16-2-2001

 

 

John Donne

(1572 – 1631)

 

 

                 

LOVE'S GROWTH

 

I scarce believe my love to be so pure
                As I had thought it was,
                Because it doth endure
Vicissitude, and season, as the grass ;
Methinks I lied all winter, when I swore
My love was infinite, if spring make it more.

But if this medicine, love, which cures all sorrow
With more, not only be no quintessence,
But mix'd of all stuffs, vexing soul, or sense,
And of the sun his active vigour borrow,
Love’s not so pure, and abstract as they use
To say, which have no mistress but their Muse ;
But as all else, being elemented too,
Love sometimes would contemplate, sometimes do.

And yet no greater, but more eminent,
                Love by the spring is grown ;
                As in the firmament
Stars by the sun are not enlarged, but shown,
Gentle love deeds, as blossoms on a bough,
From love's awakened root do bud out now.

If, as in water stirr'd more circles be
    Produced by one, love such additions take,
    Those like so many spheres but one heaven make,
For they are all concentric unto thee ;
And though each spring do add to love new heat,
As princes do in times of action get
New taxes, and remit them not in peace,
No winter shall abate this spring’s increase.

 

 

 

 

 

O CRESCIMENTO DO AMOR, OU A PRIMAVERA

 

 

Mal acredito que o meu amor seja tão puro

            Como pensava que era,

Porque tem que suportar

Vicissitudes, e estações, como a erva.

Penso que menti todo o inverno, quando jurava

Meu amor infinito, se a Primavera o aumentou.

 

Mas, se o amor, este remédio, que toda a mágoa cura

Com mais, não for qualquer quintessência, é mistura

De todas as matérias afligindo a alma, ou os sentidos,

E ao Sol rouba o seu vigor operativo.

O Amor não é tão puro e abstracto, como costumam

Dizer os que por amantes têm a sua Musa,

Mas como tudo o resto, sendo também elemental,

Por vezes será contemplativo, outras agirá.

 

Mas nem por isso maior, apenas mais eminente

            Se tornou, com a Primavera,

            Como, no firmamento,

Com o Sol, as estrelas, se mostram mas não aumentam.

Como botões num ramo, ternos gestos amorosos,

Da despertada raiz do amor florescem agora.

 

Se, no agitar da água mais círculos procedem

de um, também assim o amor se acrescentará.

Esses, iguais às tantas esferas, apenas um céu formam,

Porque todos são concêntricos em ti:

Cada Primavera acrescentará novo calor ao amor, e

Como os príncipes em tempo de guerra, que lançam

Novos impostos sem depois os revogar na paz,

Nenhum Inverno diminuirá o acrescento da Primavera.

 

  

John Donne, Poemas Eróticos, Tradução de Helena Barbas, Assírio e Alvim, 1995, ISBN 972370384X