2-5-2005

 

Laura Riding

(1901 - 1991)

 

 

 

Laura Riding

(1901–91). U.S. poet, critic, and prose writer Laura Riding was influential among the literary avant-garde during the 1920s and 1930s.

She was born Laura Reichenthal on Jan. 16, 1901, in New York, N.Y. She took the surname Riding in 1926, and she published under the names Laura Riding, Barbara Rich, Madeleine Vara, Laura Riding Gottschalk, and Laura (Riding) Jackson. From 1918 to 1921 she attended Cornell University, and soon her poetry began to gain attention. Early on she came to be associated with the Fugitives, a prominent group of Southern writers. Riding lived abroad from 1926 to 1939, much of the time with the poet and critic Robert Graves; together they established the Seizin Press in 1927 and published the journal Epilogue from 1935 to 1938. Their book A Survey of Modernist Poetry (1927; reprinted 1977) developed ideas of close textual analysis that influenced the New Criticism.

In 1941 Riding married the critic Schuyler B. Jackson, and until his death in 1968 they worked together on lexicographical studies. She completed their “Rational Meaning: A New Foundation for the Definition of Words” in 1974, but it was not published. During this time Riding stopped writing poetry, which she renounced as being “inadequate.” Her Collected Poems, originally published in 1938, was issued in a revised edition in 1980. She also published several novels, including A Trojan Ending (1937). Riding died on Sept. 2, 1991, in Sebastian, Fla.

Britannica Student Encyclopedia

 

 

 

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Poem  in prose: "Poet: a lying word", with Portuguese translation

Modern American Poetry

The Academy of American Poets

The New York Review of Books

Article: Laura Riding to the World: "What shall we do?"

Article: "Celebration of Failure":The Influence of Laura Riding on John Ashbery

Ensaio de Rodrigo Garcia Lopes

Brasil: recensão do livro "Mindscapes"

 

The Wind, The Clock, The We

 

 

The wind has at last got into the clock –

Every minute for itself.

There’s no more sixty,

There’s no more twelve,

It’s as late as it’s early.

 

The rain has washed out the numbers.

The trees don’t care what happens.

Time has become a landscape

Of suicidal leaves and stoic branches –

Unpainted as fast as painted.

Or perhaps that’s too much to say,

With the clock devouring itself

And the minutes given leave to die.

 

The sea’s no picture at all.

To sea, then: that’s time now,

And every mortal heart’s a sailor

Sworn to vengeance on the wind,

To hurl life back into the thin teeth

Out of which first it whistled,

An idiotic defiance of it knew not what

Screeching round the studying clock.

 

Now there’s neither ticking nor blowing.

The ship has gone down with ifs men,

The sea with the ship, the wind with the sea.

The wind at last got into the clock,

The clock at last got into the wind,

The world at last got out of myself.

 

At last we can make sense, you and I,

You lone survivors on paper,

The wind’s boldness and the clock’s care

Become a voiceless language,

And I the story hushed in it –

Is more to say of me?

Do I say more than self-choked falsity

Can repeat word for word after me,

The script not altered by a breath

Of perhaps meaning otherwise?

 

O Vento, O Relógio, O Nós

 

 

O vento penetrou por fim no relógio –

Cada minuto por si próprio.

Já não há sessenta,

Já não há doze,

É tão tarde quanto cedo.

 

A chuva dissipou os números.

As árvores não cuidam do que se passa.

O tempo tornou-se uma paisagem

De estóicos ramos e folhas suicidas –

Tão depressa pintados quanto despintados.

Ou talvez seja demais dizer isso,

Com o relógio a boiar em si próprio

E os minutos de licença para a morte.

 

O mar não é de todo imagem.

Para o mar, pois: agora é tempo,

E cada mortal é um marinheiro

Que jurou vingança contra o vento,

Arrojar a vida de novo aos finos dentes

De onde lhe saiu o primeiro silvo,

Um estúpido desafio de não se sabe o quê,

Guinchando em redor do relógio examinante.

 

Agora não existe sopro ou tiquetaque.

O barco afundou-se com os homens,

O mar, com o barco, o vento, com o mar.

O vento penetrou por fim no relógio,

O relógio penetrou por fim no vento,

O mundo saiu por fim de si próprio.

Por fim, fizemos sentido, tu e eu,

Tu, solitário sobrevivente no papel,

O ousar do vento e o cuidar do relógio

Tornado uma língua sem voz,

E eu, a história aí silenciada –

 

Há de mim algo mais a dizer?

Digo eu mais do que a hesitação estrangulada de si

A repetir-me palavra por palavra

Sem que uma pausa altere o guião,

Ou talvez querendo dizer outra coisa?

 

 
 

Tradução de João Ferreira Duarte, em "LEITURAS

poemas do inglês", Relógio de Água, 1993.

ISBN 972-708-204-1

 

 

 

 

Afternoon

 

The fever of afternoon

Is called afternoon,

Old sleep uptorn,

Not yet time for night-time,

No other name, for no names

In the afternoon but afternoon.

 

Love tries to speak but sound

So close in its own ear.

The clock-ticks hear

The Fever fills where throats show,

But nothing in these horrors moves to swallow

While thirst trails afternoon

To husky sunset.

 

Evening appears with mouths

When afternoon can talk.

Supper and bed open and close

And love makes thinking dark.

More afternoons divide the night,

New sleep uptorn,

Wakeful suspension between dream and dream –

We never knew how long.

The sun is late by hours of soon and soon –

Then comes the quick fever, called day.

But the slow fever is called afternoon.

 
 

 

 

 

                  Beyond

 

Pain is impossible to describe

Pain is the impossibility of describing

Describing what is impossible to describe

Which must be a thing beyond description

Beyond description not to be known

Beyond knowing but not mystery

Not mystery but pain not plain but pain

But pain  beyond but here beyond

 
   

 

 

 

And I

 

And I,

And do I ask,

How long this pain?

Do I not show myself in every way

To be happy in what most ravages?

 

When I have grown old in these delights,

Then usedness and not exclaiming

Mail well seem unenthusiasm.

 

But now, in what am I remiss?

Wherein do I prefer

The better to the worse?

 

I will tell you.

There is a passing fault in her:

To be mild in my very fury.

And “Beloved” she is called,

And pain I hunt alone

While she hangs back to smile,

Letting flattery crowd her round –

As if I hunted insult not true love.

 

But how may I be hated

Into true love’s all of me?

I will tell you.

The fury will grow into calm

As I grow into her

And, smiling always,

She looks serenely on their death-struggle,

Having looked serenely on mine.

 

 
 

 

 

The World and I

 

This is not exactly what I mean
Any more than the sun is the sun.
But how to mean more closely
If the sun shines but approximately?
What a world of awkwardness!
What hostile implements of sense!
Perhaps this is as close a meaning
As perhaps becomes such knowing.
Else I think the world and I
Must live together as strangers and die—
A sour love, each doubtful whether
Was ever a thing to love the other.
No, better for both to be nearly sure
Each of each—exactly where
Exactly I and exactly the world
Fail to meet by a moment, and a word.
 
   

 

 

 

 

 

Mortal

 

There is a man of me that sows

There is  a woman of me that reaps.

One for good,

And one for fair,

And they cannot find me anywhere.

 

Father and Mother, shadowy ancestry,

Can you make no more than this of me?

 
 

 

 

Mindscapes: Poemas de Laura Riding
Tradução e apresentação da poeta modernista norte-americana Laura Riding
São Paulo: Editora Iluminuras, 2004

 

                                              

   PÚBLICO – MIL FOLHAS – 11 de Março de 2006  

Eduardo Prado Coelho

A espiritualidade do mar

Quem é Laura Riding? Duvido que haja portugueses que a conheçam, os franceses não fazem a menor ideia de quem seja e mesmo os americanos só a descobriram recentemente. O livro que a revela em português é uma antologia com selecção, tradução e introdução de Rodrigo Garcia Lopes.

Andava eu pelas livrarias do Rio do Janeiro e entrei ao acaso numa que fazia parte do meu itinerário habitual. De repente, houve um livro que me saltou aos olhos. Correspondia a um título inesperado, “Mindscapes” e era um conjunto de poemas de uma autora que não eu não conhecia. A gente folheia, encontra páginas desconcertantes e de repente tem a noção de que acaba de descobrir uma autora. Uma verdadeira autora.

Quem é Laura Riding? Duvido que haja portugueses que a conheçam, os franceses não fazem a menor ideia de quem seja e mesmo os americanos só a descobriram recentemente. O livro que a revela em português é uma antologia com selecção, tradução e introdução de Rodrigo Garcia Lopes. Estas páginas de critica são absolutamente extraordinárias e não somente dão os elementos biográficos necessários para ficarmos a saber de quem se trata, e como viveu, como se trata de um verdadeiro ensaio sobre uma das obras mais interessantes da poesia do século XX.

Nasceu em 16 de Janeiro de 1901. O pai estava inscrito no Partido Socialista Americano e desejava imenso que a filha se viesse a tornar a Rosa Luxemburgo americana. Não foi. Frequentou a Universidade de Cornell e em 1918 começou a escrever poemas. Entre os seus colegas estava Louis Gottschalk, estudante de História com quem viria a casar. Os seus poemas começaram a aparecer em várias revistas. A dada altura, o casamento acabou e ela passou a chamar-se apenas Laura Riding. Conheceu então o poeta Robert Graves que a convidou a escrever um livro sobre a poesia moderna. Laura Riding tinha uma concepção muito acentuada sobre a poesia contemporânea: era anti-simbolista, recusava a expansão dos poemas dominados pelas metáforas, tinha uma poesia anti-imagista. A sua visão do mundo passava pela dimensão conceptual.

Foi até aos Estados Unidos da América, mas depois regressou a Inglaterra, onde desenvolveu uma relação a três com Robert Graves e a sua mulher Nancy. Depois, conheceu o poeta irlandês Geoffry Phibb. Talvez fosse demais. Num momento dramático, atirou-se de uma janela. Sobreviveu com ferimentos, mas nunca conseguiu recuperar da queda.

Viveu em Maiorca. Publicou livros de ficção, de crítica e de poesia. Hoje sabe-se que Paul Auster tinha razão quando disse “a primeira poetisa norte-americana a ter concedido ao poema o valor e a dignidade de uma luta”. Ou devemos concordar com o que disse Charles Bernstein: é indispensável colocar a obra de Laura Riding “entre as maiores proezas de qualquer outro modernista americano”. Ler Laura Riding foi para mim uma experiência inesquecível.

Curiosamente, pouco depois de 1938 renunciou á escrita. Durante vinte anos manteve um silêncio rigoroso. Só em 1943 voltou a escrever sobretudo ensaios, alguns publicados postumamente. Mas só nos anos 60 regressou verdadeiramente á literatura com o nome de Laura Jackson. Morreu com 90 anos em 1991. Nessa altura, a crítica começa a valorizá-la e situa-a como um autor da qualidade de Wallace Stevens (de que falei há semanas), Pound (de que não gosto excessivamente de falar), de e.e.cummings ou de Eliot. Isto mostra a importância (quase apagada) de Laura Riding. Gertrud Stein (com a sua poética da repetição) aproxima-se por vezes dela.

Laura Riding escreve uma poesia do pensamento. Mas pensar é aqui algo de muito especial: a capacidade para inventar expressões envolventes é imensa: daí que se possa falar na “espiritualidade do mar”. Isto é a forma de ser poema. E aquilo que trava o processo de reflexão. Ela escreve:

Não fosse isto um poema

Eu falaria sobre o falar

Escreveria sobre olhar (e sobre o escrever)

Que se guardaria para o outro, outros

Se constituiria para todo o mundo

Ou para ninguém, contendo em si sua força viajante

Sem precisar de nenhuma graça do tempo

Para resgatá-lo

De uma perda total.

 

Ou eu lidaria, escreveria assim

Esforçando-me para construir, quero dizer

Algo ligando nossos entendimentos

Numa realidade de palavras, de eus, de outros

Mais dizível, mais penetrável, habitável, aberta

Anote-se: o objectivo seria de metalinguagem: falar sobre o falar. Há expressões que têm uma dimensão metafórica: “força viajante”. E que é a poesia que se pensa ou o pensamento que se poetisa? Algo que liga, uma religião no sentido cósmico, uma forma de estabelecer elos poéticos, a força dos entendimentos. E depois a realidade é de abertura expansiva: palavras, em primeiro lugar, eus, outro, que têm um certo número de qualidades: poder-se falar mais dessa realidade, penetrá-la mais fundo, sendo penetrar uma forma de habitar porque ela é mais aberta.

Um dos grandes temas de Laura Riding é o tema da morte. Mas a morte é sempre vista da forma mais inesperada:

“A morte é mesmo um muro. Passar por muros, topar com muros, é um morrer e um aprender. Morte é um saber-de-morte. A morte que se sabe é a verdade vista na parada. A boca que se morte-move esquece a palavra.

E a primeira página é a última da morte. E seja dada a nossa pressa, ou então o muro parecerá não se desmoronar, e continuar falsamente. E na primeira página se lê: ‘Seja dada a nossa pressa.’ E na primeira página se lê: ‘Vai devagar, esta é só a primeira página.’

Vai devagar é só a página antes da primeira página, não é preciso pressa. A página antes da primeira página relata morte, pressa, lentidão: quão verdadeira é a verdade agora no virar da página, em tempo de relatar. Verdade atrás de verdade seria verdade.”

 

Death is a very wall. The going over walls, against walls, is a dying and a learning. Death is a knowing-death. Known death is truth sighted at the halt. The name of death passes. The mouth that moves with death forgets the word.

And the first page is the last of death. And haste unto us both, lest the wall seem to crumble not, to lead mock-onward. And the first page reads: 'Haste unto us both!' And the firt page reads: "Slowly, it is the first page only.'

Slowly, it is the page before the first page only, there is no haste. The page before the first page tells of death, haste, slowness: how truth falls true now at the turn of the page, at time of telling. Truth one by one falls true.

 

Um dos grandes temas de Laura Riding é o tema da morte. Mas a morte é sempre vista da forma mais inesperada:

“A morte é mesmo um muro. Passar por muros, topar com muros, é um morrer e um aprender. Morte é um saber-de-morte. A morte que se sabe é a verdade vista na parada. A boca que se morte-move esquece a palavra.

E a primeira página é a última da morte. E seja dada a nossa pressa, ou então o muro parecerá não se desmoronar, e continuar falsamente. E na primeira página se lê: ‘Seja dada a nossa pressa.’ E na primeira página se lê: ‘Vai devagar, esta é só a primeira página.’

Vai devagar é só a página antes da primeira página, não é preciso pressa. A página antes da primeira página relata morte, pressa, lentidão: quão verdadeira é a verdade agora no virar da página, em tempo de relatar. Verdade atrás de verdade seria verdade.”

Reparem nas notas obsessivas: morte/muro; Morte e saber a morte. Morte e verdade. “a boca que se morte-move” (criação de um verbo). As páginas, a primeira e a última. A página antes da página, a verdade antes da verdade. A repetição, a duplicação.

E ainda: a velocidade de cada um de nós, vida, morte, pressa, lentidão.

Veja-se ainda um poema extraordinário do amor e do tempo, outro tema de Laura Riding:

“Mas quanto dura um dia?

Tanto quanto o amor, dizem uns.

Mas o amor vai embora cedo,

Antes que o amanhã e a morte se manifestem.

E quanto tempo dura o dia-a-dia?

Uns dizem desde sempre.

Mas começando quando?

 

No mesmo instante em que pela primeira vez os olhos se

arregalaram e não viram tudo - Num não tão tarde quando,

pela última vez

O tempo durou não mais que um dia,

Um dia de adivinhar:

Por quanto tempo é permitido

Chamar de tanto o que é tão pouco?

 

But how long is a day?
Some say as long as love.
But love leaves off early,
Before to-morrow and death set in.
How long has day on day been?
Some say for ever.
But starting from when?
 


From no sooner than first when
Eyes opened far and saw not all _
From no later than last when
Was time for no more than a day,
A day of guessing:
How long is it permitted
So little done so much to call?

From the poem: "and a day"