8-11-2014
Manuel da Costa (1621 - 1681), defunto no cárcere, absolvido
Fernão Galvão, de Leiria, preso pela Inquisição de Lisboa em 1629, quando declarou ter 61 anos de idade, tinha uma enorme família: 13 filhos de quatro mulheres. A genealogia da família foi já descrita pelo Doutor Alex da Silva Monteiro na sua tese (pag. 143) apresentada em 2011 à Universidade Federal Fluminense, com omissões e inexactidões e por isso a repito aqui. Foram quase todos parar á Inquisição, em duas revoadas, uma em 1629 e outra em 1632.
Em Leiria, a Inquisição ia a eito, encarcerando os cristãos novos. Estes tinham de acusar os familiares para se conseguirem livrar e assim acabavam por ser todos presos. Escaparam dois filhos mais velhos, Gaspar e Belchior, que já tinham saído do País.
Na altura, escapou o filho mais novo de Fernão Galvão, o Manuel da Costa, nascido por volta de 1621; na idade adulta, seria conhecido por “o Costinha”.
Em face do Inventário do seu processo, constata-se que Manuel da Costa tinha jeito para os negócios e deveria viver bem. Uma testemunha diz que ele fora casado com uma filha de Manuel da Costa Alvarenga, mas ele omitiu isso na sessão de Genealogia e por isso não sabemos se tinha filhos desse casamento. Casou depois com uma senhora flamenga, como é referido por Pedro Duarte Ferrão (Pr. n.º 8096) em testemunho que não foi transcrito para o processo. Chama-a Ana de Mendibel, mas poderá ser também Mendivel; a Inquisição escreveu Mendiva e os Arquivos da Torre do Tombo puseram por lapso Mendonça na ficha respectiva. Deverá tê-la conhecido numa visita ao irmão Belchior, que tinha casado com uma senhora com o mesmo nome e vivia em Bruxelas. Pedro Duarte Ferrão engana-se chamando Ângela Soares meia irmã do Réu, quando na realidade era irmã inteira.
Manuel da Costa teve 10 filhos, que teriam entre 1 ano e 20 e poucos, quando foi preso. Diz que a filha Mariana está casada com Manuel da Silva Henriques, mas uma testemunha diz que o casamento fora anulado pelo Juízo Eclesiástico.
Em 1670, o coice de um cavalo partiu-lhe uma perna. Esteve cinco meses de cama, e acabou por ficar manco.
Foi denunciado a primeira vez em 1672, por Manuel da Costa Martins (ou Pestana), no âmbito das muitas prisões que na altura se fizeram dos cristãos novos mais abastados, das famílias Mogadouro, Chaves, Pestana e Penso. A Inquisição nada fez, mas quando um ano depois, surgiu outra denúncia, prendeu-o logo dez dias depois.
Foi então que algum funcionário de boa memória, foi ao Arquivo buscar outra denúncia contra ele, do ano de 1654. Estavam dois padres à janela de uma hospedaria quando viram em casa do “Costinha”, do outro lado da rua, um arremedo de procissão, com cânticos em Latim, campainhas e grande algazarra, que logo consideraram coisa de “judeus”, gozando com cerimónias católicas. Estavam as denúncias no Caderno do Promotor, foram devidamente transcritas para o processo.
Como todos os cristãos novos presos, também Manuel da Costa teve a ilusão de que se conseguiria defender. Contestou por negação, indicou muitas testemunhas, mas a Inquisição só se deu ao trabalho de ouvir umas quatro, todos familiares do S.to Ofício. Um deles, em vez de defender, acusou o Réu, dizendo que era “judeu”.
Os tempos eram maus para a Inquisição, pois o Papa Clemente X tinha mandado parar com os processos e com os Autos da Fé. Os presos ficaram na cadeia a definhar. Desde o final de 1677 até ao fim de 1681 (quatro anos), nada acontece no processo.
Em 1681, deu ao Réu uma apoplexia, nome que na altura se dava aos acidentes vasculares. Foi curado pelo médico, mas acabou por morrer, aos 60 anos em 29 de Dezembro de 1681.
A actividade da Inquisição tinha sido reposta pelo Breve Romanus Pontifex, de 22 de Agosto de 1681. No final de 1681, trabalhava-se afanosamente para fazer um grande auto da fé. Não tinha jeito relaxar o pobre Manuel da Costa que já tinha sofrido que chegasse e também tinha apenas duas denúncias no processo. Por isso, foram absolvidas a sua memória, fama e fazenda, e mandados restituir os bens apreendidos no Auto da Fé de 10 de Maio de 1682. O mesmo aconteceu com mais cinco presos, defuntos no cárcere.
GENEALOGIA
Fernão Galvão (1629 - Pr. n.º 11135) teve filhos de quatro mulheres:
A-Madalena Machado, preta escrava, com quem teve:
-António Galvão (1629 - Pr. n.º 6921) que casou com Maria Francisca e tiveram:
Maria Soares
Belchior da Costa
Gaspar da Costa
B-Leonor de Fontes, com quem casou e tiveram:
- Inocência da Costa (1629 - Pr. n.º 6735)
C-Maria Fernandes, com quem não casou, e de quem teve:
- Madalena da Costa (1640 – Pr. n.º 9899), viúva de Manuel Fernandes, de quem teve
Francisco, de 18 anos, que vive em Sevilha e é solteiro
Outros cinco filhos que morreram crianças.
- Francisca da Pena (1629 – Pr. n.º 3750), viúva de Diogo Henriques, de quem tinha tido:
Diogo Henriques (1632 – Pr. n.º 4924, RELAXADO em estátua), de 20 anos, casado com Isabel da Fonseca – Faleceu no cárcere tísico em 19-5-1632
Bartolomeu Henriques (1632 – Pr. n.º 3704), de 18 anos
Manuel Henriques (1632 – Pr. n.º 11529), de 17 anos, que casou com Ana Fernandes e teve um menino de nome António
Casou depois com Gaspar da Ponte, de quem tem
António, de 14 anos, que foi pouco depois para a Índia
Maria (1633 – Pr. n.º 5258), de 10 anos
Joana (1634 – pr. n.º 11832) , de 8 anos
Isabel, de 7 anos
D-Maria Soares ou Maria Gomes (1629 – Pr. n.º 3176), com quem casou e teve
Gaspar da Costa, - está fora do Reino e não sabe onde
Belchior da Costa – está fora do Reino e não sabe onde
Francisca da Costa (1629 – Pr. n.º 7709)
Beatriz da Costa (1629 – Pr. n.º 3395), casada com António Belo, de quem tem uma filha criança de nome Maria Belo
Isabel da Costa (1632 – Pr. n.º 7131, RELAXADA em estátua), faleceu no cárcere em 3-6-1632
Maria Soares (1632 – Pr. n.º 12565)
Antónia da Costa (1633 – Pr. n.º 10286), de 17 anos
Ângela Soares, de 14 anos (1633 – Pr. n..º 5415). Casou com António Gomes, de quem teve uma filha:
Mariana Soares (1683 – Pr. n.º 8402), de 18 anos à data da prisão
Enviuvou e foi de novo presa aos 60 anos (1683 – Pr. n.º 5415-1)
Manuel da Costa, o “Costinha” (1672 – Pr. n.º 9484 – faleceu no cárcere em 29-12-1681), absolvido no Auto da Fé de 10-5-1682. Era casado com a flamenga D. Ana de Mendivel, de quem tinha
Francisco da Costa, de 13 anos
Fernando, de 2 anos
Miguel, de peito
Clara de Mendivel, freira no Convento de S.ta Mónica, em Lisboa
Mariana de Mendivel, casada com Manuel da Silva Henriques, de quem teve Cecília, de peito
Josefa de Mendivel
Teresa
Maria
Luísa e
Apolónia, todas de menor idade
Processo n.º 9484
fls. 1 img. 1 – Processo de Manuel da Costa, cristão novo, mercador, natural da cidade de Leiria e morador nesta de Lisboa, preso nos cárceres da Inquisição da mesma e neles defunto.
fls. 3 img. 5 – Defunto. Preso em 9 de Dezembro de 1673
fls. 5 img. 9 – 9-12-1673 – Mandado de prisão
fls. 6 img. 11 – 9-12-1673 - Auto de entrega nos Estaus
CULPAS
fls. 7 img 13 – 17-8-1672 – Depoimento de Manuel da Costa Martins ou Manuel da Costa Pestana – Pr. n.º 81 –
fls. 8 img. 15 – 29-11-1673 – Dep. de Jorge Coelho Henriques, do Fundão – Pr. n.º 10736
fls. 10 img. 19 – 25-4-1654 – “Cópia de uma denunciação contra Manuel da Costa que anda no Caderno 34 do Promotor (fls. 196, img. 305) de que se não fez menção ao Réu na sessão in specie por se achar depois de feita.”
Denúncia do Padre Frei Fernando Geraldes Bueno, Vigário da Vila do Touro, Bispado da Guarda. Diz que o Réu foi casado a primeira vez com uma filha de Manuel da Costa Alvarenga, de Castelo Branco.
fls. 10 img. 19 – 30-4-1654 – Martim de Seixas Pinheiro, Sacerdote do hábito de S. Pedro corrobora a denúncia anterior
fls. 13 v img. 26 – 7-5-1682 – o Promotor de Justiça anota que não foi possível trasladar a culpa constante da confissão de Pedro Duarte Ferrão (Pr. n.º 8096), de 2-5-1682, que se encontra no processo dele a fls. 182 v img. 364. Na denúncia, Pedro Duarte Ferrão diz que a esposa do Réu era flamenga e se chamava D. Ana Mendibel.
fls.15 img. 29 – 29-1-1674 – INVENTÁRIO –
Declarou o Réu que tem
Bens de raiz:
Uma quinta junto a Nossa Senhora da Penha de França, que é foreira a uma Capela de Xabregas em 2$000 réis e valerá 3 000 cruzados.
Umas casas no Bairro de Alfama, no Outeiro da Amendoeira, com vários moradores e valerão 500$000 réis.
Tem algumas peças de ouro e prata e móveis de seu uso de que não sabe dar razão, por tudo correr por conta de sua mulher.
Sobre as dívidas activas ou créditos que tem, remeteu para os seus contabilistas.
fls. 16 img. 31 – 16-5-1674 –
Disse dever alguma coisa à Junta dos Combois.
Deve à Junta do Comércio do Brasil 347$765 réis de uma Letra que sobre ele passou Jorge Dias de Sá.
Que ele deve a Ricardo Marco, mercador inglês, 75$435 réis de uma letra que sobre ele passou Richard Vihasson , mercador na Ilha de S. Miguel.
fls. 17 img. 33 – 28-6-1674 –
Disse ter contas pendentes com Domingos Ribeiro, mestre pedreiro, de obras que fez nas suas casas.
Deve também a Gaspar dos Reis, mestre carpinteiro, 5$000 réis de consertos das suas casas.
fls. 17 v img. 34 – 11-9-1674 –
Deve a César Grepi, mercador Genovês, 243$050 réis, de fazendas que lhe comprou.
fls. 18 img. 35 – 10-10-1674 –
Disse que Manuel Nunes, do lugar de Olaias, termo de Tomar, arrendou a Manuel de Sousa duas comendas, uma das Olaias, outra da Alcaidaria, termo de Tomar pela quantia de três contos e 260$000 réis pagos de antemão pelo prazo de seis anos e o dito Manuel Nunes deu a ele declarante parte no dito contrato, porém ele declarante não fez escritura a Manuel de Sousa, nem sabe a forma que lhe deu Manuel Nunes.
Deve a Francisco Barreira, morador em Bordéus 90 e tantos mil réis, provenientes de um ferro que lhe mandou.
Disse que o Capitão Ramirez de Esquível lhe entregou 50 paus de jacarandá para lhos enviar para Sevilha e estão num barco em Setúbal. Devem ser-lhe entregues, mas ele deve primeiro pagar 50$000 réis que lhe deve.
Disse que deve a Domingos Rodrigues Gomes, Mestre do navio chamado Santa Cruz, dos fretes de umas caixas de açúcar que lhe vieram no ano de 1672, 40 e tantos mil réis de que lhe passou escrito.
Disse que ele segurou a Pedro o Grego, mercador francês 100$000 réis de fazenda, que lhe vinham na sumaca São José - Mestre Jorge Columbar e recebeu o prémio do dito seguro, e assim não chegando a salvamento a dita sumaca e constando disto judicialmente se lhe devem pagar os ditos 100$000 réis na forma costumada na praça.
fls. 19 img. 37 – 27-11-1674
Disse que ele Réu despachava fazendas nas Alfândegas, das quais está devendo os direitos que se devem pagar.
Disse que ele não emprestava dinheiro a ninguém, para além do que tem referido.
fls. 20 img. 39 – 8-2-1675
Disse que ele fez uma carregação para Pernambuco com João de Carvalho de Miranda, já defunto, e não sabe a quanto montava, mas disso poderá dar razão João Maciel do Lagar do Sebo.
fls. 20 v img. 40 – 27-2-1675
Disse estar devendo a Domingos Maciel 22 mil e tantos réis de fretes de 4 caixas e um fecho de açúcar que da Baía vieram para ele declarante no navio Nossa Senhora do Rosário de que é Mestre Manuel Seixas.
Disse mais que é devedor a Manuel Preto Valdez, dos fretes de uma partida de açúcar que da Baía veio para ele declarante e de que passou um escrito.
fls. 21 img. 41 – 16-3-1675
Disse que do Rio de Janeiro lhe vieram 10 caixas de açúcar numa nau de que era mestre António Neto e de que está devendo os fretes e a quantia constará de um escrito e entende que montam a 56 mil e tantos réis.
fls. 21 img. 41 – 8-7-1675
Disse que ao tempo da sua prisão tinha recebido no seu armazém 25 ou 26 rolos de tabaco, que Luis Blangeron e João Gonçalves Caminha, tinham ali recolhido. Ele declarante tinha parceria com estes mercadores no mesmo tabaco e ele próprio pagou o total dos direitos com dinheiro seu, como tudo constará do seu livro Razão.
fls. 22 img. 43 – 6-8-1675 –
Disse que de Pernambuco lhe vieram seis caixas de açúcar e doze rolos de tabaco num navio de que é Mestre Manuel Guedes de Sá, ao qual deve os fretes do açúcar e do tabaco, que segundo pensa montava a 47 mil e tantos réis, de que lhe passou escrito, donde constará a verdade.
fls. 22 v img. 44 – 26-8-1675 –
Disse que ele tem contas com Manuel Gomes Vieira, mestre de um navio de Pernambuco chamado Santa Catarina do Monte Sinai, o qual trouxe daquela cidade umas caixas de açúcar.
Disse mais que é devedor a Francisco de Sousa, morador em Arrifana de 160 peças de Panico de Hamburgo, as quais se achariam em sua casa ao tempo da sua prisão. A conta certa ajustá-la-á João Maciel.
Deve a seu caixeiro João Domingues, alguns meses de salário, não sabe quantos, mas sua mulher D. Ana Mendiva (Mendivel) poderá ajustar contas com ele.
fls. 23 v img. 46 – 17-2-1676
Disse que pensa estar a dever alguns fretes de açúcar que lhe vieram no ano de 1673, mas nisso reporta-se ao que disser Luis Blangeron.
Também é devedor à Fazenda Real de alguns direitos de combóis, mas pede que João Maciel e Luis Blangeron se encarreguem de os liquidar.
fls. 24 img. 47 – 26-6-1677
Disse que da Baía de Todos os Santos vieram 10 caixas de açúcar na charrua Nossa Senhora do Livramento de que veio por mestre António Fernandes Aires, de que passou escrito e deverá ser-lhe paga se ele o reclamar e não houver documento que comprove o pagamento.
fls. 25 img. 49 – 24-1-1678
Disse que ele teve contas com Richard Vehansson, mercador inglês, morador na Ilha de S. Miguel, o qual fez algumas carregações, por conta dele declarante, mas não se lembra de quanto lhe deve. João Maciel e Luis Blangeron poderão acertar contas por ele.
fls. 25 v img. 50 – 14-6-1678
Referiu as contas que tem com o seu senhorio António Maciel da Costa, casado com D. Grácia da Silva, nas benfeitorias que fez nas casas e tendo em conta as rendas que lhe devia.
fls. 27 img. 53 – 19-8-1678
Disse que João Pereira Seixas lhe trouxe do Grão Pará no navio Nossa Senhora da Piedade de que era Mestre duas caixas de açúcar e um fecho de cacau, e do frete passou escrito; se está em dívida Luis Blangeron proceda ao pagamento.
fls. 29 img. 57 – 29-1-1674 – Genealogia
Chama-se Manuel da Costa, cristão novo, é natural de Leiria e mora em Lisboa, tem 52 anos de idade. Seus pais são já defuntos e chamaram-se Fernão Galvão e Maria Soares.
Avós paternos foram Gaspar da Costa e da Avó não sabe o nome.
Avós maternos foram Diogo Soares e Maria Lopes.
Por parte de seu Pai, teve duas tias de que não sabe os nomes porque já faleceram há muito.
Por parte de sua mãe, tem um tio e duas tias, já defuntos, a saber:
- António Soares, que foi lavrador e faleceu solteiro, sem filhos
- Ângela Soares e
- Isabel Simoa, que ambas faleceram solteiras, sem filhos
Ele declarante tem um irmão e três irmãs, a saber:
- Belchior da Costa, morador em Bruxelas, Estado da Flandres, casado com D. Ana de Mendivel, flamenga, de que teve um filho chamado João que faleceu aos 12 anos.
- Maria Soares, sem filhos, viúva de Paulo da Cunha, o qual tinha um filho de um primeiro casamento, Miguel da Cunha (Pr. n.º 1512), médico, viúvo, de D. Ana Maria de Mendonça, cristã velha; mora em casa do Réu.
- Antónia da Costa, solteira, sem filhos, residente em Leiria
- Ângela Soares, é viúva de António Gomes Serra, de quem tem uma filha, Mariana Soares, de 18 anos.
Ele declarante é casado com D. Ana Mendivel, de quem tem dez filhos:
- Francisco da Costa, de 13 anos
- Fernando, de 2 anos
- Miguel, de peito
- Clara de Mendivel, freira no Convento de S.ta Mónica, em Lisboa
- Mariana de Mendivel, casada com Manuel da Silva Henriques, de quem teve Cecília, de peito
- Josefa de Mendivel
- Teresa
- Maria e
- Luísa
- Apolónia, todas de menor idade
Disse que foi baptizado e crismado e que sempre foi bom católico. Soube as orações do catecismo, com excepção dos mandamentos da Santa Madre Igreja.
Sabe ler e escrever, mas não tem estudos. Entende que foi preso por falsos testemunhos dos seus inimigos.
fls. 32 img. 63 – 18-4-1674 – Sessão in genere
Disse que não tinha culpas e negou todo e qualquer comportamento típico de judeu.
fls. 34 v img. 68 – 29-5-1675 – Sessão in specie
Em resposta às denúncias concretas contra ele, respondeu sempre “Não passou tal”.
fls. 36 img. 71 – 7-6-1675 – Admoestação antes do libelo. Libelo. Ouvida a leitura, disse que eram falsas as acusações e as contestava por negação. Tinha defesa com que vir e queria estar com procurador.
fls. 39 img. 77 – 8-7-1675 - Juramento do Procurador Pedro Calado de Araújo que foi atribuído ao Réu. Estância com o Procurador na mesma data.
fls. 40 img. 79 – Traslado do libelo devolvido pelo Procurador.
fls. 41 img. 81 – 8-7-1675 – Defesa. Arguiu
- que sempre foi bom católico e crente da doutrina da religião católica
- que sempre guardou os domingos, foi à missa e se associou a irmandades e confrarias
- que sempre frequentou os sacramentos, confessando-se e comungando várias vezes durante o ano
- que crê firmemente em todos os mistérios da Religião
- que é devoto da Virgem Maria
- que visitava as Igrejas e ia nas procissões.
Indicou testemunhas: Religiosos, sacerdotes, familiares do S.to Ofício e outros.
fls. 43 img. 85 – 8-7-1675 – Despacho recebendo a defesa e mandando interrogar as testemunhas.
fls. 44 img. 87 – 23-7-1677 – Audição de testemunhas
- Domingos Maciel, homem de negócio, familiar do S.to Ofício. morador em Lisboa ao Lagar do Sebo – Disse que o Réu em tudo se comporta exteriormente como bom cristão. Perguntado sobre os artigos da defesa, disse que apenas sabia o que tinha respondido às gerais.
fls. 44 v img. 88 – 27-7-1677
- João Maciel, , familiar do S.to Ofício. morador em Lisboa ao Lagar do Sebo – Disse que no exterior o tinha por bom cristão; mas reparava no grande afecto que tinha aos cristãos novos, quando se falava no perdão geral; Perguntado sobre os artigos da defesa, disse que apenas sabia o que tinha respondido às gerais.
fls. 45 v img. 90 – 28-7-1677
- Luis Rodrigues, vestimenteiro, familiar do S.to Ofício – Depoimento idêntico ao último referido.
- Pedro Ferreira, familiar do S.to Ofício, natural de Belém e morador em Lisboa – Disse que “tinha o dito Manuel da Costa em muito má conta e sempre entendeu ser ele judeu, pelo grande afecto que mostrava à gente de nação e nunca lhe viu fazer acto algum de cristão, salvo algum encontro que teria com ele em alguma Igreja.” Da matéria dos artigos da defesa, não sabe coisa alguma.
fls. 47 img. 93 – 17-9-1676 – Requerimento do Promotor para publicação da prova da justiça. Admoestação antes da publicação. Publicação da prova da justiça. Ouvida a leitura, o Réu disse que era tudo falso. Disse que tinha contraditas com que vir. Foi-lhe dito que lhe seria atribuído outro Procurador por impedimento do primeiro
fls. 50 v img. 100 – 25-9-1676 – Juramento do Procurador João Lopes Tinoco
fls. 51 img. 101 – Estância com o Procurador
fls. 52 img. 103 – Traslado da prova da justiça devolvido pelo Procurador
fls. 53 v img. 106 –O Réu pede se lhe diga o lugar onde lhe são dadas as culpas. O promotor responde que é a cidade de Lisboa em relação a todas as culpas.
fls. 54 img. 107 – Alegação das 1.ªs contraditas, que têm 35 artigos. Os Inquisidores aceitaram apenas o 1 e o 21.
- 1.- Manuel da Costa Martins e outros elementos da família dos Pestanas são seus inimigos porque, trazendo Francisco Manuel Delgado arrendado a D. Manuel de Sousa as suas comendas e Alcaidaria-Mor de Tomar e Olaias, ele Réu foi ter com D. Manuel de Sousa no ano de 70 ou 71 e arrendou as ditas comendas. Como os Pestanas as traziam há muito tempo por um preço muito mais baixo, ficaram seus inimigos.
21 . – Jorge Coelho Febos da Beira é seu inimigo porque teve com ele palavras descompostas por causa de um pouco de azeite que lhe remeteu António Lopes Migas, e as palavras foram na Rua Nova da cidade de Lisboa.
fls. 60 img. 119 – 30-9-1676 – O Réu apresentou 2.ªs contraditas com 10 artigos, que não foram recebidas.
fls. 62 img. 123 – 6-10-1676 – O Réu nomeou testemunhas às contraditas.
fls. 67 v img. 134 – 14-10-1676 – Despacho de recebimento das contraditas (recebidos apenas os artigos 1 e 21 das 1.ªs).
fls. 68 img. 135 – 30-7-1677 – Audição das testemunhas às contraditas
- João Mayor, homem de negócio, natural de Hamburgo, e morador em Lisboa – Disse nada saber sobre o 1.º artigo das contraditas
- João Soares da Costa, mercador, natural do Porto e morador em Lisboa – Disse que ouviu falar de umas dúvidas que o Réu tivera com os Pestanas e com Francisco Manuel Delgado, e que houvera palavras de parte a parte e “não se corriam, nem de chapéu”. Confirma ser verdade o 1.º artigo das contraditas.
fls. 69 v img. 138 – 3-8-1677 –
- D. Manuel de Sousa, natural e morador em Lisboa ao Carmo – Confirmou o teor do 1.º artigo das contraditas.
- Diogo Mendes Correia, natural de Estremoz e morador em Lisboa – Nada sabe sobre o conteúdo do 1.º artigo.
fls. 71 img. 141 – 17-8- 1677 –
- André da Silva Henriques, advogado, natural e morador em Lisboa, na Rua do Barão – Disse nada saber sobre inimizades do Réu. Mas disse que ouviu dizer que os Pestanas davam 10 000 cruzados a sua filha se seu irmão Manuel da Silva Henriques se casasse com ela. Os parentes dele testemunha impediram o casamento e o Réu persuadiu a seu irmão que casasse com sua filha “prometendo-lhe tudo quanto tinha”; e levado da ambição, se fizera o dito casamento, que agora está nulo por sentença do Juízo Eclesiástico. Não sabe se disso resultou inimizade com os Pestanas, porque é gente com quem nunca teve “trato ou comunicação alguma e mal os conhecia de vista”.
fls. 71 v img. 142 – 18-8-1677 –
- Fernando de Chegarais, Francês de Nação, natural de Bayonne e morador em Lisboa – Ouviu falar do negócio dos azeites, mas nada sabe de concreto.
fls. 73 img. 145 – 13-5-1678 - O Solicitador da Inquisição foi notificar Domingos Ribeiro, mestre pedreiro para vir prestar declarações, mas constatou que já tinha falecido.
fls. 74 img. 147 – 13-5-1678 – Outro Solicitador foi para notificar João de Lion, francês, morador na Bica de Duarte Belo e constatou que se encontrava em França.
fls. 75 img. 149 – 16-8-1677 – Comissão da Inquisição de Lisboa ao L.do Simão Lobo, Prior da Igreja de S.ta Maria de Torres Novas, para ouvir testemunhas às contraditas
fls. 77 img. 153 – 27-8-1677 –
- António Lopes “Migas” de alcunha, morador em Torres Novas – Sabe que Jorge Coelho Febos era inimigo do Réu.
fls. 79 img. 157 – 29-3-1677 – O Réu pediu Procurador. Estância com o Procurador.
fls. 80 img. 159 – 29-3-1677 – Com seu Procurador, o Réu diz que quer fazer novo requerimento de contraditas.
fls. 81 img. 161 – 4-6-1677 – Pede Procurador. Estância com o Procurador.
fls. 82 img. 163 – 4-6-1677 – Requerimento de 3.ªs contraditas
fls.83 img. 165 – 5- 6- 1677 – Nomeação de testemunhas
fls. 84 img. 167 – 9-6-1677 – Despacho de não recebimento das 3.ªs contraditas. No mesmo dia foi este despacho notificado ao Réu.
fls. 84 v img. 168 – 10-4-1678 – O Réu pediu uma folha de papel para fazer um requerimento.
10-4-1678 – Estância com o Procurador
fls. 85 img. 169 – 10-4-1678 – O Réu escreve uma defesa com a sua letra. Aponta o ano de 1654 (está certo), como sendo o da “paródia” referida na denúncia de dois frades. Conta ainda como em 1670, um cavalo lhe quebrou uma perna com que ficou cinco meses de cama e ficou mal sarada.
O Procurador apoia o pedido do Réu, que quer contraditar Filipe Correia
O processo fica parado.
fls. 87 img. 173 – Óbito do Réu em 29 de Dezembro de 1681 às 11 da noite, de uma apoplexia que sobreveio à enfermidade que tinha.
fls. 87 v img. 174 – 30-12-1681 – Fé dos Notários
Os Notários atestam o óbito. O Réu tinha vindo a ser assistido pelos médicos e veio confessá-lo um frade Dominicano. Não havia sinais nenhuns de violência. Prestou informações o companheiro do cárcere Manuel Nunes (Proc. n.º 9489).
fls.88 v img. 176 – 4-1-1682 – Depoimento de André Pereira, Alcaide dos cárceres
Refere os mesmos termos da doença e morte do Réu. O frade que o assistiu chamava-se Fr. Manuel Veloso.
Agostinho da Costa, guarda dos cárceres – Mesmo depoimento
António Henriques, guarda dos cárceres – Mesmo depoimento
Manuel Moreira, guarda dos cárceres – Mesmo depoimento
António Gonçalves, guarda dos cárceres – Mesmo depoimento
fls. 93 v. img.186 – 7-5-1682 – Depoimento de Manuel Nunes, companheiro do cárcere, sobre a morte do Réu
Descreveu a morte do Réu e disse que “na hora da morte chamava por Nosso Senhor e pelo nome de Jesus, estando sempre rezando a Salve Rainha, o Padre Nosso e as mais orações da Igreja”.
Depoimento de António Ferreira, médico que assistiu o Réu – Disse que o Réu morreu de um acidente de apoplexia e no tempo que viveu, lhe aplicou ele testemunha os remédios necessários.
fls. 96 img. 191 – sem data - O Promotor de Justiça requer que a Mesa tome assento sobre a causa do Réu falecido.
fls. 96 img. 191 – 6-5-1682 – Assento da Mesa da Inquisição
“(…) E pareceu a todos os votos que, visto falecer da vida presente nos cárceres desta Inquisição, como consta do sumário e auto que se tirou de testemunhas, de morte natural e não violenta, e achar-se com 2 testemunhas somente de culpas de declaração de judaísmo em forma, não havia para que se lhe fazer diligência alguma, por não ser necessário citar seus herdeiros, nem mais pessoas interessadas na sua causa e que esta se podia despachar a final, visto não ser prova com que pudesse ser relaxado. (…)”
fls. 98 img. 195 – 8-5-1682 – Assento da Mesa do Conselho Geral
“Foram vistos na Mesa do Conselho, estando presente o Ilustríssimo Senhor Arcebispo Inquisidor Geral (…) e assentou-se que é bem julgado pelos Inquisidores, Ordinário e Deputados, em determinarem que este processo se podia despachar a final, sem ser necessário citar seus herdeiros, nem mais pessoas interessadas na sua causa, visto não ter prova com que poder ser relaxado; mandam que assim se cumpra.”
fls. 101 img. 201 – 8-5-1682 – Assento da Mesa da Inquisição
“Foram vistos 2.ª vez na Mesa do S.to Ofício (…) depois do Assento da Mesa, com o qual se julgou que sua morte foi natural e não violenta e que seu processo se devia despachar a final, sem preceder citação de herdeiros, parentes e mais pessoas a quem de direito toca sua defenção, visto não ter prova bastante para haver de ser tido por convicto, como se considera no dito Assento, a qual se confirmou no Conselho Geral, pelo despacho que nele está, e pareceu a todos os votos que sua memória, fama e fazenda devem ser absolutos da instância de juízo, que sua sentença se leia no Auto Público da Fé, e nela se declare que a seus ossos se pode dar eclesiástica sepultura, e oferecer a Deus Nosso Senhor por sua alma sufrágios, e sacrifícios da Igreja, e se levante o sequestro feito em seus bens e deles se paguem as custas. (…)”
fls. 103 img. 205 – 8-5-1682 – Assento da Mesa do Conselho Geral
Confirma o Assento da Mesa, repetindo as mesmas palavras.
fls. 105 img. 209 – Sentença. Foi publicada no Auto da Fé de 10 de Maio de 1682.
fls. 107 img. 213 – Conta de custas: 5$748 réis