25-10-2000

 

D. AFONSO X, O SÁBIO

(1221-1284)

 

D. Afonso X, o Sábio, rei de Castela e Leão (1252-1284). Filho de Fernando III e de Beatriz de Saboia. À morte de seu pai, retomou a ofensiva contra os muçulmanos, ocupando as fortalezas de Jerez (1253) e de Cádis (1262).

As grandes realizações do monarca no campo da cultura mereceram-lhe com justiça o cognome de o "Sábio". Escreveu em castelhano as obras históricas, políticas e filosóficas, mas as poesias fê-lo em galaico-português (e não em galego, como escrevem os autores espanhóis). De facto, o galaico-português (língua comum à Galiza e a Portugal) era o verdadeiro idioma literário da Península Ibérica na Idade Média.

Note-se, porém, que, em obras em prosa monumentais, D. Afonso X deu também um enorme impulso à língua castelhana, pondo de lado o latim nos documentos oficiais. Chegou mesmo a dirigir-se a outros soberanos em língua vernácula.

 

OBRAS:

 

Legislação:

El fuero real concedido a Castela em 1255 .

Setenario  antecipa partes das Siete Partidas.

Siete Partidas vasto codex de leis, 1251; 1256-65

El espéculo 1255.

 

Obras científicas: (cerca de 23 tratados)

Magia:

Tradução do Liber Picatrix (1256), um tratado Andaluz sobre magia e talismãs do XI século.

Astronomia:

Libros del saber de la astrología. Colecçãotion de 16 tratados reunidos entre 1276 e 1279

Los IIII libros de las estrellas de la ochava esfera, 1256 -1276.

Libro del astrolabio redondo.

Libro del ataçir

Libro de las armellas o de la açafeha, 1255-56, 1277.

Libro de las estrellas fijas, 1255-6, 1276.

Libro de la alcora, 1259, 1277.

Lamina Universal.

Libro de quadrante pora rectificar, 1277.

Libro de la Constitucion (Construction) del Universo.

Libro del relogio de la piedra de la sombra.

Libro del relogio dell agoa.

Libro del relogio dell argen uiuo.

Libro del relogio del palacio de las oras.

Libro del relogio de la candela

Astrologia:

Lapidario, 1250 - 1279

Traduções:

Ibn al-Haytam's Astronomía

al-Battani's Cánones, 1250's

Ptolemy's Quatriparito, with Ali b. Ridwan's comentário, 1271-75

Aben Ragel's De judiciis Astrologiae

Libro de las cruces, 1259, 1270's.

El libro del cuadrante sennero

Libro de las Tablas Alfonsíes, 1256-1277;

Obras históricas:

General Estoria

Estoria de España

Obras literárias:

Prosa:

Calila e Digna 1251/2.

Poesia e música:

Cantigas de Santa María (1264-1284). São 430 poesias respeitantes a outros tantos milagres, com a respectiva música derivada ao mesmo tempo de música sacra e profana (popular).

Cantigas profanas..

Sobre jogos:

El libro de Ajedrez, dados, e tablas. Sevilla, 1283.

 

CANTIGAS DE SANTA MARIA

n.º 7

Esta é como Santa Maria livrou a abadessa prenhe, 
que adormecera ant' o seu altar chorando. 

 

Santa Maria amar
devemos muit' e rogar
que a ssa graça ponha
sobre nós, por que errar
non nos faça, nen pecar,
o demo sen vergonha.

Porende vos contarey 
dun miragre que achei 
que por hua badessa 
fez a Madre do gran Rei, 
ca, per com' eu apres' ei, 
era-xe sua essa. 
Mas o demo enartar- 
a foi, por que emprenhar- 
s' ouve dun de Bolonha, 
ome que de recadar 
avia e de guardar 
seu feit' e sa besonha. 
Santa Maria amar...

As monjas, pois entender 
foron esto e saber 
ouveron gran lediça; 
ca, porque lles non sofrer 
queria de mal fazer, 
avian-lle mayça. 
E fóron-a acusar 
ao Bispo do logar, 
e el ben de Colonha 
chegou y; e pois chamar- 
a fez, vêo sen vagar, 
leda e mui risonha. 
Santa Maria amar...


 
 
 
 
 

O Bispo lle diss' assi: 
«Donna, per quant' aprendi, 
mui mal vossa fazenda 
fezestes; e vin aquí 
por esto, que ante mi 
façades end' amenda.» 
Mas a dona sen tardar 
a Madre de Deus rogar foi; 
e, come quen sonha, 
Santa Maria tirar- 
lle fez o fill' e criar- 
lo mandou en Sanssonha. 
Santa Maria amar...

Pois s' a dona espertou 
e se guarida achou, 
log' ant' o Bispo vêo; 
e el muito a catou 
e desnua-la matidou; 
e pois lle vyu o sêo, 
começou Deus a loar 
e as donas a brasmar, 
que eran d'ordin d'Onha, 
dizendo: «Se Deus m'anpar, 
por salva poss' esta dar, 
que non sei que ll'aponha.» 
Santa Maria amar...

 

                                N.º139  

Como Santa Maria fez que falasse o Fillo que tia nos braços ao da bхa moller, que lle disse
«papa!»
         Maravillosos

                  e piadosos

                  e mui fremosos

                  miragres faz

                  Santa Maria,

                  a que nos guia

                  ben noit' e dia

                  e nos dá paz.


 

E dest' un miragre vos contar quero

que en Frandes aquesta Virgen fez,

Madre de Deus, maravillos' e fero

por hua dona que foi ha vez

                  a sa eigreja

                  desta que seja

                  por nos, e veja-

                  mo-la sa faz

                  no Parayso,

                  u Deus dar quiso

                  goyo e riso

                  a quen lle praz.

                  Maravillosos...

 

 Aquesta dona levou un menynno,

 seu fillo, sigo, que en offreçon

 deu aa Virgen, mui pequeno,

 que de mal llo guardass' e d' oqueijon

                  e lle fezesse

                  per que dissesse

                  sempr' e soubesse

                  de ben assaz,

                  que, com' aprendo,

                  seu pan comendo

                  foi. Mui correndo

                  parou-ss' en az

                  Maravillosos...

 

 
 
 
 
Cabo do Fillo daquela omagen

 e diss' o menynno: «Queres papar?»

 Mais la figura da Virgen mui sagen

 diss' a seu Fillo: «Di-lle sen tardar

                  que non ss' espante,

                  mais tigo jante

                  u sempre cant' e

                  aja solaz

                  e seja quito

                  do mui maldito

                  demo que scrito

                  é por malvaz.»

                  Maravillosos...
 
 
Quand' esto diss', a omagen de Cristo

 Respos´ ao menynno: «Paparás

 cras mig' en Ceo; e pois que me visto

 ouveres, senpre pois migo seerás

                  ú ouças quanto

                  cada un santo

                  canta, que chanto

                  e mal desfaz.»

                  Esto comprido

                  foi, e transsido

                  o moç' e ydo

                  a Deus viaz.

                                   Maravillosos...

 

 

Encontrei esta Cantiga num magnífico CD (n.º7) com o título de  Alcantara (A Ponte, em árabe) cantado pela intelectual marroquina Amina Alaoui, publicado por Audivis (n.º de catalogo B 6872) em 1998. No disco, ela junta músicas árabes a andaluzas do sec. XII, com esta Cantiga e ainda uma canção judeu-espanhola (Hija Mia - pista 11), tudo músicas da Península Ibérica da altura.

 

 

n.º 160 
Esta é de loor de Santa Maria. 

 

Quen bôa dona querrá
loar, lo' a que par non á,
Santa Maria.  

 

E par nunca ll' achará, 
pois que Madre de Deus foi ja. 
Santa Maria  

 

 Pois Madre de Deus foi ja, 
e Virgen foi e seerá. 
 Santa Maria  

 

E Virgen foi e seerá; 
porende cabo del está. 
 Santa Maria

Poren cabo del está, 
u sempre por nos rogará 
 Santa Maria

 

U por nós lle rogará 
e del perdon nos gâará. 
Santa Maria

 

 E perdon nos gâará 
e ao demo vencerá. 
 Santa Maria

 

E o demo vencerá 
e nos consigo levará. 
Santa Maria

 

                                     
 
   - 57 -
 

Esta é como Santa Maria fez guareçer os ladrões que foran tolleitos porque roubaran a
                 dona e ssa conpanha que yan en romaria a Monsarrat.
 
 
 

 Mui grandes noit' e dia
 devemos dar porende
 nos a Santa Maria
 graças, porque defende
      os seus de dano
      e sen engano
    en salvo os guia.
 

 E daquesto queremos
 un miragre preçado
 dizer, porque sabemos
 que será ascuitado
 dos que a Virgen santa
 aman, porque quebranta
 sempr' aos soberviosos
 e os bõas avanta
      e dá-les siso
      e Parayso
    con tod' alegria.
 Mui grandes noit' e dia...

 

 En Monsarrat vertude
 fez, que muy longe sõa,
 a Virgen, se mi ajude
 ela, por hua bõa
 dona que na montanha
 d' i muy grand' e estranha
 deçeu a hua fonte
 con toda sa companha,
      por y jantaren,
      des i folgaren
    e yren sa via.
 Mui grandes noit' e dia...

 

 U seyan comendo
 cabo daquela fonte,
 a eles muy correndo
 sayu ben desse monte
 Reimund', un cavaleiro
 roubador e guerreiro,
 que de quanto tragian
 non lles leyxou dinneiro
      que non roubasse
      e non fillase
    con sa compannia.
 Mui grandes noit' e dia...

 

 A dona mantenente,
 logo que foy roubada,
 foi-ss' ende con sa gente
 muy trist' e muy coitada;
 a Monsarrat aginha
 chegou essa mesquinha,
 dando grandes braados:
 «Virgen santa, Reynna,
      dá-me vingança,
      ca pris viltança
    en ta romaria.»
 Mui grandes noit' e dia...

 

 E os frades sayron
 aas vozes que dava;
 e quand' esto oyron,
 o prior cavalgava
 corrend' e foi muy toste,
 e passou un recoste
 e viu cabo da fonte
 de ladrões grand' hoste
      jazer maltreitos,
      cegos, contreitos,
    que un non s' ergia.
 Mui grandes noit' e dia...

 

 Entr' esses roubadores
 viu jazer un vilão
 desses mais malfeitores,
 ha perna na mão
 de galinha, freame
 que sacara con fame
 enton d' enpãada,
 que so un seu çurame
      comer quisera;
      mais non podera,
    ca Deus non queria.
 Mui grandes noit' e dia...

 

 Ca se ll' atravessara
 ben des aquela ora
 u a comer cuidara,
 que dentro nen afora
 non podia saca-la,
 nen comer nen passa-la;
 demais jazia çego
 e ar mudo sen fala
      e muy maltreito
      por aquel preito,
    ca xo mereçia.
 Mui grandes noit' e dia...

 

 O prior e seus frades,
 pois que assi acharon
 treitos por sas maldades
 os ladrões, mandaron
 que logo d' i levados
 fossen, atravessados
 en bestias que trouxeran,
 ant' o altar deitados
      que y morressen,
      ou guareçessen
    se a Deus prazia.
 Mui grandes noit' e dia...
 

 E pois que os ladrões
 ant' o altar trouxeron,
 por eles orações
 e pregairas fezeron.
 E log' ouveron sãos
 ollos, pees e mãos;
 e porende juraron
 que nunca a crischãos
      jamais roubassen,
      e se quitassen
    daquela folia.
 Mui grandes noit' e dia...

 

 

 

- 302 -
       Como Santa Maria de Monsarrat descobriu un furto que se fez na sa ygreja.
 

 A Madre de Jhesu-Cristo, que é Senhor de nobrezas,
 non soffre que en sa casa façan furtos nen vilezas.
 

 E dest' un mui gran miragre vos direi que me juraron
 omees de bõa vida e por verdade mostraron
 que fezo Santa Maria de Monssarrat, e contaron
 do que fez un avol ome por mostrar sas avolezas.
 A Madre de Jhesu-Cristo, que é Senhor de nobrezas...

 

 Este con outra gran gente vo y en romaria,
 e acolleu-ss' a un ome con que fillou conpania;
 e quando chegou a noite, os dinheiros que tragia
 lle furtou da esmolneira por crecer en sas requezas.
 A Madre de Jhesu-Cristo, que é Senhor de nobrezas...

 

 Outro dia de manhãa, des que as missas oyron,
 os que ali albergaron da eigreja sse sairon;
 mas el en sair non pode, e esto muitos o viron,
 ca non quis Santa Maria, que é con Deus nas altezas,
 A Madre de Jhesu-Cristo, que é Senhor de nobrezas...

 

 Ata que ben repentido foss' e ben mãefestado
 e todo quanto furtara ouvess' ao outro dado,
 e que dissess' ante todos de com' avia errado,
 e sayss' en con vergonha por sas maas astruguezas.
 A Madre de Jhesu-Cristo, que é Senhor de nobrezas...

 

 Tod' aquest' assi foi feito, ca o quis a verdadeira
 Madre de Deus piadosa, santa e mui justiceira,
 que non quis que en ssa casa fossen per nulla maneira
 feitas cousas desguisadas nen cobiiças per pobrezas.
 A Madre de Jhesu-Cristo, que é Senhor de nobrezas...
 
As Cantigas n.ºs 57 e 302 foram incluídas no CD LLIBRE VERMELL DE MONTSERRAT, da Opus 111 (n.º de Catálogo  OPS 30-131), de 1995, cantadas numa bela interpretação do conjunto ALLA FRANCESCA.


Sites sobre D. Afonso X:

Projecto Vercial - Portugal - pequena biografia:

 

Página de Suzanne H. Petersen

 

Sobre a linguagem das cantigas, ver este estudo:

Questões de linguagem nas Cantigas de Santa Maria, de Afonso X, de Ângela Vaz Leão,

 

Biografia

   

Directório

 

Transcrição de mais de 300 cantigas

 

Tradução para inglês de 8 Cantigas

 

Cerca de 40 cantigas

Continuação desta página                                     

Aver non poderia (Festa da Virgem 7)

 

Esta .Lª. é dos sete pesares que viu Santa

Maria do seu Filo.

 

Aver non poderia

lagrimas que chorasse

quantas chorar querria,

se m’ante non nenbrasse

como Santa Maria

viu con que lle pessasse

do Fillo que avia

ante que a levasse.

 

Un daquestes pesares

foi quando a Egito

fugiu polos millares,

segund’ achei escrito,

dos minos a pares,

que Erodes maldito

fez matar a logares

por seu rein’ aver quito.

 

O segundo foi quando

seu Fill’ ouve perdudo

tres dias, e cuidando

que judeus ascondudo

llo tian, e osmando

que morto ou traudo

foss’, e por el chorando,

ant’ ela foi vudo.

 

E o pesar terçeiro

foi mui grand’ aficado,

quando ll’ un mandadeiro

disse que recadado

seu Fillo verdadeiro,

Jesu-Crist, e liado

levavan mui senlleiro,

dos seus desanparado.

 

Do quarto foi coitada

u seu Fillo velido

viu levar a pesada

cruz, e el mal ferido

d’açoutes e messada

a barva e cospido,

e a gent’ assada

sobr’ el en apelido.

 

O quinto pesar forte

foi quando o poseron

na cruz e por conorte

azed’ e fel lle deron;

sobre seus panos sorte

deitaron e fezeron

per que chegou. a morte,

onde prazer ouveron.

 

O sesto foi sen falla

quando o despregaron

da cruz e con mortalla

a soterrar levaron,

e temendo baralla

o sepulcro guardaron;

mais pois, se el me valla,

ali nono acharon.

 

Segund’ a Escritura

conta, foi o seto

pesar de gran tristura

e de gran doo cho

quando viu na altura

Deus sobir, onde vo,

e ficou con rancura

pois en poder allo.

 

 

 

Beneita es Maria (Festa da Virgem 10)

 

Esta decima é no dia aa proçession, como as

proçessiões do çeo reçeberon a Santa Maria

quando sobiu aos çeos.

 

Beyta es, Maria, Filla, Madr’ e criada

de Deus, teu Padr’ e Fillo, est’ é cousa provada.

Beyta foi a ora en que tu gerada

fuste e a ta alma de Deus santivigada,

e beyto, [o dia] en que pois fuste nada

e d’Adam o peccado quita e perdõada,

e beytos los panos u fust’ envurullada

e outrossi a teta que ouviste mamada,

e beyta a agua en que fuste bannada

e a santa vianda de que fust’ avondada,

e beyta a fala que ouviste falada

e outrossi a letra de que fust’ ensinada.

 

E beyta a casa u feziste morada

e outrossi o tenpro u fuste presentada,

e beyta a seda que ouviste fiada

e outrossi a obra que end’ ouv[i]ste obrada,

e beyta u fuste con Joseph esposada,

non que tigo casasse, mas que fos[s]es guardada;

e beyta a ora u fuste saudada

pelo angeo santo, e ar de Deus pren[n]ada,

e beyta a culpa de que fust’ acusada,

onde ficaste quita e santa e salvada,

e beyta a ta carne en que jouv’ enserrada

a de teu fillo Christo e feita e formada.

 

E beyta u fust[e] a Beleem chegada

e por parir teu Fillo ena cova entrada,

beyta u pariste om’ e Deus sen tardada,

sen door que ouvesses del, nen fosses coitada,

e beyta a tua virgidade sagrada

que ficou como x’era ant’ e non foi danada;

beyta a ta leite onde foi governada

a carne de teu Fillo e creçud’ e uviada,

beytas las tas mãos con que foi faagada

a ssa pes[s]õa santa e benaventurada,

beyta foi a vida que pois con el usada

ouviste, macar fuste mui pobr’ e lazerada.

 

E beyta, beyta, u ouvist’ acabada

a vida deste mundo e del fuste passada,

e beyta u vo a ti a ta pousada

teu Fillo Jhesu-Christo, e per el foi tomada

a ta alma beyta e do corpo tirada,

que a San Miguel ouve tan tost’ acomendada;

beyta a conpanna que t’ ouv’ aconpan[n]ada,

d’angeos mui fremosos preçis[s]on ordada,

e beyta a outra d’archangeos onrrada

que te reçeber vo, de que fuste loada,

e beyta a oste que Tronos é chamada

e Dominationes, que te foi enviada.

 

Beyta u ouviste en sobind, encontrada

Princepes, Podestades deles grand’ az parada,

beyta u Cherubin e Seraphin achada

t’ouveron, ca tan toste deles fust’ aorada,

e beyta u fuste das vertudes çercada

dos çeos, e per eles a ta loor cantada;

beyta u teu Fillo vo apressuradament’

a ti muit, agyn[n]a con toda sa masnada,

beyta u el disse aos santos: «Leixada

logo seja mia Madr[e] a mi, ca ven cansada.»

Beyta u t’ el ouve dos braços abraçada,

e tu con piedade sobr’ el fuste acostada.

 

Beyta u os santos en mui gran voz alçada

disseron: «Ben vennades, Sennor mui desejada.»

Beyta u teu Fillo a Deus t’ouve mostrada

dizendo: «Padr’, aquesta madre m’ouviste dada.»

Beyta u Deus quis[o] que ta carne juntada

fosse cona ta alma e per el corõada.

Beyta es por esto, amiga e amada

de Deus e ar dos santos, e nossa avogada.

E porende, Beyta, te rog, eu aficadament[

e] que a ta graça me seja outorgada,

por que a ta merçee beita mui grãada

aja en este mundo, e me dés por soldada

 

Que quando a mi’ alma daqui fezer jornada,

que a porta do çeo non lle seja vedada.

 

 

Nembressete Madre (Festa da Virgem 11)

 

Esta .XI., en outro dia de Santa Maria, é de como lle

venna emente de nos ao dia do juyzio e rogue a seu

Fillo que nos aja merçee.

 

Nenbre-sse-te, Madre

de Deus, Maria,

que a el, teu Padre,

rogues todavia,

pois estás en sa compania

e es aquela que nos guia,

que, pois nos ele fazer quis,

sempre noit’ e dia

nos guarde, per que sejamos fis

que sa felonia

non nos mostrar queira,

mais dé-nos enteira

a ssa grãada merçee,

pois nossa fraqueza vee

e nossa folia,

con ousadia

que nos desvia

da bõa via

que levaria

nos u devia,

u nos daria

sempr’ alegria

que non falrria

nen menguaria,

mas creçeria

e poiaria

e compriria

e ‘nçimaria

a nos.

 

 

 

Muito bon miragre a Virgen (Cantiga 225)

 

Como hu clerigo ena missa consomiu ha aranna que

lle caeu no calez, e andava-lle ontr’ o coiro e a carne

viva, e fez Santa [Maria] que lle saysse pela unna.

 

Muito bon miragr’ a Virgen faz estranno e fremoso,

porque a verdad’ entenda o neicio perfioso.

 

E daquest’ un gran miragre vos será per mi contado,

e d’oir maravilloso, pois oyde-o de grado,

que mostrou a Santa Virgen, de que Deus por nos

     foi nado,

dentro en Cidad-Rodrigo. E é mui maravilloso

Muito bon miragr’ a Virgen faz estranno e fremoso...

 

Ontr’ os outros que oystes, e tenn’ eu que atal éste

o que vos contarei ora que avo a un preste

que dizia senpre missa da Madre do Rei celeste;

e porque a ben cantava, era en mui desejoso

Muito bon miragr’ a Virgen faz estranno e fremoso...

 

O poblo de lla oyren. Mas un dia, sen falida,

ena gran festa d’Agosto, desta Sennor mui conprida

estava cantando missa; e pois ouve consomida

a Osti’, ar quis o sangui consomir do glorioso

Muito bon miragr’ a Virgen faz estranno e fremoso...

 

Jhesu-Crist’. E viu no caliz jazer ha grand’ aranna

dentro no sangui nadando, e teve-o por estranna

cousa; mais mui grand’ esforço fillou, a foro

     d’Espanna,

e de consomir-lo todo non vos foi mui vagaroso.

Muito bon miragr’ a Virgen faz estranno e fremoso...

 

E pois aquest’ ouve feito, non quis que ll’ enpeecesse

Deus o poçon da aranna nen lle no corpo morresse;

e pero andava viva, non ar quis que o mordesse,

mas ontr’ o coir’ e [a] carn’ ya aquel bestigo astroso.

Muito bon miragr’ a Virgen faz estranno e fremoso...

 

E andava muit’ agynna pelo corp’ e non fazia

door nen mal, por vertude da Virgen Santa Maria;

e se ss’ ao sol parava, log’ a aranna viya,

e mostrando-a a todos dizend’: «O Rei piadoso

Muito bon miragr’ a Virgen faz estranno e fremoso...

 

Quis que polos meus pecados aqueste marteir’

     ouvesse;

poren rogo aa Virgen que se a ela prouguesse,

que rogas[s]’ ao seu Fillo que cedo mi a morte désse

ou me tolles[s]’ esta coita, ca ben é en poderoso.»

Muito bon miragr’ a Virgen faz estranno e fremoso...

 

Esta aranna andando per cima do espaço

e depois pelos costados e en dereito do baço,

des y ya-ll’ aos peitos e sol non leixava braço

per que assi non andasse; e o corpo mui veloso

Muito bon miragr’ a Virgen faz estranno e fremoso...

 

Avia esta aranna. E un dia, el estando

ao sol, ora de nõa, foi ll’ o braç’ escaentando,

e el a coçar fillou-ss’ e non catou al senon quando

lle sayu per so a unlla aquel poçon tan lixoso.

Muito bon miragr’ a Virgen faz estranno e fremoso...

 

E tan toste que sayda foi, o crerigo fillou-a

e fez logo dela poos e en sa bolssa guardo[u]-a;

e quando disse sa missa, consumiu-a e passou-a,

e disse que lle soubera a manjar mui saboroso.

Muito bon miragr’ a Virgen faz estranno e fremoso...

 

As gentes que y estavan, quand’ ouveron esto visto,

loaron muito a Madre do Santo Rei Jesu-Cristo;

e des ali adeante foi o crerigo por isto

mui mais na fe confirmado, e non foi luxurioso.

Muito bon miragr’ a Virgen faz estranno e fremoso...

 

 

 

Quantos me creveren loaran (Cantiga 120)

 

Esta é de loor de Santa Maria.

 

Quantos me creveren loarán

a Virgen que nos manten.

 

Ca sen ela Deus non averán

Quantos me crevreren loarán...

nenas sas fazendas ben farán

Quantos me creveren loarán...

neno ben de Deus connocerán;

e tal consello lles dou poren.

Quantos me creveren loarán...

 

E con tod’ esto servi-la-an

Quantos me creveren loarán...

e de seu prazer non sayrán

Quantos me creveren loarán...

e mais d’ outra ren a amarán,

e serán per y de mui bon sen;

Quantos me creveren loarán...

 

Ca en ela sempre acharán

Quantos me creveren loarán...

mercee mui grand’ e bon talan,

Quantos me creveren loarán...

per que atan pagados serán

que nunca desejarán al ren.

Quantos me creveren loarán...

 

 

 

A Virgen S. Maria (Cantiga 8)

 

Esta é como Santa Maria fez en Rocamador

decender ha candea na viola do jograr que

cantava ant’ ela.

 

A Virgen Santa Maria

todos a loar devemos,

cantand’ e con alegria,

quantos seu ben atendemos.

 

E por aquest’ un miragre | vos direi, de que sabor

averedes poy-l’ oirdes, | que fez en Rocamador

a Virgen Santa Maria, | Madre de Nostro Sennor;

ora oyd’ o miragre, | e nos contar-vo-lo-emos.

A Virgen Santa Maria...

 

Un jograr, de que seu nome | era Pedro de Sigrar,

que mui ben cantar sabia | e mui mellor violar,

e en toda-las eigrejas | da Virgen que non á par

un seu lais senpre dizia, | per quant’ en nos

     aprendemos.

A Virgen Santa Maria...

 

O lais que ele cantava | era da Madre de Deus,

estand’ ant’ a sa omagen, | chorando dos ollos seus;

e pois diss’: «Ai, Groriosa, | se vos prazen estes meus

cantares, ha candea | nos dade a que cemos.»

A Virgen Santa Maria...

 

De com’ o jograr cantava | Santa Maria prazer

ouv’, e fez-lle na viola | ha candea decer;

may-lo monge tesoureiro | foi-lla da mão toller,

dizend’: «Encantador sodes, | e non vo-la leixaremos.

A Virgen Santa Maria...

 

Mas o jograr, que na Virgen | tia seu coraçon,

non quis leixar seus cantares, | e a candea enton

ar pousou-lle na viola; | mas o frade mui felon

tolleu-lla outra vegada | mais toste ca vos dizemos.

A Virgen Santa Maria...

 

Pois a candea fillada | ouv’ aquel monge des i

ao jograr da viola, | foy-a põer ben ali

u x’ ant’ estav’, e atou-a | mui de rrig’ e diss’ assi:

«Don jograr, se a levardes, | por sabedor vos

     terremos.»

A Virgen Santa Maria...

 

O jograr por tod’ aquesto | non deu ren, mas violou

como x’ ante violava, | e a candea pousou

outra vez ena vyola; | mas o monge lla cuidou

fillar, mas disse-ll’ a gente: | «Esto vos non

     sofreremos.»

A Virgen Santa Maria...

 

Poi-lo monge perfiado | aqueste miragre vyu,

entendeu que muit’ errara, | e logo ss’ arrepentiu;

e ant’ o jograr en terra | se deitou e lle pedyu

perdon por Santa Maria, | en que vos e nos creemos.

A Virgen Santa Maria...

 

Poy-la Virgen groriosa | fez este miragr’ atal,

que deu ao jograr dõa | e converteu o negral

monge, dali adeante | cad’ an’ un grand’ estadal

lle trouxe a ssa eigreja | o jograr que dit’ avemos.

A Virgen Santa Maria...