldo Manunzio (ver aqui)

Alguém que também o admirava foi Paolo Giovio (em latim, Paulus Jovius), um humanista brilhante e divertido, que muito escreveu, nomeadamente uma lista com retratos dos literatos ilustres do seu tempo, dada à estampa em 1542. O poeta novilatino Diogo Pires escreveu-lhe em latim uma carta aberta em Fevereiro de 1547, protestando por ele não ter incluído nem um português naquele seu livro. Possivelmente, para corrigir a omissão, Giovio incluiu nas edições posteriores a 1547 uma referência ao seu amigo D. Miguel da Silva (mas sem lhe pôr o retrato), no final, a págs. 226 da edição reproduzida online e referida abaixo:

 

Ea porro ingenia, quæ ultima terrarum Lusitania ad Oceanum nobis abscondit, a Michaele Sylvio Cardinale non Diu quidem expectabimus. Is enim a varia doctrina poeta cultissimus, ac omnis elegantiæ iucundus arbiter, studia nostra vehementer amat et laudat, patrii decoris plane cupidus, supra reliquos animosæ gentis honores, hoc literatæ laudis nomen, Tanquam non postremæ, si non summæ gloriæ minime contemnit.

Entretanto, não esperámos muito pelos talentos do Cardeal Miguel da Silva, que a Lusitânia, a última das terras junto do Oceano, nos escondia. Ele é certamente um poeta cultíssimo em diversas doutrinas, e um simpático árbitro de toda a elegância, que ama e aprecia com veemência os nossos estudos. Inteiramente dedicado ao prestígio da pátria, este nome digno de louvor no campo das letras, fez muito pouco caso, quer da suprema,  quer mesmo de maior glória, acima das restantes honras da gente intrépida.

 

D. Miguel da Silva marcou pontos da administração da Diocese de Viseu. Construiu o claustro da Sé que ainda hoje existe, e mandou fazer o coro alto. Empenhou-se também muito na renovação da quinta do Fontelo, que pertencia ao Bispado desde séculos atrás.

A mata do Fontelo (como hoje se diz) esteve depois abandonada desde 1540 até 1553, quando o recém-nomeado bispo da diocese, D. Gonçalo Pinheiro se ocupou da sua manutenção e renovação. Neste último ano, escreve o sobrinho do bispo, António de Cabedo (1531?-1556?) o seu poema Fontellum onde exaltadamente descreve as maravilhas da quinta, possivelmente mais imaginadas do que correspondentes à realidade, dado o abandono a que tinha sido votada.

Em 1538 é convocado o Concílio de Trento e D. Miguel pede ao Rei permissão para ir a Roma. D. João III nega-lhe a autorização e aconselha-o a fingir-se doente. O conflito com o Rei agravou-se de tal modo, que em 22 de Julho de 1540, D. Miguel foge para Itália. Entretanto, o Papa Paulo III (Alessandro Farnese, seu amigo pessoal, eleito em 1534), tinha-o feito cardeal no consistório secreto de 12 de Dezembro de 1539, conservando-o in petto até 2 de Dezembro de 1541.

Desde então, até à sua morte foi uma luta permanente de gato e rato com D. João III.

Não tendo podido evitar a sua nomeação como Cardeal, o Rei publicou em 23 de Janeiro de 1542 uma carta régia em que desnaturalizava D. Miguel e o destituía de todos os seus bens e prerrogativas em Portugal. Sabendo que o sobrinho, D. Jorge da Silva, se ocupava de negócios do tio mandou-o encarcerar e depois exilar. D. Miguel respondeu com uma longa carta, que foi traduzida do italiano por Mons. José de Castro (Portugal no Concílio de Trento, 1.º vol., págs. 360-381).

Os últimos anos de D. Miguel da Silva devem ter sido muito penosos, sem meios para ostentar o esplendor de outrora e achacado pela doença e as dificuldades. Veio a falecer em 5 de Junho de 1556.

Torna-se difícil explicar o ódio de D. João III contra D. Miguel da Silva, tanto mais que não surgiram grandes dificuldades para nomear Cardeal o Infante D. Henrique. Mas ele teria tido um fim bem mais triste se tivesse ficado em Portugal. Possivelmente, teria ido parar aos cárceres da Inquisição já que o Rei também o acusava de pederastia, o pecado nefando, como se dizia na época. Aliás, nas “pasquinate” em Roma, que se referiam ao Cardeal Viseu, foi muitas vezes utilizada a palavra “culiseo” (em dialecto romanesco, com minúscula), palavra que tem um significado bem longe de inocente, ao contrário do que diz Mons. José de Castro.

Da sua obra literária, destacam-se o poema De Aqua Argentea, dedicado ao Aqueduto de Évora, que ainda não obteve uma tradução portuguesa (Sylvie Deswarte publicou uma tradução para francês) e um epigrama que foi gravado em mármore no Capitólio (transcrito na Bibliotheca Lusitana e em Lilio Gregório Giraldi (com menos 2 versos)– ver aqui ou aqui):

 

 

 

Michael Silvius Card. ad urbem Romam

 

Marmora praeclaros testantia fronte triumphos

Atque magistratus inclyta Roma tuos,

In medio mansere foro dum Roma manebas

Postque deos orbi iura secunda dabas.

Ast ubi te indignis fregit Fortuna ruinis

Obruerat titulos alta ruina tuos;

Tamque div in tenebris tantis jacuisse videntur

His velvti fato debita temporibus

Quae modo Alexander patria te dignus avoque

Paulo, inventa tibi marmora restituit

Tu Capitolina meliore in sede reponis

Et legeris magni munere Pharnesii.

 

 

 

O Cardeal Miguel da Silva à cidade de Roma

 

 

 

Os mármores que nas suas fachadas, ó ínclita Roma, dão testemunho dos teus preclaros triunfos, assim como os teus magistrados ficaram no meio do Foro, enquanto tu Roma estavas de pé e impunhas ao mundo leis apenas inferiores às dos deuses. Mas, desde que a Fortuna te despedaçou com indignas ruínas, uma outra ruína enterrou os teus pergaminhos. E estes mármores, por tanto tempo sepultados em tais trevas, devidas quase fatalmente aos nossos tempos, agora Alexandre, mui digno de te ter a ti como Pátria e a Paulo como antepassado, os redescobriu, e te restituiu e tu os colocas de novo na mais digna sede Capitolina, a fim de que seja assim conhecida graças à munificência do grande Farnese.

 

 

(Adaptação da tradução italiana no livro de Sylvie Deswarte)

 
 

In statuam puellae ad aquam virginem Michaëlis Sylvii Cardinalis

 

 

Quae nuper de me multi cecinere caveto

            Hospes, ne male te carmina decipiant.

Non dea, non fontis numen, nec nynpha Dianae,

            Sed decet id quod sum dicere simpliciter.

Sum statua, ut cernis, specie formata puellae,

            Quam placida oppressit, dum fluit unda quies.

Et qui me fecit, similem fortassis amavit,

            At surdam praecibus, quod sopor ipse notat.

Iulius hic posuit, nomen quoque Virginis addit,

            Conveniens fonti temporibusque suis.

 

Do livro: Uberto Motta, Castiglione e il mito di Urbino, Vita e Pensiero, 2003, ISBN 978 8834309674

 

   

 

 

 LINKS

 

Manoel Severim de Faria, Notícias de Portugal, Lisboa Occidental, na Officina de Antonio Isidoro da Fonseca, 1740, págs. 264-267

online na Biblioteca Nacional: http://purl.pt/698/1/

 

Aires Pereira do Couto, O grande senhor do Fontelo do século XVI: D. Miguel da Silva, Beira Alta, vol. XLIX, fasc. 3 e 4, 1990

http://visoeu.blogspot.com/2005_11_20_archive.html

 

José de Castro, D. Miguel da Silva, o “Cardeal de Viseu”

http://visoeu.blogspot.com/2005/04/dom-miguel-da-silva-o-cardeal-de-viseu.html

http://visoeu.blogspot.com/2005/04/dom-miguel-da-silva-o-cardeal-de-viseu_22.html

 

Américo Costa Ramalho, A Reabilitação de D. Miguel da Silva, in Boletim de Estudos Clássicos, volume 36, Dezembro de 2001, págs. 135/6

http://www1.ci.uc.pt/eclassicos/bd_pdfs/36/14-AReabilitacaodeDMigueldaSilva.pdf

 

Paulus Jovius, Pauli Iouii ... Elogia virorum literis illustrium, quotquot vel nostra vel auorum memoriam vixere / Ex eiusdem Musaeo ... ad viuum expressis imaginibus exornata Petri Pernae typographi, sumptibus ... Henrico Petri, 1577 Basileia

http://bibliothek.uv.es/search*spi/agiovio/agiovio/1,1,5,B/l962&FF=agiovio+paolo&5,,5,0,-1

 

An Italian Portrait Gallery, by Paolo Giovio, of New Como, Bishop of Nocera, an English translation by Florence Alden Gragg (1877-1965)

http://www.elfinspell.com/Paolocontents4.html

 

André de Resende (O.P.) (1498-1573), Libri Quator De Antiquitatibus Lusitaniae  a Lucio Andrea Resendio olim inchoati, & à Iacobo Menoetio Vasconcello recogniti, atq[ue] absoluti ; Accessit liber quintus de antiquitate municipij Eborensis, ab eodem Vasconcellos conscriptus ... Eborae : Excudebat Martinus Burgensis ..., 1593 (Ver págs. 319 do software)

http://bibliothek.uv.es/search*spi/aresende/aresende/1,1,1,B/l962&FF=aresende&1,0,,0,-1

 

Il libro del cortegiano del conte Baldesar Castiglione, in Vinegia, per Vettor de Rabani e compagni, 1538

http://bibliothek.uv.es/search*spi/acastiglione/acastiglione/1,7,8,B/l962&FF=acastiglione+baldassarre+conte+1478+1529&1,,2,0,-1

 

Baldassarre Castiglione, Il libro del cortegiano (texto integral com grafia actualizada)

http://www.filosofico.net/illibrodelcortegiano.htm

 

Biografia de Salvador Miranda

http://www.fiu.edu/~mirandas/bios1539.htm

 

TEXTOS CONSULTADOS

Sylvie Deswarte, Il 'Perfetto Cortegiano' D. Miguel da Silva, Roma: Bulzoni, 1989.ISBN 88-7119-027-0

 

Sylvie Deswarte, "La Rome de D. Miguel da Silva (1515-1525)", in O Humanismo Português 1500-1600, Primeiro Simpósio Nacional (Lisboa, 1985), Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa, 1988, 177-307.

 

Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, nova edição prep. e dir. por Damião Peres, 1967-1971, Portucalense Editora, Porto

 

Diogo Barbosa Machado, Bibliotheca Lusitana, 1760. , Ver aqui.

 

António de Portugal e Faria, Portugal e Itália: ensaio de diccionario bibliographico, Leorne: Typographia de Raphael Giusti, 1898-1926

Manuscritos transcritos:

Roma Lusitana, ovvero Memorie Raccolte da Fancesco Cancellieri, 1817

Frei Fortunato de S. Boaventura (1778-1884), Literatos Portugueses na Itália ou Colecção de subsídios para se escrever a História Literária de Portugal, que dispunha e ordenava Frei Fortunato Monge Cisterciente

 

Américo da Costa Ramalho, Recensão de «SYLVIE DESWARTE, Il 'Perfetto Cortegiano’ D. Miguel da Silva», Humanitas. Coimbra. 41-42 (1989-1990) 259-260

 

Aires Pereira do Couto, O poema Fontellum de António de Cabedo, in Humanitas, vol. XLIV (1994), págs. 333-349

 

Alexandre Herculano, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, 3 vols. Livraria Bertrand, Lisboa, 1975.

 

José de Castro (1886-1966), Portugal no Concílio de Trento, 1944-1946, 6 vols. Tip. União Gráfica

 

Francisco Alexandre Lobo (1763-1844) , Obras, Typ. Jose Baptista Morando, 1848-1853, Lisboa, 1.º volume, pag. 260-281

Online: http://books.google.pt

 

 

 

 

 

MIGUEL DA SYLVA, augmentou novos tymbres á Cidade de Evora com o seu nacimento, e communicou immortal gloria a seus claros Progenitores Dom Diogo da Sylva, Ayo delRey D. Manoel, e I. Conde de Portalegre, e D. Maria de Ayala, filha de Diogo Ferreira Senhor das Ilhas Lancerote Forteventura, e Gomeira nas Canarias. A viveza do engenho, e facilidade de comprehensaõ, que manifestou na adolescencia, foraõ os estimulos que moveraõ a ElRey D. Manoel para o mandar á Universidade de Pariz, onde sahio eminente assim na lingoa Latina, e Grega, como nas Sciencias mayores, em que recebeo a borla doutoral. Naõ sómente foy Pariz theatro da sua grande literatura, mas Sena, Bolonha, e Roma, onde conciliou estreita amizade com os mayores professores da erudiçaõ sagrada, e profana quaes eraõ Jeronymo Osorio, Paulo Jovio, Pedro Bembo, e Jacobo Sadoleto. De Roma partio para Veneza, e depois de discorrer pelas mais illustres Provincias da Europa se restituhio á Patria cheyo de merecidos aplausos. Certificado ElRey D. Manoel do progresso dos estudos a que por sua ordem se aplicara, e muito mais da madureza do seu talento o nomeou Embaixador á Santidade de Leaõ X. para que em seu nome assistisse ao Concilio Lateranense principiado por Julio II. no anno 1512, e concluido no anno de 1517, conservando o caracter de Embaixador nos Pontificados de Adriano VI., e Clemente VIII. Concluidos felizmente os negocios da sua Embaixada voltou para o Reino, quando ja dominava D. Joaõ III. que imitando o alto conceito que seu augusto Pay sempre fizera de taõ grande Vassallo o nomeou Comendatario, e Prior perpetuo do Mosteiro de Landim de Conegos Regrantes, Abbade de S. Tyrso em Riba de Ave, e depois Bispo de Viseu, e Escrivaõ da Puridade, cujo Officio he o de mayor confiança na Casa Real, e o tinha servido seu Pay, e depois seu Cunhado o I. Conde de Linhares. Ao tempo que exercitava lugares taõ honorificos o creou Cardeal Paulo III. em 12 de Dezembro de 1539 por intervençaõ de seu Sobrinho André Farnese, com quem contrahira estreita amizade no tempo que assistio na Curia. Como esta dignidade fosse conferida sem beneplacito delRey D. Joaõ III. julgando injurioso á soberania da sua Pessoa este procedimento, representou ao Pontifice a offensa que lhe fizera promovendo ao Cardinalato hum seu Vassallo naõ lhe communicando anticipadamente esta resoluçaõ. Receando prudentemente o novo Cardeal experimentar os effeitos da indignaçaõ Real se ausentou ocultamente de Portugal, e chegando a Roma recebeo o Capello em 11 de Dezembro de 1541, com o titulo dos doze Apostolos, que depois passou para o de Santa Praxedes, Santos Marcelo, e Pancracio, e ultimamente de Santa MARIA Trans Tiberim. Foy Legado a Veneza, Marca de Ancona, e a Bolonha, e estando destinado para o ser a Carlos V. o naõ admitio o Emperador por naõ ser grato a seu Cunhado D. Joaõ III. o qual para testemunhar publicamente a paixaõ, que contra elle concebera o desnaturalizou por sentença proferida a 23 de Janeiro de 1542, privando-o de todas as rendas do Bispado de Viseu, e de todos os Beneficios, que possuia. Fundou hum magnifico Palacio junto da Basilica de Santa MARIA Tiberim, Titulo do seu Cardinalato, para onde se recolheo nos ultimos annos de sua vida aplicado igualmente ao estudo das Sciencias, como aos exercicios da piedade. Falleceo em idade muito provecta 5 de Junho de 1556. Jaz sepultado na Basilica de Santa MARIA Trans Tiberim. Foy elegantissimo Poeta Latino, de cujos versos em que imitou a magestade de Virgilio, e agudeza de Marcial se podia formar hum volume, sendo o mais celebre monumento da sua fecunda veya o Epigrama gravado em hum Marmore no Capitolio por ordem do Senado Romano, que he o seguinte

 

      Marmora praeclaros testantia fronte triumphos,

      Atque Magistratus inclyta Roma tuos.

      In medio mansere foro dum Roma manebas:

      Postque Deos orbi jura secunda dabas.

      Ast ubi te indignis fregit fortuna ruinis,

      Obruerat titulos alta ruina tuos.

      Tamque diu in tenebris tantis latuisse videntur

      His veluti fato debita temporibus.

      Quae modo Alexander patria te dignus Avoque

      Paulo inventa tibi marmora restituit.

      Tu Capitolinam meliori in sede reponis:

      Et legeris Magni munere Farnesi.

 

Outro seu Epigramma em louvor de Camillo Vitellio se lê in Elog. vir bellic. virt. illustr.de Paulo Jovio pag. mihi 183.

 

Da lingoa Portugueza, que do Original Arabigo vertera o Arcebispo de Braga D. Pedro Galvaõ traduzio na Latina

 

Opera Gastonis Foxei Lusitani.

Esta traduçaõ a communicou em Roma a Flavio Jacobo Eborense como relata in Explic. Epigram.  Suor. Carmin. ib. 2. p. 126. Michael Sylvius Cardinalis barbara interpretatione a Petro Galvano facta non contentus, latinam addidit pure, sane, & ornate scriptam. Fecit ille quidem cum Romae essem ipsius libri legendi mihi potestatem; ut verò excriberem (non dum enim typis evulgatus est) non permisit, suas enim margaritas (nam eo verbo usus est) communicare se velle constantissime negabat.

 

De Aqueducto Eborensi, & de aqua argentea..Obra Poetica, da qual fazem memoria Nic. Ant.Bib. Hisp. Tom. 2. p. 116. col. 2. P. Ant. de Maced. Lusit. Insul. & Purp. p. 255. e Joan. Palat. Facti.Cardinal.Tom. 3. pag. 147.

 

O sublime enthuhsiasmo, que teve para a Poesia he louvado por insignes professores desta divina Arte, como saõ Jano Vital.

 

      Pierides vestro jam dudum assurgite vati

      Ex Helicone Deae:

      Et celebre insigni, & longe venerabile lauri

      Cirgite honore Caput.

      Non ille in Sylvis, & propter lustra ferar

      Carmina culta canit.

      Orbis at in medio circumplaudente theatro

      Hic ubi fama viget,

      Est illi sacra Sylva Deis, ubi Laurea scena

      Delicias aperit.

      Jam licet Aonios saltus, & barbara tesqua

      Linquere, & omne nemus

      Quod ibi habet Phaebus Parnasi in vertice quodque

      Vos Heliconiades.

      Nobilis hic Sylvae jam jam secessus amãdus

      Civibus Ascra tuis.

      Hic nullae insidiae; non hic immanis adunco

      Dente timendus Aper.

      Sed molles spirant Zephiri per veris apricas

      Semper olentis opes.

      Hic curvant plenos passim poma aurea ramos,

      Dulcis, & halat odor.

      Hic etiam ad liquidi dulcissima murmura fontis

      Dulce queruntur aves.

      Salve Sylva Deis cultoribus inclyta, salve

      Vate superba tuo.

 

Resende Genetliac. Princip. Lusit.

 

      Sylvi Castalii Chori Sacerdos

      Qui nostros lepide loquutione

      Fecisti Durium, Tagumque, Anamque

      Grai non celebres minus qMelete,

      Et certe Tiberi pares Latino;

      Jam tum quum numeris modo hoc modo illuc

      Per gentes Italas vagatus olim

      Raptam de Angoniis Iber tulisti

      Palmam vatibus invidente Roma.

 

 

Hieron. Cardos. Eleg. 5.

 

      Adde quod & Musas colis,& penetralia doctae

      Palladis, & doctos qualibet arte viros.

 

Petrus Sanches Epist. ad Ignat. de Moraes.

      Silvius illustri Regum quoque sanguine cretus,

      Cujus, & antiquos ortus sibi concupit Alba,

      Hac nostra natus, nostra hac nutritus in urbe,

      Et Vidas, & Sinceros excelluit acri

      Ingenio, missus Latias Legatus ad oras:

      Sidonio hic ostro fulgens, rubro que Galero

      Inter Pausilypi lauros, myrthetaque sacra

      Saepe intermixtus Nymphis, placidisque Napaeis

      Carmina personuit Musis, & Apolline digna.

 

 

Correspondem a estes Elogios metricos os Oratorios, que lhe dedicaraõ insignes Escritores.

Resende in Orat. habita Acad. Ulyssip. Kaled. Octob.

1534:. Non Michaelem Sylvium transibo Musae utriusque alumnum, & Ytotius antiquitatis callentissimum, qui Italiam totam conditionis suae rumore complevit.

 

Palat. Fasti Cardin. Tom. 3. p. 146. ingenium acutissimum lilberaliter subministrante natura Poeta nascitur.

 

D. Manoel Caet. de Sousa Cathal. dos Pontif. e Card. Portug. p. 22-. Foy de excelsa indole, e subblime engenho.

Salazar Hist. Gen. de la Cas. de Sylva. liv. 6. cap. 14. En la Universidad de Paris,y de las Sena,y Boloña su perspicas, y agudo ingenio se extendio tanto en la amenidad de las humanas letras, Poesia,y Griego, que excediendo a los mas adelantados condiscipulos suyos supo grangearse con la admiracion de los Sabios la amistad de todos los Principes.

 

Severim de Faria Not. de Portug. Disc. 8. §. 13i. Sahio muy douto na sciencia, que aprendia, e muito mais nas humanidades, e elegancia da lingoa latina.

 

Nic. Ant. Bib. Hisp. Tom. 2. p. 116. col. 2. Litteras coluit ardenter praesertim amaeniores, & Poeticam in qua aevo suo vix aliquos pares habuit.

 

Fonseca Evor. Glor. p. 325. Foy hum dos mais Sabios, e eruditos homens de seu seculo, e por tal celebrado de Historiadores, e Poetas que nelle floreceraõ.

 

Cardoso Agiol. Lusit. Tom. 2. p. 761. no Comment. de 29 de Abril letr. D. Taõ erudito nas Humanidades, quam docto nas elegancias da Latinidade, insigne Poeta, e Mathematico celleberrimo, versado em diversas lingoas, e sciencias.

 

P. Ant. de Maced. Lusit. Purpur. p. 243. Excelsa illi indoles erat, & felix ad omnia ingenium. Ad studium maxime litterarum natus videbatur.

 

Telles ,Chron. da Comp. de Jes. da Prov. de Portug. Tom.  cap. 25 . n. 2. Por concorrerem álem de seu illustre, e antigo sangue grandes partes, e raros talentos em particular de seu muito saber, e superior engenho.

 

Ciacon. Vit. Pontif. Rom. Tom. 3. p. mihi 675. In utroque dicendi genere versu scilicet, ac soluta Oratione elegans, ac facundus evasit.

 

Andrade Chron. de D. Joaõ III. Part. I. cap. II. e Part. 3. cap. 82.

 

Spondan. Annal. Eccles. Tom. 2. ad an. 1542.

 

Ambery Hist. Gen. Cardin. Part. 4. p. 40.

 

Orland. Hist. Societ. lib. 5. n. 27.

 

Faria Epit. das Hist. Portug. Part. 4. cap. 18.

 

Goes Chron. delRey D. Man. Part. 4. cap. 1.

 

Sousa Flor. de Esp. cap. 23. excel. 3.

 

Pallavic. Hist. Concil. Trid. -lib. 5. cap. 2. n. 4. e 6.

 

Mend. de Vasconc. De Antiquit. Lusit. p. 271.

 

Balcarius Comment. rer. Gallic. lib. 23. ad an. 1543. n. 2.

 

Ughelus  Ital. Sacr'. Tom. 3. p. 805.

 

Joan. Soar. de Brito Theatr.Lusit. Litter. lit. M. n.36.

 

Reverendissimo P. Joaõ Col Cathal. dos Bisp. de Viseu. §. 51.