6-4-2008
LUISA SIGEIA
SYNTRA
D. Loisiæ Sygeæ Toletanæ
SYNTRA
Est
locus, occiduas ubi sol æstivus ad oras
Hic
philomela canit, tirtur gemit atque columba:
Prata rosas pariunt, liliaque et violas, Prospectat silvam candida virginitas.
Hinc ego
prospiciens, oculis dum singula lustro, Illa aperit terras, pandit et illa polum: Emersit stagnis subito pulcherrima Nympha
Tunc forma referens, corpore, voce deam. Vocibus his: “Salve grata puella Deis. Quid tecum, Sigæa, putas? Tu principis almæ
Arcibus his spectans noscere fata
cupis?” Exoptem, dominant tollere ad astra velim, О quæ cæsarie, vultuque, oculisque, sinuque, Et certe incessu diva videre mihi! Nympha loci custos, vitreo quæ gurgite lymphas Concipis, et Divum pandere fata potes: Tu mihi fatorum seriem, quæ regia virgo Regna manet, resera, quosve manet thalamos?" Illa libens roseo ( dum sic loquor) intonat ore:
“Quod, virgo, rogitas, accipe, nec dubita. Ambrosia: at postquam mensa remota fuit, Digna petunt divi regali in principe dona,
Imperio ut superet, quas superat
meritis. Nec non Calliope, pignora chara lovis.
Quos coluit virgo, quorumque exercuit artes, Fatidico, ut lætos exigat illa dies. Nec sis sollicita, aut metuas prædicere fata:
Succedent votis ordine cuncta
tuis.”
“Recte, inquit, rogitas: tempora nosse opus est.
Dixerat, et liquidas resilit Dea rursus in undas, Præcipiti et saltu gurgite mersa latet.
Ast ego, quæ Infantis causa dubitare solebam Demissum, ut Dominæ sic mihi fata canat.
Nunc supplex tendo iunctas ad sidera palmas |
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
|
D. LUIZA SIGEA
Versão do R.do Padre Fiadeiro
Junto às praias do ocidente, onde o sol, ao aproximar-se a noite, já demanda o oceano, e levado no seu carro ebúrneo, quase toca o imenso mar, com os seus cavalos cansados pela longa carreira, fica um lugar, onde um vale ameno, por entre rochedos que se elevam até aos céus, se recurva em graciosos outeiros, por entre os quais se sente o murmurar da água. Circunda o oceano a imensa mole, e três píncaros elevadíssimos guindam-se até aos astros, a ponto de, quando densas nuvens os não coroam, chegarmos a acreditar que o céu assenta sobre tais colunas. Vivem os Faunos nestas solidões, as quais servem de abrigo às feras, vindo frequentemente os caçadores armar laços às mães e aos filhos. Na parte inferior, os carvalhos apinham-se no meio de densa folhagem, fornecendo a sombra amplas casas para Silvano e para os Satyros. Aqui se encontram em grande número, o choupo, a aveleira, a faia, a pereira, a cerejeira, a ameixieira, os castanheiros, e inúmeras outras árvores que dão alimento aos felizes mortais, tudo dádiva dos Deuses do céu. À direita, a flava Ceres espontaneamente ensinou os mortais a lavrar os campos, a semeá-los, e a formar as searas. Do lado esquerdo para a parte do norte, a cada passo oferece Pan amplas pastagens para os rebanhos. Às faldas da serra ostentam-se viçosos limoeiros, tão belos quanto os costuma produzir o jardim das Hespérides. Aqui se encontram as folhas do louro, outrora prémio dos vencedores, com as quais ainda hoje os poetas costumam cingir as suas frontes, e cresce abundantemente a murta, tão querida de Vénus; tudo, enfim, nos encanta e perfuma o ambiente com a sua fragrância e com os seus frutos. Ressoam os bosques com os gorjeios do rouxinol, geme a rola, e a pomba, e fazem ali seus ninhos todas as aves que voam pelo espaço, no meio de um chilrear ensurdecedor. Nos prados florescem as odoríferas rosas, os lírios, as violetas, o fragrante tomilho, a hortelã, o alecrim, o narciso, o poejo bravo, a videira sagrada, e muitas outras flores, ervas e arbustos que a terra fertilíssima produz, nos vales, e nas selvas, com que a cada passo ornam as suas frontes as Dryades, os Faunos, as Ninfas, e os Deuses cornígeros. Corre a água cristalina com brando murmúrio pelo meio do vale sombrio, por entre enormes rochedos, e nos pequenos lagos que ela forma, costumam vir banhar-se as formosas Ninfas, no romper da aurora, ou mesmo ainda quando a noite tem o seu manto estendido pela serra. Sobranceiro a um destes lagos fica soberbo palácio, de onde a régia prole, na candura da inocência, desfruta o sublime panorama que lhe oferece a espessa mata. Enquanto eu daqui espraiava os olhos por todo o horizonte, admirando tanto mimo, tantas delícias da natureza, Céfalo tinha deixado a Aurora, e ela ruborizada começou a iluminar as terras afugentando a noite. Então repentinamente, de um dos lagos, levanta-se uma Ninfa com um corpo e uma voz divina, olha, e assim se me dirige, espontaneamente com estas palavras amigas: ‘Salve! donzela, que tão grata és aos Deuses. Em que pensas, ó Sigeia? Habitando nestas altas mansões, desejas conhecer os destinos da tua querida princesa?" Então eu: "Se os Deuses despachassem favoravelmente os meus desejos, levantaria até aos astros Senhora tão excelsa. Ó Ninfa, guarda deste recinto, que semelhas urna deusa com essa tua formosa madeixa, nesse teu rosto, nos olhos, no seio e mais que tudo no teu majestoso porte, tu que reúnes as águas no vítreo pego, e tens poder para revelar os destinos dos Países, diz-me para que reinos e para que tálamos está destinada a princesa real’. Enquanto assim falo, ela alegre solta dos róseos lábios as seguintes palavras: “Ó Donzela, ouve a resposta ao que me perguntas e não duvides: O Pai Neptuno conduziu-me há pouco até aos remontados paços onde Júpiter costuma reunir os deuses. Lá os vi todos libando o néctar precioso e a ambrósia: terminado o banquete, os Deuses imploram para a princesa dons régios, que a façam avantajar-se em poder a quantas excede já em merecimentos. Achava-se presente a douta Minerva, Apolo inventor do canto, e também Calíope, todos estimadíssimos de Júpiter, e também estimados da princesa, cultora exímia das suas artes. Agradecidos portanto eles pedem dádivas extraordinárias. Júpiter com o sorriso com que ilumina os astros, responde assim á súplica unânime dos Deuses: — Alegrai-vos, ó Deuses! Sabei que é minha vontade que fiquem inabaláveis os destinos da augusta e poderosa princesa. Não desespere. embora veja que outras princesas a vão precedendo no trono: a seu tempo os destinos dela assumirão o seu lugar. As grandes coisas só se alcançam por meio de grandes trabalhos: nem o régio Olimpo detém os Deuses inactivos; por toda a parte são vistos os esposos que outras hão-de tomar, porém aquele que os Fados lhe destinam a ela, só o sabem as mentes celestes. Depois, feliz, quando casar, terá o império do mundo; e um e ouro hemisfério pacificados, curvar-se-ão diante da sua Senhora. Vai pois, e conta-lhe com discrição o que te acabámos de vaticinar, para que ela passe os dias tranquilos. Nem fiques com cuidados, ou temas relatar-lhe os destinos: todos os teus desejos se irão gradualmente realizando. " - "Todavia, diz-me ó Ninfa, encarecidamente to peço, o tempo do presságio». «Perguntas bem; é necessário conhecer também os tempos; porque o Pai omnipotente, levantada a mesa, os marcou nos deuses. Antes que o sol da primavera se volva por sobre um e outro pólo, muitas vezes de Câncer para Capricórnio, sucederão todas as coisas que profetizei. A ilustre princesa, então, irá súplice diante dos altares oferecer os seus votos, juntamente com o incenso”. — Assim falara, e a Deusa, de novo salta para as líquidas aguas e veloz na carreira, esconde-se no pego. E eu que de tudo costumava duvidar em atenção à Princesa, voltei depois segura do vaticínio. Creio que Mercúrio foi mandado do Olimpo sob a forma de uma Ninfa, para me predizer o futuro da minha Senhora. Agora, suplicante, levanto para os céus as minhas mãos por tão feliz acontecimento, porque, em verdade, não me falece a crença. E quando eu vir já tudo completamente realizado na Princesa, espero então obter um lugar entre os habitantes do céu. |
Variantes da edição de Paris de Denis du Pré, de 1566:
33 - Fragrantemque thymon, mentam, quoque pullegiumque.
51 - Suspicit, alloquiturque ultro me hac arce sedentem
85 - Нæс reget Imperium fœlix, cum nupserit, orbis:
98 - Ante aras supplex tunc pia thura feret.
107-Нæс ego cum cernam compleri in principe vates,
Fontes:
Latim - ALOISIÆ SYGÆÆ Toletana, Syntra, aliaque eiusdem ac nonnullorum præterea virorum ad eamdem epigrammata, PAULLI III epistola, et tumulo eiusdem ab ANDREA RESENDIO et CLAUDIO MONSELLO concinato, in Clarorum Hispanorum opuscula selecta et rariora tum latina, tum hispana, edição de F. Cerdà y Rico, Madrid, 1781, pp. 261-264.
Online: http://books.google.com
Versão Portuguesa - Conde de Sabugosa, O Paço de Sintra, Câmara Municipal de Sintra, 1989-1990, edição facsimilada da da IN de 1903
Actualizou-se a ortografia.
Epitáfio por André de Resende
LUDOVICÆ Sigææ
T U M U L U S
L. ANDREA RESENDIO AUCTORE
Obcubit Sigæa decus telluris Iberæ,
Ac ævi ac sexus gloria prima sui.
Mæretis caramque Deæ lugetis alumnam,
Vestraque justitio squalida templa silent?
An mage Sygeam, Musæ, gaudetis ademptam,
Quod par ter ternis una Deabus erat?
Mæretis certe: nam nec bona numina livent,
Muneribusque suis, siqua dedere, favent.
Ergo agite, obclusum quamvis, mihi pandite montem:
Non per ego inlicitum tendo profanus iter.
Nam licet a vobis retrahat me injuria fati,
Vester, ut ante fui, sum modo; vester ero.
Audivere novem faciles mea vota Camoenæ,
Et secreta jugi sunt patefacta sacri.
Imparibus mihi visa modis fas esto referre,
Quique habitus meritæ, funeris instar, honos.
Juxta Hippocrenen viridi de cospite factus;
Et pulla tumulus veste adopertus erat.
Circum aderant Musæ: quarum quæ maxima, luctus
Præfica, sic orsa est, subcinuique chorus:
CALLIO. Plangite Sigæam, quantum fas plangere divas,
Et date funereum carmen ad exequias.
MUSÆ. Qua fas jusque tenus, Sygeam plangimus omnes,
Funereumque damus carmen ad exequias.
CALLIO. Nulla fuit nostris instructior artibus umquam,
Linguarumque fuit nulla perita magis.
Seu fando ad veteres se componebat Athenas,
Currebat passu cum Xenophonte pari.
Seu moderabatur Latia gravitate loquelam.
Mirari Arpinas quam potuisset erat.
Seu Solymos ritus et scrinia sancta petisset,
Scriptaque veridicis Mosis originibus :
Non heros potuit facundius ille, reducti
Qui populi doctor de Babylone fuit.
Sive ad Chaldeos converterat ora Sophistas,
Sive Arabum admorat, ad monumenta manus:
Quum nihil hæc lingua titubante rotaret, haberi
Alterutris meruit jure diserta suo.
Quid quod, et Etrusce voluit si dicere, Dantis
Scripta videbantur Tusca fuisse minus ?
Galla putabatur, presso quum coeperat ore
Gallica nativo frangere verba sono.
Risi ego tam multis variantem os molle figuris
Et, quid non, dixi, nostra puella potest?
Hanc ego suscepi a terra mihi rite dicatam,
Susceptæ adflastis numine quæque suo.
Hanc, Lusitana quum jam mihi cresceret aula,
Ablueram nostra, vos meministis, aqua.
Huic ego, Lunai quum montis Oreades inter
Virgo iret, carmen compositura novum:
Ira gravata comas non sum, juvique subinde
Conantem facili texere verba pede.
Sintria testis erit, Sigææ carmine longe,
Quam tot regum opera, nobilitata magis.
Et nisi virgineum thalamis violasset honorem
Hac ultra noster cresceret ordo novem.
MUSÆ. Talis erat, qualis per sæcula quinque decemque
Nos tetigit lucos erudienda sacros.
Virgineumque licet thalamis violaret honorem,
Noster ea poterit grex superare novem.
CALLIO. Ecquam doctrinæ, nobis fautricibus, ergo
Reginæ plures expetiere sibi?
Ecqua autem Mariæ divino principis ortu
Aptius a studiis danda ministra fuit?
Ecqujus nomen, quacumque ætate, puellæ
Plus doctorurn hominum docta per ora tulit?
Quamque ea pontificem permorit fama supremum
Littera pontificis laude referta docet.
Quod nisi virgineum thalamis violasset honorem
Nuptum Dulichia tam procul urbe data,
Unam plus Helicon dominam gauderet adeptus, .
Unaque plus fontem hunc participaret hera.
MUSÆ. Scimus, et ingenio plus nulli indulsimus umquam,
Nec plus institimus numine quæque suo.
Er quum Dulichia nuptum procul iret ab urbe,
Non illam auspicio vidimus ire bono.
Nec quia virgineam Zonam discinxerit Hymen,
Sitque Dioneo vincta marito jugo:
Idcirco illam Helicon dedignaretur adeptus,
Aut decimam fons hic participatus heram.
CALLIO. Plangite Naiades, Sigææ fata Taganæ,
Vicinæque Tago Dorides aurifluo,
Plangite: vadentem vestri per terga profundi
Agmine cinxistis, vestrum erat illa decus.
MUSÆ. Nec dubium Tagides quin plangant funera Nymphæ,
Nataque formosa Doride turba frequens.
CALLIO. Nectite flexibileis hedera vivace corollas;
Spargite Pæstanas terque quaterque rosas.
MUSÆ. Quin et flexibileis ramos nectemus Iasmes
Sertaque Leucoiis lilia purpureis.
CALLIO. Audiat hæc noster quoque Lucius ipse, puellam
Qui coluit, sancta cultus amicitia.
Perferat et mæsto nostra hæc mandata parenti:
Parce umbram lacrimis sollicitare piam.
Illustreis inter censebitur heroinas,
Quas merito ingenii fama sacravit anus.
Quin age, de gnata neptem mihi dede minore,
Cui facer a cunis imbuat ora liquor.
Quæ, qua præluxit matertera docta, sequatur;
Sigææ nobis impleat illa vicem.
POETA. Concussus tonuit læto mons omine, læto
Omine frondiferum mugiit omne nemus.
Largius et fontes exundavere vagati,
Et Lamus ab summo culmine crevit aquis.
Post quæ delituit subito turma illa dearum,
Sublata ex oculis, nube cadente, meis.