10-10-2013

 

 

João de Águila (1630 - ?) na Inquisição de Lisboa

 

 

Nos fins de Outubro de 1649, chegou a Amsterdam o Padre Frei Diogo César, irmão de Sebastião César de Menezes (1600-1672). Ia certamente tratar da impressão do livro de seu irmão intitulado Summa Politica, que saiu em Amsterdam nesse ano dos prelos de Simão Dias Soeiro Lusitano, filho de Menasseh Ben Israel; fora publicado em Lisboa no ano anterior. Naquela cidade, se queria falar com portugueses, tinha de falar com cristãos novos, a maior parte dos quais, praticantes da religião judaica.

O livro de seu irmão teve na altura alguma repercussão, embora hoje o Prof. Martim de Albuquerque tenha demonstrado que ele plagiou extensivamente, De' fondamenti dello Stato et instrumenti del regnare, de Scipione di Castro e Consejo i consejero de principes de don Lorenço Ramirez de Prado.

Em Amsterdam, Fr. Diogo César chegou por acaso à fala com um rapaz de 20 anos, chamado João de Águila, que lhe confessou estar saturado de estudar matérias da religião hebraica e estar com vontade de fugir daquela cidade.  Queria, porém, ir para Itália ou França, pois tinha um medo pavoroso da Inquisição em Portugal.

Tinha ele levado uma vida aventurosa até ali, mas certamente cheia de dificuldades e penúria. Nascera no Algarve, o último de cinco irmãos e, com apenas 9 anos, embarcara em direcção à Holanda. Estivera cinco meses em Antuérpia, mas depois foi para Amsterdam. A acreditarmos nele, andou embarcado dois anos, em que visitou a Madeira e a Ilha Terceira. Fez também uma viagem a Nantes, em França. E estava há bastante tempo a estudar a teologia judaica. Mas, em meados de 1649, já estava cansado.

Frei Diogo César disse-lhe que ele fazia muito bem em voltar à crença católica, mas que podia à vontade regressar a Portugal, pois a Inquisição não era tão má como a pintavam, desde que ele confessasse com sinceridade os seus erros. Deu-lhe um exemplar ou leu-lhe o sermão que pregara no auto da fé em Évora em 28-2-1649, e fora impresso há pouco por Paulo Craesbeeck. Acompanhou-o à Sinagoga, onde ouviram pregar o Gagam (ou Haham) Saúl Levi Morteira.

A narrativa de João de Águila no seu processo tem de ser lida cum grano salis.

Israel Salvator Révah (1917 – 1973), no livro abaixo citado, escreve:

En 1649, âgé de 19 ans, il (João de Águila), fréquente la classe supérieure du célèbre rabbin Saul Levi Morteira. il donne le nom et l’âge (20 ans et 21 ans)  de certains de ses condisciples. A cette époque, il éprouve des doutes sur la foi juive et se signale en classe par des exégèses chrétiennes de la Bible : il est naturellement exclu et excommunié.  Les rabbins d’Amsterdam, que les historiens de Spinoza représentent souvent comme de sombres fanatiques, lui disent que s’il a envie d’être chrétien, il vaut mieux qu’il le redevienne plutôt que d’être dévoré par ces doutes. Il se rendit finalement à ce sage conseil et retourna au Portugal se « réconcilier » avec l’Église catholique.  

Este autor parece acreditar piamente em tudo o que está escrito nos processos da Inquisição. Porém, não têm o mínimo sentido as discussões que João de Águila disse ter tido na “escola”, procurando a Santíssima Trindade em textos que nada tinham a ver.  E também não tem sentido que os rabinos o aconselhassem a regressar a Portugal.

Mais lógico é que Fr. Diogo César o tenha aconselhado a preparar-se para denunciar alguns cristãos novos que agora praticavam os ritos judaicos. Foi o que ele fez: trouxe como trunfo uma enorme lista de cristãos novos de Amsterdam, Antuérpia, Roterdão, Hamburgo e Nantes, para os denunciar na Inquisição. Destas cidades, nunca deverá per posto os pés em Hamburgo, tanto assim que os denunciados são pessoas de grande reputação,  que toda a gente conhecia pela sua fama, na Holanda.

As denúncias de João de Águila são relativamente inocentes,  porque os denunciados não pensavam já regressar a Portugal, com uma excepção: Manuel Fernandes Vila-Real, que fora preso em 30 de Outubro de 1649, quando o pobre pensava que o Rei iria dar-lhe elevados cargos.  O depoimento contra ele é muito detalhado e incisivo; e mesmo se tem alguma mentira (ex. o ele ter lido as cartas), o acusado não se podia defender, pois não lho mostravam, nem mesmo ao seu defensor.

Não tenho nenhuma dúvida que o depoimento contra Vila-Real ou lhe foi logo aconselhado por Fr. Diogo César em Amsterdam ou lhe foi solicitado em Lisboa pelos Inquisidores.  É um depoimento à medida daquilo que se pretende.

Claro que João de Águila, com os trunfos que trazia, foi rapidamente despachado na Inquisição: esteve lá menos de um mês!...

H.P. Salomon comenta ironicamente: “Tinha o padre Diogo razão em dizer-lhe que o Santo Ofício era um Tribunal de Misericórdia”.

Note-se a preocupação de João de Águila em referir quatro pessoas que, sendo cristãos novos, e tendo fugido para o estrangeiro, eram no entanto católicos praticantes.

 

 

Processo n.º 7938 contra João de Águila

 

fls. 1 – 12-1-1650 – Termo de curador: Jerónimo Carvalho, porteiro da Mesa da Inquisição

fls. 2 – 12-1-1650 – Apresentação do réu João de Águila

Tem 20 anos. É filho de João de Águila e de Joana Mendes, natural do Algarve. A mãe tinha 1/8 de cristã nova.  Há 11 anos foi para Amsterdam num navio de holandeses. Esteve ali poucos dias e seguiu para Antuérpia e ficou em casa de Diogo Teixeira de Sampaio, que agora vivia em Hamburgo como judeu público.  Esteve ali 5 meses e depois foi mandado de novo para Amsterdam para casa de Jerónimo Nunes da Costa. professor (que professa) da Lei de Moisés. Foi persuadido por rapazes da sua idade e também por rabinos a abandonar a fé católica e abraçar o judaísmo. Foi sobretudo o Rabi Salam, judeu Turco, que o doutrinou. Adoptou o nome judaico de Abraão Guer. Foi circuncidado, sendo seu padrinho Gagão Pardo. Passou a ir à Sinagoga três vezes ao dia.

fls. 3 – 13-1-1650 – Continua a confissão

Ia à Sinagoga, de manhã das 6 até às 7 e meia ou 8, e rezava hinos em hebraico, Aleluias e Cânticos de Moisés. A segunda vez às quatro da tarde, em que gastava uma hora mais ou menos, em que rezava o Salmo [120] Levavi oculos meos in montes, unde veniet auxilium mihi, mas em hebraico e outras orações chamadas Minchá e ainda a oração da Amidá.  A última era das 6 para as 7, em que gastava hora e meia e aí rezava orações do segundo dia do primeiro capítulo do Génesis em que Deus apartou a noite do dia. De manhã, punha sobre os ombros o talé (tallit), um tefilin (ou filactério) na testa e outro no braço esquerdo.

Fazia os jejuns judaicos:

-  o Tebec (Tevet), que vem no fim de Outubro e que se faz em memória das 5 tábuas da lei; de manhã tirava-se na Sinagoga a Sefer Thora, que são as tábuas da Lei, transcritas em pergaminho;

- o de Tamuz, que vem no fim de Julho, em memória do profeta Jeremias;

- o de Guedália, que vem no segundo (é no 3.º) dia do mês de tishrei, que é o de Setembro e o primeiro da conta dos judeus,  dia em que foi assassinado Guedalyá, líder do povo judeu remanescente em Israel após a destruição do Primeiro Templo.

- o de Tezábia (Tishá Be Av), que vem entre Julho e Agosto, em memória de quando foi destruído o Templo de Jerusalém.

- o da Rainha Ester, que vem no fim de Fevereiro, ou princípio de Março, na véspera da festa di Purim, em memória de quando se libertou o povo judaico com a morte de Aman. No dia seguinte era a festa e embebedava-se tal como os demais.

Além destes, jejuava por obrigação de ser estudante, em todas as vésperas da Lua nova.

Para além dos jejuns, guardava as festas que eram:

- a do Tezeri (Tsheri), que se chama Rosana (Rosh Ha-Shanah), em lembrança da criação do mundo, e que é o Ano Novo judaico

- a das Cabanas (dos Tabernáculos), tendo uma cabana em sua casa, em que estava 9 dias, em memória das cabanas que os judeus fizeram no deserto; nesses dias, ia na mesma à Sinagoga; esta festa chama-se Páscoa das Cabanas.

- a Páscoa do pão asmo (Pessah), ou sacrifício, que durava oito dias, em que apenas comia bolos de pão asmo, comemorando a saída dos filhos de Israel do Egipto.

- Sibooch (Shavuot) ou Festa das semanas, que vem 49 dias depois da Páscoa, em memória de quando Deus deu a Moisés as tábuas da Lei; durava dois dias.

- Anocai (Chanucá ou Hanucá), celebrada em Novembro, em memória de quando se levantaram os Macabeus e dura oito dias.

Disse que respeitava estas festas e fazia os jejuns por guarda da Lei de Moisés, mas no mês de Julho último, começou a ter dúvidas e até deixou de ir à esnoga.  Até que, no último dia de Setembro, estando na esnoga ouvindo a lição “do Gagam Morteira, explicando a tábua, comentando a primeira palavra do Génesis, que começa “no princípio, criou Deus o céu e a terra”, perguntou ele confitente ao dito Gagam por que razão o rabino Gerupsalmi, que foi o principal dos compositores do Talmu, não explicara a segunda palavra do Génesis, que é bara, que vem a ser o mesmo que “criou”.

E ele lhe respondeu que não fosse herege, digo, caray, que quer dizer “arrenegado”, nem quisesse saber mais que os rabinos sábios e doutos que haviam composto o tal Talmu; que se explicava porque aquela palavra era muito funda e escura, e que eles não puderam, por ser tão profunda, alcançar a sua verdadeira significação, porque, se assim fora, é de crer pusessem o entendimento de tal palavra. E ele confitente lhe disse então que a tal palavra, a seu entender, queria dizer Trindade. E o dito Gagam com agastamento pelejou com ele confitente, perguntando-lhe em que modo declarava a tal palavra? E ele lhe respondeu que ben que é a primeira letra, quer dizer “filho”, e a segunda, que é rua, quer dizer “espírito”, e Ab que quer dizer “pai”. E, visto dizerem os católicos que na Trindade, havia pai, filho e espírito santo, se declarava assim e principalmente por ser o princípio do mundo, em que Deus mostrava a sua potência. Ao que o dito Gagam replicou que, como podia ser aquilo, que estivesse o filho primeiro que o pai? E ele confitente lhe respondeu que Deus escrevera aí assim como estava no céu, pois tinha o filho à mão direita e o espírito santo ao meio e o pai se seguia logo. (…)

fls. 7v. 13-1-1650 –

(…) depois de dar a resposta que tem referido ao Gagam Morteira de que Deus naquelas palavras quisera mostrar sua divindade assim como está no céu, lhe perguntou o dito Gagam se cria ele confitente que o Messias era já vindo, ao que ele confitente respondeu que daquilo não sabia mais que a doutrina que ele, dito Gagam, lhe havia dado até aquele tempo, e então lhe pôs o dito Gagam um argumento para o persuadir que não era vindo, dizendo-lhe que os católicos afirmavam que o Messias havia de vir depois de acabado o ceptro de Judá, e que não viera senão depois de se acabar o ceptro dos Macabeus.

Ao que ele confitente respondeu que, porque os Israelitas tinham já passado o Eufrates cativos com Salmanazar, e governaram os Macabeus os de Judá, ficava sendo o mesmo ceptro e trono de Judá, e não os dos Macabeus, como o dito Gagam dizia, e que isso se provava porque os católicos chamavam ao Messias Jesu, cujo nome se via evidentemente no último ou penúltimo capítulo do Génesis, quando Jacob botou a bênção a seus filhos, dizendo a Judá seu filho que se não tiraria o ceptro de Judá, nem escrivão dentre seus pés, até que viesse Silo, o qual nome de Silo, letra por letra, se não pode ler em hebraico doutra maneira se não Jesu, como agora: iota, sin, vaf, que quer dizer “iesu” que significa “salvação”, e que se não podia aplicar a outra pessoa, senão a Jesu Cristo, por haver vindo naquele tempo profetizado, e ser do mesmo nome.

Com o que o dito Gagam se levantou agastado, e lhe mandou que não entrasse mais na classe, pondo-lhe germen, eu em seu entender é excomunhão, para não falar pessoa alguma com ele confitente, nem entrar na república dos judeus.

E assim o fez ele confitente, andando perto de seis semanas sem falar com judeu algum, nem entrar na república, e somente falava com dois moços da sua idade, e amigos, que não eram baptizados, nascidos em Amsterdam, um dos quais se chamava Isaac Nunes, que será de vinte anos, pouco mais ou menos, filho de Daniel Nunes, mercador, que não sabe donde era natural, e Elian Belmonte, que será de vinte e um para vinte e dois anos, filho de Aram Querido, mercador, que esteve muito tempo em Safé. e por estes dois moços serem seus amigos, e estudantes, o vinham buscar e falar com ele, perguntando-lhe a razão que tinha para dizer o sobredito. E ele lha dava e se travavam todos em disputas, até que os dois moços reconheceram a razão que ele tinha em dizer que era vindo o Messias, e lhe disseram que queriam vir com ele confitente para donde quer que fosse, e seguir o caminho da fé católica romana com ele confitente, como com efeito se embarcaram para virem com ele confitente para este reino e se reduzirem, do que tendo notícia seus pais, os foram tirar por força das mesma embarcação. E que os ditos moços, quando ele confitente andara ainda em disputas, lhe aconselharam que, pois o dito Gagam fora seu Mestre, e lhe devia respeito, lhe fosse pedir perdão do desaforo de lhe contradizer o que lhe dizia,, e que assim puderam facilmente todos continuar na mesma escola e ajudar-se dos argumentos que o dito Gagam desse, convertendo-os a seu modo.

E por esta razão, passadas as ditas 6 semanas, foi à escola do dito Gagam, onde continuou um mês, pouco mais ou menos.

E que a segunda razão que teve para também conhecer seu erro, foi que, lendo nos livros de Moisés, quando Deus mandou ao mesmo Moisés com recado a Aram, lhe disse: “Eu sou Deus de Abraham, Deus de Isaac e Deus de Jacob”, e que reparando nesta repetição de Deus, perguntou a Rabi Pharão, por que se repetia aí três vezes o nome de Deus, sendo que Deus era um só, e uma só pessoa, por que se repetia aí três vezes o nome de Deus, sendo que com uma só se podia nomear,  dizendo “Deus de Abraham, Isaac e Jacob”, dizendo-lhe mais que nesta repetição parece que se demonstravam três pessoas e a santíssima Trindade.

Ao que o dito Rabi lhe respondeu que se naquelas palavras se continham as três pessoas, porque se não dizia também aí logo “e um só Deus”.

E ele confitente lhe disse que a resposta estava muito à mão e clara porque como os três patriarcas não criam em mais que em um só Deus, não era necessário declará-lo.

Com o que o dito rabi se enfadou, dizendo-lhe que aquilo era entender como queria. E ele confitente, vendo que se lhe não satisfazia a dúvida, se persuadiu mais que aquele passo se devia entender como ele confitente entendia.

E que a terceira razão que também o moveu a reduzir-se foi achar nos profetas Ezequiel e Daniel e em outros aquelas palavras “Sanctus, sanctus, sanctus, Dominus Deus sabaoth”, em cuja repetição se significava a santíssima Trindade.  O que comunicando com alguns rabinos, eles lhe não queriam responder, por não saberem, e lhe diziam que, se quisesse ser cristão, que o fosse e que não andasse com aquelas dúvidas.

E, além das razões sobreditas, encontrou muitos outros passos na sagrada Escritura, em que evidentemente se conhecem as três pessoas da santíssima Trindade, cujo conhecimento foi o principal motivo da sua conversão, porque, depois de conhecer que havia três pessoas, que era a base e fundamento desta matéria, era certo que o Messias era vindo.

E que, indo nos últimos dias de Outubro o padre Frei Diogo César, provincial da Província dos Algarves e o custódio, a Amsterdam, e comunicando com eles as sobreditas coisas, estes o acabaram de confirmar com o que lhe disseram, no conhecimento dos seus erros, e deliberação de se reduzir à fé católica, lendo um sermão que lhe mostrou o dito provincial que fizera no auto de fé [em 28-2-1649, em Évora], e com algumas coisas que o mesmo lhe disse na sinagoga, indo com ele a ouvir à esnoga a pregação do Gagam Morteira, mostrando-lhe aí com evidência os erros com que o dito pregava.

E que desde então deixara de ir às sinagogas, adonde, ainda depois do último Setembro em que se resolvera a deixar a Lei de Moisés, como tem dito, ia algumas vezes, por cumprimento.

E que, estando ele confitente com deliberação de se ir a Roma ou a França, para aí viver como católico e, deixando de o fazer, digo, receando de vir a este reino, por temer o castigo do Santo Ofício, os ditos provincial e custódio o animaram, dizendo-lhe que a ele podia vir buscar o remédio de sua salvação, sem receio algum, por ser tribunal de misericórdia, e ele confitente aceitando o conselho se veio na primeira embarcação que achou, porque depois que se apartou do provincial em Amsterdam, que foi no último de Outubro, não houve outro navio em que viesse, e que, ainda que saíram dois de Texel, foi a tempo que ele se não podia aviar.

E que, chegando aqui anteontem à noite, com o desejo que tinha de vir tomar a obediência nesta Mesa, e reconciliar-se com a Igreja Romana, viera logo ontem pela manhã apresentar-se (…)”

 

Nesta sessão disse que era judeu público e frequentava a sinagoga Simão Correia que também se chama Francisco Peres Caminha, e em nome de judeu se chama Aaram Cohen, sumo sacerdote dos judeus, mercador muito rico, de 40 a 50 anos, comprido, magro e preto.

 

fls. 10 v. – 7-1-1650 – Diz de mais pessoas

Denunciou os seguintes judeus de Amsterdam:

- Baltazar Álvares Nogueira, natural do Porto, filho de André Lopes Isidro, casado com uma judia não baptizada, ele de 25 a 30 anos;

- Manuel Gomes de Lisboa, casado com uma sobrinha de nome judeu, Sara, de cerca de cinquenta anos;

- Martim Rodrigues, casado com uma prima co-irmã, que se chama Isabel Mendes, de 40 para 50 anos;

- Luis de Medina, mercador, de 30 para 40 anos;

- Salvador Rodrigues, casado com uma sobrinha sua, nascida em Amsterdam,  que se chama Lia Rodrigues, e ele terá 35 anos;

- Francisco Dias Chilão, da zona de Aveiro, casado com uma judia e terá de 28 a 30 anos.

 

fls. 12 – 18-1-1650 – Continua a confissão e diz de mais pessoas

Ainda de Amsterdam:

- Simão Lopes ou David Pereira (nome de judeu), casado com uma judia, ele de 28 a 30 anos.

- Manuel Dias Henriques, cristão novo, de 50 anos, casado com uma judia;

- Romeu Garcia, com mulher e 5 filhos pequenos, parece ser de 40 anos;

- Dinis Genes, cristão novo, casado com uma judia, filha de Bento Osório, será de 50 anos;

- Fernão Dias de Brito, casado com uma judia, filha de Bento Osório, de 45 anos

- Gonçalo de Azevedo, cristão novo, natural do Porto, de 25 anos pouco mais ou menos.

- João Cohen de Azevedo, cristão novo, casado com uma judia chamada Sara Coelha, ele de 38 anos;

- Daniel Pinto, não sabe o nome de católico, que casou com uma judia castelhana, de 40 anos.

- Jácomo do Monte, cristão novo, que foi de Rouen, casado com uma portuguesa judia, de 40 anos.

- Jorge Nunes, cristão novo, casado com uma judia, ele de 45 anos.

- João da Paz, cristão novo, veio de Castela para Amsterdam, casado com uma judia, ele de 50 anos;

- Francisco Álvares de Mesquita, cristão novo, casado com uma judia, ele com mais de cinquenta anos.

- Jerónimo de Sousa, cristão novo, casado com uma judia, ele de quarenta e cinco anos.

- Isaac Mocalta, cristão novo, de 40 anos, casado com uma judia.

- José da Costa, cristão novo, casado com uma judia que trouxe do reino, de  50 anos.

- Manuel Peres da Mota, cristão novo, casado com uma judia que trouxe de França mas que pensa ser portuguesa, ele de 40 anos.

- Duarte Faro, cristão novo, viúvo não sabe de quem, com mais de 40 anos.

- Rui Gomes Fronteira, casado com uma judia de Amsterdam, pois quando veio de Portugal era viúvo, de mais de 40 anos.

- Dr. Jacob Bueno, cristão novo, médico, irmão do anterior, casado com uma judia que trouxe do Reino e será de mais de cinquenta anos.

Todos estes são públicos profitentes da Lei de Moisés e moram em Amsterdam.

- Manuel Rodrigues Isidro, cristão novo, natural do Porto, irmão de André Lopes Isidro, com o nome de judeu Jacob Barú, casado com uma judia que levou do Porto, de 50 anos.

- Jacob Barú, cristão novo, filho do dito André Lopes Isidro, irmão de Baltazar Álvares Nogueira, casado com uma judia de Hamburgo de que não sabe o nome, de 36 anos.

- Diogo Teixeira de Sampaio, cristão novo, casado com uma mulher católica de Anvers (agora judia), de mais de 50 anos, tem o nome judeu de Abraham Signior.

- Doutor Benjamim Massafia, cristão novo, médico, de 35 anos.

 

fls. 17 – 18-1-1650 – Diz de mais pessoas          

Denunciou cristãos novos residentes em Hamburgo:

- Jacob Francês, cristão novo,  poeta e mercador, de 38 anos, casado com senhora que fora católica e agora era judia, de que não sabe o nome.

- Doutor Diogo Gomes Pimentel, médico, cujo nome judaico não sabe, de 40 para 50 anos, casado com uma senhora portuguesa, ambos professores da Lei de Moisés.

- Doutor Rosales, médico, natural de Lisboa, de mais de 50 anos, casado com uma senhora portuguesa, ambos professores da Lei de Moisés.

- Duarte Nunes da Costa, cristão novo, natural do Reino, de 40 para 50 anos, com o nome hebraico de Jacob Curiel casado com Lea Curiel, ambos judeus.

- André de Andrade, cristão novo, cunhado de Diogo Teixeira de Sampaio, de quem tem dito, tem 50 anos, casado com uma portuguesa e são ambos judeus.

- Isaac Risson, cristão novo, natural do Porto, de 40 anos, casado com uma senhora do Porto,  tia de Manuel Mendes, preso pelo S.to Ofício.

- Isaac Mendes, cristão novo, de 30 anos, natural do Porto, irmão do dito Manuel Mendes, casado com uma judia de Hamburgo.

 

fls. 19 – 19-1-1650 – Diz mais

Denuncia mais judeus públicos de Hamburgo:

- Abraham Milan, cristão novo, natural do Reino, de 35 anos, casado com uma judia de Hamburgo.

- Rafael Passarinho, cristão novo, circuncidador, de 40 anos, casado com uma mulher que também é judia.

 

Refere depois mais pessoas de Amsterdam:

- Isaac de Castro, relaxado que foi pelo Santo Ofício (Pr. n.º 11550, da Inq. de Lisboa), a quem ele confitente viu circuncidar, quando veio de França para Amsterdam, e que era baptizado, como também o são seus irmãos que vivem em Amsterdam e que são:

                     - Jacob de Castro, solteiro, de 20 anos;

                     - Moisés de Castro, de 30 anos, casado com uma judia pública do Reino de Castela, todos nascidos em Tartas, em França, e ainda

                     - David de Castro, de 18 anos,  e mais três irmãs, uma das quais casada com um judeu nascido em Veneza, de nome Samuel Barbosa, outra com Isaac Teixeira, também judeu, nascido em Lisboa, e outra solteira, das quais não sabe o nome. Abraham de Castro, pai deles, foi judeu e faleceu em Amsterdam para onde veio de Tartas com toda a sua família.

- Abraham Drago, cristão novo, mercador, solteiro, de 25 anos.

- Isaac Drago, irmão do anterior, de 21 anos, também solteiro.

- Inês Nunes, mãe dos dois anteriores, viúva não sabe de quem, que tem o nome de judia, Rebeca Drago.

- Aarão de Pina, cristão novo, pai da anterior, cego, fugiu do Reino; ouviu dizer que fora preso pelo Santo Ofício. Sua mulher é viva e pública judia mas não lhe sabe o nome.

- Jacob de Pina, de mais de 30 anos, filho deste mercador, casado com uma filha da dita Rebeca Drago,  também judia, mas não lhe sabe o nome; é músico e tange muito bem harpa.

- Cristóvão de Távora, de 38 anos, cristão novo, poeta e mercador, casado com outra filha de Rebeca Nunes, que de Múrcia foi para Amsterdam; é vesgo de um olho.

- Filipe de Horta (Pr. n.º 11139, da Inq. de Lisboa), preso que foi pelo S.to Ofício, tem mais de 45 anos, e em judeu se chama Abraham de Horta, é corrector, casado com uma judia, de que não sabe o nome.

- Francisco de Horta, cristão novo, mercador, que dizia muito mal da Inquisição, que tem o nome de judeu Abraham de Horta.

- Miguel Espinosa, cristão novo, mercador, casado com uma judia nascida em Londres, aonde ela faleceu, de 45 anos de idade.

- Michael Juda Leão, cristão novo, de 40 anos, natural do Reino, escrivão do Cofre Torah.

- Doutor Efraim Bueno, médico, natural de Lisboa, de quarenta a quarenta e cinco anos, que se chamava Martim Alvares, casado com uma judia de que não sabe o nome.

- Doutor Diogo Mendes, cristão novo, médico, de 40 anos, natural do Reino, casado com uma judia de que não sabe o nome.

 

Em Roterdão, sabe que são públicos professores da Lei de Moisés:

- João Viegas, cristão novo, natural do Reino, com o nome de judeu Abraham Viegas, viúvo não sabe de quem.

- Rafael Viegas, filho do anterior, que é Namias no nome de judeu, de 30 anos, casado com uma judia de Roterdão de que não sabe o nome

- David Pinto, natural do Reino, que em Anvers era pagador de El-Rei de Espanha e veio para Roterdão.

 

fls. 24 – 21-1-1650 – Diz mais

Outros judeus públicos, professores da Lei de Moisés em Roterdão:

- António de Gurrey, cristão novo, natural do Reino, de mais de 40 anos, casado com uma portuguesa, o qual tem o nome de judeu, Abraham Pereira.

- Duarte Pereira, cristão novo, irmão do anterior, de 40 anos pouco mais ou menos, que usa o nome judeu de Isaac Pereira, casado com uma prima de que não sabe o nome, também judia.

- João Nunes, cristão novo, natural do Reino, de 35 anos, casado com uma portuguesa de que não sabe o nome; usa o nome judeu de Abraham Nunes.

- Abraham Touro, que em cristão era Duarte Fernandes Veiga, cristão novo, de 50 anos, natural do Reino, casado com uma portuguesa de que não sabe o nome, mas que é pública judia.

- João Nunes, que em nome de judeu se chamou Samuel Velho, cristão novo. Veio há pouco de Portugal, onde esteve preso pelo S.to Ofício (Pr. n.º 11575 da Inq. de Lisboa) e foi reconciliado no auto da fé de 15-12-1647. Insistiu muito com o confitente para que não largasse a crença na Lei de Moisés, mas ele perguntou-lhe por que se não deixara queimar como Isaac de Castro.

 

Outros judeus públicos, professores da Lei de Moisés em Amsterdam:

- A mãe do anterior de que não sabe o nome (é Maria Luis), de mais de 50 anos.

- Rafael Duarte, natural de Lisboa, cristão novo, mercador, solteiro, com o nome de judeu Abraham da Veiga. Veio para Amsterdam há cinco anos, com sua mãe viúva de que não sabe o nome e mais oito irmãos solteiros: Jacob da Veiga e dois mudos de quem não sabe os nomes católicos nem judeus, outro de 5 ou 6 anos a quem chamam Isaac, e quatro irmãs mais, duas mudas e duas que falam, mas não lhes sabe os nomes. São parentes de

- Manuel da Veiga, que está apalavrado com uma das irmãs do Rafael Duarte, que é judia pública como as demais.  Esperam por ele, depois de voltar de Angola, para onde foi na nau de Gaspar Dias de Mesquita, em que tinha partes, que a este Reino trouxe Manuel Gomes, Mestre de navio, de Setúbal,  Católico Romano, pelo conhecimento dele confitente.  Conhece-o muito bem porque navegou com ele por dois anos. Entende ele confitente que Manuel da Veiga tem crença na Lei de Moisés, nem lhe parece a ele confitente que, se assim não fosse, iria ele viver para Amsterdam.

- Lopo Ramires, cristão novo, que em judeu se chama David Curiel, casado com uma irmã de Manuel Dias Henriques, tio de Jerónimo Nunes da Costa e irmão de Duarte Nunes da Costa.

 

Disse mais que foi a Nantes, em França, onde chegou no primeiro de Janeiro de 1648 e demorou-se ali 7 ou 8 meses. Conheceu várias pessoas que se comportavam exteriormente como católicos, indo à missa e frequentando os sacramentos, mas que celebravam cerimónias judaicas em casa de uns e de outros a que ele assistiu, celebrando jejuns e Páscoas:

- Álvaro Nunes de Matos, natural do Reino, que faz em Nantes negócios de Sua Majestade, com dois filhos João Rodrigues de Matos e Gaspar Rodrigues de Matos.

- João Rodrigues de Moura, cristão novo, mercador, natural do Reino não sabe de que parte, de 40 anos, casado com uma portuguesa também judia, a qual indo um dia à igreja católica a comungar, lhe deu um acidente, de que ficou aleijada e nunca mais se levantou.

 

fls. 28 – 21-1-1650 – Continua a confissão

Outros cristãos novos de Nantes, crentes na Lei de Moisés:

- Pero de Faria, de 40 anos, casado com uma judia portuguesa, tem dois filhos de que não sabe os nomes.

- António Lopes, genro do anterior,  natural do Alentejo, casado com uma filha do Pero de Faria, que também é judia.

- Francisco Lopes, cristão novo, natural de Lisboa, de 38 anos, viúvo não sabe de quem.

- Manuel Ribeiro, cristão novo, natural de Lisboa, de 33 para 34 anos, casado com uma filha de Bento Gomes, também judia.

- Bento Gomes, cristão novo, sogro do anterior, de 45 para 50 anos, é cunhado de Nuno Álvares de Matos e é viúvo não sabe de quem.

 

Disse mais que em Paris havia hum homem mercador ou capitão a quem chamam Manuel Fernandes Vila-Real (Processo n.º 7794 da Inq. de Lisboa), e que é homem que compõe livros e que por isto o ouviu nomear, e lhe parece que em Paris fazia negócios de Sua Majestade, porque assistia aos embaixadores e é português, e veio para este reino, porque neste verão passado escreveu a Jerónimo Nunes da Costa, amo dele confitente, que se vinha para este reino a pretender despachos de serviços, se precisava alguma coisa para cá. O que tudo se continha em carta que ele confitente viu. E que este Manoel Fernandes Vila-Real é judeu observante da Lei de Moisés, suposto que não é circuncidado, a parecer dele confitente. E ainda que ele confitente não falou nunca ao dito Manuel Fernandes Vila-Real, nem o viu, sabe com toda a certeza moral que o dito Manuel Fernandes Vila-Real tem crença na Lei de Moisés, porque em essa se tratava com Jerónimo Nunes da Costa, amo dele confitente, com quem corria, o qual lhe disse que se ele confitente, quando passou a França e esteve em Nantes, fosse a partes onde estivesse o dito Manuel Fernandes Vila-Real, se podia agasalhar em sua casa sem medo nem receio de ser acusado por sua via, porque em Paris é necessário andar com muita cautela, por ser o dito Manuel Fernandes Vila-Real muito bom judeu, entendendo isso pela crença assim como entre católicos, bom cristão. E que, estando em Nantes, corria com o dito Manuel Fernandes Vila-Real, Nuno Álvares de Matos, o qual disse a ele confitente que o dito Manuel Fernandes Vila-Real estivera em sua casa, e que Nuno Alvares de Matos em casa do dito Manuel Fernandes Vila-Real, tratando-se ambos como professores da Lei de Moisés, fazendo as cerimónias de observantes dela, como os mais judeus fazem; e que os mais judeus que ele confitente tem nomeado assistiam em Nantes, afirmaram a ele confitente ser o dito Manuel Fernandes Vila-Real judeu de crença, e haverem-se tratado com ele como esse, e o reconheciam por judeu indubitavelmente; e também estando ele confitente em Nantes, escreveu o dito Manuel Fernandes Vila-Real a Nuno Alvares de Matos que  eram chegados dois sobrinhos seus, fugidos deste reino, e que queria casar um deles com sua filha, e que se queria ir para Amsterdam, o que não intentara fazer se não fora judeu de crença; e ele confitente leu a sobredita carta que o dito Manuel Fernandes escreveu ao dito Nuno Alvares de Matos. E não executou o dito Manuel Fernandes Vila-Real este intento que tinha, porque depois que teve esta determinação, lhe pôs pleito Jacques Fernandes, judeu público em Amsterdam, natural deste reino,  em o qual lhe pediu seis mil florins: e com o temor deixou de ir, estando certo que o dito Jacques Fernandes não podia demandar ao dito Manuel Fernandes, por ser o dito Jacques Fernandes judeu público, e haver vivido em Nantes e Paris como católico.”

 

Disse mais que António Henriques, cristão novo, morador em Nantes,é muito bom católico e por isso muito odiado pelos judeus.

 

Disse que António Henriques Gomez, cristão novo, morador em Rouen, é também público, digo, bom judeu e observante da Lei de Moisés, o que ele confitente sabe  com a certeza com que tem dito de Manuel Fernandes Vila-Real e por também lhe dizerem a ele confitente todos os judeus de Nantes que o dito António Henriques Gomes tratava com eles como tal, e porque também o dito António Henriques Gomez compôs livros contra nossa santa fé católica e contra o tribunal do Santo Ofício e em abonação da Lei de Moisés, autorizando-se ele com muitos passos da Sagrada Escritura, os quais livros ele confitente viu por o dito António Henriques Gomez os comunicar ao Gagam Morteira, Mestre dele confitente, e o mesmo dizia que os ditos livros eram feitos com aprovação e consentimento de Manuel Fernandes Vila-Real e com ajuda, porque eram os ditos Manuel Vila-Real e António Henriques Gomez mui íntimos e particulares amigos, e que entanto era judeu o dito António Henriques Gomez que o dito Gagam Morteira dizia que se pasmava muito de se não passar para Amsterdam para continuar as esnogas (…)”

 

fls. 33 – 24-1-1650 – Diz mais de algumas pessoas de Amsterdam:

- Eliazar Solis, natural de Lisboa, que foi frade de S. Francisco (Fr. Henrique Solis – Pr. n.º 10536, da Inq. de Lisboa), casado com uma judia profitente da Lei de Moisés. Era irmão de Simão Pires Solis, que foi morto em 3-2-1631, por o culparem do “desacato de Santa Engrácia”.

- Bento Osório, que em nome de judeu se chama Baruch Osório, natural do Reino, que é coxo de uma perna.

- Francisco Lopes de Azevedo, mercador, que tem o nome de judeu Abraham Ferraz, de 40 anos, casado com uma mulher também judia pública.

 

fls. 34 25-1-1650 – Ratificação das confissões de João de Águila

 

fls. 36 25-1-1650 – Genealogia

Disse que se chama João de Águila, tem 20 anos e é natural de Faro, no Reino do Algarve e tem metade de um oitavo de cristão novo. Seu pai chamou-se João de Águila e era biscainho, sua mãe, Joana Mendes e tinha 1/8 de cristã nova; são ambos defuntos. Não conheceu seus avós paternos nem tem notícias deles.  Conheceu sua avó materna que se chamava Maria Mendes, mas não sabe de onde era natural.

Por parte de seu pai, teve um tio Fulano de Águila, morador em Évora, onde era casado não sabe com quem, nem que ofício tinha, o qual tinha um filho, mas não sabe nada dele.

Por parte de sua mãe, tem uma tia chamada Inês Mendes casada com um Fulano Tavares, cristão velho, natural do Porto e morador em Faro e tiveram uma filha que faleceu de pouca idade, chamada Inácia.

Tem dois irmãos e duas irmãs: Francisco de Águila, que será de 30 anos, do qual nada sabe; Manuel de Águila que lhe escreveu dizendo que ia para o Brasil, por haver morto um homem em Faro, mas depois soube que foi para Angola; Maria Mendes, que é já defunta; e Inês Mendes, de 21 anos que tencionava ser freira no Mosteiro de Faro, mas não sabe se ali entrou ou não.

Soube as orações do catecismo, com excepção dos mandamentos da Santa Madre Igreja.

Disse que sabe ler e escrever Hebraico, e sabe algum Inglês. Disse que foi a Hamburgo, à Ilha da Madeira, à Terceira.

 

fls. 39 v. – 27-1-1650 – Crença

Afastou-se da fé de Cristo há 10 ou 11 anos. Diz o que fazia quando judeu. Refere a sua actual crença na fé católica.

 

fls. 43 – 26-1-1650 – Assento da Mesa

(…) e pareceu a todos os votos (…) que ouça sua sentença no auto da fé, abjure em forma e tenha instrução ordinária e penas e penitências espirituais e pague as custas.

 

fls. 44 – Sentença

Ouviu a sentença em Mesa sexta-feira, dia 28 de Janeiro de 1650

fls. 46 -  Abjuração em forma

fls. 47 – 28-1-1650 – Termo de segredo

fls. 48 – 4-2-1650 – Termo de Penitências

 

fls. 48 v. 4-2-1650 – Declaração que faz acerca de duas pessoas cristãs novas que vivem em Amsterdam como bons católicos

São João Rodrigues Mesas, mercador e Manuel Gomes, confeiteiro, naturais de Estremoz e agora residentes em Amsterdam, que fugiram do Reino por medo de serem presos pela Inquisição de Évora. São bons católicos praticantes e nunca lhes viu fazer coisa de judeus.

 

fls. 52 – 29-1-1650 – Os Inquisidores enviam o réu a um Fr. António Soeiro, para ser instruído na Religião

fls. 52 – 4-2-1650 – O Frade declara que instruiu o réu, o ouviu de confissão e sacramentou.

fls. 53 – Conta de custas:  1$201 réis

 

 

TEXTOS CONSULTADOS

 

 

Processo de Manuel Fernandes Vila-Real neste site

http://www.arlindo-correia.com/021109.html

 

Saúl Levi Morteira, Tratado da Verdade da Lei de Moisés, escrito pelo seu próprio punho em Português em Amesterdão (1659-1660) – Edição facsimilada e leitura do autógrafo (1659), Introdução e comentário por H.P. Salomon, Por ordem da Universidade, Coimbra,  1988

 

I.S. Révah, Spinoza et Juan de Prado, Mouton & Co., 1959, Paris et La Haye

 

Martim de Albuquerque, Um percurso da construção ideológica do Estado. A recepção lipsiana em Portugal: estoicismo e prudência política, Quetzal Editores, 2002. ISBN 972-564-532-4

 

Martim de Albuquerque, Para uma teoria política do barroco em Portugal – A Summa Politica de Sebastião César de Menezes (1649-1650) - Sep. de: Revista de História, vol. 2, 1979.pgs. 5-43

Online: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/6531.pdf

 

Sermão pregado em o auto da fé que se celebrou na Cidade de Évora em 28 de Fevereiro do ano de 1649, dedicado ao Ilustríssimo e Reverendíssimo Senhor Dom Francisco de Castro, Inquisidor-Geral nestes Reinos e Senhorios de Portugal e do Conselho de Estado de Sua Majestade

Pregou o Reverendo Padre Frei Diogo César,  filho menor da Regular observância de nosso Seráphico Padre São Francisco e Ministro Provincial em a Província dos Algarves

Lisboa, em a célebre Officina de Paulo Craesbeeck. Anno 1649

Online: http://purl.pt/17246