6-2-2008

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A RAINHA JINGA

 

 

INTRODUÇÃO

 

É imensa a fama da Rainha Jinga que viveu no centro de Angola na primeira metade do sec. XVII e ficou célebre, primeiro pela sua crueldade e imoralidade, e depois pela sua espectacular conversão à Fé Católica, em que tinha sido baptizada no início da idade adulta. Até há pouco tempo, porém, a sua fama só foi divulgada através de obras de ficção, faltando quase totalmente o estudo histórico da sua figura. Não admira assim que a Rainha Jinga se tenha transformado numa figura mitológica.

Dois mitos principais se formaram em torno da sua figura. O primeiro foi o da “santidade” da senhora, espécie de milagre propagado pelos missionários da altura, que apregoaram por todo o mundo a sua conversão de novo ao catolicismo. Um exame sumário dos acontecimentos revela logo que a “conversão” da Rainha teve em vista a aliança com os Portugueses, ajudada pelo apoio dos missionários que se encontravam na Matamba, os Capuchinhos italianos.

O segundo mito, mais recente, é o da figura patriótica, a Rainha querida do seu povo, que passou a vida lutando contra os colonizadores portugueses, defendendo a independência do seu povo. Também este mito não resiste a um estudo sumário. Jinga combateu os portugueses aproveitando-se da ferocidade dos aliados Jagas e possivelmente não era a Rainha querida dos seus súbditos que o mito representa. Nunca lhes deu boa vida, mas sobretudo sucessivas guerras com os portugueses e os aliados destes. Joseph A. Miller constatou em 1969 que a Rainha Jinga estava totalmente ausente das tradições orais da população actual das zonas onde viveu.

Entretanto, no sec. XX, foram publicitados textos que permitem conhecer  a biografia e a personalidade dela com bastante detalhe.

 

DOCUMENTAÇÃO

 

A primeira fonte para o estudo da Rainha Jinga é o livro do missionário capuchinho italiano, João António Cavazzi de Montecuccolo, que a ela dedica quase metade do texto. Sabe-se que, antes da publicação, a obra foi revista por outro confrade, por determinação dos superiores da Ordem. Daí a importância que representam os chamados Manuscritos “Araldi”, em três volumes (A,B e C), que hoje são considerados a primeira versão do livro publicado. De lamentar não existir em Portugal (que saibamos) uma cópia destes Manuscritos e também que não exista uma edição moderna do original italiano do próprio livro. Registe-se, porém, que a edição portuguesa é completa e bem apresentada, destacando-se as notas do tradutor, Padre Graciano Maria de Leguzzano. A obra é afectada pela construção do mito, elaborada pelos missionários, acentuando a imoralidade da Rainha Jinga antes, e depois, o “milagre” da sua conversão.

A segunda fonte é a História Geral das Guerras Angolanas, de António de Oliveira de Cadornega, 3 volumes escritos em 1680, mas que só viram a luz do dia em 1940. Saliente-se a qualidade das anotações aos dois primeiros volumes do Cónego José Matias Delgado (1875-1932). Cadornega é mau em datas, mas é óptimo na descrição das batalhas, e também na utilização de algumas expressões; por exemplo, a certa altura, chama a Jinga, “bicha peçonhenta”. Por sistema, espraia-se em detalhes épicos quando refere as batalhas ganhas pelas tropas portuguesas e reduz a poucas linhas a descrição daquelas em que sofreram derrotas.

A vida de Jinga, de 1624 a 1630, é-nos relatada, quase dia a dia, nos papéis de Fernão de Sousa, Governador-Geral de Angola nesse período. Estes papéis estão sobretudo em dois grossos volumes manuscritos da Biblioteca da Ajuda de Lisboa (BAL), mas foram felizmente publicados numa edição publicada na Alemanha, preparada por Beatrix Heintze, com a colaboração de Maria Adélia de Carvalho Mendes, em dois volumes intitulados Fontes para a História de Angola (1985 e 1988), que agora já estão esgotados. Aliás Beatrix Heintze estudou com profundidade essa época, tendo publicado em 1981 o longo artigo “Das Ende des unabhängigen Staates Ndongo (Angola) : Neue Chronologie und Reinterpretation (1617-1630)”. Naturalmente as referências são feitas para os manuscritos da BAL, que ainda não estavam publicados na altura. A procura dos textos nos livros publicados mais tarde dá um trabalho nada despiciendo. É também pena que aquele importante artigo não esteja traduzido para outra língua mais acessível. Em 1984, foi publicado com o título “Angola nas garras do tráfico de escravos: as guerras do Ndongo (1611 -1630)”, um resumo muito insatisfatório, pois até se cita nele, várias vezes,… o artigo inicial de 1981.

Também se encontram muitos textos respeitantes à Rainha Jinga nos Monumenta Missionária Africana, publicação enorme de 15 mais 6 volumes (de uma 2.ªsérie), organizada pelo Padre António Brásio, que, porém, se torna difícil de consultar pela inexistência de índices globais.

A obra melhor para se espreitar a personalidade de Jinga é a monografia do Padre António de Gaeta (1617-1662) “La maravigliosa conversione…”, em que aparece como autor o Padre Francesco Maria Gioia, mas que é a transcrição de uma “relação” que Gaeta enviou para a Propaganda Fide. Foi ele que praticamente serviu de intermediário nas negociações de paz entre Jinga e os portugueses, desde que chegou a Matamba em 31 de Agosto de 1656. Deste livro, existe apenas a 1.ª edição italiana de 1669.

Entretanto, reveste-se de muita importância no estudo da Rainha Jinga a tese de mestrado “Memória da Rainha Jinga, Portugal e Angola no século XVII”, da autoria de Maria Isabel Figueira Freire, defendida em 1995 na Universidade Nova de Lisboa (UNL). É um trabalho bem documentado e bem elaborado, e só é pena que não tenha sido publicado; apenas dois exemplares estão à disposição do público, um na Biblioteca Nacional (BN) e outro na UNL. Uma das conclusões da tese é que o folheto de Domingos Gonçalves sobre Jinga (1749) não passa de uma colagem e plágio de textos tirados da História de Cadornega.

Armado com tanta e tão variada documentação, atrevo-me a elaborar esta página com a qual pretendo instigar os nossos estudiosos a prosseguir o estudo desta interessante personagem.

  

Angola no início do sec. XVII 

 

Abreviaturas:

FHA – Fontes para a História de Angola

MMA – Monumenta Missionaria Africana

 

No início do sec. XVII a ocupação portuguesa de Angola era ainda incipiente. Nos contactos com as autoridades locais, tinham relevância os Reinos do Congo, do Ndongo e de Benguela.

O Reino do Congo tinha uma certa independência face à ocupação, mantendo ainda a ilusão da sua autonomia; de facto, na correspondência trocada entre o Rei do Congo e o Rei de Portugal, estes tratavam-se formalmente como iguais. Porém, falharam as tentativas dos Reis do Congo para obter do Papa um reconhecimento como Reino cristão independente.

O principal negócio levado a cabo pelos portugueses em Angola era o resgate de escravos, depois embarcados para o Brasil e para as Américas espanholas. Os escravos resgatados no Reino do Congo, porém, eram em pequeno número, porque ali os homens eram fracos para resistir à dureza da viagem de travessia do Atlântico: “os escravos que dele (do Congo) vêm não servem para armações por serem Anzicos e morrerem muitos” (FHA, I, 197).

Os escravos vinham sobretudo do interior de Angola, e daí o interesse na ocupação do Reino do Ndongo. Naquela altura, porém, a ocupação estava representada por apenas três presídios com população portuguesa: Muxima, Massangano e Cambambe (este construído em 1603) e, naturalmente, pela capital, Luanda; mas o Rei do Congo tinha a titularidade da Ilha de Luanda e da exploração do zimbo, moeda corrente do Reino.

Havia também o Reino de Benguela, onde foi colocada na época uma pequena força militar.

O número total de escravos vendidos nessa época não é despiciendo: segundo Beatrix Heintze (1984), o número de escravos embarcados legalmente cada ano na 1.ª década do sec. XVII e no começo da 2.ª, foi de 12 000 a 13 000 homens.

Mercadorias transaccionadas eram poucas: algum marfim em bruto e cera de abelhas e praticamente nenhuns produtos agrícolas.

Os Governadores traziam ordens de Lisboa para procurar metais, sobretudo ouro e prata, mas nada apareceu em Angola; metais, somente algum chumbo em Cambambe e cobre no Bembe de que só muito mais tarde os portugueses tomaram posse.

Assinale-se também na mesma época, a chegada dos holandeses às costas de Angola. Traziam eles mercadorias de melhor qualidade que os portugueses e também as que a estes eram proibidas como, por exemplo, as armas e as munições. Negociavam através dos Mobires ou Vili, que levavam as suas mercadorias para o interior e traziam escravos.

Apesar de vigorar na altura uma trégua entre a Espanha e a Holanda (1609-1621), a paz limitava-se praticamente à Europa e os navios holandeses cobiçavam quer o Brasil, quer Angola, quer as Índias Orientais.

Em 1621, é fundada na Holanda a Companhia das Índias Ocidentais (WIC), que tem como finalidade a conquista militar de territórios a serem possessões holandesas.

Após a Restauração, em 1641, foi negociada a paz por dez anos entre Portugal e a Holanda, mas as tréguas só vigoraram praticamente na Europa e os dois países continuaram a guerrear-se mutuamente no Brasil e em Angola.

A leste do Congo, de Matamba, do Ndongo e de Benguela, não chegava na altura qualquer influência portuguesa.  
 

A política de conquista 

 

As ordens do Governo de Lisboa (mas dependente de Madrid) eram que a tropa apenas poderia actuar em termos defensivos, para proteger a cidade de Luanda e os presídios. Diversos factores, no entanto, contribuíram para a opção por operações ofensivas contra os poderes locais; em primeiro lugar, o intuito de cativar escravos, já que todos estavam ali para enriquecer no mais curto espaço de tempo possível. Isto embora, em teoria, só fosse possível escravizar os prisioneiros conseguidos em guerras “justas”, conceito sobre o qual os Jesuitas escreveram muitas dezenas de páginas.

A tropa portuguesa era muito reduzida, os soldados poucos e mal instruídos. Por isso, ganhava sempre mais importância a chamada “guerra preta”, constituída por escravos de confiança e pretos dependentes de sobas aliados.  Estes, porém ,tinham tendência para fugir aos primeiros sustos das pelejas. Aparecem então como aliados dos portugueses os kilombos (isto é, acampamentos militares ou arraiais) Jagas.

A discussão acerca da origem dos Jagas gastou já muitas centenas de páginas. Hoje, em geral, os historiadores guardam a designação apenas para os invasores do Reino do Congo em 1568. O que falta saber e que teríamos curiosidade em saber, é a origem do nome “Jaga”, mas as hipóteses são tantas que não permitem qualquer conclusão. Parece que a palavra corresponde a “Iaka”, mas discute-se, sem nada concluir, qual foi o primeiro povo a que se aplicou. Na minha opinião, quando se deu a invasão do Congo em 1568, já o termo Iaka ou Jaga (os Iaga Iagas, no dizer de D. João Ribeiro Gaio, em 1588, ver Pinto) era usado para designar genericamente bandos de assaltantes especialmente ferozes e com fama de antropófagos, sem que correspondesse à tribo dos invasores; teria sido uma designação transmitida anteriormente aos portugueses pelas populações locais.

Os outros “Jagas” que nos interessam, agora a sul do Quanza, tiveram origem nos Imbangala, povos quase nómadas da região da Lunda e que, às tantas, se organizaram em kilombos, espécie de repúblicas, onde era escolhido como chefe o mais resistente e mais valente em combate. Não criavam os filhos, que eram mortos à nascença, mas escolhiam entre os prisioneiros os rapazes mais bem constituídos para integrarem o grupo, assim como as raparigas para conviverem. Faziam por vezes sacrifícios de humanos e praticavam também algum canibalismo ritual; mas parece certo que não comiam carne humana para se alimentarem habitualmente, ao contrário do que referem os autores missionários. Eram pois extremamente ferozes e duros em combate e aterrorizavam imediatamente toda a guerra preta do adversário. Não cultivavam a terra e viviam praticamente do roubo.

Não me parece correcto chamá-los "Imbangala", já que, não procriando, e incorporando nos seus grupos gente das mais variadas tribos, depressa perderam as características do povo original. Chamá-los-emos, pois, “Jagas”, usando o singular "Jaga" para designar os seus chefes, que eram eleitos como se referiu acima.

Já A. de Albuquerque Felner escrevia em 1933: "Os Jagas não constituíam verdadeiramente uma família distinta, pois não eram mais que o conjunto de indivíduos de diversas tribos, educados desde pequenos para a guerra e só para esse fim".

Note-se que uma boa síntese e ponto da situação actual da discussão sobre os Jagas é o artigo citado de Paulo Jorge de Sousa Pinto.

Os Jagas tiveram um papel muito importante ao lado dos portugueses, porque os Governadores, desde Bento Banha Cardoso (1611-1615), a eles recorreram para ter a certeza de sair vitoriosos no campo de batalha. Mas também como aliados de Jinga, que não hesitou em recorrer a eles e a adoptar o seu estilo de vida para conseguir o poder e vitórias na guerra. Para além disso, os Jagas funcionavam ainda como grandes negociantes de escravos, já que a sua ocupação principal era lutar, saquear os povos e apoderar-se dos rapazes bem constituídos que depois vendiam como escravos.

A campanha militar de Bento Banha Cardoso, quando Governador (1611-1615) permitiu tornar 80 sobas vassalos do Rei de Portugal, com obrigação de um pagamento anual (baculamento) em forma de escravos. O contrato de vassalagem implicava ainda um acordo mútuo de apoio militar, tanto dos sobas aos portugueses, como destes aos sobas, para os defender de inimigos externos ou mesmo internos. Tal contrato exigia, pois, que o soba tivesse o apoio e o respeito do seu povo, pois, caso contrário, seria preciso ir em seu auxílio com forças militares, sempre que houvesse qualquer revolta.

 

O Reino do Ndongo

 

Em 1617, veio para Angola como Governador, Luis Mendes de Vasconcelos. A primeira coisa que fez foi mudar o presídio do Hango, construído por Bento Banha Cardoso junto do rio Lucala para Ambaca, que ficava muito perto da corte do rei do Ndongo, em Cabaça. Tinha entretanto morrido nesse mesmo ano o Rei, Jinga Nbandi, assassinado pelos seus vassalos, segundo diz o Catálogo. Sucedeu-lhe no trono um filho, Ngola Mbandi, que tinha três irmãs: Jinga, Cambo e Quifunge. As três eram irmãs inteiras, não sendo seguro se o Rei era filho da mesma mãe, ou apenas meio irmão. Para ter a segurança do trono, Ngola Mbandi assassinou a madrasta, um irmão e um sobrinho, filho de Jinga Mbandi, a célebre Rainha Jinga, mais tarde baptizada com o nome de Ana de Sousa.

Diz-se também que o irmão assassinado era filho de uma esposa legítima do falecido Rei, ao passo que Ngola Mbandi e as irmãs eram filhos de escrava ou de escravas, embora com algum prestígio na Casa Real. Ngola era a designação de Rei no Ndongo. Os portugueses, porém, utilizaram esta designação para o Reino e mais tarde para todo o território da Conquista (como então se chamava a uma colónia).

Cavazzi diz ainda que o Ngola esterilizou as três irmãs, com água a ferver, mas tal facto não é referido por outras fontes. Demonstra, no entanto, a fama de grande ferocidade do rei.

É também certo que Ngola Mbandi detestava os portugueses, tanto que incitou o Jaga Caita Calabalanga, a combatê-los, prestando-lhe auxílio militar. Luis Mendes de Vasconcelos aliou-se então com os Jagas João Casa Cangola, Donga e João Cassanje e encetou uma expedição militar que destruiu as cortes reais de Cunga e Cabaça. O Rei fugiu para Samba a Quinzenzele, na fronteira leste do Ndongo.

Com o Rei derrotado, o Governador nomeou Rei a Samba a Ntumba, baptizado com o nome de António Correia. A população, porém, recusava obedecer-lhe, em virtude de estar vivo Ngola Mbandi e o Governador teve de desistir.

Entretanto, revoltaram-se contra os portugueses os Jagas Donga e Casa Cangola (havia muita insatisfação devido à fome causada por uma seca de quatro anos) e, na refrega que se seguiu, o primeiro foi morto e o segundo expulso do Ndongo. O Jaga João Cassanje ficou fiel aos portugueses por mais algum tempo.

Por volta de 1620, foi empreendida nova expedição contra Ngola Mbandi, tendo sido presas a mãe e as mulheres do Rei. Este fugiu para as ilhas de Quindonga, no meio do rio Quanza. A expedição prosseguiu para Matamba. O Jaga Cassanje apropriou-se de uma parte do Ndongo, onde instalou os seus guerreiros; mas isso foi feito com o consentimento dos portugueses.

No final do mandato de Luis Mendes de Vasconcelos como Governador (Outubro de 1621) havia 190 sobas do Dongo avassalados, dos quais 81 sujeitos ao pagamento de um tributo anual, como se disse.

 

O padrinho

 

Em 14 de Outubro de 1621, encetou funções o novo Governador, João Correia de Sousa. Os negócios não iam bem, porque não havia feiras e por isso o Governador iniciou negociações de paz com o Rei Ngola Mbandi, enviando às ilhas do Quanza o Padre africano Dionísio de Faria Barreto, que falava bem quimbundo e o militar Manuel Dias. Exigia-se que o Rei se convertesse à religião católica e voltasse para terra firme. O Rei queria que os portugueses lhe dessem de volta os quisicos e sobas que Luis Mendes de Vasconcelos lhe tinha aprisionado, a mudança para longe do presídio de Ambaca e a expulsão do Dongo do Jaga Cassanje.

Parece que o rei não gostou que lhe mandassem um padre preto “filho da terra” para o catequizar.

Regressou Manuel Dias a Luanda com reféns e com as três irmãs do Rei, “Jinga Mbandi que era a mais velha, Cambo e Quifunge, e ficou em Dongo o Padre Dionísio de Faria” (FHA, I, 195).

Segundo Cavazzi, Jinga havia nascido em 1582, sendo o único que refere a data. Penso que ela poderia ser algo mais nova, já que, bastantes anos depois disso, ainda ela desenvolvia acções de sedução junto de vários chefes jagas. Por outro lado, sabendo que ela faleceu em 1663, entendo que 81 anos seria uma idade demasiado avançada para quem teve vida tão agitada.

Jinga nunca aprendeu português. Já as suas duas irmãs que passaram largos tempos em Luanda, terão certamente aprendido a língua. Quifunge deve ter aprendido mesmo a escrever, já que foram mais tarde descobertas mensagens que enviara a sua irmã, quando estava prisioneira dos portugueses (tendo sido condenada à morte por isso).

As três irmãs foram muito bem recebidas em Luanda e foram baptizadas com os nomes de Ana de Sousa, Maria e Grácia. O Governador foi padrinho de Jinga; madrinha terá sido D. Ana da Silva, casada com Payo de Araújo de Azevedo, militar. Mais tarde Maria Cambo, mudou o nome para Bárbara de Araújo da Silva e isso deverá ter sido quando esteve alojada em casa de D. Ana da Silva, cuja sogra se chamava Bárbara.

Regressaram ao reino as três irmãs, acompanhadas por Bento Rebelo, em substituição de Manuel Dias, com as capitulações negociadas, que, porém, não tiveram efeito porque João Correia de Sousa abandonou o governo, desavindo com os Jesuitas e com boa parte da população.

Com medo das consequências, o Padre Dionísio Faria fugiu das ilhas, com o pretexto de que se queria ir confessar a Ambaca (FHA, I, 196).

 

Interregno

 

Durante um breve período (2 de Maio a 10 de Agosto de 1623), foi Governador interino o militar Pero de Sousa Coelho.

Foi então que o Rei do Ndongo enviou de novo Jinga a Luanda a pedir o cumprimento do negociado. Foi reunida uma Junta que confirmou os acordos e ordenou que partissem tropas para expulsar o jaga Cassanje do Ndongo. Antes, porém, que as tropas partissem, chegou a Angola o Bispo Simão de Mascarenhas, que assumiu o Governo. Pero de Sousa Coelho ficou furioso por perder o lugar. Assim, quando o Bispo confirmou o acordado com o Rei do Ndongo e o nomeou Capitão mor do Reino, ordenando-lhe que fosse expulsar o jaga, ele nada fez e deixou-se ficar com as tropas em Ambaca. Veio a falecer logo a seguir em meados de Janeiro de 1624.

O Rei ficou muito deprimido com esta situação, entristeceu e acabou por morrer envenenado na Primavera de 1624. Fernão de Sousa sugere que se terá suicidado, desesperado por se sentir sem o reino, isolado nas ilhas. Porém, tanto Cavazzi como Cadornega dizem que foi Jinga quem lhe ministrou o veneno. Antes de falecer, entregou um seu filho ao jaga D. João Casa Cangola, parecendo-lhe que este estaria seguro contra as acções dos portugueses e de Jinga. Terá pedido a Jinga que tomasse conta do Reino, até que seu filho o pudesse fazer.

Jinga assumiu o poder, mas sem nenhuma intenção de o largar. Usou os seus poderes de sedução com o jaga Casa Cangola para que este lhe desse o sobrinho e depois de o ter, matou-o friamente. Durante algum tempo, porém, não assinava como Rainha, mas apenas como Senhora de Angola.

 

O governo de Fernão de Sousa (1624 - 1630), profusamente documentado

 

Em 22 de Junho de 1624, acabou o Governo provisório de Simão de Mascarenhas, quando tomou posse como Governador, Fernão de Sousa. Era um homem sério, que já não era novo (61 anos), muito trabalhador e que teve a preocupação de deixar o seu tempo de governo perfeitamente documentado.

Pediu a Jinga que abandonasse as ilhas, que abrisse feiras para o resgate de escravos e que acolhesse missionários no Ndongo. Jinga respondeu que o presídio de Ambaca deveria ser encerrado, e queria também que lhe dessem de volta os quizicos e os sobas aprisionados; mas Fernão de Sousa nada disto queria fazer sem ordens de Lisboa.

Entretanto, começaram a fugir para junto de Jinga os escravos dos portugueses, a quem ela dava terras, com grande aborrecimento dos portugueses, que viam fugir os seus quimbares, que constituíam a sua “guerra preta” (FHA, II, 129).

De Luanda saíram ordens para Jinga restituir os escravos que tinham fugido para ela, sob pena de ser considerada como inimiga. O primeiro mensageiro foi Gaspar Ferreira, que foi morto por um leopardo. Fernão de Sousa mandou depois Domingos Vaz, para que ela entregasse os escravos fugidos, recebendo em troca os padres da Companhia, que ela havia pedido. Para Ambaca avançaram os Padres Jerónimo Vogado e Francisco Pacónio, que só deveriam ir para a corte de Jinga se ela mandasse antes os escravos.

Jinga disse não poder entregar escravos fugidos, porque não tinha nenhuns. Assim regressaram Bento Rebelo Vilas-Boas e Domingos Vaz do Ndongo e ambos os Padres, de Ambaca para Luanda.

Mas os escravos continuaram a fugir para Jinga e depois também para o quilombo do jaga Cassanje.

No Verão de 1625 reuniu-se uma Junta em Luanda,que decidiu:

- expulsar do Ndongo o jaga Cassanje;

- prender a usurpadora Jinga e suas irmãs;

- procurar alguém que pudesse ser coroado Rei do Ndongo, com a obrigação de se baptizar e de deixar entrar os missionários no Reino, e obrigar-se a pagar anualmente um tributo de 100 escravos.

Eventualmente, o presídio poderia ser mudado de Ambaca para junto do rio Luinha, quando para isso viessem ordens de Lisboa.

Fernão de Sousa deu ordem a Ari a Quiluange, soba de Pungo Andongo, para vir a Ambaca a fim de celebrar um contrato de vassalagem com Portugal, na esperança de, depois, o tornar Rei do Ndongo. Ari a Quiluange tinha sangue real e era para Fernão de Sousa uma escolha lógica, uma vez que Jinga nunca poderia ser soberana legítima, "por não governar este Reino mulher" (Carta ao Rei, de 21-2-1626 - MMA, VII, 417).

Um grupo de sobas foi então atacar Ari a Quiluange, que foi pedir ajuda aos portugueses. Um grupo de 34 portugueses com alguns quilambas sob o comando de Estêvão de Seixas Tigre, partiu de Ambaca em auxílio de Ari.

A expedição correu mal e os portugueses foram surpreendidos pelas forças de Jinga. A guerra preta fugiu, foi morto o capitão Pero Leitão e mais dois soldados e foram aprisionados seis portugueses que foram levados à presença de Jinga. Esta vitória incitou ainda mais Jinga contra os portugueses. No entanto, ela disfarçou, enviando o seu Manilumbo (conselheiro principal) ao Governador para dizer que os prisioneiros portugueses estavam de boa saúde.

Fernão de Sousa iniciou os preparativos para uma grande acção contra Jinga. Para a sua organização, nomeou Sebastião Dias Tissão e para o comando militar a Bento Banha Cardoso. Consultou em seguida o Colégio da Companhia de Jesus e outros padres para que lhe assegurassem que era justa a guerra que ia iniciar, a fim de escravizar os prisioneiros, de consciência tranquila; a Companhia cedeu-lhe dois padres para acompanhar a força, os Padres António Machado e Francisco Pacónio.

Em Janeiro de 1626, reuniu em Luanda uma Junta que decidiu:

- encetar a acção militar contra Jinga sob o comando do Capitão mor Bento Banha Cardoso;

- escolher um Rei para o Ndongo, provavelmente Ari a Quiluanje;

- instalar o Rei como vassalo de Portugal, baptizá-lo, estabelecer um tributo anual de 100 peças da Índia, abertura de feiras, auxílio armado contra os inimigos;

- restituir ao novo Rei os quisicos e os sobas;

- prender ou expulsar Jinga do Reino.

Bento Banha Cardoso partiu de Luanda a 7 de Fevereiro de 1626.

 

Jinga torna-se a principal inimiga dos portugueses

 

Jinga prosseguia a tentativa de diálogo (ou simulacro) com os portugueses. Propôs a entrega dos seis portugueses prisioneiros em troca do soba Dungo a Moisa e do afastamento de Ari a Quiluanje.

Na primeira quinzena de Março, Bento Banha Cardoso recebe uma carta que lhe é enviada por Jinga, datada de 3 desse mês. Considera-se vassala do Rei de Espanha por ser cristã; estranha muito que os portugueses estejam a preparar uma guerra contra ela; deve haver algum mal entendido e, por isso, ela até indica as prendas que quer receber dos portugueses.  Bento Banha Cardoso responde a 15 de Março com uma carta irónica, repetindo o pedido para ela entregar os escravos fugidos e dando a entender que, estando as coisas como estavam, ela não pode ter a pretensão de receber presentes. Temos ainda hoje cópia de ambas as cartas.

Todas as forças de Jinga estavam nas ilhas do Quanza e Cardoso recebeu a informação de que estavam demasiado fracas e não tinham apoio de nenhuns Jagas. Os de Casa Cangola estavam em Malemba, os de Cassanje, na Quina. Só Quiluange Cancango e Ambuila demonstraram a Jinga a sua solidariedade através de pequenos presentes.

Por esta altura (Junho de 1626), desencadeou-se entre os portugueses, a guerra preta e seus aliados um surto de varíola, ao mesmo tempo que faltavam os víveres. Houve cerca de 4000 mortos e algumas vítimas também entre os brancos.

António Bruto e Lopo Soares Laço tomaram a ilha Mapolo.

A 12 de Julho, as tropas de Cardoso ocuparam a ilha onde estava Jinga, sem encontrar resistência. Jinga fugiu, provavelmente para Tunda, na outra margem do Quanza.

Foram recebidas duas embaixadas de Jinga. Perguntava quais as razões da guerra e reafirmava a sua lealdade. No entanto, restituiu os seis portugueses prisioneiros no prazo de 24 horas que lhe foi dado. Bento Banha Cardoso adiou a restituição dos quimbares por dois dias.

23 de Julho de 1626: o prazo não é cumprido; Jinga foge.

São recebidas ordens do Governador: é preciso perseguir Jinga, prendê-la ou expulsá-la do Ndongo. É preciso subjugar todos os sobas e depois escolher um novo Rei para o Ndongo.

B.B. Cardoso persegue então Jinga com 80 soldados. Tem informações sobre o caminho seguido por ela na fuga: Ambolo Casaxe, Zungue a Moque, Lezungui ou Cambulo. A tropa sofre muitas mortes por varíola. Sabe-se então que Jinga se refugiou junto do Jaga Casa Cangola.

12 de Outubro de 1626: B.B. Cardoso elege Ngola a Ari como Rei do Ndongo [sem ordem minha, diz Fernão de Sousa (MMA, VIII, 162)] em substituição do seu meio irmão Ari a Quiluange, que morrera de bexigas nas ilhas. Ngola a Ari é investido como vassalo de Portugal. A escolha foi infeliz; Ngola a Ari era filho de uma escrava de Quifunge, a irmã de Jinga e só não fora marcado a fogo como escravo por a sua mãe residir na corte. Tal ascendência tirava-lhe todo o prestígio.

Alguns meses depois, prossegue a campanha militar contra Jinga.

Entretanto, o Rei nomeado pelos portugueses estabeleceu a sua corte em Pungo Andongo, onde construiu uma igreja; tinha consigo os Padres Francisco Pacónio e António Machado; aí foi celebrada a primeira Missa em 14 de Dezembro de 1626.

O Governador enviou Bento Rebelo Villasboas a Ngola a Ari, para colaborar na reorganização do negócio dos escravos.

21 de Março de 1627: vêm embaixadores de Jinga a Capacaça, na Quisama, para fazerem passar para o seu lado, os sobas da região.

31 de Maio de 1627: um filho de Ngola a Ari é baptizado em Luanda com o nome de Francisco.

29 de Junho de 1627: Ngola a Ari é baptizado em Pungo Andongo. É-lhe dado o nome de Filipe (Rei de Portugal e Espanha).

Por esta altura, o Rei do Congo D. Ambrósio I (1616-1631) mandou a Jinga de presente uma cadeira e uma alcatifa, por um fidalgo chamado Dom Mateus (FHA, II,184).

13 de Novembro de 1627: O Manilumbo (espécie de primeiro ministro) de Jinga apresenta-se em Ambaca. Diz que Jinga quer ser vassala do Rei de Portugal e pagar tributo.  O Governador dá ordem para que o Manilumbo seja preso por espião. Em Luanda convoca a Junta que decide uma nova expedição contra Jinga.

O Manilumbo é preso a 5 de Dezembro, junto com dois outros enviados de Jinga.

15 de Dezembro: Chegam mais dois enviados de Jinga a Ambaca. Jinga manifesta o desejo de se estabelecer nas ilhas do Quanza. De facto, Jinga vem para a ilha Cataxecacollo e depois para a ilha Zongo, com o jaga Casa Cangola.

Escreve Fernão de Sousa (FHA, II, 198) que o Manilumbo trazia para ele 400 peças de escravos e 150 vacas, que ele recusou e que os que as traziam voltaram para trás quando souberam da prisão dele. Por usa vez, o jaga Casa Cangola, abandonou então Jinga e foi para terra firme.

Com esta atitude, Fernão de Sousa quis sobretudo dar alento ao Rei nomeado pelos portugueses.

Reúne-se uma Junta em Luanda e decreta a execução pública do Manilumbo. Oferece-se um salvo conduto a Jinga, se ela quiser vir para Cambambe por Tunda para se entregar.

24 de Dezembro de 1627: O Manilumbo é executado em Ambaca, na presença dos sobas vassalos de Portugal.

15 de Janeiro de 1628: Fernão de Sousa repete o pedido a Jinga para que se entregue dizendo que será bem tratada; se quiser, pode trazer o jaga Casa Cangola consigo (FHA, I, 301).

Nos primeiros meses de 1628,  dominou as preocupações do Governador a ameaça de uma invasão dos holandeses.

Porém, a 11 de Junho de 1628, B.B. Cardoso deixa Luanda e avança de novo para Ambaca.

Ngola a Ari queixou-se na altura ao Governador que não era respeitado pelos sobas, nem sequer pelos portugueses. O Governador deu então ordem para que abandonassem a corte do Rei todos os portugueses que ali se encontravam.

3 de Agosto de 1628: Bento Banha Cardoso deixa Ambaca a caminho de Massangano, por se encontrar muito doente. Morre a 8 de Agosto em Lembo, junto de Massangano.

A 23 do mesmo mês, Payo de Araújo de Azevedo é nomeado Capitão mor; parte de Luanda a 9 de Setembro, por Quanza e Massangano, para Ango Amohongo, onde se encontram as tropas portuguesas. Finalidade da expedição: neutralizar Jinga e jaga Casa Cangola e os (poucos) sobas que os apoiam; abrir uma feira na região de Andala Quisua.

Em terras do soba Loache, oito sobas do Ndongo manifestaram a sua fidelidade a Portugal.

Antes ainda de atacar Jinga, Azevedo que levava 151 soldados regulares e guerra preta, castigou os sobas rebeldes do Ndongo, todos inimigos dos portugueses e do Rei nomeado por estes. Marchou depois para a fronteira do Reino de Matamba, guerreou o soba Sonde de Matamba e os seus aliados. Aprisionou os sobas de Sonde, Cassandre e Golagumba. Os Jagas dependentes de Cassanje, fugiram à frente dos portugueses para o Wandu, voltando depois para trás, até à margem oriental do Cuango.

As tropas portuguesas recuaram para a região fronteiriça de Matamba para Quituchela.

Até 23 de Fevereiro de 1629: os sobas do Ndongo, em especial os de Quzos recusam obedecer a Ngola a Are. Jinga deixa as ilhas do Quanza e dirige-se para a região do Mbondo.

O capitão mor Azevedo desentendeu-se com Ngola a Ari; este, desanimado, disse ao capitão que os portugueses bem podiam entregar o Reino a Jinga que ele não se importava. Depois recusou auxílio de armas aos portugueses e também não deu carregadores.

O jaga Casa Cangola matou dois enviados de Jinga e dirigiu-se com os seus Jagas para Ambolo Casaxe no outro lado do Quanza, na Província de Tunda. Os Jagas de Calunga deixaram Haco e dirigiram-se para Libolo.

Até 2 de Maio de 1629: Azevedo parte de Quituchela com a sua tropa à procura de Jinga nos domínios do soba Cangala Cacacombo. Tem a informação que Jinga não está em Andala Quisua, mas que não anda longe dali.

12 de Maio de 1629: Azevedo parte com 100 atiradores, a cavalaria e a guerra preta, na perseguição a Jinga, através de Malemba e de Gangola.

25 de Maio de 1629: Os portugueses avistam Jinga e as suas tropas na região da Quina Grande, montanhosa e de desfiladeiros escarpados. É perseguida por Diogo de Carvalho e a guerra preta comandada por António Dias Mosungo. São aprisionadas as duas irmãs de Jinga, Maria Cambo e Grácia Funge, assim como vários sobas e macotas. Jinga consegue fugir.

26 de Maio de 1629: 60 soldados portugueses e guerra preta perseguem Jinga, que tem 500 homens consigo, até à região de Ganguela. Jinga foge com 200 dos seus,  com o auxílio de lianas nos desfiladeiros.

29 de Maio de 1629: Perseguição de Jinga e de 100 soldados seus através dos desfiladeiros de Tala Mugongo, até à fronteira da região do Songo. O exército português volta para trás.

20 de Junho de 1629: Chegada a Luanda das irmãs de Jinga, que ficaram alojadas em casa de D. Ana da Silva, esposa do Capitão mor Payo de Araújo de Azevedo

Junho/Julho de 1629: Azevedo descansa na região do soba Cangala Cacacombo. Esforça-se sem sucesso pela abertura de uma feira em Andala Quisua.

24 de Agosto de 1629: O Governador dá ordem para desfazer o exército e montar um campo (um quartel) por exemplo em Tango Angonga, na região fronteiriça de Matamba, e aí compelir os sobas a pagar os baculamentos em atraso.

14 de Setembro de 1629: Fernão de Sousa manda desfazer o exército em Ambaca e ordena o regresso dos residentes em Luanda pelo Quanza.

8 de Novembro de 1629: Chegada de Payo de Araújo de Azevedo a Luanda.

A fuga de Jinga é descrita por Fernão de Sousa com certa piada: “Foi fugindo da nossa guerra até os bambes dos Songos que é a arraia, e vendo que a não seguiam, tornou logo a voltar, e por detrás das terras de Andala Quisua foi demandar o rio Cuango, e sabendo que o jaga Cassanje que estava da outra banda do rio, mandou-lhe dizer que ia fugindo dos portugueses, que lhe pedia a recolhesse. Respondeu-lhe o jaga que se ela havia de ir para ele, havia de ser sem lunga, que é a insígnia de guerra, e é um gongue grande, e que ele havia de governar, e não havia de haver dois senhores no seu quilombo, nem cuidasse que se havia de haver com ele como o fizera com o jaga Casa, e que havia de ficar sua mulher. E que ela aceitara a condição, e com ela passara o rio, e deixara a lunga nos matos, e que a gente, e a quicumba levara consigo, e que uma negra sua de Dongo não quisera passar com ela, e ficara desta outra banda do rio, e que os Ganguelas a tomaram e a venderam a primeira vez a temoa, que são enxadas, e a segunda a capados, e que o dito Alexandre e seus companheiros falaram com a própria negra, e que dela soubera o que fica dito.” (FHA, I, 345).

O jaga Cassanje era muito poderoso, pois tinha 80 000 arcos de guerra em campo.

Logo a seguir, o jaga desmontou o quilombo e partiu com os seus homens na direcção de Ocanga.

Juntando-se a Cassanje, Jinga adoptou as práticas e os modos de viver dos Jagas. Um dos rituais mais impressionantes era esfregar o corpo com o produto de um recém-nascido triturado, chamado maji ma samba.

Com uma parte dos guerreiros de Cassanje, Jinga voltou então para as ilhas do Quanza (MMA, VIII, 163).

4 de Setembro de 1630: Chegada do novo Governador Manuel Pereira Coutinho com 40 soldados ao porto de Luanda; toma posse do Governo da conquista.

 

Jinga conquista Matamba

 

Por volta de 1630 ou 1631, valendo-se dos guerreiros cedidos pelo seu companheiro, o jaga Cassanje, Jinga decide ir conquistar Matamba, onde reinava uma mulher, Mulundo Acambolo, que ficara no poder por morte de seu pai, Matamba-Cambolo.

A Rainha de Matamba foi derrotada e ficou subordinada e escrava de Jinga.

Ainda durante o governo de Manuel Pereira Coutinho, em 1632 ou 1633, Jinga conseguiu a libertação de sua irmã Bárbara (Maria Cambo), não se sabendo se pagou algum resgate. Cadornega diz que não pagou, mas erra nas datas ao dizer que ela pediu a libertação a Fernão de Sousa (Cadornega, I, 153). Deverá ter sido a Manuel Pereira Coutinho. Grácia Quifunge ficou em poder dos portugueses, afinal no interesse de Jinga, pois ela actuava como espia como se viu mais tarde (J. Matias Delgado, nota em Cadornega, I, 415).

Em 1635, já Jinga havia acabado a conquista de Matamba, veio novo Governador para Luanda, Francisco de Vasconcelos da Cunha. Retomou ela então os ataques às terras de Ngola a Ari e dos sobas fieis a Portugal. O Governador enviou então seu sobrinho Bartolomeu de Vasconcelos da Cunha como Capitão mor numa expedição  ao Ndongo; este conseguiu conter os ímpetos de Jinga.

Deverá datar por esta altura a separação de Jinga e o jaga Cassanje; ela não precisava dele, uma vez que domínio de Matamba já lhe permitia recrutar guerreiros. Aliás, o jaga reivindicava para si o trono de Matamba.

Apesar dos sucessos militares, Jinga não abandonou a diplomacia e tentou por várias vezes fazer as pazes com os portugueses, embora sem resultados. Assim, em 1637, contactou os Jesuítas em Luanda, enviando-lhes um “mimo” de marfim e de escravos. Os presentes foram rejeitados pelos padres, que consideraram que ela tinha uma moral muito corrompida.

 

 

Regina Ginga, nata in Angolæ perniciem, magnopere desideravit mutuum cum nostro Collegio commercium. Ad conciliandos Patrum animos dono misit Regionis suæ munera, ebur et mancipia. Rejecerunt Patres munera, cum inutilia censerent ulla benevolentiæ signa a Regina dedita moribus corruptissimis, cujus essent epulæ delicatiores puerorum jecinora, et puellarum papillæ.

A Rainha Jinga, nascida para a ruína de Angola, desejava insistentemente uma relação amigável com o nosso Colégio. Com vista a amaciar as vontades dos Padres, enviou presentes da sua região, marfim e escravos. Rejeitaram os Padres os presentes, já que julgavam inúteis quaisquer sinais de benevolência para com uma Rainha que praticava costumes dos mais corruptos, e cujas iguarias mais apreciadas eram os corações dos meninos e as mamas das meninas.

 

 

(Synopsis Annalium, 1637, n.º 19, pag. 273)

  

Em 18 de Outubro de 1639, tomou posse como Governador, Pedro César de Menezes, que haveria de ficar ligado à ocupação holandesa de Angola; trazia consigo uma companhia de infantaria, de 300 homens, entre os quais António de Oliveira de Cadornega, então com apenas 15 anos de idade.

O Governador escreveu a Jinga, pedindo-lhe que entregasse os escravos fugidos aos portugueses. Jinga respondeu enviando embaixadores, portadores de um “mimo” de peças para o Governador e outro para o Bispo e Ouvidor Geral; entregou alguns escravos, mas tão velhos que já se não sabia quem tinham sido os seus donos. O Governador recebeu os embaixadores com todo o aparato bélico (Cadornega, I, 209). Jinga pedia ao Governador lhe mandasse um morador dos mais antigos com poderes para negociar.

Nesta altura, os portugueses queriam aliar-se com o jaga Cassanje contra Jinga. Enviaram então uma embaixada aos dois, constituída pelo Padre Dionísio Coelho e Gaspar Borges Madureira; levavam dois cavalos, alguns homens brancos e muitos escravos na sua comitiva. A embaixada foi primeiro ao Jaga, o qual disse que queria viver em paz, mas não permitiu que o padre tentasse converter os seus ao Cristianismo. Os enviados foram depois ter com Jinga, sendo bem recebidos. Não vendo resultados, Gaspar Borges Madureira decidiu partir. O Padre Coelho ficou seis meses, porque Jinga estava doente. Depois voltou a Luanda (1641).

Teve, porém, o Governador notícia de alguma agitação por parte de Jinga e por isso enviou a Rui Pegado, com tropas a visitar os presídios.

Gaspar Borges Madureira regressou doente da corte de Jinga, dizendo que tinha sido envenenado. Haviam-lhe valido, segundo disse, os fortes antídotos que lhe havia dado o Rei D. Filipe Ngola a Ari.

No início do ano de 1641, chegou a Luanda a notícia da Restauração da Monarquia e da entronização de D. João IV, da Casa de Bragança. Fizeram-se grandes festejos e, mal estes tinham acabado, já os holandeses (Cadornega chama-lhes “Mafulos”) entravam em Luanda, que tomaram em 23 de Agosto de 1641.

Ainda em Agosto, o Governador com quase toda a população branca e muitos escravos abandonaram Luanda. O Governador refugiou-se primeiro na fazenda dos Jesuítas junto do Rio Bengo e depois na fortaleza de Massangano.

  

A ocupação holandesa

  

Após a ocupação holandesa, Jinga não hesitou em se aliar com os holandeses. Aliás, o mesmo fez o Rei do Congo, D. Garcia II, embora este proibisse a vinda para o Reino de pastores protestantes.

Estas alianças não tinham sucesso assegurado. Os holandeses não tinham forças militares para ocupar todo o território, nem mesmo só as zonas onde se encontravam portugueses. Por isso, se queriam ter escravos para “exportar” para o Brasil, tinham de entrar em acordo com os portugueses; e foi isso mesmo que fizeram.

Foi assim política do Governador Pedro César de Menezes evitar que os holandeses estabelecessem relações comerciais directas com a população local.

Tendo notícia da chegada dos holandeses, Jinga enviou logo uma embaixada a Luanda, “fazendo com eles confederação” (Cadornega, I, 293). Mudou o seu acampamento para os Dembos, e fez o seu quilombo nas Sengas de Cavanga, terras férteis e com abundância de água. Conseguiu a consideração e respeito dos sobas da zona, com excepção do soba Quitexi Candambi, que não a quis reconhecer por Senhora. Solicitou ajuda aos Flamengos que lhe mandaram 100 homens e sujeitou-o pela força das armas.

A 25 de Setembro de 1642, chegou ao Governador notícia das pazes celebradas com a Holanda em Lisboa, pelo que se iniciaram as negociações de paz também em Angola, tendo sido assinada uma trégua de nove meses em 30 de Janeiro de 1643.

Durante algum tempo, tudo correu bem os portugueses trocavam os seus produtos com os holandeses e estes compravam-lhes os escravos que depois embarcavam para o Brasil.

A trégua foi, porém, subitamente interrompida em 17 de Maio de 1643, quando os holandeses atacaram à traição os portugueses no Bengo. Eram 300 homens sob o comando de Gaspar Croesen e do Capitão Willem van Lobbrecht. Arrasaram o campo e saquearam quanto puderam, tendo roubado cerca de 100 000 cruzados em ouro e prata.  Foram mortos alguns moradores e o Capitão mor António Bruto, que os holandeses foram procurar a sua casa. O Governador e alguns moradores destacados e até padres jesuítas foram feitos prisioneiros e levados para Luanda. Os que escaparam voltaram para Massangano e escolheram para Governador António Abreu de Miranda. Este, em Junho, enviou a Lisboa Domingos Lopes de Sequeira para informar o Rei das maldades dos holandeses e pedir a libertação da colónia.

Em Junho, ainda, o director Hans Mols pediu um cessar fogo, que os portugueses concederam com relutância e foi assinado no dia 1 de Julho.

Em paz com os holandeses, a atenção dos portugueses virou-se para o Rei do Congo e para a Rainha Jinga. Abreu de Miranda escreveu ao Rei dizendo que se deveria rever a decisão de 19 de Outubro de 1641 de entregar a Jinga o Reino do Ndongo, achando que estava bem nas mãos de Ngola a Ari.

Pedro César de Menezes continuava preso em Luanda sem que Abreu de Miranda fizesse qualquer tentativa para o libertar. Foi então ele próprio que preparou a sua fuga, depois de se inteirar de que seria benvindo em Massangano, onde chegou em Janeiro de 1644.

Menezes confirmou a trégua com os holandeses. Abreu de Miranda ficou muito aborrecido por ter sido “destronado” e acabou por falecer.

No período de 1644-1645, os Jagas, Jinga e os sobas inimigos dos portugueses, atacaram muitas das povoações que eram fieis a estes nos arredores de Ambaca. Vieram então os sobas fieis pedir socorro ao Governador que encarregou Diogo Gomes Moralles de preparar uma força contra os Jagas.

Enquanto esta expedição avançava pelo Libolo, o soba de Angolomem-a-Caita, começou a assaltar os sobas da área de Ambaca. Para o castigar, o Governador enviou uma coluna militar comandada pelo sargento-mor Francisco da Fonseca Saraiva, o Beiçorra. A coluna, com 150 homens,  marchou para Ambaca, onde se lhe juntou guerra preta e ainda o jaga Cabucu Candonga, com os seus homens. Saiu ao combate o soba Angolomem-a-Caita, que o Sargento Saraiva conseguiu cercar, para o vencer através da falta de alimentos. O soba, porém, mandou pedir ajuda a Jinga, que estava nas Sengas de Cavanga e esta enviou-lhe um mozengo (batalhão) dirigido pelo seu capitão general, Jinga-a-Mona. Faltava aos portugueses a guerra preta, que tinha ido procurar alimentos, mas lutaram com denodo, tanto que Jinga-a-Mona teve de pedir auxílio à Rainha Jinga. Esta veio pessoalmente com reforços e dirigiu pessoalmente o ataque que dizimou a força portuguesa. A Rainha apenas poupou a vida ao Padre Jerónimo Sequeira, que levou prisioneiro, ao jaga Cabucu e mulher a quem deu “boa passagem e quartel”; e a outros sobas, nomeadamente a João Guterres Ngola Canini, seu parente, a quem nomeou Manilumbo da sua corte.

O Padre Jerónimo foi bem tratado por Jinga, que lhe permitia dizer missa e andar livremente pelo quilombo. Foi libertado em Março de 1646 aquando da derrota de Jinga nas Sengas de Cavanga, de que adiante falaremos.

Saíra entretanto do Rio de Janeiro uma força de 260 homens, em socorro de Angola, comandada por Francisco Sotomaior, nomeado já Governador Geral de Angola, que desembarcou no porto de Quicombo a meio caminho entre Benguela e Luanda. Recebeu ele o governo das mãos de Pedro César de Menezes em 25 de Outubro de 1645.

O novo Governador adoptou uma política de não agressão em relação aos holandeses, mas decidiu enfrentar a Rainha Jinga assim que tomou posse. Reuniu todos os seus homens, comandados por Gaspar Borges Madureira, acompanhados pelas forças de Ngola a Ari e do Jaga Cabucu e 20 000 homens de guerra preta. Atacaram a Rainha no seu próprio quilombo em Sengas de Cavanga, em Janeiro de 1646. Cadornega faz uma descrição épica da batalha (I, 403 e ss.), que terminou com o assalto e saque do quilombo; fizeram muitos prisioneiros, incluindo a irmã da Rainha, Bárbara, que foi conduzida para Massangano, para junto de sua irmã Quifunge. Mas Jinga conseguiu fugir.

As tropas chegaram de regresso a Massangano em Março de 1646. A morte do Governador Francisco de Sotomaior, em Maio, abriu uma crise política que foi resolvida elegendo para governar um triunvirato: Bartolomeu Vasconcelos da Cunha, António Teixeira de Mendonça e João Zusarte de Andrade.

Entretanto, em meados de 1646, o rei Ngola a Ari e seu filho Francisco refugiaram-se também em Massangano.

O triunvirato decidiu desguarnecer Massangano e ir instalar-se em Cavala na margem direita do rio Lucala, onde castigaram os sobas que eram fieis aos holandeses. Estes pediram ajuda a Luanda que enviou uma coluna militar que em 29 de Outubro de 1647 infligiu uma estrondosa derrota aos portugueses em Cavala e os obrigou a fugir para Massangano. Não se sabe porquê, os holandeses não prosseguiram a ofensiva para Massangano.

Morreram em combate 108 homens, entre os quais figuras preponderantes; doze sobreviventes foram aprisionados e levados para Luanda. Na guerra preta, perdeu a vida D.Francisco, filho do Rei de Ngola a Ari, que havia sido educado pelos Jesuitas em Luanda durante vários anos.

Em Massangano, o sargento-mor Pedro Barreiros, enraivecido pela derrota de Cavala, quis matar as irmãs de Jinga, Bárbara e Grácia Quifunge. Alguns portugueses acudiram por Bárbara, pelo seu carácter bondoso. Quifunge foi afogada de noite no rio Quanza.

A situação em Massangano era crítica, com falta de víveres e de roupas. O triunvirato desfez-se, assumindo o Governo em 17 de Agosto, Bartolomeu de Vasconcelos e Cunha.

Em Agosto de 1648, ainda os holandeses cercavam e acicatavam Massangano, quando receberam a notícia da chegada a Luanda da armada portuguesa de Salvador Correia de Sá e Benevides, com uma força de 1000 homens. O sargento-mor Symon Pieterszoon, que comandava a força, recebeu ordens de regressar a Luanda, dos directores Cornelis Ouman e Adriaen Lens. A 14 de Agosto, a tropa portuguesa desembarcava em Luanda, depois da rendição dos holandeses.

 

Modo de governar da Rainha Jinga (segundo Fr. António de Gaeta) 

 

Como Cleópatra, Jinga era toda dedicada aos prazeres dos sentidos, à volúpia e ao luxo. Vestia tecidos finos da terra, mas também sedas, veludos e brocados, vindos da Europa. Carregava-se de jóias, ouro, prata, cobre, ferro, corais; tinha sempre a coroa na cabeça. Andava descalça segundo o costume da terra. Não comia muito mas bebia bastante. Gostava de vinho generoso. Fumava muito.

Gostava de jogar, mas se ganhasse, dava o ganho aos perdedores.

Gostava muito de caçar.

Era muito lasciva, e desonesta nos prazeres da carne e muito ciumenta dos seus amantes.  

A certa altura, decidiu que não queria ser chamada Rainha, mas sim Rei. Chamava ela então os seus amantes, de que estava bem fornecida, suas namoradas e suas mulheres; por isso, vestia-se de homem e queria que eles se vestissem de mulher.

Para se assegurar da fidelidade dos amantes, fazia-os dormir conjuntamente com as damas mais belas e levianas da corte. E se algum deles tivesse relações com uma delas e fosse descoberto, era logo morto cruelmente.  

Jinga era muito destra nas artes da guerra. Uma vez, em que praticava com os seus militares jogos de guerra, já em avançada idade, quando o P.e António de Baeta a cumprimentou pela sua habilidade, disse-lhe ela: "Desculpai, ó padre, porque já sou velha. Mas quando era nova, não cedia a nenhum jaga na agilidade e na habilidade em ferir, de maneira que não temia enfrentar nem sequer um grupo de vinte e cinco soldados armados, excepto se tivessem mosquetes, contra os quais nada vale a destreza" (Cavazzi, VI, 31).

Economia - Como as suas receitas não davam para as despesas que fazia, assaltava muitas vezes as terras, e os Príncipes confinantes, roubando e despojando, como fazem os ladrões, os assassinos e os piratas do mar. 

Politica – Tinha um exército pronto para qualquer emergência.

Na cidade tinha um Juiz para as causas  cíveis. As criminais julgava-as Jinga, ouvindo antes os Conselheiros, os quais votavam sempre segundo o que julgavam ser o parecer ou inclinação dela.  
  

Os Jagas (segundo Fr. António de Gaeta) 

 

Os exércitos dos Jagas eram compostos de diversas nações de pretos gentios, homens cruéis e rebeldes que, fugindo da pátria e dos seus senhores naturais, ou de patrões de quem eram escravos, se davam a fazer uma vida bárbara e desumana. 

Eram cruéis, orgulhosos, bárbaros, desumanos e ferozes a combater; na guerra, só usavam o arco, as flechas e o punhal. Andavam nus e alimentavam-se de carne humana. Não tinham reis, mas governavam-se como uma república.

Matavam os filhos naturais que tinham, já que eram um estorvo para a guerra. Criavam os prisioneiros novos que faziam nas guerras. Para meter medo, arrancavam os dois dentes de cima à frente e às vezes também dois de baixo.

Tal como os Ciganos, também os Jagas vagueavam pelo mundo e não tinham casa própria. Casavam-se com as escravas que aprisionavam na guerra.

O matar os próprios filhos era a coisa mais terrível que faziam os Jaga. As mulheres grávidas, que estavam perto do parto, eram mandadas para os bosques para dar à luz e ali abandonavam os recém nascidos.

Os Jagas gastavam o tempo a fumar, tocar, cantar e bailar; a beber; na luxúria; e finalmente em ir à guerra, e exercitar a milícia, para roubar, saquear, destruir e empanturrar-se de carne humana.

Iam à guerra para fazer dos prisioneiros escravos que depois vendiam aos portugueses.

Refere Fr. António de Gaeta que foram cinco os exércitos de Jagas desbaratados por Jinga: Quisumbe, Cahete, Catubia, Cabuco e Calanda.

Os Jagas adoravam um ídolo chamado Gangazumbo, a quem recorriam nas suas enfermidades através de um médico.

Outro ídolo era Tutocacombe, a quem recorriam para pedir alguma graça, sobre os filhos, a serenidade, a chuva para regar os campos.

Aos ministros do demónio chamavam Xinghilas. 

 

Jinga com os holandeses (segundo Olfert Dapper)

 

"Esta Princesa (Ana Jinga) viveu mais de sessenta anos, e na altura em que o Autor isto escreveu, não havia conhecimento de que tivesse morrido, sendo publicadas em seu nome todas as ordenanças do Reino. Ela tinha uma coragem tão de macho, que costumava fazer da guerra um divertimento, e conseguia seduzir de tal modo os escravos dos Portugueses, que estes acabavam por fugir em grandes bandos. Era de um humor feroz e bárbaro, odiando mortalmente os Portugueses, a quem não dava nenhuma chance, vivendo à maneira dos Jagas em tendas de campanha. Antes de iniciar uma expedição militar, sacrificava vítimas humanas ao seu Ídolo, para saber de antemão o sucesso que teria.  

Para celebrar esta horrível festa, vestia fatos de homem, sumptuosos à sua maneira, rodeados de peles de animais, à frente e atrás, trazia um punhal pendurado ao pescoço e um machado à cintura; e, tendo na mão um arco e flechas, dançava ao som de dois sinos de ferro, com tanta agilidade como um homem jovem. Por sua vez, os espectadores assumiam posições extravagantes, e depois de se instigarem mutuamente ao furor, à força de saltos e empurrões, de gritos e urros, a Rainha era a primeira a pegar na cabeça de uma das infelizes vítimas, e cortando-a de um só golpe de machado, bebia uma golfada do sangue que corria; os mais ousados imitavam tal barbárie, apressando-se a espalhar e a beber o sangue de seus compatriotas, em honra da sua falsa Divindade. Um dos enfeites desta funesta cerimónia era uma caixa de prata, onde repousavam os ossos do seu predecessor, que ela tinha tirado das mãos dos Portugueses.

Os cortesãos de Jinga têm tantas mulheres quantas lhes apetece, mas estas desgraçadas são obrigadas a aniquilar o seu fruto, logo a seguir a dar à luz.  

O Capitão Fuller, que a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais enviou em socorro desta Rainha contra os Portugueses, em 24 de Junho de 1648, relata que, durante o tempo em que permaneceu junto desta Princesa, cento e treze mulheres tinham dado à luz e asfixiado o fruto do seu ventre fora do campo. Quem acreditaria que esta cruel Jinga é sensível ao amor? E ela é-o, no entanto, e esta Princesa tão orgulhosa e tão selvagem tem cinquenta ou sessenta jovens rapazes a quem ela dá nomes e roupas de mulher, enquanto ela no exército usa nome e fato de homem, para comandar com mais autoridade. Ela é até ciumenta, e para pôr à prova a fidelidade destes jovens que ela chama seus concubinos, deixa-os conviver com outras mulheres, mandando no entanto espiar o seu comportamento. 

De resto, Jinga teve sorte em todas estas expedições militares, excepto contra os Portugueses. Em 1646, saqueou ela todas as aldeias da província do Wandu, e levou os habitantes como escravos. Os Quissamas, povo que habita a margem sul do rio Quanza, pagam-lhe um tributo anual. Tendo morrido o seu sobrinho, que lhe tinha disputado o trono do Ndongo, e tendo os Portugueses posto no seu lugar a Ngola a Ari, saído da mesma família, este Príncipe dava-lhe secretamente presentes todos os anos, para ter a protecção dela."

  

Dapper, Olfert (1639-1689), Description de l'Afrique: contenant les noms, la situation et les confins de toutes ses parties, etc. trad. du flamand.; publié par l'Institut national des langues et civilisations orientales, Amsterdam : W. Waesberge, Boom et Van Someren, 1686. pp. 369-370

 

A conversão de Jinga

 

Ao regressarem a Matamba, idas de Massangano, as tropas de Jinga invadiram o reino do Wandu e dele se apoderaram , matando e aprisionando muita gente. Prenderam também dois missionários capuchinhos espanhóis que estavam junto do Duque, Fr. Buenaventura de Corella e Fr. Francisco de Veas, assim como um intérprete preto chamado D. Calisto Zelotes dos Reis Magos (alguns autores dizem que era padre secular, mas preferimos seguir a Fr. António de Gaeta que não o considera tal).  Levados à presença da Rainha, esta acolheu-os amavelmente e prometeu-lhes que os libertaria dentro de três dias. Durante os três dias, os missionários nunca se atreveram a comer carne, pois temiam que fosse carne humana. Ao partirem, pediram o intérprete, mas foi-lhes dito que morrera na batalha. Era falso. A Rainha quisera retê-lo como Secretário, pois sabia ler e escrever português, e até latim, e falava ambundo.

Ainda em 1648, o Governador Salvador Correia de Sá escreveu a Jinga exortando-a a converter-se e enviou-lhe como embaixador Rui Pegado. Jinga respondeu em 10 de Dezembro de 1650, atribuindo as culpas do seu procedimento ao Governador Fernão de Sousa que lhe tinha tirado o reino para o dar a Ngola a Ari. Salvador Correia voltou a escrever-lhe em 13 de Abril de 1651, mas sem resultados.  Mais tarde, Jinga mostrar-se-á muito sentida com Salvador Correia de Sá (que deixou Angola e o governo em 1651) por este não ter libertado sua irmã Bárbara, apesar dos resgates que lhe pagara.

Entretanto, em Luanda, desde 1949 que Fr. Serafim de Cortona, o Provincial dos Capuchinhos italianos, era o confessor de D. Bárbara, irmã de Jinga. Esta veio a saber isso pelas cartas da irmã. Começou então uma correspondência por carta entre Jinga e Fr. Serafim, que não deixou de a aconselhar.

Em meados de 1651, Jinga escreveu a Fr. Serafim, pedindo-lhe missionários da sua ordem, pedido que renovou nos princípios de 1652. Através de um confrade, o Fr. Serafim transmitiu o pedido a Roma à Congregação de Propaganda Fide. Assim, em 1653, foi decidido o quarto envio de capuchinhos italianos, não só para o Congo, mas também para fundar uma missão em Matamba.

O grupo de 12 capuchinhos embarcou em Cádis em 11 de Julho de 1654 e chegou a Luanda a 11 de Novembro. Não queriam deixá-los desembarcar por virem de Espanha; na altura, o Rei D. João IV tinha proibido a ida para Angola de missionários espanhóis. Interveio Fr. Serafim de Cortona, que tinha elevada reputação na cidade e finalmente puderam desembarcar. Porém, o Governador, Luis Mendes de Sousa Chichorro, que tomara posse no mês anterior, queria expulsar Fr. Antonio de Gaeta e Fr. Bonaventura da Sorrento, pois este tinha sido embaixador do Rei do Congo junto do Papa e partira de Cádis incógnito. O Padre, porém, conseguiu ir para o Soyo, na altura independente de Portugal. Fr. Antonio de Gaeta, quis ficar em Angola, até porque tinha medo de ir para Lisboa: sendo napolitano, era vassalo do Rei de Espanha. Conseguiu depois fazer-se substituir por Fr. Bernardino de Siena.

Nesta altura veio a Luanda um embaixador da Rainha Jinga, com um presente de 10 escravos a pedir a libertação de D. Bárbara.

Voltou o embaixador à Matamba e emitiu a opinião de que o Governador libertaria D. Bárbara se recebesse algum donativo. Jinga mandou então o embaixador de volta com 20 escravos  para o Governador e mais 6 para o auditor geral. Além disso, Jinga escreveu mais uma vez a Fr. Serafim de Cortona e manifestou o desejo de fazer as pazes com os portugueses.

A negociação para a libertação de D. Bárbara durou 15 meses. Nela desempenhou um papel muito importante Fr. António de Gaeta ou Fr. António Laudati-Carafa de Gaeta, mais conhecido por Fr. António Romano, para esconder que era súbdito do Rei de Espanha. Porém, todos os grandes de Luanda eram contra a libertação e o Governador teve de agir praticamente sozinho.

O Governador pediu um resgate de 200 escravos para libertar D. Bárbara. Pediu um padre aos capuchinhos e Fr. António de Gaeta ofereceu-se para ir em vez do prefeito Fr. Serafim de Cortona.

Em Novembro de 1655, o Governador enviou a Jinga, como embaixador, Manuel Fróis Peixoto, que falava ambundo. A 13 de Dezembro, Jinga respondeu com uma longa carta, em que se queixava mais uma vez dos anteriores governadores (Anexo 1).

O Governador Chichorro decidiu soltar D. Bárbara que chegou a Massangano no dia 9 de Abril de 1656 – Domingo de Ramos – e a Ambaca no início de Maio. Fr. António de Gaeta, que já estava em Massangano, foi com ela para Ambaca; acompanhava-os o capitão José Carrasco. Em Ambaca, este revelou aos companheiros que tinha ordens de não prosseguir a viagem sem nova ordem.

Passados três dias, veio ordem para reter D. Bárbara em Ambaca até que Jinga enviasse os 200 escravos. Jinga ameaçava matar o embaixador português na corte.

Fr. António escreveu então a Jinga que lhe respondeu enviando 100 escravos para Ambaca com a resposta.  Mas o Governador queria que chegassem os outros 100 escravos antes de libertar D. Bárbara. Fr. António decidiu então partir sozinho para a corte de Jinga.

No modo como redige, vê-se perfeitamente de que lado está o padre:

“Giunsi finalmente nel sudetto modo in questo Regno di Matamba, in cui mi ritrovo  al presente, conquistato a forza d’arme dalla Regina Singa, dopo che da’ Portoghesi fu spogliata, e cacciata de’ suoi Regni di Angola, e di Dongo…”

Após uma viagem de 22 dias, O Padre Antonio de Gaeta chegou a Matamba a 31 de Agosto de 1656. Jinga fez-lhe uma grande recepção e as queixas habituais.  Autorizou Fr. António a construir uma Igreja, que foi concluída num mês. Poucos dias antes, a 12 de Outubro de 1656, chegara D. Bárbara acompanhada pelo capitão José Carrasco e por Fr. Inácio de Valsassina, irmão leigo.

Nos finais de Dezembro de 1656, Jinga enviou para Luanda os 30 escravos adicionais que prometera.

Fr. António reivindica então mudança de procedimentos a Jinga e a todos os seus súbditos:

- Que ninguém invoque o Demónio ou lhe ofereça sacrifícios de homens, mulheres ou animais, matando-os para o efeito.

- Que as mães, quando dão à luz, se matarem os filhos ou os derem a comer às feras, incorram na mesma pena capital e os pais também, se forem cúmplices no delito.

- Que todas as mulheres grávidas dêem à luz na capital, para não terem a ocasião de matar os seus rebentos ou deitá-los às feras. Se forem dar à luz fora, serão chicoteadas. E, depois de dar à luz, levarão os seus filhos à Igreja para serem baptizados.

- Que nunca mais se coma carne humana.

- Que se esqueçam as superstições, magias, bruxarias, e sejam destruídas as casas e altares dos ídolos.

- Que não se dêem nem recebam juramentos.

- Que sejam expulsos da cidade os Xinghila ou Gangazumbo, bruxos, negromantes e intérpretes do demónio.

A Rainha prometeu fazer um bando com estas determinações.

Em 31 de Janeiro de 1657, a Rainha convocou o seu exército e a população da sua corte e proferiu em frente de todos um discurso anunciando a sua conversão e as regras que deveriam vigorar daí em diante (Anexo 2).

 

Fr. António de Gaeta convenceu a Rainha a fazer as pazes com os portugueses, a depor as armas, e a viver calma e pacífica daí em diante. Concordou ela e, no dia seguinte, houve reunião, estando do lado português, o cap. José Carrasco, Zendala do Governo de Angola. O Embaixador propôs: que os Portugueses dessem à Rainha alguns sobados e terras do Reino do Dongo, que se erguesse uma Igreja na cidade e os nobres se fizessem Cristãos. Que não se metesse com os sobas dependentes dos Portugueses e confinantes com Matamba; fosse amiga dos amigos e inimiga dos inimigos de Portugal; e que pagasse um tributo cada ano em sinal de reconhecimento.

Este último capítulo desagradou muito a todos os presentes e ainda mais à Rainha. Aceitou as outras condições. “Sendo eu nascida para mandar no meu Reino, não tenho que obedecer nem reconhecer um outro soberano e passar de Senhora absoluta a serva ou escrava. Se o Português quer de mim um donativo cada ano, dá-lo-ei de boa vontade, desde que ele me dê também um, e assim estaremos iguais na cortesia”.

As negociações arrastaram-se e só se concluíram em Março ou Abril de 1657, tendo sido aprovado o acordo com o seguinte aditamento:

1.º Que o rio Lucala marcasse definitivamente as fronteiras e a separação entre os dois reinos de Matamba e de Angola.

2.º Que, de futuro, nem uma parte nem outra desse asilo aos escravos fugitivos, mas cada parte os devolvesse imediatamente, como também os presos durante a última guerra.

3.º Que a rainha ficasse desobrigada de pagar qualquer tributo, sob a condição, porém, de que assinasse os outros artigos registados na precedente folha dos portugueses.

O Governador informou o rei dos termos do acordo, pedindo a sua aprovação. Recebeu resposta afirmativa datada de Lisboa em 24 de Novembro de 1657.

Fr. António baptizou os senhores da corte, depois de instruídos na fé cristã.  O Padre tinha grande dificuldade em convencer os homens a abandonar as concubinas e a viver com uma única mulher.  Mas eles respondiam: como é que quer que abandonemos as nossas concubinas, se a Rainha, ainda que baptizada, tem vários maridos e amantes? Se ela ficar com um só, nós faremos  o mesmo. 

Pensou então Fr. António propor à Rainha que se casasse com um só. Mas como falar com a Rainha em assunto tão delicado? Deu ela a ocasião, pois disse uma vez: Padre, peça a Deus que me dê um filho. O Padre fez violência para não desatar a rir.  Mas aproveitou para fazer a sua proposta. A Rainha aceitou-a; e escolheu logo um jovem escravo para marido.  E aquele, apontou, será o marido de Bárbara (tinha já sido casada segundo o rito gentio).  Apesar de velha e decrépita, a Rainha soube escolher para si um jovem garboso e para sua irmã um seu parente, velho e decrépito, o seu Manilumbo, D. João Guterres Ngola Canini.

O noivo da Rainha, chamava-se D. Salvador e era seu escravo.

A Rainha casou na Igreja em 4 de Fevereiro de 1657. As festas duraram cinco dias. A  Rainha deu ao marido muitas propriedades  e 500 escravos de dote para as cultivar. Proibiu que fosse chamado Rei e que se imiscuísse na política.

Casada a Rainha, havia que dar D. Bárbara por esposa a D. João. Mas dois dias antes das núpcias, descobriu-se que ele tinha casado em Massangano com uma D. Teresa que ainda vivia em Ambaca, o presídio dos Portugueses.

Fr. António consultou o Prefeito da missão, que estava em Massangano, para que o informasse sobre o casamento de D. João. Voltou o correio de Massangano, onde se dizia que o Barão D. João Ngola Canini era de facto casado pela Igreja com D. Teresa, ainda viva. Isso foi o autor dizer à Rainha e a D. Bárbara. Esta já vivia com D. João, todo esperançado naquele casamento, que o faria cunhado da Rainha, herdeira do trono, e que agora via ruir.

 D. Bárbara também hesitava. Disse então Fr. António que, ou ela acabava com a relação ou ele se ia embora para o Reino de Angola. Assim convenceu D. Bárbara a deixar D. João.  Este alegou que julgava que a sua mulher, de 30 anos atrás, já tivesse falecido. Queria ele que a mulher se casasse com outro e ele desposaria D. Barbara. O Padre negou e acrescentou o sermão da praxe.

A Rainha empatou a solução do caso. Tinham passado dois meses e D. João e D. Barbara continuavam a viver juntos. O Padre pediu então uma reunião com a Rainha e todos os conselheiros.

Finalmente, a Rainha tirou D. Bárbara de casa de D. João e deu-a por mulher ao Capitão Geral do Exército, Jinga a Mona. Aliás, este mesmo se propusera à Rainha para marido de sua irmã. O casamento realizou-se em 9 de Setembro de 1657.

A 15 de Dezembro do mesmo ano, Jinga levou a guerra onde se encontrava o jaga Calanda ou Calandula. Este quis-se entregar, mas os guerreiros que estavam com ele não deixaram e atacaram as tropas de Jinga. Foram derrotados, tendo sido mortos muitos e feitos prisioneiros mil e quinhentos. O jaga Calanda foi morto na batalha e a sua cabeça levada à Rainha que a mandou ao Governador.

 Enquanto durou esta guerra, o rei dos Aiacas, tribo estabelecida nas duas margens do rio Cuango, fez várias correrias nas terras de Jinga. No início de 1658, Jinga quis vingar-se, mas o Padre António de Gaeta convenceu-a a tentar negociar. Os Aiacas tomaram essa atitude como sinal de fraqueza e tornaram-se agressivos. Jinga invadiu então a região.

Como muito bem realça a Dr.ª Maria Isabel Freire na sua tese (pag. 124) a estabilidade do poder de Jinga beneficiava imenso o domínio português, pois deixava livres as rotas do abastecimento de escravos, aumentando o fluxo anual para o Brasil e para as Antilhas.

 No princípio de Julho, o P.e Serafim de Cortona embarcou para Lisboa com o ex-Governador Chichorro, que em 18 de Abril fora substituído pelo herói brasileiro João Fernandes Vieira. Era portador de cartas credenciais de Jinga e de uma carta para o Papa Alexandre VII, prestando-lhe obediência como rainha católica.

 No princípio de Novembro, chegou a Matamba o P.e João Cavazzi de Montecuccolo, que seria mais tarde um importante biógrafo de Jinga, que espalhou o seu nome aos quatro cantos da terra.

 Neste período, o Padre António de Gaeta era o embaixador itinerante de Jinga e permanente intermediário entre ela e as autoridades portuguesas. Jinga ficava sempre nervosa, quando, perto do reino, nomeadamente em Ambaca, apareciam ajuntamentos de tropas portuguesas.

O Padre António de Gaeta  tomou posse em 22 de Maio de 1662 do cargo de Prefeito das missões do Congo e de Matamba, para que fora nomeado, mas veio a falecer em Luanda a 9 de Julho. Jinga ordenou luto do seu povo e exéquias oficiais, quando recebeu a notícia nos finais de Agosto.

Em Junho de 1663, Jinga invadiu o Wandu pela terceira vez; foram presos o marquês, esposa e filho.

Em Outubro, Jinga, de idade já muito avançada, adoeceu gravemente e acabou por falecer em 17 de Dezembro.

No final do mês, D. Bárbara foi proclamada Rainha de Matamba.

Não foi um reinado pacífico, sobretudo pela maldade de seu marido, Jinga-a-Mona, que abandonou a religião católica e perseguiu os missionários. Entre as suas vítimas, o intérprete Calisto Zelotes dos Reis Magos, que ele assassinou.

Em 1665, as tropas de Matamba integravam o exército do rei António I do Congo, quando este foi derrotado na batalha de Ambuila. O reino perdeu toda a sua independência e praticamente dissolveu-se nessa altura.

 

Anexos

 

Bibliografia