6-5-2001
GUSTAV MAHLER
(1860 - 1911)
A minha familiaridade com a música de Mahler é relativamente recente. Data de 1994, ano em que Lisboa foi Capital Europeia da Cultura. No ciclo Grandes Orquestras Mundiais, vieram agrupamentos musicais notáveis ao Coliseu interpretar as sinfonias de Mahler. Ouvi umas três, entre as quais uma belíssima interpretação da Sinfonia dos 1000, a Oitava, assim chamada porque o compositor apontava como sendo mil, o número mínimo de intérpretes! Infelizmente, não há em Portugal orquestras capazes de interpretar Mahler, por maiores reforços que lhes juntem. Mais tarde, ouvi outras interpretações em Bruxelas e ainda uma Sexta Sinfonia em Veneza, pela Orquestra do Teatro La Fenice, a actuar numa enorme tenda de campanha, enquanto não está reconstruído o teatro, após o incêndio. Depois disso, comprei já as sinfonias, os Lieder eines fahrenden Gesellen, os Kindertotenlieder, Das Lied von der Erde, li duas biografias dele e outras duas de Alma Mahler. Entretanto, durante um curso de duas semanas em Berlim, tive ocasião de ouvir em 18 de Agosto de 2001, uma bela interpretação da 4.ª Sinfonia pela Gustav Mahler Jugendorchester no Konzerhaus do Gendarmeparkt. Dirigia Ivan Fischer (n. em 1951) e cantou a canção final a soprano inglesa Amanda Roocroft. Não foi talvez uma interpretação muito subtil (a orquestra é composta de jovens na casa dos 25 anos), mas foi um momento musical que me agradou muito e chegou a pôr-me os cabelos em pé. A orquestra é muito poderosa. |
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A
música de Mahler não é assim tão difícil como às vezes se diz. É uma música
algo complexa, pela variedade e novidade de alguns sons e instrumentos e a
inclusão do canto nas sinfonias. Além disso, é uma música que não cansa,
pois, quanto mais se ouve, melhor se percebe. Não é muito extensa, cabe em
quinze ou dezasseis CD's. Ele teve uma vida bastante curta, e dedicou-se muito
à direcção de orquestra e de teatros, pois tinha de ganhar a vidinha e
escrever música não dava grandes resultados para isso. Aliás, os últimos
anos foram passados na América, onde auferia rendimentos que seriam inacessíveis
na Europa. O casamento com Alma Mahler foi para ele uma fonte permanente de
inspiração, pois aquela jovenzinha de extracção burguesa revelou-se uma
mulher extraordinária (Pode ver a minha página sobre ela,
aqui).
Existem
muitos textos sobre Mahler na Net, e dispenso-me de acrescentar mais coisas
aqui.
Pode ver-se o artigo da Enciclopédia Britânica, a muito completa página de Jason Greshes, a enorme discografia de Vincent Mouret, em francês, e também este directório. Estas páginas contêm depois listas com numerosos outros links.
5-7-2003 – Mahler tem sido ouvido de novo em Lisboa, agora pela mão da Orquestra Sinfónica Portuguesa. Ontem, dia 4, fui ao Teatro Nacional de S. Carlos ouvir uma bela interpretação da 9.ª Sinfonia, com a orquestra sob a direcção de Jeffrey Tate, que valeu realmente a pena. Para mim, esta é uma das sinfonias que tem de ser ouvida tocada ao vivo, para apreender todas as suas nuances.
Em 15 de Novembro de 2002, já ali ouvira a 3.ª Sinfonia, dirigida por Zoltán Peskó e a participação da mezzo soprano Mariana Pentcheva, que também me encheu as medidas.
2004 - Também em 2004, vi e ouvi em Lisboa magníficas interpretações de Mahler. No Coliseu, no âmbito do ciclo Grandes Orquestras Mundiais, a 27 de Abril, a Orquestra do Festival de Budapeste tocou a Sinfonia n.º 9, dirigida por Iván Fischer; a 27 de Maio, a Orquestra de Filadélfia, dirigida por Christoph Eschenbach executou a Sinfonia n.º 1. A 27 de Junho, no Centro Cultural de Belém, a Orquestra Sinfónica Portuguesa, dirigida por Jeffrey Tate executou a Canção da Terra, com as vozes de Keith Lewis e Petra Lang. Todas brilhantes interpretações.
2005 - Grandes Orquestras vieram também este ano a Lisboa interpretar Mahler. A
18 de Janeiro, veio de Paris a Orquestra Filarmónica de Rádio France, para, dirigida por Myung-Whun Chung, executar a Sinfonia n.º 5. A 9 de Fevereiro, a Royal Concertgebouworkest (Orquestra Real do Palácio de Concertos) de Amsterdão, dirigida pelo Maestro Mariss Jansons, executou a Sinfonia n.º 6, em Lá menor, Trágica. Ambas, mas especialmente a segunda, foram interpretações inesquecíveis.2006 - Dentro do ciclo "Grandes Orquestras Mundiais", a Orquestra da Gewandhaus de Leipzig, dirigida pelo Maestro milanês Riccardo Chailly interpretou poderosamente a Sinfonia n.º 7, no concerto de 4-3-2006, no Coliseu dos Recreios.
2008 - A 6 e 7 de Novembro, a Orquestra Gulbenkian, reforçada com 16 instrumentistas, dirigida pela Maestrina Australiana Simone Young, e com a soprano Sueca Miah Persson, interpretou a 4.ª Sinfonia - um espectáculo memorável.
21-4-2009 - No Coliseu dos Recreios, em Lisboa (Ciclo "Grandes Orquestras Mundiais"), ouvi de novo (oito anos depois) a Gustav Mahler Jugendorchester, desta vez interpretando a 3.ª Sinfonia, dirigida por Ingo Metzmacher, acompanhada pela mezzo-soprano inglesa Jane Irwin e pelo Coro Infantil da Academia de Música de Santa Cecília. Tocou com muito vigor, como grande orquestra que é, mas também com muita subtileza. Os cantores foram impecáveis. Só foi pena o público do Coliseu ter-se portado mal, como é (mau) costume: um festival de tosse, a bocas abertas (ninguém põe um lenço na boca). A meu lado um idoso tirava fotografias (o que é proibido) com um telemóvel que tocava umas campainhas (!).
29-1-2010 - A Orquestra Gulkbenkian, dirigida pelo francês Bertrand de Billy, interpretou a Nona Sinfonia. Não gostei da interpretação. A orquestra, com 92 elementos, dos quais 26 eram reforços, estava desguarnecida (55 elementos nas madeiras). Além disso tocava de um modo delicado; eu acho que Mahler é forte, mesmo quando a música é triste. O Adagio final foi mais agradável que o resto
30-4-2010 - A Orquestra Gulbenkian, muito bem dirigida pela maestrina australiana Simone Young interpretou a 5.ª Sinfonia, numa exibição muito agradável de ouvir. Mas penso ainda que era fraco o volume de som das madeiras.
16 e 17-4-2011 - Dois óptimos concertos na Gulbenkian da Gustav Mahler Jugendorchester, com 118 instrumentistas, dirigidos pelo Maestro Philippe Jordan, com os solistas Thomas Hampson, barítono e Burkhard Fritz, tenor. No sábado, seis lieder do período Des Knaben Wunderhorn e a 1.ª Sinfonia. No domingo, o adágio da Sinfonia n.º 10 e a Canção da Terra. Ambos de encher todas as medidas.
6-6-2011 - Sinfonia n.º 2, Ressurreição: Um concerto de luxo com a San Francisco Symphony (121 elementos) o Coro Gulbenkian (115: S-35, C-22, T-28, B-30), a Solista Americana Laura Claycomb (Soprano) e a Sueca Katarina Karnéus (Meio-Soprano). Dirigiu o Maestro Michael Tilson Thomas, que só abriu a partitura quando entraram as Solistas. 80 minutos de puro encanto. O Coro esteve muito bem e admirei-me como conseguiu fazer um espectacular pianíssimo com aquela formação.
O público do Coliseu dos Recreios portou-se melhor do que é costume. Não houve festival de tosse, mas não faltou quem tossisse. Os pianíssimos eram estragados pelo ranger das cadeiras.
31-1-2014 - No Centro Cultural de Belém, a Orquestra Gulbenkian, com mais 34 reforços (total: 100) tocou Blumine e depois a 1.ª Sinfonia, dirigida com muita classe pela maestrina finlandesa Susanna Mälkki, que a partir de agora será Maestrina Convidada Principal da Gulbenkian. Belíssima interpretação e a dirigir ela tem mesmo muita maestria.
24-4-2014 - Treze anos depois, ouvi na Gulbenkian de novo a Orquestra da Juventude Gustav Mahler (com 119 elementos) interpretar a 4.ª Sinfonia, dirigida pelo jovem (31 anos) Maestro alemão David Afkham, que é Maestro Principal da Orquestra Nacional de Espanha. Foi uma interpretação muito expressiva, que não é habitual nesta Orquestra. A canção final foi cantada pela Soprano Christiane Karg, também alemã. Uma agradável noite, com muito boa música.
No início do concerto, a orquestra tocou o Prelúdio do 3º Acto e Encantamento de Sexta-feira Santa da ópera Parsifal, de Wagner, como homenagem a Claudio Abbado, recentemente falecido, fundador da Orquestra; foi pedido ao público que não aplaudisse (por uma menina portuguesa, elemento da Orquestra), e seguiu-se um minuto de silêncio, com a assistência de pé.
13-02-2015 - Hoje, a Orquestra Gulbenkian com 97 elementos (incluindo 32 reforços) interpretou magistralmente a 9.ª Sinfonia. Dirigiu a finlandesa Susanna Mälkki (n. 13-8-1969)com enorme genica mahleriana, na sua qualidade de maestrina convidada principal da Orquestra.
8-3-2015 - No Centro Cultural de Belém, a Orquestra Sinfónica Portugesa tocou a 3.ª Sinfonia sob a direcção da Maestrina Joana Carneiro. Dirigiu bem e a orquestra tinha volume suficiente, mas alguns solistas não me convenceram. O público, horrível: deu um festival de tosse e batia palmas no fim de cada andamento!... Vozes: a espanhola Maria José Montiel, meio soprano, elementos do Coro do Teatro Nacional de São Carlos e do Coro Juveniel de Lisboa.
04-4-2015 - Na Gulbenkian, na primeira etapa da digressão da Páscoa, a Orquestra da Juventude Gustav Mahler (com 129 elementos) interpretou magistralmente a 2.ª sinfonia ("Ressurreição"), dirigida pelo inglês Jonathan Nott, Maestro principal da Orquestra de Bamberg; cantores solistas a Soprano Chen Reiss e a contralto Christa Mayer. Pela primeira vez cantou com a Orquestra o Coro Gulbenkian com as suas 100 vozes. Foi uma noite memorável. O maestro exigia muita expressividade à Orquestra desde fortíssimos a pianíssimos, de tal maneira que, por vezes, no fundo da sala, quase se não ouviam estes últimos. Só uma pequena observação: o grupo que tocava fora de cena fazia-o no espaço muito aberto do átrio, o que retirava muito volume ao som, para quem estava na sala; uma solução teria sido entreabrir uma das portas.
18-11-2016 - A Orquestra Gulbenkian, reforçada com 19 elementos, interpretou muito bem a 4.ª Sinfonia, drigida pelo maestro americano Benjamin Shwartz, nascido em 1979; cantora solista a soprano sul-coreana Sunhae Im. Foi uma interpretação memorável que foi também transmitida em directo pela Antena 2 da Rádio
09-3-2018
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A Orquestra Gulbenkian,
com 120 elementos (incluindo 59 instrumentistas convidados) dirigida pelo
Maestro David Afkham (nascido em 1983). Maestro Principal da Orquestra Nacional
de Espanha, ofereceu-nos uma magnífica execução da 2.ª Sinfonia (Ressurreição).
Participaram também a Soprano Christina Landshamer alemã e a meio soprano
Elisabeth Kulman, austríaca, com o Coro Gulbenkian (24 sopranos, 24 contraltos,
21 tenores e 17 baixos).
06-10-2018 - A Orquestra Gulbenkian, muito reforçada, foi hoje dirigida pelo novo maestro titular Lorenzo Viotti, suiço, de apenas 28 anos, tocando a 1.ª sinfonia, uma interpretação algo peculiar, mas muito interessante.
Lamento aqui que a bilheteira da Gulbenkian on line, tenha aberto sem bilhetes a venda de lugares para a 4.ª Sinfonia, em 7-9-2018, com a direcção de Gustavo Dudamel e para a 3.ª, interpretada pela Orquestra Juvenil Gustav Mahler
no ano que vem em 5-3-2019. É uma situação inadmissível que urge corrigir!!!
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2.ª SINFONIA
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3.ª SINFONIA
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4.ª SINFONIA
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8.ª SINFONIA
Veni,
creator spiritus
Veni,
creator spiritus, Mentes
tuorum visita; Imple
superna gratia, Quae tu creasti pectora.
Qui
Paraclitus diceris, Donum
Dei altissimi, Fons
vivus, ignis, caritas, Et spiritalis unctio.
Infirma
nostri corporis Virtute
firmans perpeti; Accende
lumen sensibus, Infunde amorem cordibus.
Hostem
repellas longius, Pacemque
dones protinus; Ductore
sic te praevio Vitemus omne pessimum.
Tu
septiformis munere, Dexterae
paternae digitus. Per
te sciamus da Patrem, Noscamus (atque) Filium,
(Te
utriusque) spiritum Credamus
omni tempore. Da
gaudiorum praemia, Da gratiarum munera; Dissolve
litis vincula, Adstringe
pacis foedera. Gloria
Patri Domino, Deo sit gloria et Filio
Natoque,
qui a mortuis Surrexit,
ac Paraclito In
saeculorum saecula. Mahler
did not use the text in parenthesis.
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Vem, espírito criador, Visita as almas dos teus fiéis, Enche os corações com a graça divina, Os corações que tu próprio criaste.
És o nosso Conselheiro. Dom de Deus Altíssimo, Fonte viva, fogo, caridade, E unção da Graça.
Fortifica os nossos débeis corpos Com o eterno vigor, Dá luz aos nossos sentidos, Enche de amor os nossos corações.
Repele o inimigo para longe de nós, E dá-nos logo a paz, Para que, por Ti guiados, Evitemos todo o mal.
Tu és o Espírito com sete dons, O dedo à direita do Pai, Por Ti conheçamos o Pai, Conheçamos também o Filho,
E em ti, Espírito de ambos, Faz-nos crer para sempre. Dá-nos as alegrias celestes, Dá-nos dá os presentes da Graça.
Pacifica, onde há disputas, Preserva os laços da paz. Glória a Deus Pai e Senhor, E ao Filho nascido homem
E dos mortos ressuscitado, E ao Espírito Consolador, Pelos séculos dos séculos. |
Schlußszene
aus "Faust" Letzte
Szene aus dem zweiten Teil von Goethes Faust BERGSCHLUCHTEN,
WALD, FELS, EINÖDE. HEILIGE
ANACHORETEN (gebirgauf verteilt, gelagert zwischen Klütten)
Waldung,
sie schwankt heran, Felsen, sie
lasten dran, Wurzeln,
sie klammern an, Stamm dicht
an Stamm hinan. Woge nach
Woge spritzt, Höhle, die
tiefste, schützt. Löwen, sie
schleichen stumm, Freundlich
um uns herum, Ehren
geweihten Ort, Heiligen
Liebeshort.
PATER
ECSTATICUS (auf- und
abschwebend)
Ewiger
Wonnebrand Glühendes
Liebeband, Siedender
Schmerz der Brust, Schäumende
Gotteslust! Pfeile,
durchdringet mich, Lanzen,
bezwinget mich, Keulen,
zerschmettert mich, Blitze,
durchwettert mich! Daß
ja das Nichtige Alles verflüchtige, Glänze der
Dauerstern, Ewiger Liebe Kern!
PATER
PROFUNDUS (tiefe
Region)
Wie
Felsenabgrund mir zu Füßen Auf tiefem
Abgrund lastend ruht, Wie tausend
Bäche strahlend fließen Zum grausen
Sturz des Schaums der Flut Wie strack,
mit eig'nem kräft'gen Triebe, Der Stamm
sich in die Lüfte trägt; So ist es
die allmächt'ge Liebe, Die alies
bildet, alles hegt.
Ist um mich
her ein wildes Brausen, Als wogte
Wald und Felsengrund, Und doch stürzt,
liebevoll im Sausen, Die Wasserfülle
sich zum Schlund, Berufen
gleich das Tal zu wässern: Der Blitz,
der flammend niederschlug, Die Atmosphäre
zu verbessern, Die Gift
und Dunst im Busen trug,
Sind
Liebesboten, sie verkünden, Was ewig
schaffend uns umwallt. Mein
Inn'res mög' es auch entzünden, Wo sich der
Geist, verworren, kalt, Verquält
in stumpfer Sinne Schranken, Scharf
angeschloss'nem Kettenschmerz. O Gott!
beschwichtige die Gedanken, Erleuchte mein bedürftig Herz! |
DESFILADEIROS, FLORESTA, PENHASCOS Região deserta. Santos Anacoretas, distribuídos pela montanha acima, entre os precipícios.
CORO E ECO:
Florestas ondeando, Os rochedos pesando, Raízes agarrando, Tronco a tronco subindo. Uma a uma, onda espuma, Caverna envolta em bruma, Passa o leão calado E manso a nosso lado, Honra ao lugar sagrado, A santo amor votado.
PATER ECSTATICUS (subindo e descendo no ar):
Gozo eterno e ardente, Laço de amor vibrante, Coração-dor veemente, Deus-prazer transbordante. Oh, setas macerai-me! Oh, lanças, trespassai-me! Oh, clavas, esmagai-me! Oh, raios apagai-me! P’ra que cesse o que é nada E em pó se degrada, E em eterno fulgor Brilhe a estrela do amor.
PATER PROFUNDUS (região profunda):
Como os abismos a meus pés Noutros mais fundos estão assentes, Como os ribeiros que correr vês Espumam nas quedas das torrentes, Como o tronco com seu possante Impulso sobe na atmosfera: Assim é o amor omnipotente Que tudo forma e tudo gera.
À minha volta oiço um fragor, São como vagas bosque e penha, Contudo, é só o marulhar Manso de água que se despenha, Chamada a fecundar o vale; O raio que em chamas se abateu Veio limpar o ar, afinal, Que de vapores letais se encheu –
São mensageiros de amor, a voz Do eterno agir da natureza. Se o meu espírito, em seu atroz Sofrimento, turva frieza, Inflamado fosse, e a dor Dos sentidos, escura prisão! Vem, Deus, a mente apaziguar, Iluminar-me o coração!
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PATER SERAPHICUS (região intermédia):
Nuvem matutina vem P’los abetos a ondular! Já pressinto o que contém: Jovens almas devem ser.
CORO DOS MENINOS BEM-AVENTURADOS:
Diz-nos, Pai, onde voamos, Diz-nos qual é a nossa essência. Felizes somos: achamos Tão doce a nossa existência!
PATER SERAPHICUS:
À meia-noite nascidos, Meio despertas alma e mente, Para os pais logo perdidos, Ganho pr’os celestes entes. Sentis perto alguém que amou, Estou certo. Vinde até mim! Mas não sabeis por onde andou No mundo, e é melhor assim! Vinde em meus olhos entrar, Órgãos mundanos, terrenos; Deles vos podeis servir P’ra ver o lugar ao menos. (Recebe-os em si.) São árvores, é um penedo Torrente que se desvia E em queda livre, sem medo, O seu caminho abrevia.
MENINOS BEM-AVENTURADOS (de dentro):
É imponente, grandioso, Mas sombrio, este lugar. Mete-nos medo! Bondoso Santo, deixa-nos voar!
PATER SERAPHICUS:
Subi a esfera mais alta, E pouco a pouco crescei; É aí que Deus mais se exalta, É a eterna e pura lei. É dos espíritos o pão Que o mais claro éter governa, Deus-Amor, revelação Que nos leva à vida eterna. |
CHOR
DER ENGEL (Schwebend in der höheren Atmosphäre, Faustens Unsterbliches tragend)
Gerettet
ist das edle Glied Der
Geisterwelt vom Bösen: Wer immer
strebend sich bemüht, Den können
wir erlösen; Und hat an
ihm die Liebe gar Von oben
teilgenommen, Begegnet
ihm die sel'ge Schar Mit herzlichem Willkommen.
CHOR
SELIGER KNABEN (um die höchsten
Gipfel kreisend)
Hände
verschlinget euch Freudig
zum Ringverein, Regt euch
und singe Heil'ge Gefühle
drein! Göttlich
belehret, Dürft ihr
vertrauen; Den ihr
verehret, Werdet ihr schauen.
DIE JÜNGEREN
ENGEL:
Jene Rosen,
aus den Händen Liebend-heiliger
Büßerinnen, Halten uns
den Sieg gewinnen Und das
hohe Werk vollenden, Diesen
Seelenschatz erbeuten. Böse
wichen, als wir streuten, Teutel
flohen, als wir trafen. Statt
gewohnter Höllenstrafen Fühlten
Liebesqual die Geister, Selbst
der alte Satans-Meister War von
spitzer Pein durchdrungen. Jauchzet auf! es ist gelungen.
DIE
VOLLENDETEREN ENGEL: (Chor mit
Altsolo)
Uns
bieibt ein Erdenrest Zu tragen
peinlich, Und wär'
er von Asbest Er ist
nicht reinlich. Wenn starke
Geisteskraft Die
Elemente An sich
herangerafft, Kein Engel
trennte Geeinte
Zwienatur Der innigen
beiden; Die ewige
Liebe nur Vermag's zu scheiden.
DIE JÜNGEREN
ENGEL:
Ich spur
soeben, Nebelnd
um Felsenhöh', Ein
Geisterleben. Regend sich
in der Näh'. Seliger
Knaben, Seh' ich
bewegte Schar Los
von der Erde Druck, Im
Kreis gesellt, Die sich
erlaben Am neuen
Lenz und Schmuck Der obern
Welt. Sei
er zum Anbeginn, Steigendem
Vollgewinn Diesen gesellt!
DIE SELIGEN
KNABEN:
Freudig
empfangen wir Diesen im
Puppenstand; Also
erlangen wir Englisches
Unterpfand. Löset die
Flocken los, Die ihn
umgeben! Schon ist
er schön und groß Von
heiligem Leben. (entzückt)
Höchste
Herrscherin der Welt, Lasse mich
im blauen, Ausgespannten
Himmelszelt Dein
Geheimnis schauen! Bill'ge,
was des Mannes Brust Ernst und
zart beweget
Und mit
heil'ger Liebeslust Dir
entgegen träget! Unbezwinglich
unser Mut, Wenn du
hehr gebietest; Plötzlich
mildert sich die Glut, Wenn du uns befriedest.
DOCTOR
MARIANUS UND CHOR:
Mutter,
Ehren würdig, Jungfrau,
rein im schönsten Sinn, Uns
erwählte Königin, Göttern ebenbürtig.
Chor: Dir, der
Unberührbaren, ist es
nicht benommen, Daß
die leicht Verführbaren Traulich zu
dir kommen. In die
Schwachheit hingerafft, Sind sie
schwer zu retten; Wer zerreißt
aus eig'ner Kraft Der Gelüste
Ketten? Wie
entgleitet schnell der Fuß Schiefem,
glattem Boden! (Mater gloriosa schwebt einher)
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ANJOS (voando na atmosfera mais elevada e transportando a alma de Fausto):
Das garras do mal elevamos Est’alma a nobre esfera, Pois só àquele redenção damos Que em esforço persevera. E se nele o supremo amor Uma parte tiver, Os santos com fraterno ardor O irão receber.
CORO DOS MENINOS BEM AVENTURADOS (pairando à volta dos cumes mais elevados):
Dai-vos as mãos Em roda nos ares, Entoai, irmãos, Sagrados cantares! Por Deus guiados, Confiar podeis; Vereis, extasiados, O que adorais.
OS ANJOS MAIS NOVOS:
Por penitentes espalhadas, Aquelas flores de rosa Foram ajuda preciosa Pr’a vitória, e consumada Foi a obra: a alma ganhámos. Os maus, quando as lançámos, Recuaram; os diabos fugiram E o espinho do amor sentiram Em vez do fogo infernal; E até o Satã principal Com suas setas ferimos. Jubilai, pois conseguimos!
OS ANJOS MAIS PERFEITOS:
Temos da terra um resto Penoso aqui; Nem que fosse de asbesto, Puro não é. Se o espírito potente Assimilou A si os elementos, Nunca anjo separou O uno e íntimo par, A dupla metade Que só o eterno amor Dividir pode.
OS ANJOS MAIS NOVOS:
Há nevoeiro cerrado Lá nas alturas; Perto, o ar agitado Com formas puras. Faz-se um clarão, Vejo a legião Dos inocentes, Livres da dor terrena, Roda fazendo Juntos, contentes Co’a luz amena Do nosso mundo. Eles iniciarão As fases de ascensão Deste defunto.
OS MENINOS BEM-AVENTURADOS:
Com gáudio o recebemos Em estado de crisálida; E dos anjos obtemos Uma fiança válida; Soltai o véu que encobre A sua essência; Grande e belo já sobe Em santa existência.
DOCTOR MARIANUS (na mais pura e elevada cela):
(Extasiado) Excelsa senhora do mundo, Deixa-me no ar; No céu tão azul e fundo, Teu mistério olhar! Aceita este coração Que te estremece, E com sacrossanta paixão A ti se oferece. Invencível o vigor Quando tu ordenas; Mas acalma-se o ardor Quando nos serenas.
Virgem pura e imaculada, Mãe que veneramos, Rainha por nós amada Que aos deuses igualamos.
Passam correntes De nuvens leves, São penitentes, Almas suaves Que a seus pés estão, Sorvem o éter, Pedem perdão.
A ti, a intocável, Não está vedado Que o mais vulnerável Se ponha a teu lado. Difícil nos é salvá-lo Da própria fraqueza; Quem resiste ao apelo Da impureza? É fácil escorregar Em chão liso e traiçoeiro.
Quem não cede a um olhar, A um sussurro fagueiro?
A Mater Gloriosa chega, flutuando no ar.
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CHOR DER BÜSSERINNEN:
(und Una
Poenitentium) Du schwebst
zu Höhen Der ewigen
Reiche, Vernimmt
das Flehen, Du
Gnadenreiche! Du Ohnegleiche!
MAGNA
PECCATRIX: (St. Lucae Vll, 36)
Bei der
Liebe, die den Füßen Deines
gottverklärten Sohnes Tränen ließ
zum Balsam fließen, Trotz des
Pharisäer-Hohnes: Beim Gefäße,
das so reichlich Tropfte
Wohlgeruch hernieder, Bei den
Locken, die so weichlich Trockneten die heil'gen Glieder.
MULIER
SAMARITANA: (St. Joh. IV)
Bei dem
Bronn, zu dem schon weiland Abram
ließ die Herde führen: Bei
dem Eimer, der dem Heiland Kühl die
Lippe durft' berühren, Bei der
reinen, reichen Quelle, Die nun
dorther sich ergießet, Überflüssig,
ewig helle, Rings, durch alle Welten fließet - MARIA
AEGYPTIACA: (Acta Sanctorum)
Bei dem
hochgeweihten Orte, Wo den
Herrn man niederließ, Bei
dem Arm, der von der Pforte, Warnend
mich zurücke stieß, Bei
der vierzigjähr'gen Buße, Der ich
treu in Wüsten blieb, Bei
dem sel'gen Scheidegruße, Den im Sand
ich niederschrieb - Zu Drei: Die du großen
Sünderinnen Deine Nähe nicht verweigerst,
DOCTOR
MARIANUS: (in der höchsten, reinlichsten Zelle)
Hier ist
die Aussicht frei, Der Geist
erhoben! Dort ziehen
Frauen vorbei, Schwebend
nach oben. Die
Herrliche mittenin Im
Sternenkranze, Die
Himmelskönigin, Ich seh's
am Glanze. Und ein büßendes
Gewinnen In die
Ewigkeiten steigerst, Gönn' auch
dieser guten Seele, Die sich
einmal nur vergessen, Die
nicht ahnte, daß sie fehle Dein Verzeihen angemessen!
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CORO DAS PENITENTES:
Sobes à origem Da eterna esperança, Ouve-nos Virgem Que nada alcança Cheia de graça!
MAGNA PECCATRIX (S. Lucas, VII, 36 )
Pelo amor que os pés divinos De teu filho, o Homem-Deus, Banhou em bálsamos finos, Enfrentando os fariseus; Pelo vaso generoso Cuj’unguento os perfumou, Pelo cabelo sedoso Que os santos membros secou –
MULIER SAMARITANA (S. João, IV)
Pela fonte a que Abraão Levava o gado a beber, Pela concha que levou Aos lábios o Salvador; P’la nascente de água pura Que agora ali dessedenta, Em abundância perdura E o universo alimenta –
MARIA AEGYPTIACA (Acta Sanctorum)
Pela campa consagrada Que o Seu corpo recebeu, Pelo braço que à entrada O acesso me vedou; P’los anos de sofrimento Que no deserto passei, P’lo adeus e arrependimento Que à areia confiei –
A TRÊS:
Tu, que às grandes pecadoras Não recusas tua visão,
DOCTOR MARIANUS (na mais pura elevada cela)
A vista é livre aqui, O’spírito elevado. Vejo mulheres ali Ao céu subindo. No meio delas, se adivinha, De estrelas coroada, Dos céus a rainha, P’lo brilho revelada. E à vida eterna alcandoras Quem fez sua contrição, Concede a esta alma boa, Que pecou só uma vez E da falta não sabia, Teu perdão, tuas mercês!
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UNA
POENITENTIUM: (sich
anschmiegend)
(Gretchen) Neige,
neige, Du
Ohnegleiche, Du
Strahlenreiche, Dein
Antlitz gnadig meinem Glück! Der früh
Geliebte, Nicht mehr
Getrübte, Er kommt zurück.
SELIGE
KNABEN: (in Kreisbewegung sich nähernd)
Er überwächst
uns schon An mächt'gen
Gliedern, Wird treuer
Pflege Lohn Reichlich
erwidern. Wir wurden
früh entfernt Von Lebechören; Doch dieser
hat gelernt, Er wird uns lehren.
UNA POENITENTIUM:
(Gretchen) Vom edlen
Geisterchor umgeben, Wird sich
der Neue kaum gewahr, Er
ahnet kaum das frische Leben, So gleicht
er schon der heil'gen Schar Sieh,
wie er jedem Erdenbande Der alten Hülle
sich entrafft. Und aus ätherischem
Gewande Hervortritt
erste Jugendkraft! Vergönne
mir, ihn zu belehren, Noch blendet ihn der neue Tag!
MATER
GLORIOSA: (und Chor)
Komm! Hebe
dich zu höhern Sphären! Wenn er dich ahnet, folgt er nach.
DOCTOR
MARIANUS: (auf dem
Angesicht anbetend) (und Chor)
Blicket aut
zum Retterblick, Alle reuig
Zarten, Euch
zu sel'gem Glück Dankend
umzuarten! Werde jeder
bess're Sinn Dir
zum Dienst erbötig; Jungfrau,
Mutter, Königin, Göttin, bleibe gnädig!
CHORUS
MYSTICUS:
Alles Vergängliche Ist nur ein
Gleichnis; Das Unzulängliche, Hier wird's
Ereignis; Das
Unbeschreibliche, Hier
ist's getan; Das
Ewig-Weibliche Zieht uns
hinan.
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UNA POENITENTIUM (antes chamada Margarida, chegando-se a ela):
Inclina, inclina, Oh, Mãe divina, Luz que ilumina, Teu olhar, muda a minha sorte! O meu amado, Purificado, Furta-se à morte.
MENINOS BEM-AVENTURADOS (aproximando-se com movimentos circulares):
Ele suplanta já Nossa estatura, E recompensará Amor e cura. Nenhum de nós chegou A vida a amar; Mas este, que a viveu, Vai-nos ensinar.
A MESMA PENITENTE (antes chamada Margarida):
P’lo coro dos espíritos cercado, Nem sabe o noviço onde está, Mas pressente o seu novo estado, Tão igual aos outros é já. Vê como deixa já p’ra trás A capa de terrena vaidade, E da etérea roupagem faz Fonte de fresca mocidade. Deixa-me ser seu guia agora, Temo que a nova luz o cegue.
MATER GLORIOSA:
Vem, ascende à mais alta esfera, Mal te pressinta, logo te segue.
DOCTOR MARIANUS (orando prostrado):
Contemplai, vós, penitentes, O olhar salvador; Renascereis, novos entes, P’ra eterno prazer. Quem em tua luz caminha, Serve-te em humildade; Virgem, Mãe, Deusa, Rainha, Tem de nós piedade!
CHORUS MYSTICUS:
Tudo o que passa É símbolo só; O que não se alcança Em corpo aqui está; O indescritível Realiza-se aqui; O Eterno-Feminino Atrai-nos para si.
FINIS
Tradução de João Barrento, em Johann Wolfgang Goethe, Fausto, Círculo de Leitores, Lisboa, 1999 – ISBN 972-42-2097-4 |