2-6-2010

 

 

Tomás Rodrigues da Veiga

(1513 - 1579)

 

 

A figura de Tomás Rodrigues da Veiga, cristão novo e célebre médico e professor de medicina do Sec. XVI, despertou a minha curiosidade pelo facto de nunca ter sido perseguido pela Inquisição. Nem ele nem a sua família, umas vezes designada por Rodrigues de Évora outras, por Évora Veiga; é o que se diz no livro The Marrano Factory, pag. 195: “do que consta, nenhum membro desta família foi preso pela Inquisição”. É verdade que, à data do seu falecimento, em 26 de Maio de 1579, ainda a Inquisição de Coimbra não se tinha assanhado contra tudo e contra todos, incluindo os professores da Universidade, o que aconteceu poucas dezenas de anos depois. Mas que ele tenha saído incólume é de facto caso de admiração.

Era espanhola a ascendência de Tomás Rodrigues da Veiga. Seu avô Mestre Tomás da Veiga era filho bastardo de Rodrigo da Veiga, médico dos Reis Católicos. Esse Mestre Tomás veio para Portugal acompanhando a infanta D. Isabel, quando esta se veio casar com o príncipe D. Afonso, filho de D. João II. Fixou-se em Évora, depois que o Infante morreu e a princesa voltou para Castela, ali falecendo em 1513. Era irmão do Doutor N. da Veiga, protonotário dos Reis Católicos. Casara entretanto com Constança Coronel, filha de Fernão Peres Coronel, que fora Regedor de Segóvia e secretário dos Reis Católicos; do casamento, ficaram vários filhos, entre os quais, Rodrigo da Veiga, que foi médico de D. Manuel I e ficou conhecido também como Mestre Rodrigo de Évora, o qual casou com Juliana de Menezes e faleceu em 1546. Este foi o pai do Doutor Tomás Rodrigues da Veiga, que terá nascido em 1513. Mestre Rodrigo teve, segundo consta, 6 filhos e uma filha:

 

Manuel Rodrigues de Évora (1506 – 1581) – casou com Catarina Lopes de Elvas

Isabel Rodrigues da Veiga (1508 – 1566) – casou com o Dr. Duarte Ximenes de Aragão

André Rodrigues de Évora de Andrade (1510 – 1575) – assinou os seus livros como André Rodrigues Eborense

Simão Rodrigues de Évora

Tomás Rodrigues da Veiga (1513-1579)

António Rodrigues de Évora – faleceu em 1554.

 

O filho que falta nesta lista é identificado por J. L. Manso de Lima como sendo Rodrigo da Veiga, filósofo, poeta e médico, que escreveu um livro em latim e o dedicou a seu filho, Manuel Martins da Veiga. Por sua vez, a Prof. Florbela Veiga Frade fala de um Rodrigo da Veiga que seria filho de um irmão dos acima nomeados, por ela não identificado.

A destrinça dos nomes nesta família é muito difícil porque são muitas as homonímias e os documentos não abundam.

Com excepção de Tomás, todos os filhos se dedicaram ao negócio, especialmente em Lisboa e Antuérpia, mas também noutras cidades europeias. Mas, como veremos, André publicou também um livro que foi um sucesso editorial até hoje.  

Tomás deverá ter feito em Évora os estudos preparatórios para a Universidade: Latim, Grego, Retórica, Humanidades. Partiu ainda de tenra idade para Salamanca, onde certamente frequentou Artes e depois Medicina em quatro cursos de 1529 a 1531. Com o Prof. Agostinho Lopes (de origem portuguesa, conhecido em Salamanca como Agustin Lopez), graduou-se Bacharel em Medicina em 5 de Abril de 1533.

Não sabemos o que fez nos anos seguintes, mas apenas que em 1538 foi nomeado Lente de Véspera em Medicina, a aula das seis da tarde. Já a Universidade tinha sido transferida para Coimbra por D. João III. Eram seus colegas, os professores Henrique de Coelhar, português (1483 – 1558?) e Rodrigo Reinoso, espanhol (1494-1557).

D. João III nomeou-o seu médico pessoal e diz-se que, de vez em quando, se ausentava de Coimbra para ir curar o Rei. Mais tarde, medicou também D. Sebastião.

O seu prestígio junto da Corte pode aferir-se dos aumentos de ordenado. Começou por receber 20$000 réis anuais, quantia que foi duplicada, ao fim de três anos, em 1541. Em 1545, por ser físico de El-Rei, D. João III deu-lhe mais 36$620 réis; em 1546, mais 10$000 réis; em 1551, mais outros 10$000 réis. Total: 96$620 réis. Por fim, em 1557, a Rainha viúva elevou-lhe o ordenado para 120$000 réis anuais, o que era uma importância enorme para a época. Este principesco aumento de ordenado, determina-o a Rainha no Alvará de 23 de Novembro de 1557, em que também lhe atribui a cadeira de Prima de Medicina, a das 6 da manhã, que, porém, já leccionava desde 9 de Outubro anterior.  

Tomou posse oficialmente das novas funções didácticas em 3 de Janeiro de 1558.

Ainda em 1558, teve o gosto de ser nomeado Cavaleiro da Ordem de São Tiago. Esta Ordem era mais tolerante em aceitar cristãos-novos que a de Cristo. De facto nos Estatutos da Ordem, de 1542, consta:

E além disso que elles (as pessoas a que se houver de lançar o hábito), e seus pais, mães e avós de ambas as partes não fossem judeus nem mouros; mas se algum alumiado da graça de Deus se converter à nossa Santa Fé, e for tal pessoa de que a Ordem seja servida, ou honrada, em tal caso o poderá o Mestre receber a ella” (Estatutos, Cap. IV, A que pessoas se há de dar o hábito).

Foi-lhe lançado o hábito a 2 de Outubro de 1558, no Mosteiro de Santos; testemunhas, o Dr. Diogo de Santiago, Cavaleiro da Ordem de Avis e o Dr. Diogo Lopes, Cavaleiro da Ordem de Santiago. (Francis A. Dutra, obra citada, p. XVII-144).

Entretanto, poucos dias antes, a 29 de Setembro, novo Alvará da Rainha que lhe é favorável. Ao fim de vinte anos de bom e efectivo ensino, é jubilado, nos termos legais, continuando, porém, por opção sua, a dar aulas na Universidade; fica a auferir 80$000 réis anuais como jubilado e 66$666 réis, como remuneração das aulas. Ensinou praticamente até à morte, durante quarenta anos.

As indicações genealógicas da descendência de Tomás Rodrigues da Veiga são muito parcas. Barbosa Machado diz que teve dez filhos e uma filha e que todos abraçaram o estado religioso, menos um, Rui ou Rodrigo Lopes da Veiga, Lente de Prima da Faculdade de Leis. Alberto da Rocha Brito diz que um dos filhos se entregava ao comércio em Antuérpia, mas achamos isso muito pouco provável. Será muito difícil conseguir descobrir o nome de todos os filhos. J. L. Manso de Lima indica o nome de apenas cinco:

Rui Lopes da Veiga, já referido

Luis da Veiga, Presbítero do Hábito de S. Pedro

P.e Fr. Simão da Veiga, Religioso de S. Agostinho

Manuel da Veiga, Jesuíta

Fr. Dr. Pedro da Veiga, dos Eremitas de S. Agostinho

 

O primeiro e os dois últimos são biografados na Bibliotheca Lusitana, de Barbosa Machado.

Manuel da Veiga (1549-1640) fez uma carreira bem sucedida na Polónia, Lituânia, Transilvânia, Chéquia e na Itália, em diversas cidades. Por ser cristão novo, houve dificuldades para entrar na Companhia de Jesus mas foi admitido por atenção a seu pai, grande benfeitor dos Jesuítas (Diccionario histórico de la Compañia de Jesus).

Rui Lopes da Veiga formou-se em Leis e era Lente de Instituta em 1569, passando a Lente de Prima em 1590. Jubilou-se em 1595, mas foi reconduzido no ensino. Foi Desembargador da Casa da Suplicação e de Agravos, tendo falecido, segundo Barbosa Machado, em 17 de Janeiro de 1600. Casou com D. Helena Pinheiro, do ramo dos Barbosas, de quem teve cinco filhos. Era Cavaleiro da Ordem de Cristo, armado em 1580. Três filhos seguiram a vida religiosa; os outros dois:

- Nicolau da Veiga Pinheiro casou rico com D. Mécia da Silveira, filha de Filipe Carneiro, de Alcáçova;

- Tomé Pinheiro da Veiga (1571 – 1656) foi Juiz e político notável, Procurador da Coroa, Chanceler da Casa da Suplicação, Vedor da Fazenda da Rainha, Desembargador do Paço, e Chanceler-mor do Reino. Deixou obra literária, nomeadamente um manuscrito de memórias a que chamou algures Fastiginia, insinuando que teria sido impressa, o que era falso. Em 1911, José Pereira de Sampaio publicou o livro a partir do manuscrito da Biblioteca Municipal do Porto, que depois foi traduzido para castelhano (versão citada); republicada pela IN-CM em fac-simile em 1988 e 2009, com prefácio de Maria de Lurdes Belchior. Tinha muito sentido de humor, mas era severo no exercício dos seus cargos, tanto assim que chegaram a satirizá-lo em verso, chamando-o cristão novo:

 

Ao desembargador do Paço Thomé Pinheiro da Veiga que parecia tinha raça de christão novo

 

O vosso nome, Thomé,

tem dois notáveis em um só,

se por cão vos chamam – tó,

se por bode vos dizem – .

 

Se Pinheiro vos dizeis,

é nome de tal maneira,

que a lenha para a fogueira,

no mesmo nome trazeis.

 

Nem vos falta para arder,

lugar muito acomodado,

que, para seres queimado,

vossa Veiga o pode ser.

 

Tomé Pinheiro da Veiga não casou, mas teve dois filhos de sua “manceba” (como diz Felgueiras Gaio, na Genealogia): Nicolau Pinheiro e Luis Pinheiro da Veiga. Este último formou-se e foi Desembargador do Porto, mas depois enveredou pela vida religiosa no Convento de Santo António da Figueira, com o nome de Frei Luis de S. Francisco. Parece ter sido grande pregador, em face do elenco de publicações na biografia que Barbosa Machado, Inocêncio e a Grande Enciclopédia Luso-Brasileira dele dão.

 

Estes os dados conhecidos e com alguma relevância da descendência do Dr. Tomás Rodrigues da Veiga. Deverá ser verdade que todos os filhos à excepção de um, ingressaram na vida religiosa, porque essa era a melhor defesa contra a Inquisição.

Não se prova que algum dos filhos fosse mercador para Antuérpia. Em Antuérpia estavam alguns dos irmãos e muitos sobrinhos que lá enriqueceram. Também não é verdade que lá tivesse um neto, como também foi dito. O médico Garcia Lopes, no último capítulo do seu livro, dedicado a Tomás R. da Veiga diz:  "...quod et tu scire potes ex fratribus tuis, quos cum alloquor, de teque incidit sermo, vix credas quanta lætitia afficiar, te tuaque omnia laudando: idemque etiam intelliges ex meo iudicio in tuos commentarios, quos in artem medicinalem Galeni peritissimos et elegantissimos composuisti, quos minhi ostenderat Typographus, cui eos nepos tuus imprimendos tradiderat" (pag. 80 v. e 81 r.). Nepos tuus, aqui tem de ser sobrinho e não neto, como já se escreveu. Este sobrinho deveria ser um dos quatro filhos de Manuel Rodrigues d’Évora (todos com uma cotação muito elevada em Antuérpia), a quem o tio encarregou de levar o manuscrito do seu livro para negociar a impressão na tipografia de Christophorus Plantinus. Isto terá acontecido por volta de 1562 ou 1563; tanto o livro de Garcia Lopes como o primeiro livro de Tomás, datam de 1564, ambos impressos em Antuérpia. Quanto aos irmãos que Garcia Lopes diz ter encontrado em Antuérpia, um deles seria sem dúvida Manuel e também poderiam estar na cidade, André Rodrigues d’Évora, e Simão Rodrigues d’Évora. Aliás, naquela data, os netos, a terem já nascido, seriam ainda crianças.

O filho mais velho de Manuel Rodrigues d’Évora, Simão, comprou em 1601 o título e propriedades de Barão de Rodes.

 

Regressando à vida de Tomás Rodrigues da Veiga, A. M. da Rocha Brito narra com certo desenvolvimento a afronta que a Câmara de Coimbra fez ao Professor já ancião, em 1577. Já o seu filho Rui Lopes da Veiga era, então, Professor na Faculdade de Leis, de Digesto Velho.

Para a expedição que findou no desastre de Alcácer Quibir, D. Sebastião ordenou à Câmara de Coimbra que angariasse junto dos cidadãos leigos da cidade (excluindo pois os frades e clérigos), três mil cruzados, isto é, um conto e duzentos mil réis, a repartir em função dos rendimentos de cada um. A Câmara, que era dirigida pelo Juiz de Fora Soveral entendeu que a parte a pagar pelo Prof. Tomás R. da Veiga seriam cem cruzados, ou sejam, 40$000 réis, quase um terço do ordenado anual dele. Convocaram-no então sob o pretexto de lhe solicitarem informações sobre as condições sanitárias do burgo. Chegado lá, mandaram-no sentar num banco baixinho, destinados aos mesteres impetrantes que ali se dirigiam. Tomás R. da Veiga recusou sentar-se ali e exigiu uma cadeira, que a custo lhe deram. Terminada a consulta que lhe pediam, disseram-lhe para pagar os cem cruzados para o Rei, o que deixou o homem atrapalhado porque não os tinha. Ameaçaram-no então que, se não pagasse, seria feito prisioneiro no Castelo da cidade. Valeram-lhe o Reitor da Universidade e James de Morais, que lhe emprestaram o dinheiro.

Dias depois, reuniu-se o claustro pleno da Universidade e decidiu eleger o Dr. Frei Agostinho da Trindade para ir a Lisboa queixar-se do acontecido, a afronta feita pela Câmara a um decano da Universidade.

 

Enquanto todos os autores dizem maravilhas sobre Tomás Rodrigues da Veiga, os historiadores da Medicina são muito mais moderados. Maximiano de Lemos revela pouco entusiasmo, mas Pedro A. Dias, em 1895, mostra-se muito desiludido: “… a leitura das suas obras deixa-me frio, e indiferente a tanto entusiasmo. Não encontro nelas a centelha que deslumbrou tantos homens insignes. Lendo-as mesmo com a reflexão, que recomenda Zacuto, não descubro couza que possa comparar-se ao que achamos nas do grande Rodrigo de Castro, do erudito Henrique Jorge Henriques, do talentoso e douto Zacuto, do respeitável e sábio Amato, do probo Ambrósio Nunes, e doutros ilustres médicos desse tempo, todos mais ou menos ofuscados entre nós pela fama de Rodrigues da Veiga.

Suponho que a explicação para esta divergência se deve a duas ordens de factores. Por um lado, boa parte dos encómios dados a T. R. da Veiga vem de cristãos novos, irmãos de raça que dele só podiam dizer bem.

Desde logo, Bento de Castro que no seu livrinho elenca os médicos de ascendência judia, mesmo dos que não estavam interessados em que tal se soubesse (pag. 70): “Adest in primis Thomas Rodericus a Vega, philosophus eximius, Johannis Tertii et Sabastiani Regum Lusitaniæ Archiater, et in florentissima Conimbricensi Academia primarius professor, cui hoc munus, ut ille ait, aut animi fervore, aut litterarum amore fordebat, etc..” 

Depois, Zacuto Lusitano também não poupa elogios. Na Observação III, no Livro 3, da Praxis medica admiranda (pag. 887  do software do 2.º volume da Opera), conta como o Rei D. Sebastião, no caminho de Coimbra para Lisboa, ao ver um pescador moribundo depois de grandes tonturas, mandou chamar Tomás Rodrigues da Veiga, que o curou com odores marinhos de algas e limos. Diz Zacuto: "Rex, pietate et commiseratione commotus, iussit ut vocaretur Thomas à Veiga, Archiater suus, et in florentissima Conimbricensi Academia primarius Medicinæ Professor emeritus, artis Hippocraticæ summus Antistes, Medicinæ Phœnix, cuius rara monumenta, raram ostendunt eruditionem, in quibus vix scias, an subtilitas ingenii, semonis puritatem; an hæc, rerum abstrusarum scientiam antecellat, ob quæ in Rempublicam litterariam merita, Lusitaniæ est laudi et exteris omnibus admirationi".

Henrique Jorge Henriques, no Retrato del perfecto medico: “aquel admirable y perfecto Medico, que otro hasta el dia de oy no há avido, desde los Gentiles, Thomas Rodriguez de Vega, varón cierto digno de ser alabado por outra mejor eloquencia de lo que es la mia, como sus obras muy llenamente muestran…” (pag. 116-117)

Estêvão Rodrigues de Castro: “praeceptorem Thomam Rodericum a Veiga, quem merito semper venerabor” (Syntaxis, p. 253). E ainda “Thomas Rodericus a Veiga nostrus, præceptorque meus valde honorandus” (Tractatus de natura muliebri, pag. 45).

Garcia Lopes, no meio de muitos louvores, no trecho já acima citado: “etiam intelliges ex meo iudicio in tuos commentarios, quos in artem medicinalem Galeni peritissimos, et elegantissimos composuisti” (Cap. 27, pag. 81 r). 

A segunda razão para o prestígio de T. R. da Veiga deverá ter sido o seu feitio amigável que ressalta dos poucos elementos que conhecemos, nomeadamente dos documentos transcritos por A.M. da Rocha Brito. Deveria ser pessoa que se dava muito com colegas e alunos e por isso, só podiam dizer bem.

Que o seu prestígio era imenso, di-lo bem o facto de o Padre António Vieira no século seguinte o chamar num Sermão, “oráculo da medicina” e “Magnus Thomas”.

No início do livro de Garcia da Orta, Colóquios dos simples e drogas da Índia, figura uma carta de Dimas Bosque dirigida a Tomás Rodrigues da Veiga, datada de Goa, 5 de Abril de 1563, o autor recomenda a Garcia da Orta, que ponha o seu livro sob a égide do Professor de Coimbra. Destaca as suas qualidades, incluindo a preocupação de ter plantas medicinais no horto de sua casa. Esta carta levou A. M. da Rocha Brito a qualificar T.R. da Veiga como ervanário, o que é certamente um exagero.

Quanto às razões por que nunca foi perseguido pela Inquisição, são mais do que evidentes. Ele gozou sempre da protecção Real e deveria ser pessoa que tinha poucos ou nenhuns inimigos. Acolheu-se também à protecção dos Jesuítas, que o consideravam seu “benfeitor”; além disso era médico dos dois irmãos Jesuítas Luis e Martim Gonçalves da Câmara, o primeiro mais poderoso porque confessor de El-Rei D. Sebastião.

Teve a preocupação de orientar muitos dos seus filhos para a vida religiosa, o que era uma atitude prudente para um cristão novo naqueles tempos.

 

OBRA

  

Commentaria in Galenum, quibus complectitur interpretatio trium librorum Arti Medicae, & librorum sex de locis affectis. Antuerpiae apud Christophorum Plantinum, 1564. 

 

Commentariorum in Claudii Galeni Opera, medicorum principis complectens interpretationem Artis Medicae, & librorum sex De locis affectis, authore Thoma a Veiga Eborensi.  Antuerpiae: ex Officina Christophori Plantini, 1566. Tomus primus. Tomus secundus

 

Thomae Roderici à Veiga, Commentarij in libros Claud. Galeni duos De febrium differentiis. Conimbricae: apud Ioannem Barrerium, 1578 

Online: http://books.google.com

Complutense – Madrid: http://alfama.sim.ucm.es/dioscorides/consulta_libro_b.asp?ref=x533572109

Univ. Coimbra – Bib. Digital

http://bdigital.sib.uc.pt/bg6/UCBG-R-13-16/UCBG-R-13-16_item1/index.html

 

Thomae Roderici a Veiga, Opera omnia quae ad hunc vsque in lucem prodierunt...

Lugduni: apud Ioannem Lertout, 1586 (Excudebat Franciscus Forest, 1586)

Nota: O autor do poema no início do livro, Johannes Goropius Becanus era amigo do Editor Christophorus Plantinus e deve tê-lo escrito a solicitação deste.

Online: http://books.google.com

Online: Complutense - Madrid

http://alfama.sim.ucm.es/dioscorides/consulta_libro_b.asp?ref=x533801523

  

Thomae Roderici a Veiga, Eborensis, Doctoris Medici, Et Gravissimi Philosophi opera omnia in Galeni libros edita, & commentarijs in partes nouem distinctis, expressa, quibus nodi difficultatum: prae superioribus editionibus elimata, & exacta qua potuit fieri correctione, typis exarata  

[S. l.: Lugduni]: apud Petrum Landry, 1587 (Excudebat Franciscus Forest, 1586)

Online: http://books.google.com

Online: Complutense - Madrid

http://alfama.sim.ucm.es/dioscorides/consulta_libro_b.asp?ref=x533801442

  

[Opera omnia in Galeni libros edita] Thomæ Roderici A Veiga, Eborensis, Doctoris Medici, Et Gravissimi Philosophi, Opera omnia in Galeni libros edita,& commentarijs in partes nouem distinctis, expressa, quibus nodi difficultatum in Medicina frequentes, soluuntur, classicorumque medicorum controuersiæ, veritatis lima expenduntur. Annectus est insuper Rerum & Verborum sese occurrentium, Index vberrimus, quo quiuis legentium in eorum indagatione, ad Alphabeticos gradus recurrens, potest subleuari

Lvgdvni, Apvd Petrvm Landry, 1594 ou 1593?, Excudebat Joannem Tolozanum

 

Os livros de Tomás Rodrigues da Veiga são essencialmente comentários às obras seguintes de Cláudio Galeno:

De locis affectis libri VI

De differentiis febrium libri II

Ars Medica

 

Mantém os títulos originais; deste grupo, vem  a indicação de nove livros no título; a divisão de Ars Medica em três livros é iniciativa de T.R. Veiga.

  

Obra póstuma:

 

Thomae Roderici a Veiga Pro Arte Medica Doctoris celeberrimi, ejusdemque Professoris Primarij in Academia Conimbricensi Practica Medica: cui accessit ejusdem auctoris Tractatus de Fontanellis, & Cauterijs

Ulyssipone: ex Typographia Joannis a Costa Senioris: sumptibus Josephi Ferreira

Bibliopolae Conimbricensis, 1668 

 

 

Escritos publicados (para além das obras):

 

- O prefácio do livro de Henrique de Coelhar, publicado em 1543, impresso na Tipografia de João Álvares e João Barreira transcreve uma carta (naturalmente elogiosa) de Tomás Rodrigues da Veiga.

- O livro citado de André Rodrigues d’Évora de Andrade ou André Rodrigues Eborence contém uma carta dirigida pelo Dr. Tomás ao autor seu irmão em resposta a uma carta deste que a precede: “Carissimo Fratri, claro ac circunspecto Viro ANDREÆ Eborensi, Thomas Roderici Doctor Medicus”; estende-se por duas páginas e meia.

  

MANUSCRITOS:

 

1 - Existe na British Library na secção Harleiana sob o n.º 6889, um manuscrito de 180 folhas, com o título “In aphorismos Hyppocratis Coi medicorum Principis. Commentarii sapientissimi Doctoris Thoma Roiz da Veiga Eborensis”. Na primeira página tem indicado o nome Georgii Roiz de Castro.

O Visconde de Figanière, no catálogo que publicou em 1853 interroga-se se é a mesma obra mencionada por Barbosa Machado com o título “Commentarii in libros Hippocratis de victus ratione”.  Teresa Santander, na obra citada, defende a ideia de que se trata de apontamentos feitos por estudantes, argumentando sobretudo com o uso do adjectivo “sapientissimi” que T. Rodrigues da Veiga não atribuiria a si próprio.  Mas a verdade é que o título pode ter sido aposto por outrem. Além disso ela refere que “de victus ratione” seria um comentário a Hipócrates, como o nome diz.  De qualquer modo, ela também não viu o manuscrito.

Apesar da referência de Barbosa Machado, o “Commentarii in libros Hippocratis de victus ratione” não aparece em lado nenhum. Se aparecesse, entendo que seria ainda um comentário a Galeno, em relação à obra deste “De victus ratione in morbis acutis in Hippocratis sententia”, embora Karl Gottlob Kühn considere ser o livro de “origem suspeita”.

Pode ser de Tomás Rodrigues da Veiga ou não, será preciso que alguém estude o manuscrito, o que ainda ninguém fez.

 

2 – Jacobo Sanz Hermida, no artigo citado, refere um outro manuscrito n.º 7048 da Biblioteca Nacional de Paris, bastante volumoso, com 291 folhas, onde trata da febre epidémica até à pag. 283 v., ocupando-se a seguir do “mau olhado”, de pags. 284 r. a 291 v., com o título “Relectiones de fascinatione”. Também este seria da autoria de Tomás Rodrigues da Veiga.

Também aqui, será necessário um exame mais profundo do manuscrito.

 

 

TEXTOS  CONSULTADOS

 

Francisco Leitão Ferreira, Notícias chronologicas da Universidade de Coimbra, Coimbra: Universidade, 1937-1956, 5 vols.

 

Florbela Veiga Frade, As relações económicas e sociais das comunidades sefarditas portuguesas [ Texto policopiado]: o trato e a família: 1532-1632 /; orient. A. A. Marques de Almeida, Tese dout., História (História Moderna), Dep. de História, Fac. de Letras, Univ. de Lisboa, 2006, 480 pags.

 

José Sebastião da Silva Dias (1916-1994), Os descobrimentos e a problemática cultural do século XVI, Coimbra, Universidade, 1973

 

António Manuel Lopes Andrade, O Cato Minor de Diogo Pires e a poesia didáctica do século XVI, Tese de Doutoramento, Universidade de Aveiro, 2005, texto policopiado, 554 pags.

 

Julio Caro Baroja (1914-1995), Los judíos en la España moderna y contemporánea, Madrid, Arion, 1962, 3 vols.

 

Charles O’Neill E, (coord..), Diccionario Historico de La Compañía de Jesus, Madrid, Universidad Pontificia Comillas, 2001, 4 vols.

 

Maximiano Lemos (1860 – 1923), História da medicina em Portugal: doutrinas e instituições; pref. Maria Olívia Rúber de Meneses, Lisboa, Dom Quixote, Ordem dos Médicos, 1991, 2 vols.

 

Alberto Moreira da Rocha Brito (1885-1969), O doutor Tomás Rodrigues da Veiga: ilustre ervanário, sep. do Jornal do Médico, XIII (323) 408-409, 1949.

 

Hans Pohl, Die Portugiesen in Antwerpen, 1567-1648: zur geschichte einer Minderheit, Wiesbaden, Franz Steiner, 1977.

 

Entrada "Veiga, Tomé Pinheiro da (1566 ou 1571-1657)", Dicionário de História de Portugal, coordenação de Joel Serrão, Liv. Figueirinhas, Porto, 1965.

 

O Doutor Tomás Rodrigues da Veiga, lente de Medicina, ameaçado de prisão pela Câmara no Castelo de Coimbra, in O INSTITUTO, vol. 92 - 2.ª parte, 1942, pag. 701-726

Online: http://bdigital.sib.uc.pt/institutocoimbra/UCBG-A-24-37a41_v092_2/UCBG-A-24-37a41_v092_2_item1/P272.html

 

Estêvão Rodrigues de Castro, Obras poéticas em português, castelhano, latim, italiano, texto editor e inéditos coligidos, fixados, prefaciados e anotados por Jacinto Manuppella, Coimbra, Imprensa da Universidade, 650 págs.

Online: http://books.google.pt

 

Estêvão Rodrigues de Castro, Syntaxis praedictionum medicarum... Accessit triplex ejusdem authoris elucubratio I. de chirurgicis administrationibus; II. de potu refrigerato; III. de animalibus microcosmi. (Edente Francisco Castrense.), Lugduni: sumptibus P. Borde, L. Arnaud et C. Rigaud, 1661, In-4 ̊, pièces liminaires, 452 p. et l'index

Online: http://web2.bium.univ-paris5.fr/livanc/?cote=08232&do=chapitre

 

Estêvão Rodrigues de Castro, Tractatus de natura muliebri, seu, disputationes ac lectiones pisanae, nunc primum in lucem editus - Francofurti: Sand, Hermann von <1662-1689?>, 1668

Online: http://gdz.sub.uni-goettingen.de/dms/load/img/?IDDOC=425058

 

Retrato del perfecto medico, dedicado a Don Antonio Alvarez de Toledo Beaumont, Duque de Alva, y de Huescar, Marquês de Coria, Alferez mayor, y Condestable de Navarra, Conde de Lerin, y de Salvatierra, Señor de Val de Corneja, & c., compuesto por el Licenciado Henrico Jeorge Anriquez Lusitano, Medico de su Câmara, Lector ordinário de Artes que fue en la Universidad de Salamanca, y en la de Coimbra substituto de la Cathedra de Avicena. Y despues primero electo para la Cathedra de practica de Medicina en la dicha Universidad.

En Salamanca en casa de Juan y Andrés Renaut Impressores. 1595

Online: http://alfama.sim.ucm.es/dioscorides/consulta_libro.asp?ref=X533265966&idioma=0

  

Garciæ Lopii Commentarii de varia rei medicae lectione, Medicinæ Studiosis non parum utiles. Quorum Catalogum ab Epistola sequens pagella indicabit. ANTVERPIAE, Apud Viduam Martini Nutii, M D LX IIII, Cum Gratia et Privilegio.

Online: http://books.google.com

 

Simão José da Luz Soriano, Revelações da minha vida e revelações de alguns factos e homens, meus contemporâneos, Typographia Universal, Lisboa, 1860

Online: http://books.google.com

 

Jacobo Sanz Hermida, Dos tratados médicos quinientistas contra el mal de ojo: los opúsculos de Gaspar de Ribeiro y Tomas Rodrigues da Veiga, em Estudos in memoriam Carlos Alberto Ferreira de Almeida, ed. Mário Jorge Barroca,Porto: Universidade, 1999, págs. 337-348.

Online: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3222.pdf

 

Antonio Fernandez Morejón, Historia Bibliografica de la Medicina Española, III vol., Madrid, 1843.

Online: http://books.google.com

 

António José Saraiva, The Marrano Factory, The Portuguese Inquisition and Its New Christians (1536–1765), traduzid, revisto e aumentado por H.P. Salomon and I.S.D. Sassoon, Brill, Leiden, Boston, Köln, 2001

 

Andreas Schottus, Hispaniae Biblioteca, Francofurti, Apud Claudium Marnium et hæredes Joan. Aubrii, M DC VIII.

Online: http://books.google.com

 

Philotheo Castello ou Bento de Castro, Flagellum Calumniantium seu apologia in qua anonymi cujusdam calumniae refutantur ejusdem mentiendi libido detegitur, clarissimorum lusitanorum medicorum legitima methodus commendatur, empiricorum inscitia ac temeritas tamquam perniciosa reipublicae damnatur, auctore Philotheo Castello, Dulce bello inexpertis, Amstelrodami, 1631,

Online: http://www.ub.uni-kiel.de/digiport/bis1800/Kd810.html

 

Zacuti Lusitani, Medici et Philosophu Præstantissimi,  Operum tomus primus, in quo ″De Medicorum principum historia″ libri sex ubi medicinales omnes historiae, de morbis internis quae passim apud principes medicos occurrunt, concinno ordine disponuntur, paraphrasi et commentariis illustrantur, necnon quaestionibus, dubiis et observationibus exquisitissimis exornantur. Editio postrema, a mendis purgatissima. Lugduni: sumptibus Joannis Antonii  Huguetan, filii, et Marcii Antonii Ravaud, 1649, Cum privilegio Regis Christianissimi.

Online: http://web2.bium.univ-paris5.fr/livanc/?cote=00342x01&do=chapitre

  

Zacuti Lusitani, Medici et Philosophu Præstantissimi,  Operum tomus secundus, in quo ″Praxis historiarum″ ubi morborum omnium internorum curatio ad principum medicorum mentem explicatur, graviora dubia ventilantur ac resolvuntur, practicae denique observationes permultae suis locis insperguntur. Praemittitur ″Introitus medici ad praxin″, necnon ″Pharmacopoea elegantissima″. Accessit ″Praxis medica admiranda ab ipsomet autore non parum de novo locupleta: in qua Exempla rara, mirabilia, monstrosa, circa abditas morborum causas, signa, eventus atque curationes proponuntur.″  Lugduni: sumptibus Joannis Antonii  Huguetan, filii, et Marcii Antonii Ravaud, 1649, Cum privilegio Regis Christianissimi.

Online:http://web2.bium.univ-paris5.fr/livanc/?cote=00342x02&do=chapitre

 

Henrique de Coelhar, Enrici a Cuellar medice facultatis professoris primi opus insigne ad libros tres predictionum Hippocr.; Commento etiam Gal. aposito et exposito; Anotationes eiusdem sup[er] primo libro que interlege[n]dum occurrere... - Conimbricam  ex offi. Iohannis Aluari & Iohannis Barrerij, 1 Abril 1543. - [8], 448, [12] f.

Online: http://bdigital.sib.uc.pt/bg6/UCBG-R-21-16/UCBG-R-21-16_item1/P8.html

 

Garcia da Orta, Colóquios dos simples e drogas da Índia, Ed. dirigida e anotada pelo Conde de Ficalho. Lisboa, Imprensa Nacional 1891-1895, 2 vols.

Online: www.archive.org

 

André Rodrigues Eborense, Sententiae et exempla exprobatissimis quibusque scriptoribus collecta, Moguntiæ, 1602 Excudebat Balthasar Lippius

Online: http://books.google.com

 

José Justino de Andrade e Silva, Regra, Estatutos, Definições e Reformação da Ordem e Cavallaria de Sant’Iago da Espada, Collecção chronológica da Legislação Portuguesa, 1627-1633, fls. 1 e ss.

Online: http://iuslusitaniae.fcsh.unl.pt/verlivro.php?id_parte=97&id_obra=63&pagina=35

 

Miguel Leitão de Andrada, Miscellanea, Lisboa, Imprensa Nacional, 1867.

Online: www.archive.org

  

P.e Francisco da Fonseca, Évora Gloriosa, Roma, na Oficina Komarekiana, 1728.

Online: http://books.google.com

 

Karl Gottlob Kühn, Claudii Galeni Opera Omnia, Lipsiæ, 1830.

Online: http://books.google.com

 

Teofilo Braga (1843-1924), Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a Instrucção Publica Portugueza, Lisboa: Typ. da Academia Real das Sciencias, 1892-1902, 4 vols.

Online: www.archive.org

 

Anónimo, Compendio Historico do estado da Universidade de Coimbra no tempo da invasão dos denominados Jesuitas e dos estragos feitos nas sciencias e nos professores, e directores que a regiam pelas maquinações, e publicações dos novos Estatutos por elles fabricados, Lisboa: na Regia Officina Typografica, 1772

Online: http://books.google.com

  

António Manuel Lopes Andrade, O Cato Minor de Diogo Pires e a poesia didáctica do século XVI [ Texto policopiado] /; orient. Carlos Manuel Bernardo Ascenso André, João Manuel Nunes Torrão, Tese dout., Literatura, Dep. de Línguas e Culturas, Univ. de Aveiro, 2005, 554 fls.

Online: http://ria.ua.pt/bitstream/10773/4950/1/197048.pdf

 

J. Gentil da Silva, Stratégie des affaires à Lisbonne entre 1595 et 1607: lettres marchandes des Rodrigues d'Evora et Veiga, Paris: Libr. Armand Colin, 1956

 

Valentín Vasquez de Prada, Lettres marchandes d'Anvers, École Pratique des Hautes Études, 4 vols. França

 

Francis A. Dutra, Military orders in the early modern Portuguese world: the Orders of Christ, Santiago and Avis, Aldershot, Ashgate, cop. 2005, ISBN 0-86078-998-5

 

María Jesus Pérez Ibáñez, El humanismo médico del siglo XVI en la Universidad de Salamanca, Universidad de Valladolid, 1997, ISBN 84-7762-796-7

 

Maria Teresa Santander Rodríguez, Hipócrates en España (siglo XVI), Madrid: Dirección General de Archivos y Bibliotecas, 1971

 

Thomas Michel, S.J. (Editor), Friends on the way - Jesuits encounter contemporary Judaism, Fordham University Press, New York, 2007, ISBN 978-0-8232-2811-9 - Papers delivered at the Third International Colloquium of Jesuits in Jewish-Christian dialogue, which was held at Bad Schömbrunn in Zug, Switzerland, from July 18 to 23, 2005.

 

Tomé Pinheiro da Veiga, Fastiginia o fastos geniales, trad. por Narciso Alonso Cortés; prologo de José Pereira de Sampaio, Valladolid: Impr. del Colegio de Santiago, 1916

Online: www.archive.org

 

Tomé Pinheiro da Veiga (TURPIN), Fastigimia, prefácio de Maria de Lurdes Belchior, IN-CM, 2009, ISBN 978-972-27-1642-0, 377 pag.

 

Innocêncio Francisco da Silva, T. 1-9: 1858-1870, T. 10-22: Diccionario bibliographico portuguez / continuado e ampliado por Brito Aranha; rev. por Gomes de Brito e Álvaro Neves. - 1883-1923, T. 23: Guia bibliografica / por Ernesto Soares. - XXVIII, 762, p. [T. 24]: Aditamentos ao dicionário bibliográfico português / por Martinho da Fonseca. - [10], 377, [2] p.

Online: http://books.google.com

 

Bibliotheca lusitana historica, critica, e cronologica: na qual se comprehende a noticia dos authores portuguezes, e das obras, que compuserão desde o tempo da promulgação da Ley da Graça até ao tempo presente, por Diogo Barbosa Machado (1682-1772), 4 vols., 1741.

 

Jacinto Leitão Manso de Lima (1690 – 1753), Famílias de Portugal, Genealogia manuscrita, 15 vols.,dactilografado e policopiado por volta de 1930. Bib. Nacional.

 

 

 

 

THOMAZ RODRIGUES DA VEIGA, illustrou a Cidade de Evora com o nascimento, e a de Coimbra com o magisterio, sendo Cathedratico de Medecina pelo espaço de quarenta e dous annos, onde tomou posse da Cadeira de Prima a 3 de Janeiro de  1558, e nella jubilou a 29 de Setembro de 1589. Foy Fisico mór del-Rey D. João III. e de D. Sebastião que lhe deu o habito militar da Ordem de São-Tiago. Teve dez filhos, e huma filha de legitimo matrimonio que todos abraçaram o estado religioso, excepto Ruy Lopes da Veiga Lente de Prima de Leys em a Universidade de Coimbra. Pay do celebre Thomé Pinheiro da Veiga de quem se fará larga memoria em seu lugar. Falleceo em Coimbra a 26 de Mayo de1593. Jaz sepultado na Freguezia de S. João de Almedina. Ao seu nome dedicarão varios elogios grandes Escritores como são Zacuto de  Med. Princip. Histor. lib. 2. hist. 15. quaest. 12. hist. 59. quaest. 36. omnium eruditissimorum Medicorum voto doctissimus; & lib. 3. de Prax. Med. Observ. 103. Artis Hipocraticae summus Antistes, Medecinae Phaenix.Cardoso de sex rebus non naturali cap. 2. quaest. 3.insignis Praeceptor.  Renat. Moreau de Pleuritid. inclaruit scriptis.Maris Dial. dos Reys de Portug.Dial. 5. cap. 3. E mais insigne que todos os que em muitos seculos florecerão no mundo.  Madeira Nova Philosoph. Part. 1. Disp. 1. sect. 3. n. 6. acutissimus,& gravissimus. Hyer. Non.de ration. curand.cap. 3. acutissimus,&,deligentissimus rei medicae indagator, cujus monumenta singularem, raramque eruditionem ostendunt.Lopes  de Var. rei med. lection. cap. 27. Te, tuaque omnia laudando, idque intelliges ex meo juditio in tuos Commentarios quos in Artem medecinalem Galeni peritissimos,& elegantissimos composuisti. Franc.Camp. Elys. Jucund. Quaest. Quaest.93. n. 7.abstrusarum rerum scientia,  & solertissimo Praeditus ingenio.  Joan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litter.lit. T. n. 13. Nicol. Ant. Bib. Hisp.Tom. 2. p. 251. col. 1.Medicus Doctor,& Linter Lusitanos, qui veluti arcem hujus studii tenent nemini posthabendus.

 

Compoz

 

Commentaria in Galenum, quibus complectitur interpretatio trium librorum Arti. Medicae, & librorum sex de locis affectis. Antuerpiae apud Christophorum Plantinum 1564.  fol.

 

Commentaria in libros duos Galeni de Febrium differentiis. Primus de Febribus simplicibus. Secundus de humoralibus, & putridis. Conimbricae apud Joanem Barrerium 1578. 4.

 

Comentarii in libros Hipocratis de victus ratione. Sahiram todas estas obras. Lugduni apud Joannem Lertout 1586.  fol.& ibi apud Petrum Landry 1594.  fol.

 

Pratica Medica, cui accessit Tractatus de Fontanellis, & Cauteriis. Ulyssipone apud Joannem da Costa 1668.  4.

 

 

 

 

 

 

THOMÉ PINHEIRO DA VEIGA Cavalleiro professo da Ordem de Christo, nasceu em Coimbra no anno de 1571, para augmento dos antigos brasoens de tão illustre Cidade, e honorifico ornato da doutissima Familia de que procedia, pois foy filho de Ruy Lopes da Veiga, e Neto de Thomaz Rodrigues da Veiga ambos Cathedraticos de Prima da Athenas de Portugal; o primeiro da faculdade da Jurisprudencia Cesarea, e o segundo da Medicina. Teve por Mãy a D. Helena Pinheiro descendente da Casa de Aboim tão antiga, como illustre, e com a educação desta Matrona sahio instruido nas maximas Christãs, e politicas. Seguindo os litterarios vestigios de seu Pay estudou Direito Civil, e recebido o grao de Bacharel no anno de 1593, com tal excesso se distinguio dos seus condiscipulos que substituhio a cadeira de Prima que regentava seu Pay em quanto não voltava de Castella. O primeiro lugar que servio foy de Ouvidor da Esgueira Comarca de Coimbra, onde mostrou a summa integridade exactamente observada em toda a sua vida defendendo a jurisdição real contra a Casa de Aveiro donataria da Ouvidoria que possuia, cuja controversia o obrigou com dispendio da propria fazenda passar duas vezes a Valhadolid, onde estava a Corte, a primeira no anno de 1603, e a segunda no anno de 1605, e conseguio triunfar de todos os obstaculos maquinados contra a jurisdição real. De Ouvidor de Alanquer passou a Desembargador do Porto, e da Casa da Suplicação, de que tomou posse a 7 de Junho de 1617, e dos aggravos a 14 de Dezembro de 1620, Procurador da Coroa a 4 de Novembro de 1627, Chanceller da Casa da Suplicação, Vedor da Fazenda da Rainha, Desembargador do Paço, e Chanceller mór do Reino, cujo lugar servio duas vezes regeitando a propriedade por querer estar mais expedito em beneficio commum. Em tantos, e tão diversos lugares he impossivel a diligencia que aplicou, o desinteresse que observou, e o trabalho que padeceo revolvendo todo o Archivo da Torre do Tombo para augmentar o patrimonio Real, ordenando a todos os Provedores, e Corregedores que declarassem quaes erão os Senhores dos Padroados das Igrejas, para se saber os que estavão usurpados á Coroa, de cuja investigação se seguio o augmento de duzentos que lhe pertencia. Nas cinco vezes que ElRey D. João IV celebrou Cortes, elle foy o unico que examinou, e aprovou as Procuraçoens de 18 Cidades, e 75 Villas que compoem o Reino, resolvendo as duvidas que se moviam, e o que parece superior ás forças humanas respondendo a mil e oitocentos Capitulos dos Tres Estados do Reino, para cuja expedição trabalhavam tres Escreventes de dia, e noite. A fidelidade, que sempre constantemente observou para com a sua patria se admirou na intrepida liberdade com que resistia aos decretos delRey de Castella derigidos a vexar os Portuguezes com imposição de novos tributos, e outras idas injuriosas á isenção dos seus privilegios, por cuja oposição foy sinco vezes reprehendido, e suspenso dos lugares, que administrava, com ponto nos salarios que percebia, e como estivesse inflexivel no seu dictame quizeram os Ministros de Castella atrahirlhe a vontade com a promessa de merces igualmente honorificas, que rendosas, porém se desenganarão conhecendo que o seu coração era tão impenetravel ás caricias, como aos rigores. Os seus votos forão sempre regulados pelas maximas do Evangelho, e não pelos aforismos de Tacito, aconselhando o despacho dos benemeritos, principalmente sendo Soldados; o alivio dos povos na extração dos tributos, e a eleição dos Ministros mais doutos, e menos ambiciosos. Fez sempre brio de merecer tudo, e pedir nada, de tal modo que recebendo delRey D. João IV. as mais distintas honras, e com quem sempre conversava familiarmente todos os dias, dizendo-lhe em huma ocasião este Principe: Vede o que quereis? Respondeo. Senhor servir a minha patria, e a meu Rey, que eu hey de acabar como tragedia, como acabão os homens grandes, e notaveis. Constando-lhe, que o mesmo Monarca dissera em sua ausencia: Thomé Pinheiro quer que o roguem, não quer pedir?  respondeo á pessoa que lho disse. Thomé Pinheiro não ha de chegar a pedir, que quem serve como Thomé Pinheiro ha de ElRey rogar, e elle não ha de querer pedir. Juntou huma numerosa livraria, e nella recolhido lhe servia a lição dos livros de deleitavel parentezis das suas grandes ocupaçoens. Na Jurisprudencia especulativa, e pratica foy oraculo, em cujas profundas Decisoens, e maduros conselhos se admiravão renacidos os Bartolos, Baldos, Sempronios, e Papinianos. Foy dotado de graça natural, e judiciosa deixando na posteridade eternizadas as suas festivas repostas, e discretos apothemas. Foy casado com D. Catherina de Oliveira, de quem teve a Luiz Pinheiro Desembargador da Relação do Porto, o qual com heroica resolução deixou a Toga pelo sayal do Serafim humano chamando-se Fr. Luiz de S. Francisco de quem se fez larga memoria em seu lugar. Assistindo deste Apostolico Varão se preparou para a eternidade e depois de receber os Sacramentos com summa piedade expirou placidamente a 29 de Julho de 1656, quando contava a idade provecta de 85 annos posto que o epitafio da sua sepultura diga ser de 90. Acompanhado das Communidades religiosas, foy a sepultar na Casa de S. Antonio, onde nasceu este grande Thaumaturgo, e duvidando o Presidente do Senado de Lisboa, que em tal lugar se lhe desse sepultura por nelle se não enterrar pessoa alguma, mandou ElRey D. João IV. que esta Real Casa fosse jazigo de tão benemerito Vassallo. Na parede que está junto da sua sepultura se lê a seguinte inscripção que igualmente relata os lugares que possuio, como os legados pios que deixou.

 

Ao pé deste Epitafio jaz sepultado o Doutor Thomé Pinheiro da Veiga do Conselho de Sua Magestade seu Desembargador do Paço, Procurador da Coroa, Juiz das Capellas, Ouvidor de Fazenda da Rainha N. Senhora, e como Vedor della: de idade de 90 annos ad perpetua memoria por suas letras, inteireza, e experiencia, e exemplar erudição. Deixou na sua Capella de S. João de Coimbra seis Mercieiras, e Capellão; e em esta Santa Casa dous Capellaens com Missa Quotidiana para sempre pela sua alma: deu de esmola á Confraria de Santo Antonio quatrocentos mil reis por esta sepultura. Falleceo em 29 de Agosto de 1656.

    Requiescat in pace.   

 

A fama do seu nome se extendeo com tanta gloria pela Europa, que em hum livro de Retratos de Varoens insignes impresso em 1650 se vê o deste grande Jurisconsulto. O Senado de Olanda por carta escrita em Haya no anno de 1651 ao seu Residente em Lisboa, mandou que lhe remetesse o retrato natural de Varão tão insigne, e o collocaram no Senado entre os homens famosos da sua Nação. Ignacio Pereira de Revisionib.  Cap. 10. n. 22. e Simão de Oliveira da Costa de Munere Provisoris.  cap. 2. §. 20. o intitulam insignis.

 

Compôs

 

Carta escrita em o anno de 1656 sobre se levar salario de todos os legados cumpridos, e por cumprir. Sahio no Tom. 1. Decis. de Manoel Themudo da Fonseca Decis.16. n. 9. p. 73. Ulyssipone apud Dominicum Lopes Rosa. 1643. fol.

Repostas como Procurador da Coroa. ibi

Decis.98.n.32.

Decis.100. n. 5. No Tom. 2.

Decis.102. n. 11. p. 238. Tom. 3.

Decis.151. n. 2. p. 2.

 

Epitome da Vida do Doutor Gabriel Pereira de Castro Corregedor do Crime da Corte. O Original conservava meu irmão D. Jozé Barbosa Chronista da Serenissima Casa de Bragança, o qual he escrito com summa elegancia. Começa Tiverão entre si contenda muitas Cidades em Grecia, &c.Acaba Vivirá todos os seculos futuros. Nesta obra declara ter composto.

 

Discurso de Ministros de Justiça.

 

Dos Varoens illustres do Reino de Portugal.  Fallando nesta mesma obra de Duarte Pacheco Governador da India, de cujos gloriosos feitos rezervo a historia para meus melhores, o mais descançados annos.

 

Fastigenea, ou Fastos geneaes tirados da tumba de Merlin, onde forão achados, e publicados pelo famoso Lusitano Panteleão, que os achou em hum Mosteiro de Calouros repartidos em duas Partes; a primeira das festas que se fizerão pelo nacimento do Principe Filippe, depois Rey quarto, ao qual poz o titulo de Philistrea. A segunda Pralogia em que trata do entretenimento do Prado de Madrid, e boa conservação das Damas, por outro nome baratilho quotidiano. Vay acrecentada nesta Impressão a Pincigraphia, ou discrição, e historia natural de Valhadolid.  Sub signo Cornucopiae in foro Boario. Excudebat Cornelius Cornelli ex genere Corneliorum. À custa de Jaime de Temps perdut comprador de livros de Cavallarias.

 

Repostas de palavra, e por escrito a ElRey, e aos Tribunaes. 4. M. S. 4.

 

Pareceres, e Tençoens na lingoa Latina.  fol. 2. M. S.

 

Regimentos para diversos Tribunaes feitos por ordem delRey D. João IV. Fol  M. S.

 

Poezias varias 8  M. S.

 

Discretos, e elegantes Apothemas. M. S.