12-12-2018
José Saramago - Rota de Vida - Uma Biografia,
de Joaquim Vieira - Livros Horizonte
NOTA DE LEITURA
A biografia de Saramago por Joaquim Vieira
é uma obra do maior interesse, pese embora a sua extensão
de 751 páginas. De facto, o tamanho
é
o
único senão que lhe atribuo. Penso que o autor poderia ser mais
comedido por exemplo, no tamanho das citações e
no resumo dos livros do escritor. Mas
é de todo o modo um
belo livro.
Muito interessante a afirmação de Saramago de que se ocupou de livros porque não
tinha outro emprego. Dedicou-se primeiro
às traduções (a lista dos livros que ele traduziu
é
enorme -- pag. 351), passou depois ao romance e ao ensaio.
A ligação
de Saramago
às suas musas principais, Isabel da Nóbrega
e Pilar del Rio,
é esmiuçada com todos os
pormenores.
De notar que o autor da biografia não solicitou o depoimento de Isabel da Nóbrega,
certamente por respeito
à sua idade (93
anos em 26 de Junho
último) e/ou
por pedido da família. Foi
à filha Ana Isabel
que o autor do livro solicitou um depoimento sobre a mãe,
assim como
à sobrinha, a escritora Ana Maria Magalhães.
É algo estranho que o Expresso não
tenha publicado uma recensão do livro: será
retaliação pelo desagrado de Francisco Pinto Balsemão
com a sua própria biografia escrita pelo mesmo jornalista, Joaquim
Vieira?
|
A biografia de Saramago para esclarecer portugueses sectários
João Céu e Silva
A perceção nacional sobre o único Nobel da Literatura em língua portuguesa ainda
é mais negativa do que positiva para os seus concidadãos. Pode ser que a
biografia de Joaquim Vieira ajude a esclarecer os maus leitores de Saramago.
A
introdução de Joaquim Vieira à sua mais recente biografia, José Saramago -
Rota de Vida, é reveladora do preconceito para com um dos mais importantes
escritores da literatura portuguesa. Nela conta como propôs, enquanto diretor
adjunto do semanário Expresso, que se convidasse Saramago para escrever
uma crónica semanal em 1993. Justificara o convite com a sua experiência própria
de leitor soixante- huitard, o modelo de uma coluna existente no Le
Monde, e porque pressentia que o autor ainda poderia vir a ser Prémio Nobel.
Assim aconteceu cinco anos depois, deixando o jornal sem a sua marca como
testemunho impresso nas páginas de sábado devido às posições do então diretor
José António Saraiva, e o fundador Pinto Balsemão, contra a presença de um
comunista num jornal de tradição liberal.
A revelação é a primeira entre as muitas que esta biografia hoje apresentada
oficialmente na Biblioteca do Palácio Galveias traz nas suas 751 páginas. O
local da sessão não terá surgido por acaso, afinal foi naquelas salas que o
operário José se formou intelectualmente e se transformou em Saramago, o
escritor que acalentava desejo de o ser desde cedo e que até aos 60 anos nunca
teve sucesso suficiente para se destacar entre a "aristocracia" que dominava as
letras portuguesas.
Teve a sorte, disse-o Saramago, de ser demitido de subdiretor do Diário de Notícias após a deriva esquerdista do pós-Revolução do 25 de Abril e de ter ido parar a Lavre, uma terra alentejana em que a cooperativa e os comunistas que por lá andavam o fizeram ouvir a voz literária que colocou para trás de si a maioria dos autores seus contemporâneos e inovou a narrativa nacional.
O biógrafo Joaquim Vieira faz um levantamento exaustivo do seu percurso de vida
com recurso a inúmeras entrevistas de quem o conheceu ou trabalhou com ele, revê
estudos e investigações de outros sobre o biografado, e escreve o mais longo
trabalho que Saramago teve até agora sobre a sua vida e obra. Que esclarece
bastantes pormenores de uma vida que foi dourada por amigos, contestada por
inimigos, maltratada por estudiosos da literatura das últimas décadas, analisada
com despeito ideológico por alguma crítica literária e até amaldiçoada por
várias figuras governativas pouco esclarecidas.
Não será por acaso que o primeiro capítulo começa com o discurso de Saramago na
entrega do Nobel em Estocolmo. Joaquim Vieira destaca a escolha do premiado em
elogiar o seu avô tratador de porcos e questiona se foi uma "tirada literária
concebida para a ocasião" ou um "pensamento genuíno". Desta e doutras dúvidas
está a rota de vida de José Saramago cheia, que o biógrafo tenta esclarecer de
vez neste livro, não se preocupando em observar os limites do politicamente
correto ou satisfazer interesses.
A melhor notícia é que esta biografia escapa à hagiografia habitual dos que
estavam próximos de Saramago e dos que lhe estão ainda. Não retira um ponto da
sua vida ideológica como se vai tentando esbater, não ignora a sua roda-viva
emocional que colegas seus fazem questão de debicar em sussurro, não passa ao
lado das invejas na vida editorial que o "jovem" Saramago tem de enfrentar
quando se tenta aproximar dos "grandes" durante o anterior regime, não esquece
as duas primeiras mulheres nem o papel de Isabel da Nóbrega nos primeiros
grandes sucessos de Saramago.
A página 216 da biografia é um bom exemplo desta última situação, quando uma
"incógnita amiga" refere como Isabel da Nóbrega encontra Saramago: "O Zé não se
sabia vestir, e nem tinha dinheiro para isso. Quem o arranjou, etc., foi ela,
quase como numa campanha de publicidade - eu diria que a Isabel criou o
produto."
A página 271 (e seguintes) é outro bom exemplo da velha questão do "saneamento"
no Diário de Notícias que aqui é tratado com bastantes depoimentos de
jornalistas que viveram a situação.
A página 419 é um bom exemplo de como parte do poder não apreciava Saramago,
onde se relata o exemplo do caso do atraso de sete meses na entrega do Prémio
Cidade de Lisboa e de o então autarca Krus Abecasis dizer na cerimónia que "não
me perturba dar um prémio que exprime uma conceção do mundo inteiramente oposta
à minha e à dos cidadãos que me elegeram".
A página 525 é um bom exemplo de dois temas grandes da biografia de Saramago, o
escândalo de O Evangelho segundo Jesus Cristo e o ruir do universo
comunista.
A página 665 é um bom exemplo de como a outorga do Prémio Nobel irritou em muito
os seus concidadãos, designadamente o que se chamava a crítica literária que
utilizou o romance pós-Nobel A Caverna como o melhor exemplo para o pior
da escrita de Saramago.
As únicas páginas que faltam neste José Saramago - Rota de Vida são
aquelas que poderiam proporcionar um maior detalhe sobre a vida literária pós Levantado
do Chão, mas a biografia aponta para o conhecimento maior do homem e não
pretende ser uma radiografia literária. Portanto, nada a apontar sobre a opção,
até porque o período pré-Levantado do Chão faz dos melhores retratos do
esforço literário do escritor.
José Saramago Rota de Vida - Uma Biografia
Joaquim Vieira
Editora Livros Horizonte
751 páginas
13 de Novembro de 2018
José Saramago: Rota de Vida é
o título do novo livro, escrito por Joaquim Vieira e editado pela Livros
Horizonte. Lançamento realiza-se no Palácio Galveias, às 18h30.
A biografia de José Saramago, um retrato do percurso criativo e privado do
Prémio Nobel da Literatura Português, já chegou às livrarias e é apresentada
esta terça-feira, às 18h30, na Biblioteca Palácio Galveias, em Lisboa.
José Saramago: Rota de Vida é
o título da biografia, escrita por Joaquim Vieira e editada pela Livros
Horizonte, que traça o percurso de uma personalidade única da cultura
portuguesa, debruçando-se tanto sobre a sua intensa actividade criativa como
sobre a sua atribulada vida privada, descreve a editora.
PUB
Único português, até à data, a
vencer o Prémio Nobel da Literatura – o
que aconteceu há 20 anos – e
autor de romances como Memorial
do Convento, O
Ano da Morte de Ricardo Reis ou Ensaio
sobre a Cegueira,
Saramago conquistou por mérito próprio "um estatuto de primordial relevo" na
História recente, acrescenta.
A editora destaca, contudo, que José Saramago trilhou "um caminho árduo" até
atingir a consagração, já que nasceu no seio de uma família de trabalhadores
rurais ribatejanos, estudou apenas para serralheiro mecânico e fez toda a sua
formação intelectual como autodidacta.
O autor manteve-se na obscuridade durante a maior parte da sua carreira, fosse
como funcionário de escritório, responsável por uma editora ou até enquanto
editorialista, que não assinava os seus textos, e só por volta dos 60 anos
ganhou notoriedade como romancista.
"É um percurso muito rico de vida, sobretudo porque há uma parte que é menos
conhecida das pessoas, porque Saramago praticamente só ganhou projecção aos 60
anos, há todo um percurso de evolução até aí que eu acho fascinante", disse
Joaquim Vieira, em entrevista à Lusa.
E explica: "Como é que uma pessoa está na obscuridade durante a maior parte da
sua vida e, de repente, começa uma ascensão até chegar ao Nobel? Isso é o que eu
acho talvez mais interessante na vida de Saramago, mas interessou-me muito esse
primeiro meio século da sua vida, como é que foi a sua formação, para chegar a
uma altura e fazer a caminhada para o Nobel".
Viu-se envolvido em polémicas que mobilizaram as atenções nacionais: foi acusado
de praticar censura e de afastar jornalistas como director-adjunto do Diário
de Notícias.
No entanto, ele próprio viria a
queixar-se, anos mais tarde, de o Governo lhe censurar um livro,
o que o levaria a tomar a decisão de se afastar do país.
Joaquim Vieira refere-se a esse episódio, passado no chamado "Verão Quente" de
1975, do saneamento de jornalistas que exigiam mais pluralismo, como tendo sido
"muito complicado" na vida de Saramago, que ainda se tentou distanciar desse
acto, afirmando que não tinha responsabilidades. "Mas não é essa a ideia que se
tira quando se investiga o assunto e se fala com pessoas que viveram isso
também. A ideia que se tira é que ele teve responsabilidades", afirma Joaquim
Vieira, argumentando, contudo, que é preciso perceber o que se passou, "no
contexto da época".
Eram tempos de muita agitação, em que toda a gente tomava posição, e Saramago
esteve também envolvido em toda essa agitação, escrevia editoriais que defendiam
opiniões "incendiárias no contexto da época do PREC [Período Revolucionário em
Curso]". Na altura, dizia-se que o jornal estava na mão do PCP e, de facto, José
Saramago era militante do partido, "só que aqueles editoriais escritos por ele
eram mais radicais do que a posição do PCP, o que causou até incómodos ao
próprio Partido Comunista", contou Joaquim Vieira, confessando que desconhecia
este pormenor.
A biografia de José Saramago revela também um homem com uma relação "um pouco
atribulada" com as mulheres, com quem teve "muitos actos de sedução ao longo da
vida". "Há muitas histórias de Saramago com mulheres", histórias que, hoje em
dia, na era do movimento #MeToo,
possivelmente ganhariam "um outro significado".
"As pessoas farão os seus juízos, não o acuso de assédio, mas descrevo certos
episódios e depois as pessoas tiram as suas conclusões", afirmou Vieira,
frisando que nenhuma das pessoas que entrevistou acusou o escritor de assédio,
de "maneira explicita", mas contaram "situações que são um bocado complicadas".
Apesar destes episódios, Joaquim Vieira salienta que "o fundamental" da
biografia de Saramago é a obra, a escrita e a literatura.
O jornalista, que já foi biógrafo de Mário Soares e de Francisco Pinto Balsemão, assumiu a empreitada de escrever a biografia de José Saramago, a convite da editora Livros Horizonte, tarefa que lhe demorou três anos de trabalho e que chegou este mês às livrarias.
ípsilon
Uma ascensão na obscuridade até ao “caminho das estrelas”: foi esse o "atraente"
objecto de trabalho de Joaquim Vieira. Rota
de Vida,
a biografia “não oficial” de José Saramago, é um livro essencial para se
perceber o percurso de uma personalidade que marcou de maneira intensa a vida
cultural portuguesa
Rota de Vida,
a biografia “não oficial” de José Saramago agora publicada pela Livros Horizonte,
foi preparada e escrita ao longo de três anos. O autor deste longo e cuidado
trabalho foi Joaquim Vieira (n. 1951), jornalista, ensaísta e documentarista, e
autor de vários livros – entre eles as biografias de Mário Soares e de Francisco
Pinto Balsemão. Em Rota
de Vida,
Joaquim Vieira não se limitou ao retrato do lado público, mais ou menos
conhecido, do biografado; a sua atribulada vida privada não ficou fora da
pintura, mesmo que por vezes inconveniente e incómoda. “Não escrevi uma
hagiografia”, nota. “Preocupo-me sempre em fazer um retrato de corpo inteiro. Às
vezes as pessoas chocam-se com certas histórias que mostram a vida privada dos
biografados. Mas acho que para mim é natural, eu não vou escrever só sobre o
trabalho das pessoas, aquilo que elas publicavam. Esse contributo delas para a
vida pública já é conhecido. Quando se faz uma biografia interessa contar toda a
vida da pessoa, incluindo as partes que alguns possam considerar mais incómodas,
mais inconvenientes. A vida privada, por vezes até a vida íntima, é a parte
mundana. Isso causa algumas surpresas. Tive esse problema com a biografia de
Mário Soares e com a de Pinto Balsemão.”
Joaquim Vieira começa por, durante algum tempo, acumular informação, um pouco a
esmo. Depois chega a altura de a ordenar e de lhe dar uma certa lógica a partir
da qual passa a uma nova fase do trabalho. “As informações que se vão recolhendo
são como pontinhos que se põem na tela, e depois há que unir esses pontos para
termos o retrato. E quantos mais pontos houver, mais preciso e fiel é o retrato.
Quando o percurso é público os pontinhos já estão mais ou menos espalhados pela
tela, mas há coisas que é preciso reconstituir”, diz.
O método que seguiu neste trabalho sobre a vida e a obra de José Saramago foi
idêntico ao que seguiu quando escreveu as outras biografias. Mas esta teve
especificidades: a particularidade de ter de ler toda a obra publicada, e o
facto de o biografado ter quase 60 anos de idade quando começou a sua vida
pública. “Essa parte menos pública da vida levanta a dificuldade da
reconstituição de uma fase mais obscura. Mas o facto de ele ter começado a ser
um escritor conhecido depois de 60 anos de vida, torna o trabalho muito mais
fascinante. Esse caminho da ascensão até à consagração como escritor, essa
ascensão na obscuridade até ao “caminho das estrelas”, como alguém disse. Achei
isso particularmente atraente como objecto de trabalho”, confessa Joaquim
Vieira.
Por entre a recolha de dados e de factos em arquivos, houve também a necessária
recolha de depoimentos. O biógrafo pergunta e escuta. Depois há que filtrar,
verificar se as histórias têm correspondência com outros testemunhos ouvidos ou
com documentação escrita. “Há coisas que muitas pessoas validam como importante,
e que parece um dado fundamental na vida da pessoa, pessoas que viveram isso,
que foram protagonistas, mas que quando se confrontam os depoimentos com outros
aquilo ganha uma dimensão muito menor”, exemplifica Joaquim Vieira.
Rota de Vida é
um livro essencial para se perceber o percurso de uma personalidade que marcou
de maneira intensa a vida cultural portuguesa.
EXPRESSO de 18-6-2010
CRONOBIOGRAFIA
de José Saramago
Nasce a 16 de Novembro na Rua da Alagoa de Azinhaga (Ribatejo, Golegã, Portugal)
no seio de uma família de camponeses. Os seus pais são José de Sousa,
jornaleiro, e Maria de Jesus, doméstica.
Muda-se para Lisboa com a família, onde o pai irá trabalhar na Polícia de
Segurança Pública.
Em Dezembro morre o seu irmão Francisco, com quatro anos de idade.
Aquando da sua inscrição na escola primária da Rua Martens Ferrão descobre-se
que um funcionário do Registo Civil da Golegã incluiu como apelido na sua
certidão de nascimento a alcunha familiar, Saramago. Desta forma, torna-se no
primeiro Saramago da família Sousa. Se assim não tivesse acontecido, o seu nome
seria José de Sousa.
Muda-se para a escola primária do Largo do Leão.
Durante estes anos e os seguintes a família Sousa tem uma vida difícil, morando
em quartos alugados e em várias ruas de Lisboa: Quinta do Perna-de-Pau, Rua E
(hoje Rua Luís Monteiro), Rua Carrilho Videira, Rua dos Cavaleiros, Rua Padre
Sena Freitas.
Matricula-se no Liceu Gil Vicente, onde inicia estudos secundários, frequentando
dois cursos (liceal e técnico).
A falta de recursos económicos da família obriga-o a transferir-se para a Escola
Industrial de Afonso Domingues, onde estudará até 1940.
Durante toda a infância e adolescência passa longos períodos na Azinhaga com os
avós maternos.
O primeiro livro que possui é-lhe oferecido pela mãe: A
Toutinegra do Moinho, de Émile de Richebourg.
A família Sousa passa a viver num andar só para ela na Rua Carlos Ribeiro, nº
15, no Bairro da Penha de França.
Conclui os estudos de Serralharia Mecânica no Escola Industrial de Afonso
Domingues. Consegue o seu primeiro emprego como serralheiro mecânico nas
oficinas dos Hospitais Civis de Lisboa.
À noite frequenta a biblioteca municipal do Palácio das Galveias, "lendo ao
acaso de encontros e de catálogos, sem orientação, sem ninguém que me
aconselhasse, com o mesmo assombro criador do navegante que vai inventando cada
lugar que descobre", nas palavras do próprio Saramago.
Passa a ocupar um lugar nos serviços administrativos dos Hospitais Civis de
Lisboa.
Trabalha na Caixa de Abono de Família do Pessoal da Indústria de Cerâmica, de
onde foi afastado em 1949 em consequência do seu apoio à campanha eleitoral de
Norton de Matos, o candidato da oposição à Presidência da República.
Casa-se com a pintora Ilda Reis.
Publica Terra
do Pecado, o seu primeiro romance, intitulado inicialmente A
Viúva.
Nasce a sua filha, Violante.
Na segunda metade dos anos cinquenta e até 1953 escreve numerosos poemas, contos
- alguns dos quais são publicados em revistas e jornais - e esboça a redacção de
pelo menos quatro romances, dos quais apenas conclui um.
Morre o seu avô, Jerónimo Melrinho.
Começa a trabalhar na Caixa de Previdência do Pessoal da Companhia Previdente,
fazendo cálculos de subsídios e de pensões, graças à mediação do seu antigo
professor Jorge O´Neil.
Termina Clarabóia,
romance inédito, com que encerra uma série de infrutíferas tentativas narrativas
que aborda sob títulos como O
Mel e o Fel, Os
Emparedados e Rua.
A convite de Nataniel Costa enceta colaboração com a editora Estúdios Cor, no
sector de produção. O seu nome começa a ser conhecido no campo da literatura e
da cultura. Inicia a sua actividade como tradutor, cifrada em mais de sessenta
títulos, até meados da década de oitenta. Na segunda metade da década de
cinquenta traduz cerca de dezasseis livros, entre eles de autores como Colette e
Tolstoi.
Abandona a Companhia Previdente para trabalhar exclusivamente na editora
Estúdios Cor.
Em 13 de Maio morre o seu pai, no Hospital dos Capuchos, aos sessenta e oito
anos de idade.
É editado o seu primeiro livro de poesia, Os
Poemas Possíveis.
Ao longo desta década continua a sua actividade de tradutor, se bem que com mais
moderação. Traduz, entre outros, Colette, Cassou, Audisio, Maupassant e Bonnard.
Colabora como crítico literário na revista Seara
Nova. Nesta condição, escreve sobre vinte e três livros de ficção,
entre eles títulos de Jorge de Sena, Agustina Bessa-Luís, Júlio Moreira, Alice
Sampaio, Augusto Abelaira, Urbano Tavares Rodrigues, José Cardoso Pires, Rentes
Carvalho, Nelson de Matos, Manuel Campos Pereira...
Publica crónicas no jornal A
Capital, nas secções "Rua Acima, Rua Abaixo" e "Deste Mundo e do
Outro".
Filia-se no Partido Comunista Português.
Faz a sua primeira viagem ao estrangeiro (Paris).
Continua a publicar crónicas jornalísticas n'A
Capital, na secção "Deste Mundo e do Outro".
Divorcia-se de Ilda Reis.
Muda-se para Lisboa, depois de viver doze anos na Parede.
Inicia uma relação com a escritora Isabel da Nóbrega, que durará até 1986.
Publica o livro de poemas Provavelmente
Alegria.
Deixa a editora Estúdios Cor.
Sob o título Deste
Mundo e do Outro, reúne as crónicas publicadas no jornal A
Capital (1968-1969), cujo suplemento "A Semana" coordenou.
Continua a publicar crónicas nos jornais A
Capital e Jornal
do Fundão, na secção Deste
Mundo e do Outro.
Publica numerosas crónicas no Jornal
do Fundão.
Trabalha como editorialista no Diário
de Lisboa .
Nasce a sua primeira neta, Ana.
Continua como editorialista no Diário
de Lisboa.
Publica O
Embargo.
Dá à estampa A
Bagagem do Viajante, segundo volume das crónicas jornalísticas
publicadas nos jornais diários A
Capitale Jornal
do Fundão (1971-1972).
Dirige o suplemento literário do Diário
de Lisboa.
Colabora com a revista Arquitectura.
Após a Revolução do 25 de Abril coordena uma equipa do Fundo de Apoio aos
Organismos Juvenis (FAOJ), sob dependência do Ministério da Educação.
Colabora como assessor do Ministério da Comunicação Social.
Edita o seu primeiro volume de crónicas políticas, As
Opiniões Que o DL Teve, onde colige os editoriais que publicou
anonimamente no Diário
de Lisboa em 1972 e 1973.
Publica no Diário
de Notícias o "Primeiro e Segundo Poema dos Mortos".
É nomeado director-adjunto do Diário
de Notícias. Acusado de radicalismo marxista, vive um tumultuoso
momento de crise, paralelo à evolução política moderada da Revolução, que o
afasta do jornal, sem sequer receber apoio do seu partido.
Ao ficar desempregado no 25 de Novembro, decide não procurar outro trabalho e
dedicar-se exclusivamente à escrita e à tradução. Os seus únicos rendimentos
provêm das traduções, e intensifica esta actividade, a partir deste ano,
vertendo para português, entre 1976 e 1979, cerca de vinte e sete obras, muitas
delas de carácter político: Frémontier, Jivkov, Moskovichov, Pramov, Grisnoni,
Poulantzas, Bayer, Hegel, Romain...
Faz parte do Movimento Unitário de Trabalhadores Intelectuais para a Defesa da
Revolução (MUTI).
Publica o livro de poemas O
Ano de 1993.
Faz uma recompilação das crónicas escritas no Diário
de Notícias, que publica com o título Apontamentos.
Em Dezembro publica o romance Manual
de Pintura e Caligrafia.
No início do ano transfere-se durante uns meses para Lavre, Montemor-o-Novo,
onde convive com trabalhadores da Unidade Colectiva de Produção Boa Esperança,
com o objectivo de preparar o seu romance Levantado
do Chão , que será publicado no ano de 1980.
Publica Objecto
Quase (contos).
Publica a peça de teatro A
Noite, que recebe o Prémio da Associação Portuguesa de Críticos.
Publica-se Poética
dos Cinco Sentidos , livro de contos em que vários autores escrevem
sobre os sentidos. A colaboração de José Saramago intitula-se O
Ouvido.
O Círculo de Leitores encarrega-o de escrever um livro de viagens sobre
Portugal.
Surge Levantado
do Chão, que marca o início do estilo saramaguiano. É-lhe atribuído o
Prémio Cidade de Lisboa.
Publica a peça de teatro Que
Farei com Este Livro?, representada nesse ano no Teatro de Almada.
Entre esta data e 1985 traduz cerca de dez títulos de vários autores: Bautista,
Honoré, Jivkov, Duby, Hikmet...
É publicada Viagem
a Portugal.
Em Agosto morre a sua mãe, Maria da Piedade, aos 81 anos.
Publica Memorial
do Convento, que o consagra internacionalmente.
Dá à estampa a segunda edição, revista e corrigida, de Provavelmente
Alegria.
Atribuição a Memorial
do Convento do Prémio Pen Club 1983 e do Prémio Literário Município
de Lisboa.
Publica O
Ano da Morte de Ricardo Reis.
Preside à Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores.
Nasce o seu neto, Tiago.
É nomeado Comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada pelo Presidente da
República, Mário Soares.
Prémio Pen Club 1985 pelo título O
Ano da Morte de Ricardo Reis.
Prémio da Crítica 1985, pela Associação Portuguesa de Críticos.
Termina a relação com Isabel da Nóbrega.
Publica A
Jangada de Pedra.
Prémio Dom Dinis (Fundação Casa de Mateus) 1986, pela obra O
Ano da Morte de Ricardo Reis.
Começa a escrever as crónicas "A Letra da Tabuleta" no JL (Jornal
de Letras, Artes e Ideias ).
Conhece Pilar del Río.
Publica peça de teatro A
Segunda Vida de Francisco de Assis, levada à cena posteriormente no
Teatro Aberto.
Recebe o Prémio Grinzane-Cavour (Alba, Itália) 1987 atribuído a O
Ano da Morte de Ricardo Reis.
Casa-se com a jornalista Pilar del Río.
Publica História
do Cerco de Lisboa.
Estreia no Teatro Alla Scalla de Milão a ópera Blimunda,
com libreto do músico italiano Azio Corghi baseado no romance Memorial
do Convento.
Publica O
Evangelho Segundo Jesus Cristo, obra galardoada com o Grande Prémio
de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores e com o Prémio
Brancatti (Zafferana, Itália).
É nomeado Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Turim e Sevilha.
O governo francês concede-lhe o título de Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras.
A Lello Editores publica a sua obra completa em três tomos.
O governo português veta a candidatura de O
Evangelho Segundo Jesus Cristo ao Prémio Literário Europeu.
Em Itália, recebe o Prémio Internacional Ennio Flaiano (Pescara, Itália)
atribuído ao romance Levantado
do Chão.
É-lhe concedido o Prémio Literário Internacional Mondello (Palermo, Itália).
Transfere a sua residência para Lanzarote.
Publica a sua quarta peça de teatro, In
Nomine Dei, que é distinguida com o Grande Prémio de Teatro da
Associação Portuguesa de Escritores.
Torna-se membro do Parlamento Internacional de Escritores, com sede em
Estrasburgo.
Atribuição do The Independent Foreign Fiction Award (Inglaterra) a O
Ano da Morte de Ricardo Reis (tradução inglesa).
Recebe o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores.
Estreia no teatro de Münster (Alemanha) da ópera Divara,
com música de Azio Corghi e libreto baseado na peça In
Nomine Dei.
Publica-se o primeiro volume de Cadernos
de Lanzarote.
Ingressa na Academia Universal das Culturas (Paris).
Ingressa na Academia Argentina de Letras.
Ingressa no Patronato de Honra da Fundação César Manrique (Lanzarote).
É nomeado Presidente Honorário da Sociedade Portuguesa de Autores.
Publica Ensaio
sobre a Cegueira.
Publica o segundo volume de Cadernos
de Lanzarote.
É-lhe atribuído o Prémio Camões.
É nomeado Doutor Honoris Causa pela Universidade de Manchester (Inglaterra).
Estreia de A
Morte de Lázaro, com música de Azio Corghi e libreto baseado nas
obras In
Nomine Dei, O
Evangelho Segundo Jesus Cristo e Memorial
do Convento.
Recebe o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.
Viaja para o Brasil a fim de receber o Prémio Camões.
Publica o terceiro volume de Cadernos
de Lanzarote .
Sai o quarto volume de Cadernos
de Lanzarote.
Publica o romance Todos
os Nomes.
É nomeado Filho Adoptivo de Lanzarote.
Publica o Conto
da Ilha Desconhecida.
Doutor Honoris Causa, Universidade de Castilha-la-Mancha (Espanha).
Recebe o Prémio Nobel da Literatura "... pela sua capacidade de tornar
compreensível uma realidade fugidia, com parábolas sustentadas pela imaginação,
pela compaixão e pela ironia", segundo a Academia Sueca.
Sai o quinto volume de Cadernos
de Lanzarote.
É-lhe atribuído o Prémio Scanno/Universidade G. D'Annunzi pelo livro Objecto
Quase.
Publica Folhas
Políticas.
É nomeado Filho Adoptivo de Tías (Lanzarote).
Visita e permanece durante alguns dias no México, com os Zapatistas.
Doutor Honoris Causa, Universidade de Évora (Portugal).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Nottingham (Inglaterra).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Porto Alegre (Brasil).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Minas Gerais (Brasil).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Santa Catarina (Brasil)
Doutor Honoris Causa, Universidade de Rio de Janeiro (Brasil).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Massachusetts (EUA).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Las Palmas de Gran Canaria (Espanha).
Doutor Honoris Causa, Universidade Pontifícia de Valência (Espanha).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Rio Grande do Sul (Brasil).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Fluminense (Brasil).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Michel de Montaigne (França).
Publica A
Caverna.
Recebe a Medalha de Ouro que lhe é outorgada pelo Governo de Canárias.
Doutor Honoris Causa, Universidade de Salamanca (Espanha).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Santiago do Chile (Chile).
Doutor Honoris Causa, Universidade do Uruguai (Uruguai).
Publica A
Maior Flor do Mundo.
Recebe o Prémio Canárias Internacional concedido pelo Governo de Canárias.
Doutor Honoris Causa, Universidade de Granada (Espanha).
Doutor Honoris Causa, Universidade Carlos III (Espanha).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Roma (Itália).
Publica O
Homem Duplicado.
Doutor Honoris Causa, Universidade de Stranieri de Siena (Itália).
Doutor Honoris Causa, Universidade Autónoma do México (México).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Tabasco (México).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Buenos Aires (Argentina).
Publica Ensaio
sobre a Lucidez.
Doutor Honoris Causa, Universidade Charles de Gaulle (França).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Alicante (Espanha).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Coimbra (Portugal).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Brasília (Brasil).
Publica Don
Giovanni ou o Dissoluto Absolvido.
Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido é
traduzido para italiano.
Doutor Honoris Causa, Universidade de Edmonton (Canadá).
Doutor Honoris Causa, Universidade Nacional de El Salvador (El Salvador).
Doutor Honoris Causa, Universidade Nacional de São José da Costa Rica (Costa
Rica).
Em fins de Julho a Companhia de Teatro O Bando estreia uma adaptação teatral de
Ensaio sobre a Cegueira no Teatro da Trindade. A dramaturgia e a encenação são
de João Brites.
Doutor Honoris Causa, Universidade de Estocolmo (Suécia).
Compra uma casa em Lisboa, no Bairro do Arco do Cego, que a partir de finais de
Outubro lhe servirá de residência durante as suas permanências na capital.
Publica As
Intermitências da Morte. No Teatro Nacional de São Carlos tem lugar
uma iniciativa inédita: a apresentação conjunta das edições portuguesa,
brasileira, catalã, italiana e espanhola (De Espanha e da América falante do
castelhano), com leituras de excertos da obra em todas estas línguas, num acto
de homenagem à diversidade cultural. A edição foi impressa em papel "amigo das
florestas", por acordo entre José Saramago, editores e a Greenpeace. A música de
Bach foi o fundo musical do evento.
É nomeado Filho Predilecto da Província de Granada.
Em Fevereiro começa a escrever As
Pequenas Memórias, concluindo o livro em Agosto. Trata-se de um
projecto concebido e amadurecido durante mais de vinte anos.
No Verão inaugura-se a biblioteca de sua casa em Tías, Lanzarote, numa festa
cultural com a bailarina María Pagés e os cantores Luis Pastor e Pasión Vega, e
à qual assistem numerosos amigos de Espanha e de Portugal.
Publica As
Pequenas Memórias. O lançamento é feito na Azinhaga, coincidindo com
a passagem do seu 84.º aniversário.
É-lhe atribuído o Prémio Dolores Ibarruri.
Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Dublin no Bloomsday (Irlanda).
Em Guadalajara, México, procede-se à leitura teatral de As
Intermitências da Morte com Gael Diaz Bernal.
Petras, Gracia: Concerto A
Maior Flor do Mundo.
Lisboa: estreia de Don
Giovanni ou o Dissoluto Absolvido, no Teatro Nacional de São Carlos.
Milão: estreia no Teatro Alla Scalla de Don
Giovanni ou o Dissoluto Absolvido.
A 17 de Janeiro Luis Pastor apresenta o CD Nesta
Esquina do Tempo, em que são musicados poemas de Saramago.
A 3 de Fevereiro são apresentadas As
Pequenas Memórias em Tías, Lanzarote.
Em Fevereiro começa a escrever A
Viagem do Elefante. Até Maio escreve cerca de quarenta páginas, mas
depressa o interrompe por problemas de saúde. Só voltará a pegar-lhe em
Fevereiro de 2008.
A 28 de Fevereiro é nomeado Filho Predilecto da Andaluzia.
A 7 de Março é levado à cena, em Nova Iorque, o seu romance Ensaio
sobre a Cegueira, pela mão do director artístico da Godlight Theater
Company.
A 15 de Março é nomeado Doutor Honoris Causa pela Universidade Autónoma de
Madrid.
A 20 de Março apresenta-se na Corunha La
flor más grande del mundo, uma curta-metragem de animação baseada no
conto de Saramago A
Maior Flor do Mundo, realizada por Juan Pablo Etcheverry e com música
de Emilio Aragón.
Em Março estreia-se em Helsínquia Baltasar
e Blimunda, espectáculo musical realizado sobre textos do Memorial
do Convento e música de Domenico Scarlatti. Na obra, criada e
dirigida por Lisbeth Landefort, intervêm, além de uma voz recitante, a cravista
Elina Mustonen, a soprano Sirkka Lampimäki e a bailarina Lili Dahlberg. O
espectáculo estrear-se-á em Madrid a 16 de Novembro, para celebrar o 85º
aniversário do escritor; em Lisboa, a 18 de Novembro; em Lanzarote, a 13 de
Janeiro de 2008.
Em Abril termina o texto "As Sete Palavras do Homem" ["Las siete palabras del
hombre"]. É uma encomenda de Jordi Savall para acompanhar a sua gravação da
versão orquestral de As
Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz de Joseph Haydn, à frente da
orquestra Le Concert des Nations. O texto de Saramago reproduz-se no folheto que
acompanha o CD. As
Sete Palavras de Cristo na Cruz é uma partitura encomendada ao
compositor vienense pela Hermandad da Santa Cueva de Cádiz, em 1785. Constitui
um desafio, pois tratava-se de criar um "oratório sem palavras", em sete
movimentos lentos (sonatas), que servissem de contraponto musical às palavras
lidas dos evangelhos.
Em Junho começa a escrever A
Viagem do Elefante, que interromperá em Outubro por motivo de uma
doença grave. Saramago explicaria a origem do romance: "Foi há uns dez anos, em
Salzburgo. Num restaurante chamado precisamente O Elefante, vi um friso de
pequenas esculturas que representavam a caminhada de um elefante desde Lisboa
até Viena." Numa folha de agradecimentos, no início do livro, o autor
precisa as circunstâncias que favoreceram o nascimento da obra, a propósito de
um jantar no referido restaurante, depois de proferir uma conferência na
Universidade de Salzburgo: "Foi necessário que os ignotos fados se tivessem
situado na cidade de Mozart para que este escritor pudesse perguntar: "Que
figuras são essas?" As figuras eram umas pequenas esculturas de madeira postas
em fila, e a primeira delas, da direita para a esquerda, era a Torre de
Belém em Lisboa. A seguir vinham representações de vários edifícios e monumentos
europeus que manifestamente anunciavam um itinerário. Disseram-me que se tratava
da viagem de um elefante que, no século XVI, exactamente em 1551, sendo rei D.
João III, foi levado desde Lisboa até Viena. Pressenti que aí podia haver uma
história..."
Em Junho cria a Fundação José Saramago, não apenas com o objectivo de promover a
conservação, o estudo e o conhecimento da sua obra mas também de intervir social
e culturalmente, de impulsionar acções a favor do ambiente e de contribuir para
a promoção activa dos direitos humanos. Numa declaração de princípios assinada a
29 de Junho de 2007 por José Saramago, dirigida aos patronos da sua Fundação,
expõe como suas vontades:
"a )
Que a Fundação José Saramago assuma, nas suas actividades, como norma de
conduta, tanto na letra como no espírito, a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, assinada em Nova Iorque no dia 10 de Dezembro de 1948; b)
Que todas as acções da Fundação José Saramago sejam orientadas à luz deste
documento que, embora longe da perfeição, é, ainda assim, para quem se decidir a
aplicá-lo nas diversas práticas e necessidades da vida, como uma bússola, a
qual, mesmo não sabendo traçar o caminho, sempre aponta o Norte; c)
Que à Fundação José Saramago mereçam atenção particular os problemas do meio
ambiente e do aquecimento global do planeta, os quais atingiram níveis de tal
gravidade que já ameaçam escapar às intervenções correctivas que começam a
esboçar-se no mundo." E conclui: "Bem sei que, por si só, a Fundação José
Saramago não poderá resolver nenhum destes problemas, mas deverá trabalhar como
se para isso tivesse nascido. Como se vê, não vos peço muito, peço-vos tudo."
A 15 de Julho é publicada uma entrevista de João Céu e Silva no Diário
de Notícias, em que Saramago declara que, no seu entender, Portugal
acabará por se integrar administrativamente, embora não culturalmente, na
Espanha: "Não deixaríamos de falar português, não deixaríamos de escrever na
nossa língua e certamente com dez milhões de habitante teríamos tudo a ganhar em
desenvolvimento nesse tipo de aproximação e de integração territorial,
administrativa e estrutural." E sugere que a Espanha provavelmente deveria mudar
de nome, passando a chamar-se Ibéria: "Se Espanha ofende os nossos brios, era
uma questão a negociar." As suas palavras têm grande ressonância polémica na
Península Ibérica e geram um grande debate público.
Em Cartagena das Índias, Colômbia, intervém perante um fórum de líderes da
América organizado pela Fundación Carolina, para falar da necessidade da
emergência do mundo indígena na América. "O outro lado da lua" foi o
título da sua intervenção.
A 16 de Julho, em Castril (Granada, Espanha), numa renovação de votos, volta a
contrair matrimónio com Pilar del Río, num acto simbólico de homenagem à mãe de
Pilar, meses após a sua morte. Nessa noite Paco Ibañez dá um recital emocionante
na praça da aldeia em memória de Carmen, mãe de 15 filhos, da mãe de Saramago,
Maria da Piedade, e também da sua própria mãe, uma corajosa exilada que não se
rendeu.
O realizador de cinema Fernando Meirelles trabalha na adaptação cinematográfica
do Ensaio
sobre a Cegueira.
Em Setembro recebe o Prémio Save
the Children pela sua contribuição na defesa dos direitos da
infância, juntamente com Graça Machel, Jane Fonda e Anne Sophie Mutter.
Em Outubro viaja para a Argentina, para assistir à reunião do júri do Prémio
Clarín de romance e visitar o Memorial aos desaparecidos da ditadura com as Mães
e as Avós de Maio, que iam falando dos nomes dos seus filhos como se os nomes
fossem pessoas. Saramago acariciou as pessoas, embora fosse em cadeira de rodas.
Regressa a Espanha muito debilitado por uma pneumonia, tendo que ingressar num
hospital de Madrid.
A 23 de Novembro a Fundação César Manrique (Lanzarote) inaugura uma grande
exposição, comissariada por Fernando Gómez Aguilera, dedicada à sua vida e à sua
obra literária, intitulada José
Saramago. A Consistência dos Sonhos. Além de inéditos descobertos
durante o período preparatório da mostra, reúne abundantes manuscritos,
primeiras edições, material documental, agendas pessoais, jornais e revistas,
cadernos de notas, obras e documentos audiovisuais, traduções, num total de mais
de um milhar de documentos. Ao acto, que congrega autoridades nacionais e amigos
de vários países, Saramago desloca-se em cadeira de rodas e expressa o seu
agradecimento e a sua emoção: "Não sabia que tinha trabalhado tanto."
Depois de treze anos de afrontas e coincidindo com o 25º aniversário da primeira
edição de Memorial
do Convento, a Câmara Municipal de Mafra concede-lhe a Medalha de
Ouro Municipal. Saramago aceita a distinção "em nome do povo de Mafra".
Em Dezembro representa-se no Centro Andaluz de Teatro (CAT), em Sevilha, a sua
peça de teatro In
Nomine Dei uma crítica da intolerância e do fanatismo religiosos ,
encenada por José Carlos Plaza e produzida pelo próprio CAT.
Representação da peça Que Farei com Este Livro? pela Companhia de Teatro de
Almada em Almada (Portugal).
A 9 de Dezembro a curta-metragem de animação La
flor más grande del mundo (realização de Juan Pablo Etcheverry sobre
o conto de José Saramago A
Maior Flor do Mundo) ganhou o prémio de melhor filme de animação no
Anchorage International Film Festival no Alaska.
A 18 de Dezembro dá entrada num hospital de Lanzarote, acometido por uma
pneumonia que evoluirá, com complicações, ao ponto de pôr a sua vida em risco.
Estará hospitalizado um mês e três dias.
2008
No dia 13 de Janeiro encerra, na Fundação César Manrique (Lanzarote), a
Exposição José
Saramago. A Consistência dos Sonhos.
A 22 de Janeiro tem alta hospitalar e regressa a casa.
No dia seguinte a abandonar o hospital, retoma a escrita de A
Viagem do Elefante, interrompida pela doença. Os dois primeiros dias
dedica-os à correcção do que já estava escrito em cerca de quarenta páginas e no
terceiro já avança na história. Numa entrevista publicada em Outubro de 2008, no
Brasil, comentará: "É sabido que passei por uma doença muito grave. Tive que
interromper a escrita do livro [A
Viagem do Elefante]. Internaram-me num hospital, mas vinte e quatro
horas depois de regressar a casa já estava sentado a escrever. Entre finais de
Fevereiro e Agosto, não parei. Pode concluir-se que retomei os meus hábitos de
sempre: disciplina, trabalho regular e um pouco de obstinação." Um mês mais
tarde insistiria: "Comecei o livro em Fevereiro de 2007, e até Maio escrevi
cerca de 40 páginas. Não avancei porque a minha saúde piorou. Mas, como já me
havia decidido por um certo tipo de narrativa, não se produziu nenhuma alteração
no estilo [...] É como se houvesse outro que escrevesse por mim."
Em Fevereiro, foi nomeada a curta-metragem de animação La
flor más grande del mundo (realização de Juan Pablo Etcheverry
sobre o conto de José Saramago A
Maior Flor do Mundo) para a edição dos Prémios Goya 2008 da Academia
das Artes e Ciências Cinematográficas de Espanha. Com estas distinções, A
Maior Flor do Mundo consegue outro grande êxito na sua passagem pelos
festivais VII edição dos Premios Mestre Mateo (Academia Galega do Audiovisual)
ou 17º Tokyo Global Environmental Film Festival.
A 28 de Fevereiro a Fundação José Saramago é reconhecida oficialmente pelo
governo português, com publicação no Diário
da República desse dia.
A 1 de Março inauguram-se as actividades da Fundação José Saramago em Lanzarote
com um encontro na biblioteca entre Saramago e María Kodama para falar de
Borges. A mesma actividade será organizada em Lisboa pela sua Fundação a 20 de
Junho, subordinada ao título "E se falássemos de Borges?".
Primeiros ateliers com escolas no auditório da Fundação José Saramago em Lisboa
(Portugal) a propósito da curta-metragem de animação A
Maior Flor do Mundo, disponível em DVD em versão bilingue.
A 15 de Março, homenagem a José Saramago (Teatro Nacional Dona Maria II /
Companhia de Teatro de Almada mesa-redonda "O Teatro em José Saramago" e
descerramento de uma placa de homenagem ao escritor) no TNDM II em Lisboa
(Portugal).
A 29 de Março o ministro da Cultura de Portugal, José António Pinto Ribeiro,
visita Saramago em Lanzarote.
Em Abril viaja até Lisboa, onde no dia 23 se inaugura, com a presença do
primeiro-ministro do seu país, a Exposição José
Saramago. A Consistência dos Sonhos, organizada, na Galeria de
Pintura do Rei D. Luís, no Palácio Nacional da Ajuda, pelo Ministério da Cultura
português (Instituto dos Museus e Conservação IMC, Biblioteca Nacional de
Portugal BNP e Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas DGLB). Durante a sua
permanência de três meses em Lisboa, continua escrevendo A
Viagem do Elefante .
A 26 de Abril a curta-metragem de animação La
flor más grande del mundo (realização de Juan Pablo Etcheverry sobre
o conto de José Saramago A
Maior Flor do Mundo) ganhou o prémio de melhor filme de animação no
Festival Contraplano 08 em Segovia.
A 14 de Maio, o Festival de Cinema de Cannes abre com o filme Blindness,
uma adaptação do romance Ensaio
sobre a Cegueira transposta para os ecrãs pelo realizador brasileiro
Fernando Meirelles. Quatro dias mais tarde, Meirelles e os produtores do filme
exibem-no em Lisboa num visionamento privado a que assiste José Saramago. Na
capital lusa, o filme estreará em Outubro. Apesar das suas reticências a que os
seus romances sejam transpostos para cinema, Saramago sente-se satisfeito com o
trabalho do cineasta: "O resultado da adaptação de Fernando Meirelles é mais que
satisfatório. Considero-o mesmo brilhante. O essencial da história está ali,
como seria de esperar, mas sobretudo encontrei, na narrativa cinematográfica, o
mesmo espírito e o mesmo impulso humanístico que me levaram a escrever o livro."
A 31 de Maio inaugura-se uma extensão local da Fundação José Saramago em
Azinhaga. Nesse mesmo dia, a sua aldeia natal gemina-se com os municípios de
Tías (Lanzarote) e Castril (Granada), reunindo-se assim, simbolicamente, três
municípios vinculados à história sentimental de Saramago. Homenagem a Pilar del
Río com descerramento de placa toponímica em Azinhaga. Lançamento do livro Memórias
da Terra de José Saramago Azinhaga, de José Henriques Dias, primeiro
título editado pela Fundação José Saramago, em Azinhaga.
Realização de ateliers com escolas, a propósito da curta-metragem de animação A
Maior Flor do Mundo, em Azinhaga (Ribatejo, Portugal), no âmbito das
comemorações do Dia Mundial da Criança.
Representação única da peça Que
Farei com Este Livro? pela Companhia de Teatro de Almada no Teatro
Municipal de Almada, em Almada (Portugal).
The Biggest Flower in the World (realização
de Juan Pablo Etcheverry sobre o conto de José Saramago A
Maior Flor do Mundo) vence o Prémio de Melhor Argumento no Chicago
Short Film Festival (Festival de Curtas-Metragens de Chicago).
A 20 de Junho, palestra-colóquio E
Se Falássemos de Borges? com María Kodama e José Saramago na
Biblioteca Nacional, em Lisboa.
Concerto executado pelo Quarteto Vianna da Motta, com interpretação do Quarteto
n.o 9, op. 117, de D. Shostakovich na Galeria de Pintura do Rei D.
Luís I no Palácio Nacional da Ajuda (Lisboa).
A 10 de Julho a Fundação José Saramago realiza no Teatro Nacional de São Carlos,
em Lisboa, uma homenagem a Jorge de Sena subordinada ao título "Jorge de Sena Um
regresso", com a presença e participação do ministro da Cultura português, José
António Pinto Ribeiro, e intervenções de José Saramago, Eduardo Lourenço, Vítor
Aguiar e Silva, Jorge Fazenda Lourenço, António Mega Ferreira e Jorge Vaz de
Carvalho, que procedeu à leitura de poemas do homenageado, acompanhado ao piano
por António Rosado.
Curso Livre em torno da obra de José Saramago, organizado pelo IMC e pela
DGLB no âmbito da exposição José
Saramago. A Consistência dos Sonhos (10 e 11 de Julho), na Galeria de
Pintura do Rei D. Luís I, Palácio Nacional da Ajuda (Lisboa).
A 16 de Julho, a Câmara Municipal de Lisboa aprova a cedência da Casa dos Bicos
à Fundação José Saramago por um período de 10 anos para que ali se instale a sua
sede. No dia seguinte é assinado o protocolo de cedência entre a Câmara e a
Fundação.
A 18 de Julho voa de Lisboa para Lanzarote.
Lançamento do sítio da Fundação José Saramago na Internet.
A 22 de Agosto acaba na sua casa em Lanzarote A
Viagem do Elefante. A obra parte de um episódio histórico localizado
em 1551, a oferta de um elefante asiático por parte do rei D. João III de
Portugal a seu primo, o arquiduque Maximiliano de Áustria. Saramago reinventa a
viagem que, por terra e por mar, o paquiderme realiza desde Belém (Lisboa) a
Viena. A ironia, o sarcasmo e o humor formam uma amálgama com a compaixão para
oferecer, como o próprio autor assinalou, "uma metáfora da vida humana": "O que
me levou a este livro foi o destino do elefante, no sentido em que, depois de
morrer, lhe cortaram as patas para as colocarem na entrada do palácio para porem
nelas os guarda-chuvas, as bengalas e as sombrinhas. Sem esse destino, tão
grotesco, tão absurdo, talvez não tivesse escrito o livro. Em qualquer caso,
excluindo esse final, o livro é uma metáfora da vida humana." Mas o alcance
metafísico da narração não exclui a dimensão crítica da metáfora mediante a qual
o escritor, amparado no seu célebre pessimismo, censura a estupidez do homem e
investe duramente contra a Igreja, a nobreza e o estatuto militar, em suma,
contra o poder, desmitificando as instituições para sublinhar o valor do
marginal e do aparentemente menor, do ponto de vista histórico. Saramago assume
uma posição cervantina e presta tributo à língua portuguesa, ao gosto pelo
idioma e à invenção narrativa.
Em fins de Agosto dá-se início ao blog da Fundação José Saramago.
Coincidindo com a festa anual (Seixal, Portugal) do jornal Avante!,
o Partido Comunista Português presta-lhe uma homenagem.
A 15 de Setembro inicia "O Caderno de Saramago" no blog da Fundação José
Saramago, onde publicará regularmente os seus textos, por norma cinco artigos
por semana.
A 22 de Novembro viaja de Lisboa para o Brasil.
A 26 de Novembro A
Viagem do Elefante será apresentado, pela primeira vez, na Academia
Brasileira das Letras, no Rio de Janeiro, e no dia seguinte, na Sesc Pinheiros,
em São Paulo. A 3 de Dezembro o mesmo sucederá no Centro Cultural de Belém, em
Lisboa. As edições portuguesa, brasileira, espanhola e catalã saem em
simultâneo.
A 29 de Novembro é inaugurada a Exposição José
Saramago. A Consistência dos Sonhos no Instituto Tomie Ohtake de São
Paulo.
A 1 de Dezembro regressa a Lisboa.
Em co-edição com a Fundação José Saramago, a Editorial Caminho imprime una
edição especial limitada e numerada de A
Viagem do Elefante, que inclui 15 ilustrações de Pedro Proença.
Edita-se e é apresentada uma edição especial de Levantado
do Chão ilustrada por Armando Alves e coordenada por José da Cruz
Santos, da editora Modo de Ler. O livro apresenta-se numa caixa com gravação e
tem um prólogo de Pilar del Río.
A 5 de Dezembro escreve, na sua casa de Lisboa, a primeira página do seu novo
livro, obra que conclui no dia 16 de Março em Lanzarote. Cinco dias antes
anunciara no Brasil que começaria um novo livro.
A 10 de Dezembro, coincidindo com o 10.o aniversário da atribuição do Prémio
Nobel, a Fundação José Saramago realiza uma homenagem à literatura portuguesa na
Casa do Alentejo em Lisboa, na qual 25 escritores, actores e jornalistas
emprestam a sua voz a autores já desaparecidos. Saramago lê Fernando Namora. A
Fundação distribui nesse dia na imprensa portuguesa um folheto com a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, a propósito do seu 60.o aniversário.
A 11 de Dezembro, também na Casa do Alentejo, o juiz Baltasar Garzón, em
colóquio com Saramago, explica o processo de Pinochet e os actos judiciais que
se estão levando a cabo na América contra os crimes das ditaduras.
A 12 de Dezembro inaugura em Lisboa, com María Kodama, o Memorial a Jorge Luis
Borges.
A 16 de Dezembro apresenta a edição espanhola de A
Viagem do Elefante na Casa de América, Madrid.
A 28 de Dezembro regressa a Lanzarote, depois de passar o Natal em Granada.
Escreve para o blog a entrada "Cunhados", que reflecte o que significa para ele,
filho único, estar com tantos cunhados, os 14 irmãos e irmãs de Pilar e seus
respectivos pares.
Durante o mês de Janeiro, dedica-se a escrever o seu novo livro.
No início de Fevereiro participa numa homenagem a Jorge Sampaio, em Lisboa.
A 5 de Fevereiro visita as obras de remodelação da Casa dos Bicos, futura sede
da fundação que leva o seu nome.
A 1 de Março estreia em Madrid o filme A
ciegas, de Fernando Meirelles, adaptação cinematográfica de Ensaio
sobre a Cegueira. Saramago participa, juntamente com Meirelles, na
sua apresentação.
A 4 de Março inaugura-se em Albacete (Espanha) a Casa da Cultura José Saramago,
com a presença do ministro da Cultura espanhol.
A 16 de Março, em Lanzarote, conclui o seu novo livro. A sua publicação só
acontecerá no mês de Outubro.
A 26 de Março encerra, em Arrecife de Lanzarote, as II
Jornadas sobre Legalidade Urbanística, organizadas pelo
presidente do município de Lanzarote.
A 5 de Abril, dá entrada numa clínica de Lanzarote afectado por problemas de
saúde. Permanece hospitalizado quinze dias.
A 13 de Abril, abandona por umas horas a clínica para participar na
mesa-redonda, "Experiência de Um Sequestro", organizada conjuntamente pela
Fundação César Manrique e pela Fundação José Saramago, com o político colombiano
Sigifredo López, primeiramente sequestrado e libertado oito anos depois pelas
FARC. A 20 de Abril deixa o hospital.
A 16 de Abril recebe em Granada (Espanha), juntamente com Dario Fo, o XI Prémio
Caja Granada de Cooperación Internacional, nos actos preliminares do Hay
Festival Alambra, em "reconhecimento do esforço e da dedicação de ambos na
procura de uma maior justiça social no mundo". No valor de cinquenta mil
euros, o dinheiro será utilizado para construir um Centro Cultural Sete Sóis
Sete Luas na Ribeira Grande (Ilha de Santo Antão), em Cabo Verde. Saramago,
ainda internado, não pode assistir à entrega do prémio e envia uma gravação.
A 23 de Abril, coincidindo com o Dia Mundial do Livro, a Fundação José Saramago
e a Editorial Caminho publicam conjuntamente O
Caderno, uma compilação dos textos diários que Saramago, desde
Setembro de 2008 até meados de Março de 2009, foi publicando no seu blog O
Caderno de Saramago, incorporado na página web da sua Fundação e
difundido por internet. A sua primeira entrada a 17 de Setembro , intitulada
"Palavras para uma cidade", dedicou-a a Lisboa. Sobre os seus comentários
confessou: "Disseram-me que tinham reservado para mim um espaço no blog [da
Fundação José Saramago] e que tinha que escrever nele o que fosse, comentários,
reflexões, simples opiniões sobre isto e aquilo, enfim, o que viesse ao caso." A
última entrada deste tomo, 15 de Março, intitula-se "Presidenta" e é uma
declaração de intenções do que quer que seja a Fundação e o papel de
Pilar, sua mulher, na organização do trabalho actual e na projecção que venha a
ter no futuro.
A 24, lançamento do livro Uma longa viagem com Saramago, da autoria de João Céu
e Silva, publicado pela Porto Editora, e apresentado por Ricardo Araújo Pereira.
A 23 de Maio, no município de Almada (Portugal), inaugura-se a Biblioteca
Municipal José Saramago, integrada no complexo arquitectónico do Centro Cívico
do Feijó. As instalações incorporam um grande mural de catorze mil azulejos
criado por Querubim Lapa. Em começos de Junho de 2008 fez-se o anúncio da
atribuição do nome do escritor à biblioteca, coincidindo com a visita do Prémio
Nobel a Almada para assistir à representação da peça teatral Que Farei com Este
Livro?, escrita por Saramago para a Companhia de Teatro de Almada e estreada em
1980.
No mesmo dia 23, a curta-metragem de animação La
flor más grande del mundo (realização de Juan Pablo Etcheverry sobre
o conto de José Saramago A
Maior Flor do Mundo) ganhou o prémio de melhor curta-metragem de
ficção ou de animação no Festival Internacional de Cine Ecológico e Natureza de
Canarias.
A Editora Einaudi, que habitualmente edita em Itália a obra de Saramago, recusa
a publicação de O
Caderno, pelas referências críticas dedicadas ao primeiro-ministro
italiano, Silvio Berlusconi, proprietário da empresa editora no post
"Berlusconi & Cia". A Einaudi justificou a sua decisão de não publicar o livro
"porque, entre muitas outras coisas, no mesmo se diz que Berlusconi é um
delinquente. Quer se trate dele ou de qualquer outro expoente político, de
qualquer segmento ou partido, a Einaudi defende a liberdade de criticar, mas
nega-se a fazer sua uma acusação que qualquer tribunal condenaria [&] A Einaudi
é propriedade de Berlusconi. E seria grotesco que esta casa editora fosse levada
a tribunal por difamação ao seu dono, com a certeza de que seria condenada". O
Prémio Nobel, para além de recusar a prática da censura, comentou à imprensa: "A
verdade é que a situação que foi criada poderia definir-se como pitoresca, não
fosse o facto de um político acumular tanto poder que faz temer a qualidade da
democracia." E juntou: "Deve ser duro viver quando o poder político e o
empresarial se reúnem. Não invejo a sorte dos italianos, mas no final depende da
vontade dos eleitores manter este estado de coisas ou mudá-lo". Em declarações
ao diário El País, precisou: "O que digo dele é mais ou menos o que todo o mundo
pensa, à excepção dos seus votantes. Dizemos que a democracia é o melhor dos
sistemas, e é certo. Mas a sua fragilidade é enorme. Quando aparece um senhor
assim, que utiliza os piores métodos e consegue milhões de votos, o que acho
estranho não é que se levantem vozes indignadas que protestem, mas que não se
produza um movimento social de recusa pelo simples facto de que arruína o
prestígio do seu país."
A 23 de Maio viaja para Lisboa.
A 31 de Maio participa, em Azinhaga (Ribatejo, Portugal), na celebração do
primeiro aniversário da extensão local da Fundação que leva o seu nome. Por tal
motivo, inaugura-se uma estátua de bronze sua, de um metro e oitenta de altura,
obra do artista Armando Ferreira, que o retrata sentado num banco público com um
livro na mão aberto numa página que diz: "A aldeia chama-se Azinhaga." A peça
com a qual a aldeia natal do escritor o homenageia está instalada na praça da
aldeia Largo da Praça , frente ao edifício da Fundação José Saramago. A
escultura, impulsionada pelo presidente da Junta de Freguesia de Azinhaga, Vítor
Guia, foi custeada por um grupo de leitores portugueses, cuja comissão foi
coordenada por José Miguel Noras, membro do grupo "Mais Saramago".
A 3 de Junho, sob a designação Narrar,
recordar, participa num encontro com o escritor Manuel Rivas
organizado em La Coruña pela Fundação Casares, a propósito da sexta edição dos
"Diálogos Literários de Mariñán".
A 15 de Junho, na Casa do Alentejo, a Fundação José Saramago promove uma jornada
de estudo e de homenagem ao escritor português José Rodrigues Miguéis
(1901-1980), intitulada "Vamos ouvir José Rodrigues Miguéis" e inserida no ciclo
inaugurado um ano antes com Jorge de Sena. No acto, coordenado pelo Professor da
Universidade de Brown (Boston) Onésimo Teotónio de Almeida, intervêm, além do
próprio Saramago, os Professores David Brookshaw, Duarte Barcelos, José Albino
Pereira e Teresa Martins Marques.
A 18 e 19 de Junho realiza a rota portuguesa percorrida por Salomão em A
Viagem do Elefante. Acompanhado pelos colaboradores da Fundação José
Saramago e por alguns jornalistas, vai em autocarro desde Belém (Lisboa) até à
fronteira em Figueira de Castelo Rodrigo, seguindo um itinerário cujos
objectivos fundamentais são: Constância, Castelo Novo, Belmonte, Sortelha,
Cidadelhe e Castelo Rodrigo.
A 25 de Junho é apresentado em Lisboa O
Caderno, livro em que se recolhem as entradas do autor publicadas,
desde Setembro de 2008, no blog da Fundação que leva o seu nome. O acto,
transmitido em directo por internet e realizado numa das salas do Tiara Park
Atlantic Hotel, em Lisboa, consistiu numa conversa do autor com os jovens
jornalistas Isabel Coutinho e José Mário Silva, responsáveis por alguns dos mais
lidos blogs culturais em Portugal.
A 28 de Junho Saramago visita as obras da Fundação na Casa dos Bicos,
acompanhado pelos arquitectos responsáveis pela remodelação, e declara-se
satisfeito com o trabalho realizado.
A 9 de Julho, é nomeado Sócio Correspondente da Academia Brasileira de Letras.
De 15 a 18 de Outubro, realiza-se a segunda edição de "Escritaria", uma
iniciativa que traz a criação literária para as ruas de Penafiel, mobilizando os
seus habitantes e quem visita a cidade por esses dias. A Fundação José Saramago
colaborou na organização deste encontro que promete continuar a fazer de
Penafiel um local de discussão e de partilha em torno dos livros e dos seus
autores. O tema da edição de 2009 foi dedicado a José Saramago que aí se
deslocou, participando diariamente em diversos eventos em torno da sua obra,
tendo sido objecto de destaque na sessão de encerramento o seu romance mais
recente, Caim.
A 21 tem lugar uma conferência de imprensa com José Saramago a propósito de Caim,
promovida pela sua editora, Caminho, na sede das instalações do Grupo Leya em
Lisboa.
No dia 30, lançamento de Caim na
Fundação Caixa Geral de Depósitos - Culturgest, em Lisboa, com a presença do
autor.
Apresentação de Caim em
conferência de imprensa, no dia 3 de Novembro, na Casa de América, em Madrid,
com José Saramago, e editado pela sua editora espanhola, Alfaguara.
Nos dias 14 e 15, a curta-metragem A
Maior Flor do Mundo, adaptada do conto infantil homónimo de José
Saramago, dirigida por Juan Pablo Etcheverry (Continental Producciones), foi
distinguida com o Prémio FNAC para a Melhor Curta-Metragem Espanhola por votação
do público infantil (a mesma distinção foi atribuída a O
Soldadinho de Chumbo, adaptação do conto infantil de H. C. Andersen
dirigido por Virginia Curiá e Tomás Conde). Para além deste prémio, a banda
sonora de A
Maior Flor do Mundo, composta por Emilio Aragón, foi distinguida com
o Prémio Amigos da Música de Badalona para a Melhor Música Original.
A 22, na sequência da proibição da entrada em Marrocos de Aminatu Haidar
(defensora incondicional dos Direitos Humanos e destacada activista pela
independência do Sahara Ocidental), José Saramago escreve-lhe uma carta de
solidariedade, já no decorrer da greve de fome encetada por Aminatu e que
duraria 32 dias.
A 1 de Dezembro, visita-a no aeroporto de Guacimeta em Lanzarote onde esta
permanecia ainda em greve de fome.
No dia 29 de Janeiro, na sequência do sismo que abalou o Haiti, dá-se início a
uma campanha de solidariedade para com o povo haitiano dando vida às palavras de
José Saramago, a propósito da tragédia, "Porque todos temos uma obrigação". Esta
campanha traduziu-se no lançamento de uma edição especial do livro A
Jangada de Pedra, cujas vendas reverteram integralmente a favor das
vítimas do sismo, através Fundo de Emergência da Cruz Vermelha, e foi promovida
pela Fundação José Saramago, Grupo Leya e Editorial Caminho.
No dia 5 de Fevereiro, lançamento de Biografia
de José Saramago, da autoria de João Marques Lopes e publicada em
co-edição pela Guerra e Paz e pelas Edições Pluma. Esta biografia não contou com
a participação de José Saramago.
No dia 17, lançamento de O
Caderno 2 com prefácio de Umberto Eco, uma compilação dos textos
diários que José Saramago publicou no seu blog O
Caderno de Saramago, desde Setembro de 2008 até Novembro de 2009.
A 3 de Março, exibição do filme Embargo,
de António Ferreira, adaptado do conto homónimo de José Saramago, incluído na
obra Objecto
Quase. O filme fez parte da selecção oficial do Festival Fanstaporto
2010.
Nos dias 14 e 15 de Abril, Juan Gelman (poeta e jornalista argentino, Prémio
Cervantes 2007) visita Lisboa. Do programa constou uma conferência de imprensa
no Instituto Cervantes, uma Aula Aberta na Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas - Universidade Nova de Lisboa, e uma sessão na Casa do Alentejo com
leitura de poemas por Juan Gelman e Nuno Júdice, acompanhada de trechos musicais
de Astor Piazzola, interpretados por Gonçalo Pescada. José Saramago interveio na
sessão por video-conferência desde Lanzarote. O poeta e jornalista fez-se
acompanhar pelo seu editor Alejandro Schnetzer, da editora Libros del Zorro Rojo
que, a par da Fundação José Saramago, Embaixada da Argentina, Instituto
Cervantes e Casa da América Latina, também promoveu esta visita.
No dia 3 de Maio, na Sala José Saramago em Arrecife, no âmbito do ciclo "El
Autor y Su Obra - Encuentros com creadores", realizou-se um colóquio com Ángeles
Mastretta (jornalistas e escritora mexicana) e Pilar del Río. O evento foi
organizado pela Fundação César Manrique e pela Fundação José Saramago.
(Cronobriografia
retirada do site
oficial da Fundação José Saramago)