12-08-2008

Sobre Pedro Sanches, ver aqui                   

Petrii Sanciis Supremi Senatus a Secretis, Rege Sebastiano, Carmina de Poetis Lusitanis ad Ignatium Moralem (*)

 

Epistola ad Ignatium de Morales (**)

 

 

        Tymbræo cari et Musis hoc tempore vates

Contempti spretique iacent: fata improba lauros

Attrivere sacras Cirrhamque et Apollinis ædem.

Non in honore Deæ, non sunt in honore Poetæ;

Carmina vilescunt. Video doleoque maligna

Te nunc sorte premi, qui (si mala sæcla tulissent)

Dignus eras meliore foco, meliore culina,

Atque toga meliore tegi, Moralis, in ore

Cuius Musa sedet, doctoque in pectore Phœbus.

At nunc quod misero vilis tibi gobio cœnam                           10

Præbet, nec mensis fervet scriblita secundis,

Mollia nec servi sternunt tibi lina Canopi,

Nec Canusina tuo componit stragula lecto

Verna satur, diri hoc est inclementia fati,

Et crimen, fortuna, tuum, quæ lege pudenda

Deprimis atra bonos, atque alba extollis inertes.

 

Quid tibis, Moralis, sublimia carmina prosunt?

Carmina cinctutis merito laudanda Cethegis!

Quid dulces elegi? Quid salsa epigrammata? Qui vel

Archilochi numeri, nullo jam sanguine tincti?                         20

Num tibi quis misis terso pro carmine libram

Argenti? Num vina dedit? Num munus aristæ?

Aut tunicam pexam, crepidas, tritosve cothurnos?

Chœrilus ut quondam Pellæo carmina Regi

Non bene tornata offerret, tamen ille Philippos

Incomptus multo et munera larga recepit;

Et tu, qui multo meliora poemata pangis,

Sæpe fame obscæna palle et frigore sæpe

Horres, cum Boreas gelida bacchatur ab Arcto.

 

Ergo miser plectrum Smyrnæ Thressamque Neantho            30

Trade chelyn, fidibus qui duro police ruptis,

Non numeris, non arte valens demulceat aures

Quas tua non potuit perdocta et blanda Thalia.

 

        Hoc mirum, læti cum nostri bella capessant

Horrida Lysiadæ, et vitam pro laude profundant

Intrepidi, frangi nequeant, vincique recusent,

Castalidum doctos quid non venerentur alumnos

Qui soli æternant heroum fortia gesta?

Numquid magna parens solum produxit Achillem

Magnanimum, fortem, invictum? Fortasse ducentos              40

Aut etiam plures meliores edidit illo,

Sed quia laurigeri carverunt munere Vatis,

Perpetuo in tenebris miseri jacuere sepulti.

Nec genitus liquidas Phrygii Simoëntis ad undas

Qui, Troia eversa, confectum ætate parentem

Eripuit flammis, solus pietate paterna

Extitit insignis. Multas habuisse putato

Orbem matronas æterno nomine dignas,

Queis, nec mille procos quæ sola elusit hiantes,

Arria præstiterit Pæti, nec Portia Bruti.                               50

Et multos, magnosque viros qui fortibus ausis

Et qui consilio valuere; at defuit illis,

Qui famam ipsorum celebraret carmine, Vates.

Hoc bene Mæcenas Vatum præsesque paterque

Sensit, qui semper fovit coluitque Poetas.

Quod propter legitur, colitur, laudatur, amatur,

Et vivit docto numerosi carmine Flacci.

Sensit et Augustus, moderator maximus orbis,

Qui melius duxit leges Romanaque iura

Frangi, quam sævis permittere carmina flammis                   60

Virgilii, et summa vigilatos arte labores.

Illo læta tibi nasci si fata dedissent

Tempore felici, cum magna per atria Clio

Pulchraque Terpsichore nomenque docusque gerebant,

Non fatuas betas, non vilia durila ventri

Latranti ingereres, non igni rapula tosta,

Qualia Dentatus posito cenabat aratro.

 

        At tu ne credas te solum tristia fata

Fortunamque pati adversam; communia passim

Hæc mala sunt nostris hac tempestate Poetis.                     70

Nam postquam lucro intenti de fronte pudorem

Expulimus, curæque fuit servire palato

Et vacuo capiti vacuos imponere pyrgos,

Aque utres femori tumidos aptare voluptas,

Palladis et Phœbi pulchras contempsimus artes,

Atque ideo absurdum prorsusque putamus ineptum

Laudari, postquam laudanda abiecimus ipsi.

Carmen amat Vatesque colit qui carmine dignus;

Sed, quamquam Musæ hic merito fraudentur honore,

Nulla tamen tellus genuitque aluitque Poetas

Temporibus nostris plures neque candidiores.                       81

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os poetas, caros ao Timbreu e ás Musas, jazem neste tempo desprezados e humilhados. Um destino injusto espezinhou os louros sagrados, Cirra e o templo de Apolo. Não são estimadas as deusas, não são estimados os poetas.

 

Eu vejo, e com isso sofro, que és perseguido pela má sorte, tu que, se estes maus tempos o permitissem, eras digno de melhor casa, melhor cozinha, e de ser coberto com melhor manto, ó Morais, em cujos lábios reside a Musa, e no douto peito Febo. Mas agora que, mísero de ti, tens por ceia um reles cadoz e não ferve, para teu segundo prato, uma torta, que os teus criados não estendem macios linhos de Canopo e um escravo favorito, de estômago cheio, não faz a tua cama com cobertores de Canúsio – tudo isto é inclemência do destino e culpa tua, ó fortuna! Que com vergonhosa lei abates, negra, os bons, e exaltas, branca, os inúteis.

 

De que te valem, ó Morais, sublimes cantos? Cantos que merecem os louvores dos priscos Cetegos! De quê, os doces versos elegíacos? De quê, os picantes epigramas? Ou de quê, os ritmos de Arquíloco, destingidos agora de sangue? Por ventura, alguém te enviou uma libra de prata, em troca dum poema escorreito? Te deu vinhos? Presentes de trigo? Ou uma túnica felpuda, sandálias, ou umas botas gastas? Quérilo como outrora oferecesse ao Rei natural de Pela, cantos mal torneados, apesar de mal amanhado, recebeu muitos filipos e largos presentes.

 

E tu que produzes muito melhores poemas, muitas vezes andas pálido de vergonhosa fome, muitas vezes andas eriçado de frio, quando Bóreas desenfreado sopra do lado da gélida Ursa.

 

Portanto, desgraçado, entrega o plectro de Esmirna e a trácia lira a Neanto, para que, rompendo com o duro polegar as cordas, seja ele, que não percebe de ritmos  nem de arte, a encantar ouvidos que não pôde encantar a tua doutíssima e harmoniosa Talia.

 

É estranho! Os nossos Lusíadas que enpreendem animosamente guerras terríveis e expõem intrepidamente a vida por amor da glória, se não deixam quebrar, recusam a derrota, porque não hão-de venerar os doutos alunos das Castálides, os únicos capazes de eternizar os fortes feitos dos heróis?

 

Por ventura, a grande mãe Natureza produziu um só Aquiles, magnânimo, forte, invicto? Talvez ela tenha parido duzentos ou mais, ainda melhores do que ele. Mas porque ficaram privados do dom de um vate coroado de louros, jazem os desgraçados, sepultos nas trevas, para sempre.

 

Nem aquele que nasceu junto às águas claras do frígio Simoente, aquele que, quando Tróia foi derrubada, arrancou às chamas o pai consumido de anos, foi o único a sobressair pela devoção filial.

 

Acredita que houve no mundo muitas matronas, dignas de eterno nome, a quem não vencem nem aquela que sozinha iludiu mil pretendentes boquiabertos, nem a Árria de Peto, nem a Pórcia de Bruto. E que houve muitos e grandes varões que valeram por proezas de coragem e pelo conselho. Mas faltou-lhes um poeta que deles celebrasse a fama em canto.

 

Foi isto que bem entendeu Mecenas, presidente e pai dos Vates, que sempre favoreceu e acarinhou os poetas. Por isso, é lido, estimado, louvado, amado e vive no canto douto do harmonioso Flaco.

 

Isso mesmo compreendeu Augusto, o maior governador do universo que considerou preferível desrespeitar as leis e o direito romanos a confiar às chamas os cantos de Virgílio e as suas obras, fruto de vigílias e duma arte suprema.

 

Se fados generosos te tivessem concedido nascer nesse tempo feliz, quando pelos átrios palacianos Clio e a formosa Terpsícore ditavam a glória e a honra, não atirarias ao teu ventre ladrador insípidas acelgas, reles hortaliças rijas, não os rábanos tostados ao fogo, como os que Dentato ceava, quando deixava o arado.

 

Mas não creias que és o único a suportar tristes fados e uma fortuna adversa. Estes males são comuns e gerais aos nossos poetas nos tempos que correm. Depois que, com o olho no lucro, expulsámos a vergonha da cara, para só nos preocuparmos com lisonjear o palato e pôr na vazia cabeça torres vazias, e nosso gosto é prender à barriga da perna odres inchados, desprezámos de Palas e Febo as belas artes. E por isso reputamos absurdo e completamente idiota receber louvores, depois que nós próprios rejeitámos os motivos de louvor. Ama a poesia e estima os poetas quem é digno de um poema.

 

Todavia, se bem que as Musas neste país se vejam privadas das merecidas honras, nenhuma terra gerou e criou, em nossos dias, Poetas nem mais numerosos nem mais autênticos.

 

        (1) Cayada de gente tibi venit Hermicus ille

Hermicus Ausonia cunctis notissimus urbe,

Qui cecinit Sylvas, pecudesque, et numina ruris,

Quem sæpe inflantem calamos, et  dulce sonantem

Tectus arundinibus summis audivit ab undis

Mincius ipse pater; fluctus, et  ponere raucum

Jussit murmur aquæ labentis, ut altius aure

Attenta molles numeros, et  verba notaret.

Credebatque senex Musam, Manesque Maronis                        90

Populeas inter frondes, in vallibus illis  

Errare, et  Sylvas, sedesque revisere amatas.

 

        Tu non inferior venerandus Tessira (2) canis,

Tessira, quem juvenem vix Lusitania quondam

In Latias misit nostris de finibus oras:

Carmine qui celsæ dum pingis mœnia Romae,

Ingentes septem colles cingentia gyro,

Tybrimque, et flavas Tyberino in gurgite Nymphas.

Adsequeris blandum verbis, numerisque Tibullum.

Sydera sed postquam mayora ad fata vocarunt                         100

Te iam Cæsareo perdoctum jure Trebatum

Vincere qui posses, aut certe æquare superbum

Optatam repetis patriam, charosque Penates:

Admissum posthac ad sacra palatia Regis

Ut des supplicibus populi responsa libellis,

Et Regis natum instituas, Regemque futurum.

Non te pœnituit doctam celebrare Vacillam

Carminibus pulchrasque iterum exercere Camænas.

 

        At te Rege sate Heros Emmanuele potenti

Qui Tyrium Syrma ornasti, sacrumque Galerum                        110

Ipse canat Phœbus: nos te, et tua funera quondam

Flevimus Alphonse (3), et gemitu, lacrymisque profusis

Ad tumulum mœsta ter voce vocavimus Umbram,

Magne, tuam, extremumque vale ter diximus. Eheu

Quantum præsidii docti amisere Poetæ

Morte tua! quantum decoris Parnassia Laurus!

Nam tibi semper erant cordi, doctissime Princeps

Vates: muneribus Vates, vultuque fovebas:

Temporis, et siquid tibi forte vacavit ab almi

Præsulis officio, quod verbo, rebus obibas                               120

Donasti id totum Musis, placidæque poësi.

 

        Subsequitur patruum, dejecta fronte, Duartes (4)

Magnanimi Patris patriæ clarissima proles

Divi Joannis, multum celata parenti,

Non celanda tamen; nam virtus sancta refulsit

In iuvene a puero, dedit et notissima signa

Orbi, quantus erat maiori ætate futurus,

Ni longas in luce moras fera Parca negasset.

Funde iterum lachrimas, iterumque ad sidera questus,

Optime Moralis, quales in funere alumni                                  130

Sparsisti magni, et cœlum clamoribus imple.

Obtulit ille tibi tenero de pectore primos

Fructus, ut quondam Musæus grata magistro

Carmina prima suo, cithara qui fretus amatam

Flagitat Eurydicem Stygii inter tecta tyranni,

Et monstra increpitis mulcet latrantia nervis.

  

        Silvius (5) illustri Regum quoque sanguine cretus,

Cujus, et antiquos ortus sibi concupit Alba,

Hac nostra natus, nostra hac nutritus in urbe,

Et Vidas, et Sinceros excelluit acri                                         140

Ingenio, missus Latias Legatus ad oras

Sidonio hic ostro fulgens, rubroque Galero

Inter Pausilypi lauros, myrthetaque sacra

Sæpe intermixtus Nymphis, placidisque Napæis

Carmina personuit Musis, et Apolline digna.

 

        Nec sonat illepide pravam, qui damnat Arius (6)

Stultitiam, quam quidam olim laudavit inepte.

 

        Ille Lycambeis, qui crimina mordet iambis.

Et victura diu chartis epigrammata mandat

Laurens (7), quo gaudet Lacobrica dives alumno.                      150

Conatur nomen docti obscurare Catulli.

 

        Cœlius (8) insurgit qui carmina schemate multo

Miscens verborum tentat candore referre

Illum, qui duri per tot discrimina Martis

Traxit in Emathiam Soceri, Generique furores.

 

        Ad numeros facilem non te Goveane, (9) tacebo.

Qui sic interdum laxis deccuris habenis.

Præcipue stolidi rides cum dogmata Rami

Ut Tagus in pontum rapidos cum combibit amnes,

Proruit, et campos late disseminat auro.                                  160

 

        Nec tibi fraterno coniunctum sanguine Vatem

Subticeam qui nomen habet, (10) quod Bilbilis alta

Indidit arguto mordacis fellis alumno.

Unguibus arrosis, Umbro iam Vate relicto

Cynthia mirari et vellet fortassis amare.

 

        Tu quoque carminibus nostris celebrabere, Pinte (11)

Pinte, venenosi qui ni mala pocula succi,

Nil lethale putans, avide, cupideque bibisses,

Æquasses Volscum mordaci carmine Vatem :

At tibi mutarunt sanam medicamina mentem,                              170

Dextera zelotypæ tribuit quæ blanda puellæ,

Ut quondam magno Cæsonia dira marito.

 

        Nec te præteream tacitum doctissime Costa,(12)

Atque tuum genium natum dissolvere iuris

Cæsarei nodos, cui primas jure cathedras

Munda dedit, Tormisque dedit, bene notus uterque

Et fluvios inter Phœbo gratissimus amnis:

Tu dum regales mensas, thalamosque Duardi

Carpatiumque Senem, nantesque ad littora Phocas

Ludentesque canis spumoso in gurgite Nymphas                          180

Ornatu, et positu magnis te Vatibus addis.

  

        Tevius (13) attollit speciosæ frontis honorem,

Qui Senecam verbis, et multo pondere rerum

Pene pari sequitur gressu, paribusque cothurnis.

 

        Quis Beliage (14) tuum non defleat optime Præsul

Interitum? cui præduras iniecit acerba

Parca manus: ah quanta bonis jactura camænis!

  

        Nonne vides Mellum (15) raro sed docta loquentem

Qui sine lege loqui erubuit doctissimus, atque

Antiqua virtute senex, Regisque Senator                                     190

Integer, et nullo praetio corruptus avaro?

Hic lamentatur primi delicta Parentis

Mortiferum rapuit vetita qui ex arbore pomum;

Et nunc heu seri luimus mala furta nepotes.

Describitque Virum, quem sic sapientia firmat

Adversum insidias et technas dœmonis atri,

Ut nihil in cœlum stulta sit voce locutus.

 

 

        Et Landine (16) tuum, Præsul dignissime, nomen

Cur taceam? lenesque modos et carmina sacra?

Hoc si litterulam demas de nomine primam                               200

Andinum dices re, et vero nomine Vatem.

 

        O mihi Cardoze (17) a prima dilecte juventa,

Quem rapuit Libitina nocens, et funere tristi

Submersit caput, immaturaque morte peremit:

Te sibi subtractum doluit Parnassia rupes;

Nam tu formabas multos bonus arte poetas,

Et juvenes multos ad sacra cacumina Montis

Perduxti, qui longa tuum per secula nomen

Extendent, per quos toto cantaberis orbe.

 

 

        Tu quoque dum summis descendent montibus umbræ          210

In mare declivi current dum flumina cursu

Docta per ora virum volitabis magne Resendi (18) .

Te querulo extinctum gemitu, sparsisque capillis

Thespiades, Nymphæque simul flevere Taganæ,

Atque hederas digitis flava de fronte virentes

Immixtas Sacrae lauro decerpsit Apollo,

Fregit, et iratus citharas, et eburnea plectra:

Heu quot thesauri fœcundo pectore in illo

Rerum antiquarum miracula quanta latebant!

Non plura edocuit Varro, Carmentave mater;                               220

Verius aut cecinit Delphis oracula Phœbus.

 

 

        Et te fleverunt Musæ venerande Cabedi, (19)

Atque tui cives, funus Respublica multis

Produxit lacrimis, et fæmineo ululatu,

Consiliis orbata tuis, et legibus æquis.

Qui quamvis jussu maiora ad munia nostri

Cæsaris electus semper tamen omine dextro

Addictus Musis, Musas, Carmen amasti,

Et Pelusiacum, qui personat ore trisulco,

Inferni raptoris equos, stygiosque Hymenæos,                             230

Tartareasque domos tentabas vincere cantu.

 

 

        Ecce tibi (ah Musis mala fata!) Cabedius (20) alter,

Cui juveni charo Cæi lugubria Vatis

Carmina tu juvenis quondam, lachrimasque dedisti,

Eripitur nobis, raptus florentibus annis.

Ah, miserande puer, rupisses si aspera fata,

Ah te quantus honos, te nomina quanta manerent!

 

        Tu quoque crudeles expertus, docte Georgi, (21)

Lanificas Erebo genitas et nocte Sorores,

(Terribile, et precibus non exorabile numen)                                  240

Quæ tibi fila gravi properarunt scindere cultro,

Occumbis juvenis, sed non inglorious; omne

Nam tempus longos vitæ brevioris in annos

Produxti, quos ipse tuo cum carmine vives,

Carmine, quo miseræ deflesti funera plebis,

Et cladem, quam dira lues huic intulit urbi.

Cum, cœli tractu vitiato, pestifer annus

Heu! miseros vivos morbo vexavit iniquo.

 

        Hactenus amissos deflevimus ordine Vates,

Sed non (ut verum fateamur) diximus omnes ;                                250

Quorum fama tamen vivit, nomenque vigebit.

Nunc tibi percurram breviter quos novimus ipsi,

Quos colimus, quibus et Latium gauderet alumnis.

 

        Doctarum Vasconcellus, (22) pia cura Sororum,

Primus adest, Dircæus olor, qui nubila transit,

Et celeri sese tollit super astra volatu,

Cum sensim niveas, audacesque explicat alas :

Ille, precor, dextra felices computet annos,

Cumææ numeret Vatis feliciter annos,

Sed juvenes, qui regna suis juvenescere chartis                            260

Efficit ingenti, atque pio regnata Sebasto.

Hic licet impendat sacris bona tempora libris,

Sanctaque Pontificum doceat quid dogmata narrent,

Non tamen oblita Phœbi dulcedine plectri,

Illum æquat sontes struxit qui carmine Thebas.

Hunc olim Romæ lugentem funus acerbum

Divi Joannis laudati Principis, et quem

Ad Superos multum defletum misimus omnes,

Auribus arrectis Proceres, sacrique Senatus

Attoniti audivere Patres, Summusque Sacerdos                             270

More Periclæo pro rostris verba tonantem ;

Et tale ingenium formari posse negabant

Vervecum in patria, et crasso sub sidere nasci.

 

        Et nos te merito miramur candide Amaral (23)

Munere prætoris, qui fulges Regis in aula;

Et quamvis, nec voce reos, nec fronte minaci

Terres, sed blando exerces tua munia vultu

Te tamen, atque tuos fasces, et pectora flecti

Nescia, nec prece, nec lacrimis timuere nocentes

Ni docta Italicus solvisset Silius ora                                               280

Carmine tu poteras Cannas cecinisse cruentas

Ardenti, et Paulum generoso sanguine terram

Fœdantem,et torvo obtutu, quem Lentulus ultro

Offerret quo terga fugæ commitere posset

Quadrupedem contemnentem ne Pæna viderent

Agmina magnanimum fugientem prælia Paulum.

 

 

        Et Francus (24) poterat, Musarum natus ad artes

In patriam Minyas dulcemque reducere Jolcon,

Quos immaturo præventus funere Flacus

Phasidis in ripa, Colchaque reliquit arena,                                    290

Ni maiora illum, melioraque gesta vocassent,

Ingratos quamvis sumatque feratque labores.

 

 

        Non procul hinc video Pindo duo flumina Sacro

Nymphis, et Musis facili labentia cursu,

Serranum, (25) Pyrrhumque (26) meum, quos in arte medendi

Non superent docti Podalirius, atque Machaon:

Ille canit numeros concinnos impare gressu,

Quos tibi fortassis Getico de littore missos

A magno credas gelidi Sulmonis alumno;

His docet ille graves de corpore pellere morbos,                         300

Et levius duram vetulis perferre senectam.

Hic autem Vatis Venusini culta pererrans,

Prata legit, varios et spargit nectare flores,

Multaque epistoliis charis impertit amicis;

Solatur mœstros, lætos hortatur ut omne

Quod rectum non est, fugiant, et carpit amaro

Interdum more atros, et tempora versu.

 

 

        Ast illi Regus (27) Lesboum surripit audax

Barbiton, et Lyrico modulatur carmina plectro,

Heroas, Divosque canens, laudator honesti                                  310

Scrutator, quas dia parens natura creavit,

Rerum occultarum; ut fecit Lucretius olim

Ingenio miro, et mira Lucretius arte,

Ante venenatos potus, et Thessala philtra,

Atque ante insanos illæso pectore amores.

 

      Illum autem, digito quem monstrat Martia Roma,

Orbis Roma caput, quo prætereunte, fenestris

De summis pueri clamant, juvenesque, senesque:

Ille, ille est, certe ille est Lusitanus Achilles, (28)

Lusitana suis tellus gestavit in ulnis,                                            320

Nutrivit, docuitque bonas novisse Camænas :

Incolat et quamvis diversas transfuga terras,

Non tamen oblitus patriæ, fera prælia cantat

Quæ Rex Alphonsus, cui cœlo missa sereno

Lusitanorum sunt clara Insignia, gessit.

 

        Nec minus ille meus nostra laudatur in urbe

Nonius, (29) et dignus qui toto laudibus orbe

Cantetur multis ; qui multa volumina legum

Civibus et patriæ librum congessit in unum.

Hic, quamvis rebus magnis intentus, ad artes                                330

Ingenuas Phœbi furtim dilabitur, atque

Dum canit optatos Safii dulcesque hymenæos,

Provocat Ausonium docta in certamina Gallum.

 

        Pintus (30) adest alter, Pintus, cui carmina sæpe

Plura dedit Pæan, quam præbent littora conchas,

Quam fert Hybla thymum, quam Ladon volvit arenas:

Et quamvis multos Regis perductus in aulam

Ingenuos docuit juvenes, sudavit, et alsit,

Attamen ille fame tabescit, penula semper

Ex humeris detrita cadit, toga pandit hiatus,                                  340

Et vetus insidit veneranda in fronte galerus;

(Ne temere hæc dicas te solum incommoda ferre)

At bonus est, doctus, simplex, vir candidus, ut si

Quisquam alius sancte nostro nunc degit in ævo.

 

        Hunc sequitur Barrus (31) qui non sic laxat habenas,

Nec celeri se fidit equo; nam sæpe fugacem

Quadrupedem duris cogit parere lupatis,

Ille licet terræ insultet, gressusque superbos

Fervidos adglomeret, pedibusque repagula pulset.

 

 

        Bellicus ille senex triplici qui corde tumescit                            350

Prælia, qui cecinit Romani nominis, et qui

Belli ferratos postes, portasque refregit

Andradio (32) cedet nostro, sub pectore cujus

Solum bina latent sed nullo infecta furore.

Hic Latia jungat lingua si carmina nervis

Ad numeros videas Latias properare Camænas;

Si Lusitana tentet modulamina voce,

Ad numeros videas Musas properare Taganas.

 

 

        En tibi (ni fallor) generosa, et vera propago

Præclari Melli, Henricus (33), qui damna rependit                             360

Et sanat, quod fata mala inflixere Minervæ,

Lethiferum vulnus lachrimoso in funere patris,

Qui non truncus iners iacuit, nec inutile lignum;

Nam patriæ ex illo virtutis filius heres

Adsurgit, veluti frondescit in arbore ramus

Aureus, et primo avulso non deficit alter,

Quo se placari exoptat Proserpina dono.

Hic tetricos gravitate senes, probitate parentem

Exæquat, nulli est utroque in iure secundus;

Et iuste meritoque paterna sedilia complet,                                     370

Atque inter proceres primi loca sancta Senatus

Jure tenens recto causas examine librat,

Innocuas fœdo servans a munere palmas,

Et si aliquod tempus superest a rebus agendis,

Non donat talo proiecto ex orbe fritilli,

Sed Phœbo (patris exemplo) placidisque Camænis.

 

        Nomina tantum edam: magnus Pinarius (34) ille,

Vivida cui parvo virtus in corpore regnat:

Osoriusque (35) ingens, aurum cui defluit ore:

Almada (36) egregius; qui norit dixerit almum.                                 380

Hæc tetigisse fatis: totum sunt nota per orbem

Cætera, nec tenuis poscunt præconia Musæ.

Hi quamvis populum Divinæ dogmata legis

Edoceant, serventque greges, ab ovilibus omnem

Avertant diram pestem, insidiasque luporum;

Sublimes Vatum tamen amplectuntur honores,

Sacraque de sacris meditantur carmina rebus:

Ut quondam plectro felici magnus Avitus:

Et qui Paschales ornavit carmine mensas:

Ut bonus Hispana fecit de gente Juvencus :                                    390

Ut docte, et fauste Divus Prudentius olim:

Quique novale sacrum calamo sulcavit Arator,

Cui fluit ex humeris Tyrio de murice læna,

Tempora cui fulgent sacro insignita Galero.

Hæc sat erant nobis: et quid maiora requiris

Exempla ? Id quondam cœlesti numine Moyses

Aflatus fecit, postquam perduxit amicum

In littus Populum, qui, undis hinc inde resectis,

Fluctibus in mediis siccas calcavit arenas,

Hostiles fugiens turmas, sævumque tyrannum,                               400

Qui sibi divisas pelagi quoque credidit undas :

At postquam siccum callem intravere phalanges,

Contino Pontus, qui, ut murus aheneus, ante

Frænatas cohibebat aquas, currusque, rotasque.

Arma, virosque simul, caput et Memphitidis aulæ,

Niliacasque acies rapido vora æquore vortex :

Tunc Dux Hebræus, sistrum pulsante Sorore,

Cantavit victor numeris pia carmina cœlo.

Quid loquar æterno cecinit quæ carmine David,

Ille Deo plenus David, Rex inclytus armis,                                       410

Et cunctos Vates toto qui vertice supra est ?

I nunc et sacros posthac contemne Poetas.

 

        Non contemnendos surgis, nobisve tacendus,

Optime Monteri (37) nulli probitate secundus,

Nec dulci eloquio Phœbeos inter alumnos:

Si sciret fortuna æqua perpendere lance

Præmia danda bonis, sanctos sine crimine mores,

Tu meliore loco, meliore in parte theatri

Sedisses, qui, dementi ambitione remota,

Divitias spernis, contentus vivere parvo.                                         420

Et licet a Musis abducant utraque iura,

Quæ docte, et recte calles, quibus omnibus horis

Invigilas ; tamen ad doctas, quas rite Sorores

Et puer, et juvenis coluisti, sæpe recurris :

Atque pedes sumis Persi, cum seria tractas ;

Cum ludicra, modos, sed castos, Vatis Iberi.

 

        Adde illum juvenem, cui nomen Præsulis almi

Impositum, (38) veteri latuit qui tempore multo

Cisterna, et vivus jacuit iam pene sepultus,

Teque, tuumque timens, Ari scelerate, venenum.                          430

Huic puero primam tribuit Conimbrica palmam,

Inter et æquævos concedit laurea serta,

Qui citharam pulsans Lesboo pectine Sapphus

Non obscœna canit, sed Divis dulciter hymnos.

 

        Adde et Petreium  (39) Roderico patre creatum

Egregium iuvenem, celebres qui divite vena

Describit ludos urbis, festasque choreas,

Ardentesque auro currus, gemmisque decoros

Pegmataque, et longo deductas ordine pompas

Quas celebrare solet prædives Olyssipo magnis                         440

Sumptibus, æthereae recolens miracula Cœnæ,

Postquam Ledæos iuvenes permensus Apollo

Horrida conscendit ferventis brachia Cancri.

 

        At tu quid celas, Lodoice (40) ingrate Camænis,

Carmina, quæ Pæan dociles infundit in aures

Sæpe tibi ? Nobis non sis, precor, invidus, et quæ

Delius ipse dedit, patriæ impertire libenter,

Ad maiora licet potioraque semper anheles.

Hi tres, deliciis spretis, laribusque paternis,

Cordati iuvenes multo meliora secuti                                             450

Nunc Solymos Vates, sanctæque volumina legis

Exponunt de suggestu, monituque potenti

Terrenas hominum rapiunt ad sidera mentes.

 

        His sese quartum bonus addit Theutonus (41) alma

Carmeli de gente, Patrum cætuque piorum

Corpore qui terras habitans, sed mentibus æthram;

Theutonus, et vita inculpata, moribus æquis:

Quamvis non æquis oculis hunc innuba Pallas

Aspiciat, quoniam spretis Permessidos undis

Ad latices alios furtim se transtulit erro.                                         460

 

 

        Dicendus majore tuba iam Tevius (42) alter

Prodeat, innocuo voluit qui rure latere,

Urbanos damnans strepitus, aulamque perosus;

Ultro cui quondam iuveni sublime tribunal,

Lictores, sellam, fasces dedit inclyta Sena.

Hic cecinit blando pulchras heroidas omnes

Carmine, Sena, tuas, populos in pace gubernans;

Unde tulit justi Prætoris, et unde Poetæ

Insignis nomen; talem hunc nimis invida nobis

Celat, sed nimium sibi provida, Brachara furto.                             470

 

        Et procul hinc alius Miranda degit in urbe

Tessira (43) cui virtus juveni maturior annis,

Cui frontem cingunt immixta baccare lauro

Musæ, ne tenero noceant mala murmura Vati:

Propter quem linquunt Parnassum, et Thessala tempe,

Peneumque patrem, nemorosa et florida rura:

Et scopulos, Miranda, tuos, inamænaque tesqua

Incolere exoptant, ut Vate fruantur amato.

Sic quondam Phœbe capta Endymionis amore,

Cœlesti delapsa plaga, sub nocte silenti                                      480

Oscula dilecti per Latmia saxa petebat.

 

        Ecce autem rapto pro Costa, Costa (44) secundus

Lætus adest, cupidus tristem sarcire ruinam,

Quæ nos oppressit miserando funere primi.

Præsuit hic olim, iuvenis cum floruit ætas,

Gymnasiis, docuitque tuos, Conimbrica, cives

Ingenuas artes, Getica procul inde repulsa

Barbarie, quæ læta tuis regnabat in arvis.

 

        Theutonus (45) alter adest, peperit quem casta, Georgi,

Silvia chara tibi, digno conjuncta marito:                                        490

Te Transcudanos populos in pace regentem

Natis, atque piæ uxori sævissima Parca

Eripuit, cum Maiestas jam Regia vellet

Præmia digna tuis meritis conferre, tibique

Sedem inter Patres primi adsignare Senatus.

Theutonus hoc genitore satus, non degener ipse,

Sed patriis semper virtutibus æmulus, omni

Conatu assequitur vestigia clara parentis:

Et mites, quamvis sacro bene iure peritus,

Attamen has coluit Musas, laurumque momordit:                           500

 

        Nec taceam Gerium, (46) ficto qui nomine simas

Incustoditas linquens in monte capellas,

Silvestrem viridi ramo suspendit avenam;

Pastoresque vocat, Dryadasque, et Numina ruris,

Infanti ut carmen recinant, qui missus ab æthra

Siderea in terras, ut nostra piacula solvat,

(Victima grata Patri) portas patefecit Olympi,

Atque suo nostras detersit sanguine sordes.

Mœrorem ferrent gravius de funere Cœli

Aonides, ni Pimpleis de collibus alter                                              510

Cœlius (47) exoriens, veluti qui Phosphorus almam

Evocat Auroram, lachrimas sicasset obortas,

Atque illis iustas removeret ab ore querelas.

Huic caput exornat variis de floribus Evan

Serta intertexens hederis, lauroque fugaci:

Huic tripodas Phœbus, totumque Helicona reclusit,

Quosque ore afflasset docto, dedit ipse poetas.

 

        Ecquid? Legisti dulcissima carmina Cosmi, (48)

Selecta cingit Pæan cui tempora lauro,

Et lemniscatas dat habere in fronte coronas?                                   520

De grege Apostolico Patrum, coetuque sacrato,

Qui fidens verbi veri, æternique Magistri,

Abiecit collo peram, manibusque bacillum,

Et peragrat multas urbes, diversaque regna,

Ut doceat gentes, quæ sit via recta salutis.

 

        Innumeros poteram doctos, celebresque poetas

Dicere, quos Ebora, et dulci Conimbrica lacte

Nutrivit, famaque dedit clarescere; sed nunc

Emmanuel, (49) Gaspar, (50) Lodoicus, (51), Cœlius, (52) atque

Alvarus, (53) et Cosmus (54) tibi sint exemplar, ab illis                   530

Disce alios, similique puta candore nitere.

 

        Hæc forsan corrugata, Moralis (55) amice,

Fronte legis, torvisque oculis, invitus et audis

Clara recenseri tot, tantaque nomina Vatum :

Num tibi se Musas soli exhibuisse putabas,

Ut quondam sese iuveni indulsere videndas

Servanti pecudes umbrosæ in vallibus Ascræ?

Haud ita Thespiades, haud sic se gessit avare,

Vatibus ut paucis Phœbus sua sacra revelet.

Plurima adhuc superest magnorum turba virorum,

Quæ memoranda venit, tantum mihi Musa canent                            540

Si modo iam faveat, quantum illis favit Apollo.

Hinc tamen incipiam. Nosti Vincentius almus

Ædem qua colitur nostram delatus in urbem,

E Promontorio Sacro, quod littore in æquor

Excurrens pelago mucrone minatur acuto?

Hic multi non obscuri, sed lumine clari

Æthereo iuvenes postquam sacra carmina Divo

Alternis cecinere choris, et thura dedere,

Ingenia exercent hymnis, et carmine agonem                                  550

Divorum recolunt, et partas sanguine palmas.

De multis referam tibi tres tantummodo, quos tu

Inter Apollineos Vates fateare locandos.

 

        Colmus (56) primus erit, sis tu, Lodoice, (57) secundus,

Tertius a fructu, conciso nomine, dictus,

Fructosus, (58) fructus qui et flores  fundit odoros,

Cum facile elegos, vel cæca ænigmata pingit.

 

 

        Nec te Mendesi (59) fraudabo hoc munere, cuius

Carpere livor edax non possit amabile carmen;

Ille licet pulchram cupiat mordere Dionem                                       560

In dominasque aliquid blateret carbone notandum

Vellet, si indoctus, tibi se præbere docendum

Amphytrioniades, tantoque subesse magistro

Non praeceptoris cithara contunderet ora

Ora Lini insontis, nec quidquam tale merentis

Dedecus heu magnum, quod nullum diluet ævum!

At quamvis tardet Divini Numinis ira,

Non tamen oblita est culpas punire nocentum;

Namque ille infestus Divis, qui pulsus Athenis,

Quod nullum coleret numen, nullosque putaret                                 570

Esse Deos, quondam servus, ne ligna coquendis

Deficerent rapis, male coctaque cœna periret,

Herculis effigiem, quæ antiqua stabat in ara,

Corripiens, pectus, costas, atque ulmea crura

Dissecuit ferro, et tepido subjecit aheno:

Sic variat fortuna vices, nec pertulit ullum

Ire scelus sine vindicta, nec crimen inultum.

 

        Huc precor, huc oculos Moralis flecte; videsne

Insignem iuvenem pulchris qui fulget in armis,

Atque hedera cingit galeam, lauroque coronat?                                580

Ille est Quadratus (60) generoso sanguine cretus

Nonne vides faciem ingenuam, et grande instar in ipso?

Hic quondam nostras puerili ætate Camænas

Dilexit, quas nunc iuvenis veneratur, amatque,

Exercetque libens nimium dilectus ab illis

Et Phœbo carus: qui quamvis Martia bella

Tractet, et armorum crepitu, clangore tubarum

Gaudeat, atque alacri hinnitu lætetur equorum;

Non tamen Aonidum fontes, lucosque reliquit,

Exemploque suo nobis ostendit aperto,

Nunquam Musarum cœtus, flavamque Minervam

Enervare animos, aciemque retundere ferri.                                    592

 

 

                                                              Cætera desiderantur

 

                             No Ms. 6368   

 

 

                                                             Deest finis.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Teixeira que, ainda jovem, a Lusitânia um dia

enviou de nossas terras para as praias do Lácio,

tu que, quando pintas em verso as muralhas da ilustre Roma,

que abraçam à volta as sete grandes colinas,

e o Tibre, e as aloiradas ninfas das ondas do Tibre,

igualas a sedução de Tibulo em palavras e ritmos.     (94-99)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

……enviado como embaixador para as praias do Lácio,

resplandecendo aqui na púrpura de Sídon e na rubra mitra,

entre os louros de Pausílipo e os sagrados campos de mirto,

muitas vezes misturado com as ninfas e as calmas napeias,

entoou cantos dignos das Musas e de Apolo.   (141 – 145)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Não longe daqui, vejo a deslizar do Pindo, consagrado

às Ninfas e Musas, dois rios em fácil corrente,

Serrão e o meu amigo Pires, tais que, na arte de curar,

os não podem superar os sábios Podalírio e Macáon;

este canta, em metro desigual, versos de tal harmonia,

que os podes julgar talvez enviados a ti das praias géticas

pelo ilustre filho da gélida Sulmona;

o primeiro ensina pela poesia a repelir do corpo as graves doenças

e a suportar com mais alívio a dura idade dos velhos. (293-301)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aquele, então, a quem com o dedo aponta a Roma de Marte,

Roma, cabeça do universo, que, à sua passagem, aclamam

do alto das janelas as crianças e os jovens e os anciãos:

ele, é ele, sem dúvida é ele o Aquiles Lusitano;

a terra lusitana o embalou em seus braços,

o nutriu e o ensinou a conhecer as boas Camenas;

e, embora habite, qual trânsfuga, terras estranhas,

não esquecido, apesar disso, da pátria, canta os feros combates

que o rei Afonso, a quem pelo céu sereno foram enviadas

as gloriosas insígnias dos Lusitanos, travou. (316 – 325).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

       Longe daqui, um outro habita na cidade de Miranda. É ele Teixeira, jovem cujo valor amadureceu mais do que os anos, a quem as Musas cingem a fonte de louro misturado ao nardo, para que más murmurações não prejudiquem o moço poeta. Por quem deixam elas o Parnaso e o tessálio vale de Tempe, o divino Peneu e os campos floridos e de bosques frondosos, e preferem habitar os teus penedos, ó Miranda, e as tuas brenhas inóspitas, para poderem gozar da companhia do poeta seu amado.

       Assim outrora Febe, presa do amor de Endimião, abandonando as paragens celestes, ia procurar pelos rochedos de Latmos os beijos do seu eleito, no silêncio da noite. (471-481).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(*) Título no Ms. 6368 e na Bibl. Portuguesa

(**) Título no Corpus.

 

 

NOTA: Os primeiros 81 versos seguem a versão estabelecida pelo Prof. Américo da Costa Ramalho. Tanto a versão latina como a tradução foram transcritos com a devida vénia de  Latim renascentista em Portugal, 2.ª edição, Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian : JNICT, 1994, 242 pags.,ISBN  972-31-0620-5, pags. 221-225. A tradução dos versos 471-481, foi transcrita do artigo "A elegia do exilado de Miranda" também do Prof. Américo da Costa Ramalho em Para a história do Humanismo em Portugal, 2 vols. Lisboa, Gulbenkian e JNICT, 1994, ISBN 972-31-0621-3.

Os trechos da tradução a castanho são do Prof. Carlos Ascenso André em Mal de Ausência, Minerva, Coimbra, 1992, donde os transcrevi com a devida vénia.

A tradução dos versos (293-301) foi adaptada da que figura a pgs. 19 do livro Lopo Serrão e o seu poema da velhice, do Prof. Sebastião Tavares de Pinho, INIC, 1987.

A versão latina do resto do poema é a do Corpus Illustrium Poetarum Lusitanorum qui latine scripserunt, 1,º vol., 1745, do P.e António dos Reis. Em anotações, as diferenças das versões do Ms. 6368, da BNP e da Biblioteca Portuguesa, de João Franco Barreto, pags. 584 v. a 593 v.

As notas sobre a identidade dos poetas foram traduzidas das que figuram no Corpus à excepção de alguns acrescentos, indicados a castanho.

 

1.Hermígio Caiado, Jurisconsulto, Poeta muito talentoso, de Lisboa

      O nome correcto é Henrique Caiado e também usou os nomes de Hermico e Hermínio.

2.Luis Teixeira, douto em Latim e Grego, de Lisboa, discípulo de Ângelo Policiano.

3.Infante D. Afonso, filho de D. Manuel I, Cardeal da Santa Igreja Romana com o título de S.ta Luzia, a seguir, de S. Brás e por fim dos Santos João e Paulo, Arcebispo de Lisboa.

4.Eduardo; filho de D. João, Arcebispo de Braga.

      Também conhecido por Duarte.

5.Miguel da Silva, Bispo de Viseu, Cardeal da Santa Igreja Romana.

6.Aires Barbosa, de Aveiro, discípulo de Policiano de Florença em Itália, egrégio Professor de letras e ciências humanas na Universidade de Salamanca.

7.Lourenço de Cáceres, de Silves, Secretário do Infante D. Luis.

8.Jorge Coelho, Secretário de D. Henrique, o Cardeal-Rei.

9. António de Gouveia, de Beja, Jurisconsulto.

10. Marcial de Gouveia, irmão do anterior, Professor em Coimbra de Letras e Ciências Humanas.

11.Jorge Pinto, de Lisboa, Poeta cómico.

12.Emanuel da Costa, Jurisconsulto, por alcunha, o Subtil.

13.Diogo de Teyve, de Braga.

14.Melchior Beliago, do Porto, Bispo de Fez.

      Conhecido também por Belchior.

15.João de Melo de Sousa, de Torres Novas, Senador Régio.

16.Pedro Alvares Landim, Prior de Aviz, Esmoler privado de D. Sebastião I.

17.Jerónimo Cardoso, de Lamego

18.André de Resende, de Évora, homem incomparável.

19.Miguel de Cabedo, de Setúbal, Senador Régio.

20.António de Cabedo, de Setúbal, Clérigo.

21.Jorge Rodrigues, de Lisboa.

22.Diogo Mendes de Vasconcelos, de Alter do Chão, Cónego de Évora.

23.Melchior do Amaral, de Lisboa, Jurisconsulto.

      Conhecido também por Belchior.

24.Luis Franco (que outros chamam Francisco), de Lisboa.

25.Lopo Serrão, médico, de Évora.

26.Diogo Pires.

      Este Pires não é Diogo Pires, mas sim Luis Pires, médico, de Évora.

27.Simão do Rego, de Lisboa.

28.Aquiles Estaço, para uns de Évora, para outros de Vidigueira, para outros de Lisboa, homem muito erudito, secretário de S. Pio V.

29.Eduardo Nunes, de Évora, Jurisconsulto.

      Conhecido também por Duarte Nunes de Leão.

30.António Pinto, depois António Pinheiro, Mestre dos Meninos da Corte, conhecidos vulgarmente por Moços Fidalgos.

31.Diogo de Barros, de Lisboa.

32.Pedro de Andrade Caminha, da Corte do Infante D. Duarte.

33.Henrique de Sousa, filho de João de Melo de Sousa, de Coimbra, Senador do Palácio.

      Barbosa Machado diz que foi Desembargador do Paço.

34.D. António Pinheiro, de Porto de Mós, Bispo de Leiria.

35.D. Jerónimo Osório, Bispo de Silves, que deve ser mencionado.

36.D. Emanuel de Almada, de Lisboa, Bispo de Angra.

37.Cristóvão Monteiro, de Lisboa

38.Atanásio ……, de Coimbra

39.Pedro Fernandes, de Lisboa

40.Luis Soares, de Lisboa.

41.Fr. Teotónio……….., Carmelitano, de Coimbra.

      Barbosa Machado diz ser Teotónio da Gama.

42.Baltasar de Teyve, Doutor em ambos os Direitos.

43.Gregório Teixeira, segundo diz Barreto, de Miranda.

44.João da Costa, Jurisconsulto, do Algarve.

45.Teotónio da Silva, de Lisboa.

46.Gério Fernandes, ou Coelho.

47.Francisco Coelho, Jurisconsulto.

48.Cosme de Magalhães, da Sociedade de Jesus, de Braga.

49, 50, 51, 52, 53, 54. Dos poetas mencionados sob estes números, nada podemos dizer a não ser com muito risco, já que são por nós completamente ignorados.

Estes poetas não deveriam contar para o cômputo dos poetas mencionados no poema. P. Sanches indica aqui os nomes próprios de poetas que mencionou anteriormente.

55.Inácio de Morais, de Mogadouro.

56.D. Cosme de Freitas, de Coimbra, Cónego de Santa Cruz.

57.Luis Álvares Cabral.

58.Não me lembro de ler algo de Frutuoso.

59.Pedro Mendes, Mestre de Jogos, de Setúbal

      Barbosa Machado diz que foi Professor de Letras humanas em Setúbal, sendo natural de Lisboa.

60.André de Quadros, de Santarém, Cavaleiro da Ordem de Cristo, ficou cativo na batalha de Alcácer Quibir.  (Barbosa Machado)

 

VERSO:

 1 – cari] chari, Corpus, Bibl. e Ms. 6368

12 - Canopi] Caponi, Ms. 6368

19- Qui vel] Quid vel, Corpus; Quidve, Ms. 6368, Quid ut, Bilbl.

24- quondam] quanvis, Ms. 6368

26 - Incomptus multo et munera larga recepit] Accepit multos et munera larga benigne, Ms.6368, Bibl.

34 . cum] quum, Ms. 6368

36 – Intrepidi] Intrepide, Ms. 6368

49 – Queis] Quas, Ms.6368, Bibl.

50 - Arria præstiterit Pæti] Arria nec Pæti superet, Ms.6368, Bibl.

54 – Depois do verso 54, Ms.6368, Bibl.contêm mais este verso

        Mæcenas regum Lydorum sanguine cretus.

56 - Quod propter] Propter quod, Ms.6368, Bibl.

63 – cum] quum, Ms.6368, Bibl.

65 – durila] oluscula, Ms.6368

67 - cenabat] cœnabat, Ms.6368, Bibl.

94 – vix]de, Ms.6368, Bibl.

100 – Sydera] Sindera, Ms.6368; Sidera, Bibl.

120 – rebus obibas] et rebus obibas, Ms.6368, Bibl.

140 – excelluit] pertexuit, Bibl.;perterruit, Ms.6368.

148 – mordet] mordit, Bibl.

167 - ni mala] iam mala, Ms.6368.

167 – Depois do verso 167, o Ms.6368 e a  Bibl. contêm mais este verso:

         Quæ male amica, manus magica sibi miscuit arte,

168 – putans] parans, Ms.6368; iutans, Bibl.

169 – Æquasses] Æquares, Ms.6368, Bibl.

195 – sapientia] patientia, Ms.6368.

204 – peremit] peremitum, Ms.6368, Bibl.

222 – venerande] generose, Ms.6368.

248 - miseros vivos] misero cives, Ms.6368; misero vivo, Bibl.

264 – oblite] oblitus, Ms.6368, Bibl.

265 - struxit qui carmine] qui evoluit carmine, Ms.6368, Bibl.

302 - Ms.6368, Bibl. indicam neste verso nova estância.

305 – mœstros] mœstos, Ms.6368, Bibl.

324 e 325 - Quæ Rex Alphonsus, cui cœlo missa sereno

                    Lusitanorum sunt clara Insignia, gessit.]

No Ms.6368, são três versos: 

Quæ rex Alphonsus divino numine gessit,

Inclytus Alphonsus cui cœlo missa sereno,

Lusitanorum sunt clara Insignia regum.

325 – Insignia, gessit] Insignia regum, Bibl.

327 - et dignus] ut dignus, Bibl.; at dignus, Ms.6368.

353 – Andradio] Andradæ, Ms.6368.

362 - lachrimoso in funere] lachrimoso funere, Ms.6368, Bibl.

403 – Contino] Continuo, Ms.6368, Bibl.

404 – cohibebat] cohibet, Ms.6368

404 - currusque, rotasque] pronumpit et undis, Ms.6368,

         seguindo-se mais este verso :

         Involvit Pharios equites, currus, rotasque

408 - cœlo.] seni. Ms.6368, Bibl.

430 – scelerate] scelerare, Ms.6368.

454 – alma] almo, Ms.6368, Bibl.

455 – gente] grege, Ms.6368, Bibl.

457 - moribus æquis:] et moribus æquis :, Ms.6368, Bibl.

474 - tenero noceant] noceant tenero, Ms.6368, Bibl.

509 - Ms.6368 indica neste verso nova estância.

514 – exornat] ornant, Ms.6368; exornant, Bibl.

517 – ipse] esse, Ms.6368

521 – Ms.6368 indica neste verso nova estância. Falta essa indicação no verso 526.

556 – Fructosus] Fructuosus, Ms.6368, Bibl.

589 – reliquit] relinquit, Ms.6368

590 – aperto] aperte, Ms.6368, Bibl.