14-11-2000

William Butler Yeats

(1865 - 1939)

 

EASTER 1916

I

I have met them at close of day
Coming with vivid faces
From counter or desk among grey
Eighteenth-century houses.
I have passed with a nod of the head
Or polite meaningless words,
Or have lingered awhile and said
Polite meaningless words,
And thought before I had done
Of a mocking tale or a gibe
To please a companion
Around the fire at the club,
Being certain that they and I
But lived where motley is worn:
All changed, changed utterly:
A terrible beauty is born.
 

II

That woman's days were spent
In ignorant good will,
Her nights in argument
Until her voice grew shrill.
What voice more sweet than hers
When young and beautiful,
She rode to harriers?
This man had kept a school
And rode our winged horse.
This other his helper and friend
Was coming into his force;
He might have won fame in the end,
So sensitive his nature seemed,
So daring and sweet his thought.
This other man I had dreamed
A drunken, vain-glorious lout.
He had done most bitter wrong
To some who are near my heart,
Yet I number him in the song;
He, too, has resigned his part
In the casual comedy;
He, too, has been changed in his turn,
Transformed utterly:
A terrible beauty is born.

III

Hearts with one purpose alone
Through summer and winter, seem
Enchanted to a stone
To trouble the living stream.
The horse that comes from the road,
The rider, the birds that range
From cloud to tumbling cloud,
Minute by minute change.
A shadow of cloud on the stream
Changes minute by minute;
A horse-hoof slides on the brim;
And a horse plashes within it
Where long-legged moor-hens dive
And hens to moor-cocks call.
Minute by minute they live:
The stone's in the midst of all.

IV

Too long a sacrifice
Can make a stone of the heart.
O when may it suffice?
That is heaven's part, our part
To murmur name upon name,
As a mother names her child
When sleep at last has come
On limbs that had run wild.
What is it but nightfall?
No, no, not night but death.
Was it needless death after all?
For England may keep faith
For all that is done and said.
We know their dream; enough
To know they dreamed and are dead.
And what if excess of love
Bewildered them till they died?
I write it out in a verse --
MacDonagh and MacBride
And Connolly and Pearse
Now and in time to be,
Wherever green is worn,
Are changed, changed utterly:
A terrible beauty is born.

 

 

PÁSCOA, 1916

I

 

 

 

Encontrei-vos ao fechar do dia;

Vinham com rostos vívidos

Do balcão ou secretária, por entre

Casas cinzentas setecentistas.

Passei com um acenar de cabeça

Ou palavras de cortesia sem sentido,

Ou então demorei-me um pouco e disse

Palavras de cortesia sem sentido,

E pensei antes de partir

Numa história jocose ou chalaça

Que agradasse a um amigo

À volta do fogo no clube,

Na certeza de que vivíamos

Onde reine o bolbo multicolour.

Tudo mudou, de todo mudou,

E uma terrível beleza nasceu.

 

II

 

 

Essa mulher passava os dias

Em ignorante benevolência,

E as noites em discussão

Até se tornar estridente.

Que voz mais doce que a dela,

Quando, bela e jovem,

Cavalgava com a matilha?

Este homem possuía uma escola

E montava o nosso cavalo alado;

Este outro, seu amigo e seu apoio,

Quase amoderecidos os poderes,

Podia ter, por fim, ganhado fama,

De tão sensível natureza era,

Tão ousado e doce o pensamento.

Este outro homem eu julgava

Um rude e arrogante bêbado,

Que tinha cruelmente ofendido

A quem tenho no coração,

Porém, conto-o no meu canto:

Também ele rejeitou o papel

Na comédia occasional;

Também ele foi, por sua vez, mudado,

De todo transformado:

E uma terrível beleza nasceu.

 

III

 

Corações de um só intento,

Ao longo do Verão e Inverno

Parecem de pedra, enfeitiçados,

Alterando a corrente viva.

O cavalo que surge da Estrada,

O cavaleiro, as aves que vão

De nuvem em nuvem rodopiante,

Mudam minuto a minuto;

Uma sombre de nuvem no rio

Muda minuto a minuto.

Um casco que escorrega na borda

E um cavalo chapinha na água;

Mergulham galinhas silvestres

E as fêmeas chamam os machos;

Todos vivem minuto a minuto:

A pedra permanence no meio.

 

 

IV

 

Longo de mais, o sacrifício

Faz do coração uma pedra.

Oh, quando bastará?

Isso cabe ao Céu dizer; a nós,

Murmurar nome após nome

Como a mãe nomeia o filho

Quando, por fim, o sono chega

A membros extenuados.

O que é, senão o anoitecer?

Não, não a noite, mas a morte;

Terá sido afinal a morte inútil?

Pois a Inglaterra pode cumprir,

Apesar de tudo, a palavra.

Sabemos o sonho deles; chega

Saber que sonharam e estão mortos;

E se o excesso de amor,

Por desvairo, os faz morrer?

No meu verso escrevo tudo:

MacDonagh e MacBride

E Connolly e Pearse,

Agora e no tempo por vir,

Onde quer que reine a cor verde,

Mudaram, de todo mudaram:

E uma terrível beleza nasceu.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

Tradução de João Ferreira Duarte, em "LEITURAS, poemas do inglês", Relógio de Água, 1993. ISBN 972-708-204-1