24-4-2001
Johann
Sebastian Bach
(1685 – 1750)
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AS PAIXÕES Paixão segundo S. Mateus Bach compôs a Paixão de S. Mateus para o serviço religioso de Sexta Feira Santa em 1729, na Igreja de S. Tomás, em Leipzig. Durante a cerimónia, a obra era executada por inteiro, com um longo sermão entre as partes I e II. A tradição de cantar a Paixão de Cristo (a história segundo os quatro Evangelhos, a prisão, crucificação e morte de Jesus), começara séculos antes. De início, a narrativa era cantada por melodias simples. Depois, os compositores, começaram gradualmente a aperfeiçoar o canto. Compositores do Barroco tardio foram particularmente influenciados por duas novas formas musicais aparecidas no período: a ópera e o oratório. A Paixão de S. Mateus de Bach é o culminar desta velha tradição de séculos. E representa sem dúvida a mais bela narrativa da Paixão de todos os tempos. A obra é a maior composição escrita por Bach, quer em duração, quer em executantes. São necessários dois coros, com um terceiro coro de sopranos para o primeiro e último movimentos da 1.ª parte, duas orquestras, quatro solistas vocais e muitos outros solistas para as partes das diversas personagens. O papel do Evangelista representa S. Mateus. É quem conta a história. Bach pôs este papel numa voz de tenor. O Evangelista e as várias personagens são acompanhados por melodias simples da harpa e violoncelo. Todavia, Bach pôs a música de Jesus a ser acompanhada por uma orquestra de cordas, assim o distinguindo dos restantes personagens. E é impressionante que, no momento da morte, ele diz as últimas palavras, acompanhado apenas pela harpa e violoncelo, enquanto a “sua” orquestra de cordas permanece silenciosa. Não é certo quem preparou o libretto da Paixão de S. Mateus: o poeta Christian Friedrich Henrici ou o próprio Bach? Os textos provêm de três fontes: 1) O Evangelho de S. Mateus, capítulos 26 e 27; 2) Hinos tradicionais luteranos, chamados “corais”; e 3) poemas religiosos de Henrici (que usava o pseudónimo literário de Picander). A construção desta obra épica é relativamente simples. Bach pega na história, cena a cena. Em geral, principia com um pedaço da narrativa da Bíblia, tal como cantada pelo Evangelista e pelas várias personagens. Depois, pára a cena para comentar o que acaba de acontecer. O comentário é feito através de hinos tradicionais (corais), recitativos a solo e árias. |
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O coro desempenha dois papeis diferentes na obra. Algumas vezes são personagens da acção (por exemplo, a turba furiosa), outras vezes ficam fora da acção, tal como o coro na tragédia Grega. No princípio e no fim das partes I e II, Bach colocou coros de introdução e fecho.
A Paixão segundo S. Mateus de Bach é uma das maiores obras musicais da civilização ocidental, que não é suplantada por qualquer ópera.
Paixão segundo S. João
A primeira execução da paixão segundo S. João de Bach teve lugar em Leipzig, em 7 de Abril de 1724, onde Bach tinha sido nomeado Kantor no ano anterior e responsável pela música sacra nas principais igrejas da cidade, sobretudo na Igreja de S. Tomás.
As partes poéticas contidas na Paixão de S. João, são devidas na sua maior parte a Barthold Heinrich Brockes. Aqui como na Paixão segundo S. Mateus e ao contrário de outros seus contemporâneos (Händel, Telemann, Mattheson), Bach não renuncia ao texto original, que é lido por uma voz de tenor, em forma de recitativo. Naturalmente o Evangelho relata também as palavras das diversas personagens e para cada uma Bach inflecte a linguagem para um estilo apropriado, diferenciando-as através dos timbres vocais, de acordo com o costume da época. Características da Paixão segundo S. João, são as intervenções da multidão, a “turba”. Bach fá-lo em coros de precisão extrema, memoráveis pela excitação fanática que retratam.
Uma antecipação das complexidades arquitectónicas que serão atingidas com a Paixão de S. Mateus encontra-se nos frescos em que o coro se junta ao solista, por exemplo na ária com coral “Mein teurer Heiland”, que interioriza a percepção angustiosa da solidão da anterior “Es ist vollbracht” (Tudo está cumprido). O coro faz a abertura e o fecho da Paixão, onde o drama da crucificação se desfaz numa ternura dolente, como uma berceuse.
S. Mateus
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S. João
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Textos completos: