8-8-2008

 

 

Hoje falo eu

 

10-8-2009 - Para mim, a última das grandes locutoras e locutores de televisão foi Manuela de Melo, do Porto. Sei que assim digo a minha idade, mas não faz mal. Tinha ela o treino do teatro, lia as notícias para serem ouvidas, não comia as palavras. Vem isto a propósito do vício que têm muitos dos actuais locutores de baixarem o tom de voz no final das frases. Como o ouvido também já não ajuda muito, perco orações inteiras. ”O que é que ele disse no fim?”

Outro vício dos telejornais não é dos locutores, é das Televisões. Como serão provavelmente dos programas mais vistos, esticam, esticam que nunca mais acaba: uma hora, hora e meia, duas horas! Ora o TJ não deveria ter mais de meia hora, que é exactamente quanto duram os da RAI. Outro mérito da televisão italiana é que o TJ não fala de desporto; para isso, há um TG Sport depois daquele. Que coisa! Custa muito a perceber e fazer as coisas como deve ser? Não se conseguem pôr de acordo as três TV's?

 

 

 

8-8-2009 - Há dois madeirenses que “invadiram” o Continente que me mexem com os nervos. O primeiro é Joe Berardo a quem Sócrates deu o Centro Cultural de Belém para ele expor a sua colecção de arte moderna. É inútil dizer que nunca fui nem nunca porei os pés no Museu Berardo.

O outro é o senhor do Grupo Pestana a quem um Governo (não me lembra qual) deu a concessão das Pousadas de Portugal. Trataram logo de subir os preços o mais possível, enquanto faziam umas promoções das pousadas mais mixurucas. Eu que, de vez em quando, gostava de ir uns dias para uma pousada, deixei-me disso, porque o orçamento ultrapassava as minhas posses. Parece que também a televisão (RTP) deve achar os preços estapafúrdios, como eu. É que agora dão prémios de estadia, mas…. nas Pousadas da Juventude. É quase o mesmo que dar uns dias de estadia numa tenda no Parque de Monsanto!... Deve ser a crise!...

 

 

 

23-7-2009 - Quando, numa hierarquia, o chefe tem de escolher os seus subordinados, põem-se-lhe duas alternativas: ou escolhe de facto gente competente para os lugares a preencher, mas então, corre o risco de eles se lhe fazerem sombra e lhe conquistarem o lugar mais cedo ou mais tarde. Ou então, escolhe apenas gente menos inteligente, menos competente e mais “naba” que ele, de modo a que possa continuar a controlar a situação ad aeternum.

Temos de reconhecer que é esta última a solução adoptada em Portugal. Se depois o subordinado tem de escolher outros abaixo dele, adoptando o mesmo processo, potencia-se a desgraça e fica tudo cheio de incompetentes.

José Sócrates, quando constituiu o Governo dele, fez isso mesmo: nenhum dos ministros dele lhe podia fazer sombra. Pôs lá assim uns senhores, com quem eu até nem gostaria de almoçar na mesma mesa. O resultado viu-se.

Há uma outra solução, também distorcida, que já encontrei, mas não em Portugal. E é esta: o chefe escolhe gente melhor que ele, competente, mas faz com que tudo o que eles elaboram ou concebem aparece como tendo sido feito por ele. Como a estrutura hierárquica é muito rígida e os salários são elevados, ninguém se revolta. Vi assim um Director dar ordem a um Chefe de Divisão para redigir uma conferência que (a título privado) ele tinha que fazer. A conferência foi depois publicada em diversos sítios e diversas línguas em nome do Director (!)

Ambas as soluções são perversas. O chefe deve procurar colaboradores competentes, mas dar o seu a seu dono. Se eles lhe passarem à frente, por serem mais competentes do que ele, é a lei natural das coisas. E não se deve aproveitar do trabalho dos subordinados, para se mostrar melhor do que aquilo que é.

 

 

 

23-2-2009 - Não sei se as pessoas que em Portugal percebem um pouquinho de italiano concordam comigo: os italianos, especialmente os jovens, exprimem-se muito melhor, quer na TV, quer no dia a dia, que os portugueses. Frases mais bem construídas, mais expressivas, mais correctas.

Uma vez, no programa de manhã da RAI Uno Mattina, o apresentador Luca Giurato entrevistou a campeã nacional italiana de esgrima (duas medalhas de bronze em Pequim), Margherita Granbassi (30 anos, em 1-9-2009), uma bonita loira, militar da arma dos Carabinieri.  Ouvi-a, tão parvo como o Luca Giurato, exprimir-se num italiano perfeitamente clássico e literário, como se estivesse a debitar um texto previamente estudado.

Mas ela está longe de ser um caso isolado. Muitos jovens italianos exprimem-se e escrevem em perfeito estilo clássico.

Ora eu penso que isto se deve ao facto de se manter em Itália o estudo do Latim, a partir do 7.º ano de escolaridade para o “Liceo classico”. Os estudos são bipartidos a partir dessa altura entre “classico” e “scientifico”: só o primeiro tem Latim.

Ora bem: eu penso que, se se quer preservar a língua em Portugal, é preciso regressar ao estudo do Latim, pelo menos por quem se vai dedicar a cursos dessa área. Dêem-lhes 5 ou 6 anos de latim e eu tenho a certeza que se passará a escrever e a falar melhor.

O estudo do Latim terá de ser precedido de uma disciplina a que se poderá chamar Análise Lógica, e que consistirá em dividir orações e classificá-las, assim como classificar morfologicamente todos os vocábulos, indicando a função sintáctica que desempenham. Todas estas coisas já mudaram de nome, mas continuam a ser indispensáveis, sobretudo para a aprendizagem do Latim.

Penso que esta é a única solução para que se passe a escrever e falar melhor.  

 

 

 

19-2-2009 - Quando as pessoas aplaudem em Portugal, na ópera ou em concertos de música clássica, costumam exclamar: “Bravô! Bravô! Bravô”. A palavra “bravo”, no sentido de brilhante, espectacular, é italiana. Os franceses, ao irem buscá-la mudaram-lhe o acento. Os italianos dizem “Bravo!”, “Brava!”, “Bravi!”, conforme o sexo e o número dos actuantes.

Parece-me assim que o “Bravô!” não tem jeito nenhum, nem ponta por onde se lhe pegue. Ou se utiliza a palavra italiana, ou se diz em português “Bravo”, “Brava”, “Bravos”… Mas utilizar uma palavra italiana e pronunciá-la à francesa é que não.  

 

 

11-2-2009 - O direito da família em Portugal, está infectado e infestado pelo direito de propriedade. As pessoas possuem filhos, como possuem a casa, os móveis, o automóvel, etc. Sinal evidente disso é a proibição de que o adoptante tenha algum relacionamento ou seja conhecido dos pais biológicos. Porque, na nossa Lei, as crianças têm proprietários (os pais biológicos) e, na sua falta ou abandono, são entregues a outros proprietários, os adoptantes.

Faz-me lembrar o que acontecia no Minho há trinta e poucos anos. Trabalhei na zona dos móveis por essa altura e vi que era uma felicidade para os pais terem filhos rapazes, que desde os 11 anos até casarem, entregavam aos pais o salário, ficando apenas com uma pequena parte para divertimentos.

A partir deste ponto de vista, existem situações perfeitamente desastrosas. A Juíza que mandou buscar a pequena Ana à Sr.ª Lurdes Osório, limitou-se a constatar a detenção ilegal da criança, tal e qual como se fosse uma coisa e mandou-a apreender, como teria mandado apreender um automóvel, uma televisão, que não lhe pertencesse. Tratou a criança como se de um objecto se tratasse.

Outra consequência muito séria é a de que neste País ainda ninguém falou em co-adopção, que é coisa que já funciona noutros países com bons resultados. É que, afinal, as crianças não são uma coisa, nem são propriedade dos pais nem dos adoptantes. Se as crianças hoje se adaptaram já a viver com mãe + padrasto + pai + madrasta, porque não se adaptarão a viver com pais adoptivos, mas convivendo também com os pais biológicos?

Outro corolário dessa consideração como coisas é o tratamento de crianças para adopção ou retiradas aos pais: privilegiam-se as instituições e centros de acolhimento, depósitos de gente, em relação às famílias de acolhimento. Na minha opinião qualquer família, por pior que seja, é preferível a uma instituição.

 

 

 

27-10-2008 - Considero-me uma pessoa bem informada: leio um jornal todos os dias, em média, estou mais de uma hora por dia a consultar a Internet. No entanto, não sabia que já não era possível em Lisboa renovar o Bilhete de Identidade (BI); que, finda a sua validade, era preciso solicitar o cartão de cidadão, o tal que é 5 em 1. Sabia, porém, que as Lojas do Cidadão estão saturadas. Não sabia que no Areeiro apenas se atendem pedidos com (muita) urgência, mas que na Rua Defensores de Chaves, 52  e na Avenida Afonso Costa, 41 ainda há dois serviços com menos afluência.

Estava pois convencido que, até que o Cartão do Cidadão fosse obrigatório, se poderia continuar a renovar o BI. Mal informado, como se vê. E, no entanto, acho que seria lógico que se continuassem a renovar os BI para não ficarem os serviços encravados a dar o Cartão do Cidadão a quem precisa com urgência apenas do BI!... Por enquanto, aqueles dois locais ainda vão estando desafogados, mas ver-se-á daqui a umas semanas!

A Informática é uma ratoeira enorme para os Portugueses. É que, com os computadores, os erros e as nabices vêm logo ao de cima, como o azeite na água. Não é possível vender gato por lebre, como por cá estão habituados a fazer. Por isso é que se vêem na Internet sites oficiais que são uma desgraça, inúteis ou completamente desactualizados: tristezas sem fim por todo o lado. No Cartão do Cidadão é tudo novinho, mas tão novo que o aparelho electrónico ainda não está afinado para dar a altura certa da pessoa! Dá a altura errada, mas a funcionária diligentemente confere-a com a que consta do BI e substitui por esta a que o aparelho indicou.

Exemplo de sites deficientes: eu também fui enganado pelo site Portal do Cidadão. Lá continua a falar da renovação do BI que em Lisboa já não é possível. Aliás, o Governo só tem uma solução para o Portal do Cidadão: apague-o, delete it. Com a quantidade de informação que tem, é humanamente impossível mantê-la actualizada. Dar informações erradas é contraproducente: acabe-se com aquilo.

Nestas coisas, soube também hoje outra muito boa: há uns 5 anos mais ou menos, a Segurança Social mudou o sistema de identificação, passando o respectivo número de 9 para 11 dígitos, acrescentando à esquerda um algarismo significativo e à direita um dígito de controlo. Lá começou a emitir lentamente novos cartões para os contribuintes. Mas não é que, nesta data, a base de dados para pesquisa do contribuinte a partir do número, tem ainda apenas 9 dígitos?!... Inacreditável.

 

 

 

08-08-2008 - Uma verdade de La Palisse é que o legislador não deve utilizar adjectivos na redacção da lei. Os adjectivos (grande, pequeno, geral, particular, etc.) têm uma medida que é perfeitamente subjectiva, pois corresponde à ideia de quem os utiliza. Corolário desta afirmação é que também não se devem pôr na lei substantivos abstractos, isto é, os que designam noções, acções, estados e qualidades: verdade, opinião, limpeza, caridade, bondade, violência, abuso, etc., etc., etc. Se o legislador quer usar uma dessas palavras X., tem de acrescentar: Para efeitos do presente diploma, entende-se que se verifica X. nos casos seguintes:.........................."

Pois lá vai aparecer outro adjectivo no projecto de uma lei que por aí anda: ambos os pais da criança, ainda que separados, devem participar nas decisões relativas a actos de particular importância para a vida das crianças. Quem vai medir a importância dos actos para a vida das crianças? Os Tribunais? Mas então, vamos ficar à espera duas dúzias de anos para que se forme jurisprudência sobre a definição desses actos? Não seria mais fácil que o legislador tentasse incluir na lei um pequeno inventário desses actos, de preferência de carácter exaustivo, mas, se não puder ser, pelo menos a título exemplificativo?

 

 

 

08-08-2008 - Para os que escrevem sobre história:

Antes de 1911, a moeda portuguesa era o real, no plural, reis.

1$000 rs. eram mil reis.

1 000$000 rs. era um conto de reis ou um milhão de reis.

Por isso “setenta e oito mil reis” escreve-se em algarismos 78$000 rs.

Vinte mil reis, escreve-se 20$000 rs.

Se isto não se ensina no curso de História da Faculdade de Letras, deveria ensinar-se pelo que tenho visto escrito por aí.