17-11-2000
(1850
- 1889)
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LUCEAFĂRUL
A fost odată
ca-n poveşti, Şi era una la părinţi Din umbra falnicelor bolţi Privea în zare cum pe mări Îl vede azi, îl vede mîni, Cum ea pe coate-şi răzima Şi cît de viu s-aprinde
el
Şi cînd
în pat se-ntinde drept Şi din oglindă luminiş Ea îl privea cu un surîs, Iar ea vorbind cu el în somn, Cobori în jos, luceafăr
blînd, El asculta tremurător, Şi apa unde-au fost căzut Uşor el trece ca pe prag Părea un tînăr
voievod Iar umbra feţei străvezii - Din sfera mea venii cu greu Ca în cămara ta să
vin, O, vin ! odorul meu nespus, Colo-n palate de mărgean - O, eşti frumos, cum
numa-n vis Străin la vorbă
şi la port,
Trecu o zi,
trecură trei Ea trebui de el în somn - Cobori în jos, luceafăr
blînd, Cum el din cer o auzi, În aer rumene văpăi Pe negre viţele-i de păr Din negru giulgi se desfăşor Dar ochii mari şi minunaţi Din sfera mea venii cu greu O, vin odorul meu nespus, O, vin, în părul tău
bălai - O, eşti frumos cum
numa-n vis Mă dor de crudul tău
amor - Dar cum ai vrea să mă
cobor ? - Nu caut vorbe pe ales, Dar dacă vrei cu crezămînt Tu-mi cei chiar nemurirea mea Da, mă voi naşte din
păcat, Şi se tot duce... S-a tot
dus.
Un paj ce
poartă pas cu pas Cu obrăjei ca doi bujori Dar ce frumoasă se făcu Şi-n treacăt o
cuprinse lin Ce voi ? Aş vrea să
nu mai stai - Dar nici nu ştiu măcar
ce-mi ceri, - Dacă nu ştii,
ţi-aş arăta Cum vînătoru-ntinde-n crîng Şi ochii tăi nemişcători Cînd faţa mea se pleacă-n
jos, Şi ca să-ţi fie
pe deplin Ea-l asculta pe copilaş Şi-i zise-ncet: - Încă
de mic Dar un luceafăr, răsărit Şi tainic genele le plec, Luceşte cu-n amor nespus, Pătrunde trist cu raze
reci De-aceea zilele îmi sunt - Tu eşti copilă,
asta e... Căci amîndoi vom fi cuminţi,
Porni luceafărul.
Creşteau Un cer de stele dedesupt, Şi din a chaosului văi, Cum izvorînd îl înconjor Căci unde-ajunge nu-i
hotar, Nu e nimic şi totuşi
e - De greul negrei vecinicii, O, cere-mi, Doamne, orice preţ, Reia-mi al nemuririi nimb Din chaos, Doamne,-am apărut - Hyperion, ce din genuni Tu vrei un om să te socoţi, Ei numai doar durează-n vînt Ei doar au stele cu noroc Din sînul vecinicului ieri Părînd pe veci a răsări, Iar tu, Hyperion, rămîi Vrei să dau glas acelei
guri, Vrei poate-n faptă să
arăţi Îţi dau catarg lîngă
catarg, Şi pentru cine vrei să
mori ?
Căci este sara-n asfinţit Şi împle cu-ale ei scîntei O, lasă-mi capul meu pe sîn, Cu farmecul luminii reci Şi de asupra mea rămîi Hyperion vedea de sus Miroase florile-argintii Ea, îmbătată de
amor, - Cobori în jos, luceafăr
blînd, El tremură ca alte dăţi Dar nu mai cade ca-n trecut Trăind în cercul vostru
strîmt 1883, aprilie
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HYPÉRION
(A ESTRELA DA MANHÃ)
Era uma vez, como nas lendas, Era uma vez, outrora, Uma lindíssima donzela De estirpe imperial,
Única filha de seus pais E sempre bela em tudo, Como é a Virgem entre os santos E a lua entre as estrelas.
Por entre as sombras do palácio Seus passos encaminha Para a janela onde, num canto, Hypérion a espera.
E vê o Astro a elevar-se, Fulgente, sobre o mar, Pelos atalhos movediços Guiando os negros barcos.
Dias e dias o contempla — Assim nasce o desejo — E ele também, de tanto a ver, Por ela se apaixona.
Nas mãos apoia a sua fronte A jovem, sonhadora, Sentindo encher-se-lhe de enlevo O coração e a alma.
Como ele refulge ardentemente Sobre o castelo negro, Todas as noites, quando ela Ingénua lhe aparece!
*
E deslizando pelo quarto Hypérion a persegue, Com sua fria luz tecendo Uma radiosa teia,
Quando no leito se reclina, Antes de adormecer, Roça-lhe o Astro as mãos cruzadas E as pálpebras suaves.
Do espelho, em feixe luminoso, Todo o seu corpo inunda, Ainda que ela volte o rosto E os grandes olhos feche.
Enquanto o olha, sorridente, No espelho treme Hypérion, Que a segue até no próprio sono, Para prender-lhe a alma.
Ela suplica-lhe no sonho, Gemendo fundamente: — “Terno Senhor da minha noite, Porque não vens? Oh, vem!
Desce até mim, Astro suave, Desliza por um raio, Vem inundar-me o pensamento, Iluminar-me a vida!”
Tremeluzindo, o Astro ouve-a E com mais força brilha; Como um relâmpago se lança, E afunda-se no mar;
Então, a onda em que ele caiu Em círculos se espraia, E da ignota profundeza Um lindo jovem surge.
Passa, ligeiro, o limiar Do quadro da janela, Na mão erguendo altivo ceptro De limos coroado.
Dir-se-ia um jovem Voivoda, * Com seus cabelos de ouro E um véu azul atado em laço Sobre os desnudos ombros.
O seu diáfano semblante Ë alvo como a cera — Belo cadáver de olhos vivos Centelhas radiando.
-“Da minha esfera vim, a custo, Ouvindo o teu apelo. O céu é meu sublime pai E o mar é minha mãe.
Para poder aqui entrar E ver-te mais de perto, Baixei, sereno, do azulE ressurgi das águas.
O ser amado, vem comigo, Ao mundo renuncia; Eu sou o Astro das alturas Sê tu a minha noiva.
Lá, nos meus paços de coral, Serás, por muitos séculos, Aquela a quem o mundo oceânico Terá de obedecer”.
—“És belo, como só nos sonhos Os anjos aparecem, Mas p’lo caminho que me apontas Jamais te seguirei:
Tens de estrangeiro a fala e o porte, Refulges, sem viver; Ora eu sou viva, tu és morto, E gelam-me os tens olhos”.
*
Passados foram breves dias E já de novo Hypérion De noite vem, para tocá-la Com seus serenos raios.
Mas a donzela, em pleno sono, Decerto o evocou, O peito arfando, com saudade Do Príncipe das vagas:
—“Desce até mim, Astro suave, Desliza por um raio, Vem inundar-me o pensamento, Iluminar-me a vida!»
Assim Hypérion a escutou, De mágoa se extinguiu, E o céu então põe-se a girar Onde ele desaparece.
No ar se espalham rubras chamas Cobrindo o mundo inteiro E do profundo caos se eleva Fascinadora imagem;
Nas negras tranças, uma coroa Parece arder em brasa, Enquanto paira, suavemente, Banhado pelo sol.
Do escuro manto se destacam Os seus marmóreos braços; Vem muito triste e pensativo E é pálido o seu rosto;
Porém os olhos assombrosos intensamente brilham, Como paixões insaciáveis E túmidas de trevas.
—"Da minha esfera vim, a custo, Para escutar-te, ainda; O sol é meu sublime pai E a noite é minha mãe.
O ser amado, vem comigo, Ao mundo renuncia; Eu sou o Astro das alturas, Sê tu a minha noiva.
Oh, vem, que os teus cabelos louros De estrelas cingirei, E surgirás, lá nos meus céus, Mais linda do que elas».
— “És belo, como só nos sonhos Um demo se revela, Mas p’lo caminho que me apontas Jamais te seguirei!
Sofrem, pio teu cruel amor, As fibras do meu peito, E doem-me esses olhos graves, Pois temi olhar me queima».
- “Mas como queres que te apareça? Então não compreendes Que o meu destino é ser eterno E o teu é ser mortal?»
- “Por mim, não sou de falas raras, Nem sei como exprimir-me — Embora te ouça claramente, Não posso perceber-te;
Mas se pretendes que de amor Por ti fique perdida, Da tua esfera desce à terra E sê mortal, corno eu.»
— “Só por um beijo, ousas pedir-me A imortalidade? Então, verás como é profundo O meu amor por ti;
Sim, do pecado hei-de nascer, Sujeito a outra lei: Da eternidade a que estou preso, — Desejo ser liberto!”
Assim se foi... assim partiu, Por mor duma donzela E, das alturas desprendido, Sumiu-se por uns tempos.
*
Mas entretanto, Catalino, Um pagem espertalhão Que enche de vinho, nos festins, As taças dos convivas
E que segura, passo a passo, O manto imperial, Filho das ervas e sem lar, Mas de olhos atrevidos,
Com suas faces tão coradas Como papoulas frescas, Furtivamente vai espiando A jovem Catalina.
“…Mas que bonita se tornou E airosa, benza-a Deus! Ah, Catalino, ou hoje ou nunca Tens de tentar a sorte!»
E levemente a enlaçou De súbito, num canto. -“Que queres de mim, á Catalino? Deixa-me, vai-te embora!»
— »Que quero? Apenas que não estejas Sempre tão pensativa, E que antes rias e me dês Um beijo, só um beijo.»
—“Nem sei sequer o que me pedes, Deixa-me em paz e vai-te: Oh, por Hypérion é que eu sofro Esta mortal saudade!»
— »Se tu não sabes, eu ensino-te O bê-á-bá do amor; Basta que em vez de te zangares, Te portes docilmente;
Como no bosque estende a rede O caçador às aves, Quando os meus braços te estender, Tu, com os teus, enlaça-me;
Conserva imóveis os teus olhos Sempre que os meus os fitem... E se te erguer pela cintura, Levanta os calcanhares;
Quando eu baixar a minha cara, O teu rosto soergue, Para que assim possamos ver-nos Eterna e docemente.
E se quiseres ficar sabendo De todo, o que é o amor, Sempre que eu beije a tua boca, Beija também a minha.»
Ela escutava o adolescente, Confusa e distraída, E, gentilmente ora o repele, Ora o deixa abraçá-la,
E diz-lhe, baixo: — “De criança Assim te conhecia: Um leviano palrador, Comigo parecido...
Porém, um astro que surgiu Do mudo esquecimento Dá infinitos horizontes À solidão dos mares;
Às escondidas, baixo os olhos De pranto marejados, Sempre que as vagas se encaminham Para o meu bem-amado
Que brilha com ardente amor Para que eu sofra menos, Mas vai subindo, vai subindo Até onde eu não chegue.
Mergulha, triste, nesse mundo Que a ambos nos separa... Eu sempre o amarei, e sempre Ele ficará longínquo...
Por isso é que, sendo os meus dias Desertos como estepes, As noites têm um santo encanto Que eu já não compreendo.”
-“Uma criança, é que tu és... Vamos por esse mundo, Até que percam nosso rasto E o nosso nome esqueçam;
Ambos sensatos vamos ser, Alegres e felizes; Não mais dos teus te lembrarás, Nem sonharás com astros.»
*
Partiu Hypérion. Cresciam No céu as suas asas; Milénios se desenrolavam Em rápidos instantes.
Entre dois céus de estrelas rútilas Hypérion refulgia, Como um intérmino relâmpago Errando através delas.
E dos abismos desse caos À sua volta via, Como na génese do mundo, Luzes sem fim brotarem
E nelas, como que envolvido Por fluidos oceanos Saudoso, evola-se até onde Tudo perece, tudo;
Onde não há nenhum limite, Nem olhos para ver, E onde em vão se esforça o Tempo Para nascer do vácuo.
Mais nada existe e, no entanto, Ardente sede o absorve, Profundo abismo semelhante Ao cego esquecimento.
-“Senhor, liberta-me do peso Da negra eternidade, E para sempre sê louvado No Universo inteiro;
Por todo o preço me concede Outro destino, Pai, Já que Tu és fonte de vidas E doador de morte;
A minha auréola de imortal E o fogo dos meus olhos Retira-mos, e dá-me em troca De amor uma só hora...
Do caos, Senhor, é que eu brotei E voltaria ao caos... Foi do repouso que nasci, Anseio por repouso.»
»Hypérion, que dos abismos Com todo um mundo irrompes, Não peças graças nem milagres Que não têm rosto e nome;
Pretendes ser igual aos homens, Com eles irmanar-te?... Mas vê, que se morressem todos, Mais homens nasceriam.
Eles contam só com as estrelas Propícias ou adversas; E a nós, sem tempo nem lugar, É-nos alheia a morte.
Do imo do eterno ontem Nasce o hoje mortal; E quando um sol no céu se extingue, Acende-se outro sol;
Parece erguer-se para sempre, Mas já o fim o espreita, Pois tudo nasce para a morte E morre para a vida.
Só tu, Hypérion, permaneces, Aonde quer que desças... Tu és a forma inicial, És o milagre eterno.
E por quem hás-de tu morrer? Dirige o teu olhar A esse pobre Globo errante E vê o que te espera.”
*
Ao seu lugar no firmamento Hypérion regressou, E tão sereno como dantes Difunde a sua luz.
…É o crepúsculo da tarde, A noite vai cair; A lua surge, e à flor das águas Tremula brandamente,
Banhando com o) seu fulgor O bosque e as suas áleas, Onde, sentados sob as tílias, Dois jovens se namoram:
-“Oh, deixa, querida, que eu recline A fronte no teu seio, Sob este doce e brando olhar De brilho incomparável.
Com sua luz, mágica e fria, Meu pensamento invade; Vem acalmar a negra noite Desta paixão ardente
E fica sempre junto a mim Para que eu sofra menos, Tu, que és o meu primeiro amor E o sonho derradeiro.”
Do alto, Hypérion contemplava Seus rostos enlevados; Assim que o jovem lhe tocou, Ela o prendeu nos braços...
No ar rescendem flores argênteas Que em leve chuva caem Sobre as cabeças juvenis De longas tranças louras.
Ela, porém, no seu enlevo, Os olhos levantou E, vendo Hypérion, meigamente, Confessa os seus desejos:
—“Desce até mim, Astro suave, Desliza por um raio, Vem inundar-me o pensamento, Iluminar-me a vida!»
Ele, como outrora, tremeluz Nos bosques e colinas, Guiando sempre as solidões Das vagas movediças;
Na pequenez do vosso mundo Vivei, sede felizes! — Eu ficarei na minha esfera Eternamente frio.”
Mas já não tomba, como dantes, Do alto, sobre os mares: —“Rosto de argila, que te importa Que seja eu, ou outro?
Na pequenez do vosso mundo Vivei, sede felizes! – Eu ficarei na minha esfera Eternamente frio.”
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HYPÉRION
- Nesta obra-prima da poesia romena - poema da solidão do Génio e da sua
inaptidão para viver o dia a dia - o nome de Hypérion não designa
Titan, o pai do Sol, nem o próprio Sol, mas o Astro em geral; alterna, no
original romeno, com o nome de Luceafăr, que quer dizer "Estrela da
Manhã". Eminescu deve ter conhecido o romance Hypérion. de Hölderlin
(1770-1843), no qual o artista, como Hypérion, supera a dor e a própria
miséria . A génese do poema é indicada pelo próprio poeta num dos seus
manuscritos (vide Perpessicius, op. cit., II, pág. 403): "Na
descrição duma viagem aos países romenos, o alemão K. conta a história
da Estrela da Manhã. Este é o assunto. Dei-lhe o significado
alegórico de que, se o Génio não conhece a morte e se o seu nome
escapa à noite do esquecimento, por outro lado, cá na terra, nem é capaz de
tornar alguém feliz, nem de o ser ele próprio. Ele não tem morte, nem tão
pouco sorte. Pareceu-me que o destino do Astro, tal como vem no conto, é
muito parecido com o do Génio cá na terra, e (por isso) dei-lhe um
significado alegórico". O autor alemão é o viajante Ricardo Kunisch, e o
livro intitula-se "Bukarest und Stambul: Skizzen und Ungarn, Rumänien und
der Türkei", Berlin, 1861; o conto de fadas recolhido por Kunisch na Roménia
foi por ele intitulado "Das Mädchen im goldenen Garten" e foi depois
versificado por Eminescu em "A rapariga do jardim de oiro" que constitui,
portanto, a primeira versão do poema Estrela da Manhã - Ver também
Introd. (ao livro), pág. 29-32. (NOTA
DO TRADUTOR). * Príncipe. |
G L O S S A
Vreme trece, vreme vine,
Multe trec pe dinainte.
Nici încline a ei limbă
Privitor ca la teatru
Viitorul si trecutul Te întreabă si socoate.
Căci acelorasi mijloace
Nu spera când vezi miseii
Cu un cântec de sirenă
De te-ating, să feri în laturi,
Tu rămâi la toate rece,
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Glosa
Tempo passa, tempo vem, Tudo é velho e novo é tudo; Sobre o mal e sobre o bem, Interroga-te e medita; Nada esperes, nem receies; Se te incitam, se te chamam, Insensível fica a tudo.
Muita coisa ante nós passa, Nós ouvimos muita coisa; Quem se lembra disso tudo E a escutá-lo ficaria?... Tu, recolhe-te a um canto, Encontrando-te a ti próprio, Quando, com ruídos vãos, Tempo passa, tempo vem.
Nem se incline a fria agulha Da balança do pensar Para o instante que se muda Em ventura mascarada, Que da própria morte nasce E talvez se esvai num ápice; Para aquele que a conhece, Tudo é velho e novo é tudo.
Como espectador no teatro, Imagina-te no mundo: Mesmo que um faça de quatro, O seu rosto reconheces; Se discutem ou se choram, Tu disfruta-os do teu canto, Dessas manhas reflectindo Sobre o mal e sobre o bem.
O futuro e o passado São da folha as duas páginas; Vê o fim desde o princípio Quem aprende a conhecê-los; O que foi e o que será No presente possuímos; Mas quanto à sua vaidade, Interroga-te e medita.
Porque tudo quanto existe Se submete às mesmas leis; E há milénios e milénios É o mundo alegre e triste; Outras máscaras e bocas – Mesma peça e mesma voz. Tantas vezes enganado, Nada esperes, nem receies.
Nada esperes, vendo os míseros Pelo êxito a lutarem; Perderás com esses tolos, Apesar do teu engenho. Não receies, pois entre eles Tentarão prejudicar-se. Não procures acompanhá-los: Como as ondas, passa a onda.
Com um canto de sereia Lança o mundo as suas redes; Quando muda actores em cena Larga nuvens de poeira; Tu, então, passa de lado, Nem sequer dês atenção; Não desvies o teu caminho Se te incitam, se te chamam.
Se te mexem, tu afasta-te, Se difamam, nada digas; De que serve o teu conselho, Se bem sabes quanto valem? Digam eles o que disserem, Passe quem passar no mundo, Para não gostares de nada, Insensível fica a tudo.
Insensível fica a tudo, Se te incitam, se te chamam, Como as ondas, passa a onda, Nada esperes nem receies. Interroga-te e medita Sobre o mal e sobre o bem. Tudo é velho e novo é tudo, Tempo passa, tempo vem.
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De: Mihail Eminescu, Poesias, Poezii, Selecção, Tradução, Prefácio e Notas de Victor Buescu, Colaboração de Carlos Queiroz, com um ensaio de Mircea Eliade, Editorial Fernandes, Lisboa, 1950 |